Que “o rock brasileiro é uma farsa comercial”, já sabemos há tempos. Mas, então, o que dizer do Kiss assinando um contrato para serem perpetuados em avatares digitais por inteligência artificial mesmo depois da sua morte?
Segundo PaulStanley no vídeo, “A banda merece viver, porque é maior que nós.”. Enquanto estratégia comercial, nada surpreendente vindo de quem vem. Talvez fosse isso desde sempre.
Mas a questão é o precedente maluco que isso abre. Teremos bandas eternas a partir de agora? Que tipo de contrato será feito? Será que vai caminhar para uma autorização de composição?
Nesses tempos, parece cada vez mais rara a sensatez do Sepultura.
Descobri essa banda pq apareceu o tease do clipe no Instagram do Ken Bedene (baterista do Aborted) – pra mim, hoje, um dos bateristas mais técnicos do metal.
Pelo visto é um projeto de um cara só (um indiano) q vai chamando os músicos pra gravar com ele – cada música um conjunto, tanto que ouvindo outras músicas, vão pra outros lados (bons tb, mas diferentes).
Essa música em si, achei EXCELENTE!
Uma pegada bem Cannibal, com um refrão mais melódico, mas bem encaixado.
Por falar em encaixe, a letra descompassa a toda hora da métrica, mas não fica ruim. Saber fazer isso não é fácil, e o fato de ter a letra no clipe e o vocal ser um “gutural limpo” (com boa dicção e legibilidade) ajuda bastante.
***
A minha questão é com a forma de produzir música hoje: não sei onde o indiano mora, mas poderia facilmente ser na Índia. Ele contata as pessoas, manda a idéia, os caras aceitam, personalizam, gravam onde estiverem, e lançam um clipe com cada um tocando na sua casa. E o álbum resulta numa grande coletânea.
Esquizofrenia? Talvez, mas como todo o potencial que ela tem (que o diga o velho Deleuze. rs), a questão é que, pra mim, ela explicita uma mudança radical que tem multiplicado as bandas e projetos pelo mundo (e que foi ainda mais impulsionada pela pandemia).
Nesse universo cada vez mais amplo (que é o sonho das plataformas na sua corrida por ampliar seus acervos), se sobressai quem consegue fazer coisa boa e ter visibilidade.
Ir a um show do Mötley Crüe e Def Leppard com abertura do Edu Falaschi não é exatamente o programa que colegas me imaginariam fazendo.
E não que eu seja tr00. Quem já conversou comigo sobre música, mesmo que seja uma única vez, atesta isso. Simplesmente, nunca ouvi e não é a minha. Mas estava com minha esposa e isso, por si, é motivo mais que suficiente pra qualquer rolê.
Entramos 19:40 no estádio. Felizmente, deu tempo de perder o Falaschi. E já ouvíamos a banda nas imediações enquanto buscávamos o portão de entrada. Mötley Crüe já estava no palco. Aparentemente começaram pontualmente, às 19:30. Fica a dica pro Axl.
***
Aliás, adendo: o Allianz Parque é excelente para shows! Falo isso como são-paulino e arquiteto (portanto, grande fã do Morumbi de Vilanova Artigas).
Infraestrutura e organização muito boas. Preços altos, mas não constrangedores ($38 um cheeseburger vegetariano e $14 uma lata de cerveja). Muita gente trabalhando. Cadeiras com altura razoável entre elas, que permitem com alguma sorte que você assista sentado mesmo com alguém em pé à frente. Infra nova e bem cuidada. E, do lado de fora, tb tudo certo. Ruas interditadas corretamente, sem exagero, sinalização inclusive no app do Google Maps avisando os desvios e, mesmo na rua do estádio, o som não é alto – isso porque, lá dentro, me arrependi de não ter levado o fone de ouvido. Como alguém que trabalha com impactos urbanos, um ponto importantíssimo.
Sobre a estrutura de palco, achei grande demais.
Não sei se sou eu que estou desacostumado a show em estádio, mas ficou desproporcional. O Def Leppard ainda “encurtou” o palco colocando um palco adicional para bateria, que reduziu a profundidade e deu uma amenizada na altura – embora a estrutura em si do palco ainda fosse muito alta. Mötley Crüe, em “Girls, girls, girls” colocou duas estátuas gigantes de mulheres pra tentar ocupar, mas já era fim de show. Isso é uma coisa que bandas escoladas já deveriam sacar: um show desses precisa de um palco com cenografia, diferentes alturas, tipo Iron Maiden, Judas Priest e etc.
