17.11.18 – Áudio, São Paulo
Começo pela conclusão: o público de heavy metal ainda existe. Resiste. E ñ é o público de show do Iron Maiden em estádio, ou o bando de deslumbrado tirando selfie em festival pra pagar de “roqueiro”. E se renovou. É minha impressão, ante o q vi no último sábado, no tal Liberation Fest.
Q quando eu comprei o ingresso, era só shows de Arch Enemy e Kreator. Na semana específica, vim a saber terem escalado outras 3 bandas: Genocídio (!!), Excel (?!) e Walls Of Jericho, metalcore de 3ª divisão. Poupo os amigos aqui sobre comentários dessas formações: simplesmente ñ vi. Ñ quis.
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Ñ sabia o q esperar de Arch Enemy e Kreator: dos primeiros, ñ ouvi o álbum recente; dos germânicos, ñ via ao vivo desde a turnê do “Enemy Of God”, q achei mais ou menos. O último disco q me pegou mesmo foi o já longínquo – envelhecido 18 anos – “Violent Revolution”. Vídeos recentes, de dvd’s bônus nos “Phantom Antichrist” e “Gods Of Violence” recentes, ñ me animaram tanto. Baixa expectativa, nesse caso, foi a lei.
E assim: Arch Enemy, suecos fantasia (tem estadunidense, canadense e até suecos na banda) apenas e tão somente arrebentou. Uma hora e meia de pauladas, sem dó nem muita demagogia; sinceramente ñ consigo dizer se a Alissa White-Gluz tem mais carisma q Angela Gossow. Mas ñ importa: mandou muito bem. E é gostosa. Tipo uma “Shakira do metal“.
Cansou um tanto, na medida em q sons da banda às vezes me cansam, por falta de dinâmica. Tudo muito paulada, tudo muito gritado.
(Vai ver estou ficando velho)
A reação do público presente, no recinto quase lotado (nunca tinha ido ao tal Áudio: é um Carioca Club maior e melhorado, com áreas fora pra circular/comer/comprar merchan/respirar/fumar bem legais. E caros) foi bombástica. Um metal de nova geração (som impecável e alto – tvz graças a triggers na bateria e outros requintes digitais), assumidamente embalado como produto, competente, consistente. E nem assim tão novos, apenas renovados, o q o repertório entregou: maior ênfase nos 2 discos últimos. Sábia decisão.
Quem é muito fã saiu pra lá de satisfeito. Show da vida. Rodas de mosh pit em profusão.
Set list: 1. “Set Flame to the Night” (intro) 2. “The World Is Yours” 3. “Ravenous” 4. “Stolen Life” 5. “War Eternal” 6. “My Apocalypse” 7. “The Race” 8. “You Will Know My Name” 9. “Blood On Your Hands” 10. “Intermezzo Liberté” 11. “The Eagle Flies Alone” 12. “First Day In Hell” 13. (intro) “Saturnine” 14. “As the Pages Burn” 15. “We Will Rise” — bis 16. “Avalanche” 17. guitar solo Jeff Loomis 18. “Snow Bound” 19. “Nemesis” 20. (outro) “Fields Of Desolation”/”Enter the Machine”/”Vox Stellarum”
https://www.youtube.com/watch?v=z7RoKlKjWms
Com relação ao Kreator, o q dá pra dizer, futebolisticamente, é q jogaram (e ganharam) com a camisa. Dá pra entender terem tocado só TRÊS sons oitentistas – “Flag Of Hate”, “People Of the Lie” e “Pleasure to Kill” (fechando) – e ao mesmo tempo arrebentarem?
Sério. Ñ vi ou ouvi (tb ñ fiquei dando atenção) a pessoas falando na saída “faltou essa, faltou aquela”.
Da safra noventista, a coisa foi ainda mais escassa: só “Phobia”. NADA de “Terrible Certainty”, “Extreme Aggression”, “Renewal”, “Cause For Conflict” e “Endorama”. E foi foda, a despeito duns pobremas técnicos. Razão? Renovação tb.
Os caras vêm archenemizando o som, pelo menos desde “Enemy Of God”. É bom e é ruim, mas principalmente ruim pq soa obviamente derivativo ou tentativa de agradar a uma molecada nova. Ainda q funcione. E bom pq funciona pra adequar as coisas ao vocal de Mille Petrozza, velhão, corcunda e careca cabeludo, mas com a voz já ñ igual a de priscas eras. Ñ dá pra ficar forçando com velharia mal cantada.
Ao mesmo tempo, os tantos sons novos – prioritariamente dos 2 últimos álbuns – funcionaram melhor ao vivo e agradaram geral. “Phantom Antichrist” abriu (me surpreendeu) e “Satan Is Real” comoveu. E se as rodas eram em profusão no Arch Enemy, com os alemães + finlandês foram permanentes e DUAS. Quase q todo o show. E com participação imensa da mulherada: cheio de menina de 16 a 18 anos com mochilinha nas costas entrando nas rodas de igual pra igual com os ogros gordos e suados.
Uau.
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Foram um tanto imperfeitos na qualidade do som: certamente é banda q ainda afina guitarra antes de entrar, q ñ trigga a bateria ou faz uso de ventilador e nem de roupas previamente calculadas pra causar impressão. E pra piorar, o som oscilou muito durante toda a apresentação. Impressão de ñ terem passado o som antes. Uma pena.
Ou mesmo cansaço: determinada hora mr. Petrozza falava em ser o último show da turnê sul-americana. Ficavam alguns silêncios entre som e outro e ñ era só pra causar clima. Mille tb pagava de Dave Mustaine numas horas, sozinho no palco e pedindo aplausos e agitos “do pessoal do fundo”, “do povo do lado”, “do povo do camarote”, essas coisas interativas à moda antiga.
Foi minha 5ª vez com o Kreator e ñ me foi bem a pior. Mas achei bom, dadas as baixas expectativas. Em termos de reação do público, se a coisa foi apoteótica com o Arch Enemy, com o Kreator foi apocalíptica. Ganharam a noite, mesmo ñ estando na melhor forma. E fazendo o repertório adequado a um público renovado e legitimamente conduzido.
Os caras conseguiram o q o Metallica tentou e jamais obteve: a união dos fãs das antigas com os mais novos. Podem cravar q “Hordes Of Chaos”, “Phantom Antichrist” e “Gods Of Violence” serão clássicos incomensuráveis ao pessoal q chegar aos 40 daqui uns 10 anos, como “Pleasure to Kill”, “Extreme Aggression” e “Coma Of Souls” são pra mim, tiozão, ou pros tiozões por aqui q endossam a velharia.
Assim me pareceu.
Set-list: 1. “Mars Mantra” (intro) 2. “Phantom Antichrist” 3. “Hail to the Hordes” 4. “Enemy Of God” 5. “Satan Is Real” 6. “Civilization Collapse” 7. “People Of the Lie” 8. “Flag Of Hate” 9. “Phobia” 10. “Gods Of Violence” 11. “From Flood Into Fire” 12. “Hordes Of Chaos” 13. “Fallen Brother” — bis 14. “The Patriarch” + Violent Revolution” 15. “Pleasure to Kill” 16. “Apocalypticon” (outro)