SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
“Dedicated to Chaos”, Queensrÿche, 2011, Roadrunner
sons: GET STARTED / HOT SPOT JUNKIE / GOT IT BAD / HIGHER / WOT WE DO / AROUND THE WORLD / DRIVE / AT THE EDGE / I TAKE YOU / RETAIL THERAPY / THE LIE / BIG NOIZE
formação: Geoff Tate (vocals & saxofones), Scott Rockenfield (drums & keyboards), Eddie Jackson (bass), Michael Wilton (guitars)
Additional Keyboards – Randy Gane; Additional Guitars – Peter Lundgren & Kelly Gray; Additional Vocals – Jason Ames, Miranda Tate
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Era uma vez uma banda chamada Queensrÿche.
Surgidos em Seattle nos 80’s, bem antes q o lugar virasse o epicentro dum “movimento” musical embalado em camisas xadrez de lenhador, faziam um hard rock competente e invulgar, anterior ao modismo laquê de L.A. – e tb por isso, anteriormente ao reconhecimento por fãs e críticos do estilo. Aconteceu tb de, antes da hora, amadurecerem e se tornarem um tantinho progressivos (bem antes q uns tais Dream Theater “criassem” o prog metal), lançando disco conceitual paranóico consagrado e um seguinte com arestas mais comerciais, em meio ao som tornado algo hermético.
O caso de banda q ainda ñ sei dizer se eternamente à frente de seu tempo, ou a banda cronicamente errada na hora errada. Equivalentes estadunidenses do The Cult nesse sentido.
Entraram nos 90’s cometendo, na minha opinião, seu melhor disco – “Promised Land” – q conjugou os elementos todos dos discos anteriores: comercialismo com classe, resíduos conceituais e arestas prog. Passaram do ponto, perderam a hora, só quem virou fã true acompanhou. Uma pena. Tvz se cometessem capas menos repetitivas… tvz se o soberbo vocalista Geoff Tate fosse bonitão feito um Geddy Lee (Rush)… E o q veio na seqüência os sepultou – ainda q nunca tivessem acontecido de fato – de vez: “Hear In the Now Frontier” tentou escanear (antes q o termo existisse – chamávamos de “xerox” mesmo) a sonoridade grunge reinante e a pouca credibilidade q ainda detinham, perderam por completo.
Assim como os tais fãs, q parecem ter desistido da banda irrevogavelmente. Discos legaiznhos (“Q2K”) e fracos (“Tribe”) e ainda montes de álbuns ao vivo tentaram mantê-los no mercado, em vão. Nem cometer uma parte 2 do tal disco conceitual, já na década de zerenta, ressuscitou algum interesse por eles, tampouco o fizeram o disco de covers – de q gosto muito – “Take Cover”, lançado adiante, ou o pior trabalho da banda, “American Soldier”, conceitual fraquíssimo, lançado logo após.
Rolaram tb dissidências na formação. A maior, um tal Chris DeGarmo, guitarrista/compositor, rancou fora após “Hear…”, sendo perda sem reposição até hoje. Tanto q pouco mudou a formação e nada melhor aconteceu, além dum despotismo esclarecido cada vez maior por parte do vocalista e de seu clã (esposa empresária, filha backing vocal, 2º guitarrista genro). Complementados por uma bizarra apatia dos demais integrantes.
E aí deixo pra lá relatar história mais recente, de racha na banda, com ambos os lados – Geoff Tate versus os outros três + um vocalista novo acordados da acomodação (ou finalmente livres dalgum contrato) – lançando álbuns novos com o mesmo nome ano passado, a despeito de processo na justiça pelo uso do mesmo correr solto. A ñ ser pra citar q até no quesito TRETAS os caras chegaram atrasados: foram traço de ibope, ñ ressuscitou interesses pelo Queensrÿche.
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O texto aqui quebra abruptamente para tratar de “Dedicated to Chaos”, disco controverso – caso a banda ainda rendesse controvérsias por parte de fãs (quem e quantos serão?) – a um ponto inacreditável na trajetória duma banda. Sabe quando o Metallica tentou ser o U2 em “Load” e “Reload”? Ou virar o System Of A Down no “Shit Anger”? Quando o Sepultura se tornou esse hardcore filho de mula manca com Derrick Green? Quando o Judas Priest tentou roubar as groupies de Billy Idol em “Turbo”? Ou ainda quando tua banda européia favorita – Celtic Frost, Whitesnake, Deep Purple, Nightwish (escolha uma ou duas) – fiascou em se vender ao mercado estadunidense nalgum momento equivocado de trajetória?