Mas a estrutura de iluminação foi a melhor que já vi. Lasers a rodo e muito bom.
****
Quanto ao público: casa bem vazia. Não vendeu o suficiente nem fazendo promoção de 2 por 1. Para ser justo: o setor mais cheio era a pista premium. Seguido da pista. As cadeiras tinham setores fechados para concentrar o público em locais específicos e os camarotes estavam bem vazios. Podem até tentar colocar na conta do dia (terça-feira), mas a verdade é que a turnê cancelou shows em outras cidades por falta de público. De toda forma, por um lado, uma porção de fãs fanática. Num nível hard, com o perdão do trocadilho. Por outro, uma galera mais velha, até com filhos, que sabia os sons, curtia, mais light. E muito mais gente com camisa do Def Leppard.
Sobre os shows: Mötley Crüe foi bem ruim (ponderem que já não gosto). Som péssimo no começo, que foi “arrumado” depois da quinta música e “só” ficou ruim. Muito alto, desbalanceado e bem inadequado para o vocal de Vince Neil.
Musicalmente, nada de mais. Nunca foi. Com o Vince Neil, particularmente ruim. Sempre foi. O guitarrista, por motivos de saúde, não veio. Trouxeram um ex-guitarrista do Marylin Manson (e Joe Satriani e Steve Vai). Não é mau músico. Longe disso. Embora nem precisasse de grandes virtudes. Mas eu apostaria em alguém mais jovem, que segurasse um pouco mais a onda do show dos sessentões, assim como Sacha Gerstner no Helloween.
Aliás, pra uma banda que construiu carreira apostando no estereótipo de sex symbol, poderiam ter se cuidado muito mais. O melhorzinho ali é Tommy Lee, que parece pai dos caras do Blink-182. Mas está muito melhor que Nikki Sixx, que parece avô dos caras do Restart. Que, por sua vez, ainda está muito melhor que Vince Neil, a quem vou poupar os comentários.
Aliás outro: a prova de que sabem que não estão bem é que toda vez que aparece nos telões, são colocados efeitos especiais de alta saturação pra dar uma força estética. E que, no telão, aparecem mais as duas dançarinas (e backing vocals, embora o som não me permitisse atestar se estavam cantando mesmo) que a própria banda. Sim. Só duas.
No mais, palco baixo, que deixa a banda meio perdida. Interação ok. E sonho realizado de quem estava ali pra ver os caras independente do que entregassem. A quem, como eu, não tem simpatia, foi jogo duríssimo.
Quanto ao Def Leppard, já tinha visto no mesmo Allianz, com o Aerosmith em 2017 (na oportunidade, eram banda de abertura e o estádio estava muito mais cheio). Assistir depois do Mötley Crüe é um alívio, porque os caras são profissionais.
Goste você ou não do som, os caras entregam: boa execução, som equilibrado, repertório de clássicos ao CD novo, músicos em forma (que o diga Phil Collen!), palco bem montado, um trabalho de visual no telão muito bom… E Rick Allen como atração à parte – inclusive, no solo de bateria que, em geral, acho chatíssimo, mas que fica legal pela história do cara.
Show bom é assim: sem reparos. Para voltar à arquitetura, um grande arquiteto brasileiro chamado Eduardo de Almeida disse: “o melhor detalhe é aquele que não se vê.”
Machine Head lançou cd novo sexta e, com ele, este clipe.
O som, em si, nem achei dos melhores do álbum.
E pra quem ñ gosta (ou pra quem gosta), uma advertência: é um Machine Head diferente. Realmente uma fase nova, decorrente da troca massiva de integrantes. Por isso, inclusive, minha dificuldade em comparar com discos anteriores.
Mas considerando o tipo de música que eu gosto, pra mim realmente ‘periga’ ser o melhor da banda.
Abusando dos harmônicos artificiais e notas agudas entre riffs, com uma bateria muito mais sofisticada e o vocal de Rob Flynn, mais versátil, com várias partes melódicas sustentadas pelo back grave de Jared MacEachern, talvez, enfim, tenham achado o equilíbrio que buscavam quando Flynn disse que descobriram o virtuosismo (do “Unto the Locust” em diante).
