SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
Edição especialmente tercerizada, por Jessiê Machado.
“O Reino Sangrento do Slayer”, Joel McIver, 2013 – 2ª edição, 368 pp., Edições Ideal
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Quando fiquei sabendo que iria sair uma biografia do Slayer, não sei se aqui no site ou em algum outro lugar, nos idos de 2010, fiquei eufórico pois, junto com o Black Sabbath, é a banda de que mais gosto desde sempre e ambas totalmente responsáveis por todo a minha iniciação e dedicação ao mundo metálico.
Todavia, em detrimento da minha ansiedade, só em dezembro de 2013 consegui meu exemplar por cerca de R$ 60,00 (sessenta reais) e já tive duas surpresas: 1.ª de uma qualidade gráfica surpreendente, capa dura e de muito bom gosto; 2.ª já se tratava da segunda edição brasileira sendo que o livro fora publicado no mercado americano e inglês em 2007 (putz estou desinformado)!
Chegando em casa estava lendo o segundo livro do Lobão e obviamente interrompi para começar a ler “O Reino Sangrento do Slayer”, escrito pelo britânico Joel McIver, que se denomina no livro como “especialista em heavy metal”. Merece um parágrafo o “especialista”.
Rapidamente associei o escritor com a biografia do Max Cavalera que havia acabado de ler, fui pesquisar sobre o mesmo pela internet e descobri que o “especialista” deve estar milionário com tantas biografias que escreveu nos últimos 14 anos. Acessando sua página (www.joelmciver.co.uk) constam dezenas de bios as quais cito: David Ellefson, Machine Head, Glenn Hughes, Motörhead, Randy Rhoads, Cliff Burton, fora os acima mencionados e vários outros. Nem todas necessariamente biografias na mais pura acepção, mas salta aos olhos os prefácios e participações. Joel tem muito prestígio.
Iniciando o livro Joel já alerta de antemão que solicitou a autorização da banda para que fosse uma bio oficial, mas nunca responderam negando ou permitindo. No início não entendi bem, depois compreendi.
O livro tem uma estrutura e narrativa que acho sensacional em bios musicais: dar uma introdução breve sobre infância como se conheceram e tal e partir para os discos um por um, construção das músicas e curiosidades no decorrer do tempo. Nisto o livro é simplesmente sensacional.
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O início é simplesmente empolgante e se devora rapidamente. Detalhes como a saída de Araya do Chile em plena era Pinochet, o fato do pai de Hanneman ter lutado na segunda grande guerra e o irmão na guerra do Vietnã, o primeiro riff aprendido por Kerry (“Children Of the Sea” – obrigado, Iommi) e o primeiro contato de Lombardo com a música tocando bongô na escola naquele lance bem americano de mostre-e-conte atraem a atenção e explicam muito de como jovens comuns se conheceram e formaram a banda mais extrema e importante da música mundial.
Muitas outras informações, interações com bandas (uma inicial adoração ao Venom que rolou até murro na cara do Araya), como Hannemam era reservado e achava Kerry bom, a boa praça de Araya, as idas e vindas de Lombardo, audição de bateristas, royalties, riffs, gravadora, MTV, religião, são simplesmente sensacionais, relevantes e empolgantes. Sem falar que uma abordagem “Caras” de fatos absolutamente dispensáveis da vida pessoal dos integrantes não fazem o estilo do escriba.
Porém, quando o Autor se propõe a discorrer sobre os discos a coisa desanda. Não porque comete erros técnicos ou ausência de informação, ao contrário: informações interessantes e relevantes têm de sobra por todo o livro, ocorre que Joel dispara opiniões pessoais bem discutíveis sobre as músicas e letras e por vezes parece discorrer como se heavy metal fosse música abobada de adolescentes púberes para uma banca de examinadores em tese de mestrado.
Exemplos:
“Evil Has No Boundaries”: “música datada para ser ouvida depois de 25 anos”; “Die By the Sword”: “dispensável, com seus riffs mais de rock do que de metal”; “Tormentor”: “foi um ponto baixo no disco”; ”Show No Mercy”: “a sintaxe embaralhada no melhor estilo Yoda…torna tudo um pouco risível.”; “Dead Skin Mask”: “… infelizmente a música segue arrastada” (…) “gongo exagerado de Lombardo e a voz feminina…simplesmente não convencem”. E assim se segue por quase toda a discografia da banda, onde, creio eu, ter sido o maior motivo da banda não ter respondido sobre a biografia.