Digo o seguinte: em NENHUM desses casos uma banda se DESCARACTERIZOU tanto quanto o Queensrÿche neste “Dedicated to Chaos”, disco esquisitíssimo e quase sem parâmetro na obra anterior dos caras (exceção a “Big Noize”, pseudo-folk blues um tanto residual da safra “Take Cover”) ou com qualquer linhagem no heavy metal, hard rock ou prog metal. Se tirar o vocal, nunca q alguém, ouvindo a maioria dos sons (exceção a “The Lie”), irá associá-los a Queensrÿche. Ao Queensrÿche de antanho.
Exagero? Um amigo, ouvindo no carro “Wot We Do” comigo, perguntou se era Beyoncé… Até a hora em q Tate abriu o bico. Dá-lhe groove e baixo funky. Sério mesmo.
[Eddie Jackson, a propósito, considero o destaque instrumental o disco todo]
Inacreditavelmente, “Got It Bad” e “Higher” tb flertam com o r&b pop estadunidense (inclusive nas letras marrentas, com o vocalista pagando de gostosão), contendo guitarras suingadas e insólitos apartes de saxofone. Crítica equivocada na Rock Brigade categorizou o álbum como disco de “música eletrônica”, o q ñ procede. A despeito de alguma ambiência aproximada em “Around the World” (com um refrão meio jingle de banco Itaú, meio hippie), em “Drive” e em “At the Edge”, nada consta.
Os sons são todos sucintos, só 3 ultrapassam 5 minutos. Solos de guitarra se contam nos dedos de uma mão e ñ contêm fritação; o mais elaborado, alternando entre guitarra e sax, está em “Higher”. O peso é bastante contido, acessório, suplementar; as músicas, fundadas em acordes ou bases em stacatto, raramente (acho q só em “I Take You”) em riffs. A exploração de timbres é generosa: Tate sussurra, canta abafado, canta aveludado, canta aviadado (“Wot We Do”!), canta sobreposto (novamente “I Take You”). As guitarras variam entre timbres limpos e saturações contidas e cirúrgicas, sem podreira.
O trampo bateristico se fez comedido e claramente editado em computador. Aquele Scott Rockenfield das antigas pouco comparece: pouquíssimas são as viradas e firulas. Ñ me ocorre q haja muitos sons de pratos ao longo do disco. Ao mesmo tempo em q sons como “Drive” e “Got It Bad” se fundam em loops. Ñ digitais.
A proposta da banda por aqui parece ter sido quererem – ou Tate querer – se vender e ligar o foda-se. Sem paródias ou caricaturas. A despeito da capa de sempre, novamente repaginada. Já q ninguém lhes dava mais a mínima atenção, OUSARAM como nunca. Fiascando como sempre, por outro lado.
E se nos raros momentos “roqueiros”, como em “Get Started”, “Hot Spot Junkie” (sobre apego exagerado a internet) e “Retail Therapy” soam como aquele rock radiofônico genérico noventista tipo Semisonic, Sugar Ray ou Fastball – mas melhor executado – ou, como nas mais hard, “The Lie” e “Big Noize”, conseguem até demover algum nojo de fã antigo, em todas as horas se pode considerar cada som como resultante de trabalho considerável e inequívoco (duvido q muitos deles sons funcionassem ao vivo) em estúdio.
E a resenha aqui quebra pela última vez. Pois se sugere até aqui, da parte deste q vos bosta bloga, q o disco é uma porcaria hedionda, digo q entendo quem assim o considere, mas ñ o considero horroroso. Muito pelo contrário: é daqueles raríssimos álbuns q me pegou e q freqüentemente revisito. Um pouco por querer entender se é bom ou ruim, outro tanto pra tentar encontrar melhores referências q o situem. Gosto menos dos últimos 4 sons (os mais “normais”) e penso q o “caos” a q foi o trabalho foi “dedicado” comparece em doses fartas. Ao mesmo tempo em q o álbum soa coeso.
Ñ, ñ entendo. Mas sigo tentando, enquanto o recomendo entusiastica e categoricamente e agüardo xingamentos ou perguntas sobre meu atual estado de saúde mental ahah
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CATA PIOLHO CCXXXIV – “Jealousy”: Queen ou Death? // “Everything Dies”: Type O Negative ou Carnal Forge? // “Behind the Sun”: Red Hot Chili Peppers ou Meshuggah?