“Around the Next Dream”, BBM, 1994, Virgin/EMI
sons: WAITING IN THE WINGS / CITY OF GOLD / WHERE IN THE WORLD / CAN’T FOOL THE BLUES / HIGH COST OF LOVING / GLORY DAYS / WHY DOES LOVE (HAVE TO GO WRONG?) / NAKED FLAME / I WONDER WHY (ARE YOU SO MEAN TO ME?) / WRONG SIDE OF TOWN
formação: Gary Moore (vocals, guitar), Jack Bruce (vocals, bass guitar, cello, keyboards on “Wrong Side Of Town”), Ginger Baker (drums, percussion)
extras: Tommy Eyre (keyboards), Ahrum Ahrum (drums on “Where In the World”), Morris Murphy (back trumpet on “Glory Days”)
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Ñ gosto de Cream.
E o digo mais por uma birra justificada q por implicação fundamentada: conheço por alto a banda, q ñ me pegou. Pq passei da idade, pq faltei à aula, pq tvz devesse ter conhecido antes.
“I Feel Free” era o videoclipe q a Mtv Brasil passava deles. Sonzinho pop, bem distante do arrojo e da exuberância técnica com q sempre os vi descritos. “Crossroads” tvz fosse som q me pegasse… mas é versão de Robert Johnson e o Rush recentemente regravando-o (em “Feedback”) me serviu melhor; como Jack Bruce co-escrevendo e tocando na faixa-título de “Apostrophe”, de Frank Zappa. “Sunshine Of Your Love”, desculpem-me, nunca me desceu: acho uma das canções mais chatas de todos os tempos, ao lado de “Should I Stay Or Should I Go?”.
“Disraeli Gears” tenho em fita, q ganhei de amigo q jogaria fora, mas ouvi uma vez, mal e mal, e ñ me pegou. Na verdade, minha birra é com Eric Clapton: acho o cara muito coxinha, nunca entendi a deidade atribuída e gosto só duns 2 sons do sujeito (“Bad Love” e a versão acústica de “Layla”). Tb nunca fui atrás de ouvir melhor, por ñ me ser prioridade. E pq em minha cosmogonia tacanha, curtir Clapton ñ coaduna com curtir Jeff Beck. Adoro e prefiro este.
Gary Moore, por outro lado, foi guitarrista q descobri recentemente. E tarde: já havia morrido. Menos mal a obra pouco valorizada (cheia de altos e baixos, verdade), mas bastante disponível.
É aqui q chego ao BBM, adquirido este mês, por conta do cara e pela raridade. Antes de pôr pra ouvir, lembrei do hype de 20 anos atrás: uma volta do Cream q supostamente ñ engrenou, daí teriam recrutarado Moore como estepe. Resenhas positivas, mas ñ entusiasmadas, um videoclipe pra constar e o completo ostracismo.
Ñ deixou legado. Uma pena.
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“Around the Next Dream” tem bons e menores (poucos) momentos e feeling em abundância. E se é verdade q rola um auto-plágio (“City Of Gold” se vale de “Crossroads” descardamente), ñ vi problema. É álbum pra ser ouvido aos poucos, de cabo a rabo (sem random no pendrive), e digerido como um álbum antigamente costumava ser. Como um bom álbum deve ser ouvido.
Como álbum, há 20 anos eu ñ teria tido MATURIDADE para encarar, apreciar e recomendar. A ponto de eu hoje achar absurdo q NENHUM dos sons por aqui jamais tenha tocado em rádio: o “classic rock” inexistia em 1994, hoje existe – muito pra tamponar a esterilidade dum rock atual – então me parece incrível q, passados 20 anos, uma Kiss Fm jamais tocar nada deste disco em programação, normal ou extraordinária.
Os 10 sons daqui, todos de matriz blues rock, são repletos de bom gosto e timbragens, com arrojo instrumental, mas sem firulas desnecessárias: o jeitão destrambelhado de solar de Moore, repleto de bends e de volume alto, pra mim encaixou muito bem com a cozinha de Bruce e Ginger Baker. Moore e Bruce dividem vocais, às vezes numa mesma faixa, e eu prefiro os roucos do primeiro. Baker “joga pro time”, com manulações em pratos de condução e uma timbragem baterística q simplesmente aboliu reverbs (ecos) e compressões. Impressão de músicos tocando naturalmente, com alguém gravando ao vivo, como num bar.
Curiosamente, as faixas com as quais ñ consegui me empolgar tanto quanto as outras foram “Naked Flame” e “Wrong Side Of Town”, ambas de autoria solitária de Moore. Impressão de terem entrado pra fazer volume, levemente equivocadas, mas de nenhum modo ruins. Apenas menores.
Som único de autoria do trio, “Why Does Love (Have to Go Wrong?)”, dura 8 minutos e se justifica. Ñ cansa. “Glory Days” contém trumpete marcando um riff meio celta, q fãs de Blackmore’s Night ou Jethro Tull curtirão. Épica. “High Cost Of Loving” soa Steve Ray Vaughan com ZZ Top, sem chupins, no bom sentido.
A quem curte o Deep Purple atual mais na manha e sem Ritchie Blackmore, mas faz objeções a algumas impertinências guitarrísticas de Steve Morse, “Around the Next Dream” tvz possa tb cair muito bem.
As duas primeiras faixas, fora “Glory Days”, “Can’t Fool the Blues” e “I Wonder Why (Are You So Mean to Me?)”, são minhas preferidas, e se é verdade q uma ausência de Clapton por aqui justificou o desinteresse mercadológico do disco e do projeto BBM, por outro lado entendo q o material decantado se apresentou isento de pressões de mercado ou de sucesso “fácil”. Chegaram a fazer turnê e o You Tube tem video de show inteiro, mas desconheço algum dvd q tenha sido lançado oficialmente.
Motivos pelos quais o trio ñ continuou parecem ter envolvido conflitos de ego ou temperamento, mas recordo q mais ou menos na mesma época os álbuns/projetos “Coverdale-Page” e “No Quarter” (aquela “meia volta” de Lep Zeppelin, em 2 álbuns) tb deram em muito pouco. Dinossauros passaram a ganhar credibilidade mais tarde no rock.
Discão.
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CATA PIOLHO CCXXV – falando em dinossauros, uma impressão recente ouvindo “Parental Guidance”, do Judas Priest: o refrão ali ñ tem alguma coisa de “Tumbling Dice”, do Rolling Stones?