Entendo que o biógrafo que se propõe a escrever em terceira pessoa sobre determinada banda (ou artista de modo geral) não deve se ater a tão somente narrar sobre fatos e obras do biografado, sob pena de se tornar chata, monótona e totalmente impessoal. Mas também é necessário se encontrar um meio termo, quando quem escreve é fã do biografado (quase sempre), entre a babação de ovo exagerada e a crítica excessiva e sem fundamento.
A parte boa é que a opinião pessoal do biógrafo é parte pequena da obra e não chega a comprometer, apesar de torná-la menor, e este fato é a única crítica severa da obra, com outra bem menor que é a presença pequena, apesar de interessantíssima, de fotos antigas. No geral vale a pena comprar o livro por sua riqueza de informação, a maioria desconhecida de quase todos numa época em que não existiam informações digitais, e por tornar ainda mais sangrento o reino do Slayeeeeerrrrrrr!
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CATA PIOLHO CCXXVI – descontemos os quesitos diferentes idioma e arrojo técnico; descontemos tb a tal “banana” aparecendo, marota, na letra; descontemos ainda o pequeno Steve Vai jamais ter tido primos, um muito justo, outro safado, chamados Augusto e Bersange. Tirando isso, “Stevie’s Spanking”, de Frank Zappa (1984), é praticamente idêntica a “Puteiro Em João Pessoa” (1994), do Raimundos.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=xTDjhEp0BvM[/youtube]
Colli
28 de fevereiro de 2014 @ 08:37
Eu concordo contigo sobre a falta de impessoalidade do escritor, que para mim teve descrédito total na obra.
Ele fala maus das melhores músicas do Slayer. Fala mal até do South Of HEaven, porém com parcimônia, ele não é doido de falar mau desse álbum.
Na verdade o único álbum que ele fala muito bem é Reign Blood.
No mais o livro é bom. Somente.
EU particularmente não compraria outro livro/biografia dele caso seja na mesma linha de narrativa.
Marco Txuca
4 de março de 2014 @ 12:23
Li do cabra “A História Ñ Contada do Motörhead”, tb meio ñ autorizada. E descobri o macete de McIver: pesquisar, reportar entrevistas e matérias e daí montar um livro. “Ñ autorizado” pq ñ demandou autorização ou envolvimento da banda.
Anunciar a do Slayer como “ñ autorizada” vejo como um trunfo de marketing, uma vez q o Slayer SEMPRE FOI uma caixa preta. Haja visto a recente “demissão” de Dave Lombardo, por abrir o bico quando ñ devia. Por contrato.
Nunca houve livro ou documentário sobre os caras. Meio como era com o Rush, anos atrás, antes q Sam Dunn fizesse aquele magnânimo documentário “Beyound the Lighted Stage”.
Ao mesmo tempo, essa mania de meter o bedelho, acabar escrevendo como fã, li tb no tal Mick Wall, quando fez as bios do Metallica e do Maiden: nos primeiros, desce o cacete nas fases recentes (ñ q ñ o devesse, mas parecendo fazê-lo pra ganhar credibilidade com o leitor), enquanto q na Donzela lambe os álbuns recentes como as melhores coisas cometidas desde “Peace Of Mind” e “Powerslave”… Comportando-se como o fã deslumbrado q supõe todo maidenmaníaco ser. Sei lá.
Fiquei com bronca dessas partes do cara criticar os sons e álbuns, mas pela parte INFORMATIVA, de teor pra lá de escasso em Wikipédia, whiplash e outros sites, tenho pensado em rever meu boicote e comprar o artefato.
A do Max está aqui esperando e parece ter sido feita de outro modo: Max falando e McIver adequando as histórias (e caôs) de modo inteligível. O q configura uma “biografia autorizada”, embora creditada só ao Max… Enfim.
Jessiê
5 de março de 2014 @ 13:10
Txuca vale a pena sim ler já que a parte critica constitui uma, duas páginas de cada disco e a parte informativa 15, 20. Não compromete só passa raiva mesmo. Haha.