THE SONGS REMAIN THE SAME?
por märZ
Um assunto que talvez já tenha sido brevemente pincelado por aqui: machismo e misoginia nas letras de rock, hard e metal em geral.
Minha reflexão que culminou na idéia de abordar o tema começou com um cd do Raul Seixas que comprei semana passada, “Abre-te Sésamo” (1980), e mais especificamente, a canção “Rock das ‘Aranha'”. Minha namorada, bem mais jovem do que eu, estava aqui em casa e coloquei o cd pra tocar; quando chegou na referida canção, ela se virou pra mim com olhar grave e mandou:
“é sério, isso?”
Todo homem já recebeu esse olhar congelante de uma namorada, parceira, esposa e sabe o que vem em seguida: tentativas patéticas de explicar o quase inexplicável, atropelando palavras e conceitos.
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O fato é que, se eu ouvia e cantava essa música do Raul a plenos pulmões e com um sorriso na cara aos 19, hoje aos 50 fico com vergonha alheia por ele, e ainda mais das pessoas à minha volta. O mundo mudou? Eu mudei? Estou velho, careta, me transformei em um dos coroas de quem, quando jovem, adorava tripudiar e criticar?
Complementando, ontem inventei de ouvir o álbum de estréia dos Raimundos, que não escutava há uns bons 10 anos. O sentimento foi parecido ao “episódio Raul“, ainda que estivesse sozinho em casa com meus gatos. Novamente: mudou, mudei?
Me lembrei então de um artigo de revista gringa com Robert Plant, à época do lançamento da versão remasterizada tripla do ao vivo “The Song Remains the Same”, onde Plant descreve ter pedido ao produtor que retirasse certos trechos de diálogos seus com a platéia, e até mesmo partes das canções onde o teor de suas palavras tinha cunho misógino, por hoje se sentir envergonhado por tê-los dito. O produtor então explicou que seria um erro fazê-lo, pois o público do Zeppelin está bem familiarizado com eles e espera ouvi-los ao adquirir o material. Apagá-los agora seria trapaça e geraria mais controvérsia do que o contrário.
E assim ficou.
E o que não dizer de algumas (muitas?) letras de artistas com Bon Jovi, Whitesnake (as letras de Coverdale costumam ser embaraçosas), Rolling Stones, os óbvios Mötley Crüe e Poison, e tantos outros que não chegaram a atingir o mainstream?
O raciocínio que estou querendo gerar é: está tudo realmente mudando ou continua o mesmo, e nós é que adquirimos um ponto de vista diferente? Ou nada disso?