***
É um disco longo (13 músicas em uma hora, sendo que 3 são transições de 1 minuto), não tão simples de digerir, por isso ainda tenho que ouvir mais. De toda forma, nesse momento, minhas favoritas continuam sendo algumas das que já haviam sido lançadas (o que é natural), e uma feliz descoberta:
“Choke Øn the Ashes Øf Your Hate”
“Become the Firestorm”
“Bloodshot”
“Arrows And Words From the Sky”
Por fim, não poderia deixar de comentar a qualidade gráfica das peças (salta aos olhos!) e o material belíssimo para o mercado europeu, que ainda conta com duas bônus – sendo uma delas a excelente instrumental, “Exteroception”.
Embora não seja psicólogo, acho que posso dar o diagnóstico de F20 (esquizofrenia) pra essa música.
Tem se tornado cada vez mais frequente o Machine Head alternar entre um thrash rápido pra Gary Holt nenhum botar defeito, e aquele new metal que impulsionou a banda no começo da carreira e angariou sua primeira legião de fãs.
Uma pena. Estivesse [Rob Flynn] melhor assessorado, estaria fazendo essas variações dentro do álbum, alternando músicas, cada qual com seu direcionamento.
Mas enfim… O som é bom e acho que mesmo a galera mais true (que consegue ultrapassar a década de 1980 e se interessa por tentar ouvir o que o Machine Head produziu desde o “Through the Ashes Of Empires”) vai gostar.
E em tempo: me parece que a arte desse CD vai estar bem acima da média!
Eu ando viciado nesse projeto novo do vocalista do In Flames, que não é metal, mas um projeto instrumental, meio eletrônico, feito com sintetizadores.
Não deu pra fazer turnê? Pois o In Flames lançou uns 2 cds de regravações nesse tempo, o Niclas Engelin juntou com ex-integrantes de Gotemburgo pra fazer um projeto novo, e agora o Anders Fridén me solta essa, usando o tempo pra fazer um negócio absolutamente diferente, sozinho, aprendendo a mexer com o sintetizador.
Aliás, acho que nessa fase de criações pandêmicas o povo nórdico se deu bem, pq já estavam acostumados a ficar trancados em casa. Rs
E fizeram um bocado de coisa experimental.
O cd que vai sair ano que vem da banda dos ex-integrantes do In Flames, pra mim, já é o melhor cd do ano. O resto vai ter que correr atrás pra alcançar.
O primeiro single dos caras, The Halo Effect, é foda demais.
… poderia ter uma bateria mais criativa? Poderia. Mas eu gostei muito.
Recentemente , os algoritmos me recomendaram este corte e, como o blog já pauta uma crítica ao metal nacional huehue há tempos, não poderia deixar de dividir aqui.
Desconheço o canal e tampouco gosto do Massacration ou do Bruno Sutter – que, na melhor das hipóteses, fez um cover esforçado do Death.
Mas a história acho sintomática da relação fratricida de uma cena esquizofrênica: banda grande, incensada midiaticamente, ao invés de apoiar um projeto de humor para ampliar a visibilidade do gênero e crescer com ele, boicota por disputa de espaço e de público.
Por Crom! Só eu acho que, à medida que você se compara com uma esquete, você se rebaixa? Ou será que o mercado que disputam é o da sátira de si mesmos?
Seja como for, a descrição toda é surreal. O sujo falando do mal lavado. 3 minutos de rir pra não chorar.
Podem falar o que quiserem, menos que o Machine Head não tem um marketing trabalhando muito bem.
Uma das coisas que mais se fala no meio é que o Rob Flynn é um cara difícil… E o que os caras fazem no vídeo de 30 anos?
Chamam todo mundo, de bandas hiper conhecidas do mais true thrash oitentista até bandas novas, pouco conhecidas, ou do New Metal, passando até (em baixíssima medida – o que denuncia o viés absolutamente estadunidense da banda) por expoentes europeus.
Bola muito dentro.
Agora só falta os caras sentarem e fazerem uns discos no nível daquela trinca entre os dois ao vivo, pra recuperarem o patamar… E pode ser que isso leve os caras longe.