SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
“My Favorite Headache”, Geddy Lee, 2000, Atlantic/Anthem/Warner
sons: MY FAVORITE HEADACHE * / THE PRESENT TENSE / WINDOW TO THE WORLD / WORKING AT PERFEKT / RUNAWAY TRAIN / THE ANGELS’ SHARE / MOVING TO BOHEMIA * / HOME ON THE STRANGE * / SLIPPING / STILL / GRACE TO GRACE *
formação: Geddy Lee (basses, voices, piano, guitar, programming, percussion, shining), Ben Mink (electric and acoustic guitars, violins and violas, programming, wheezing), Matt Cameron (drums)
participações especiais: Jeremy Taggart (drums on “Home On the Strange”), John Friesen (cellos on “Working At Perfekt”), Ed Wilson (additional programming), Chris Stringer (additional percussion), Waylon Wall (steel guitar on “Window to the World”), Pappy Rosen (backward vocals on “Slipping”), Duke (dog)
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Geddy Lee ñ é só o rostinho feioso de bruxa velha q no Rush toca baixo pra cacete, teclados razoáveis e mantém – embora atualmente em tons bem menos estridentes – a voz mais controversa e “ame ou odeie” de bandas, mesmo q ñ power trios, em todos os tempos. É tb, segundo impressões q eu tinha, e q confirmei em “My Favorite Headache”, o LÍDER da patota canadense.
Tal impressão eu sempre nutri ao ler/ver entrevistas da banda, com eles – e sobretudo Alex Lifeson – atribuindo a Lee o papel de arranjador, de sujeito q sabe bastante de harmonias, arranjos. Hmm… E este álbum solo, passado um tanto batido (ñ fez, como o Lifeson ousou – em “Victor” (de 1996) – cometer algum clipe, nem lançar “música de trabalho” dele) acaba sobremodo atestando isso. Pois, mais q o álbum solo do colega guitarrista, PARECE DISCO DO RUSH.
Nem poderia ser de outro modo, afinal a voz é a mesma, e idêntica a timbragem do Fender Bass. E dos teclados tb. Vários dos sons eu tinha de memória remeterem ao, pra mim mediano, “Test For Echo” – álbum rushiano imediatamente anterior a MFH – e ainda mais: a um “Test For Echo” melhorado.
Ñ é bem o caso, e ao revisitar o álbum pra cometer o presente S.U.P., vejo-o mais como um elo de ligação entre discos do Rush, já q contém partes q tb remetem ao “Vapor Trails” (2002) seguinte, de consolidação do luto de Neil Peart e encerrador do período de 4 anos sabáticos em q os canadenses estiveram parados enquanto o baterista rodava de moto EUA, México e parte da América Central para elaborar a dor das mortes súbitas e próximas de esposa e filha.
(Episódio esse magistralmente – e sem qualquer apelação – visitado no documentário “Rush: Beyond the Lighted Stage”)
A faixa-título inicial contém elementos de ambos – o anterior, como o posterior – como tb engana um tanto, uma vez q os 15 segundos iniciais, dum baixo na cara e agressivo, prometem álbum em q Lee tvz se soltasse ainda mais como baixista. Resolvesse mostrar ao mundo a categoria e refinamento fora do consensual de sua banda-mor. Como shredder bassist ou coisa q o valesse. Ñ é bem assim q ocorre: Lee preferiu extravasar por aqui seu lado compositor/arranjador. E estivesse “My Favorite Headache”, faixa, em “Test For Echo”, ou mesmo no “Counterparts” anterior a esse, acho q seria destaque. Como acho por aqui.
Os outros 3 sons acima asteriscados, indicativos de melhores do álbum pra este q vos bosta (digo, bloga), tb contêm passagens e elementos arrojados, q se fossem sons instrumentais eu acharia ainda melhores. Sendo os sons de maior referência ao Rush ostensivamente técnico – compassos compostos inclusos – abandonado em meados dos 80’s. No q se tem q destacar os parceiros de ocasião do sujeito aqui: Ben Mink, q havia sido dos RARÍSSIMOS músicos de fora do trio a participar dum álbum deles (fazendo violinos em “Losing It”, do “Signals”), cumpre bem o “papel” de Alex Lifeson, pouco destoando em relação aos momentos mais psicodélicos ou esquisitos deste. O trampo guitarrístico vai muito na linha do Lifeson no Rush: coadjuvante, mais afeito a texturas e dedilhados q a escalas (vez ou outra um violãozinho complementar), e de solos muito breves, nada shredders.
Matt Cameron, por sua vez, cumpre a função de baterista virtuoso enrustido, fazendo o habitual de seus tempos de Soundgarden ou do disco solo de Tony Iommi (o tb de 2000 “Iommi”), ou seja, tocando bateria pra cacete de modo a parecer estar tocando qualquer coisa de qualquer jeito. Dando impressão de ter sentado na bateria meio na hora de gravar mesmo e gravado meio qualquer coisa q lhe ocorresse no momento. Rastros dessa simplicidade complexa Neil Peart acabou cometendo em “Vapor Trails”…
Ñ dá pra falar em músicos substitutos ideais pruma turnê rushiana, caso Lifeson e Peart ñ pudessem comparecer, q é heresia braba (e Lee ñ o faria, de qualquer modo), mas num mundo paralelo – aquele do Super Homem Bizarro – tvz tenha acontecido.
Divagação.
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Gosto de “Grace to Grace” por parecer Rush – TODAS as 11 músicas parecem – embora contenha mínimos diferenciais chamativos: a guitarrinha de timbragem jazzística, além de conter solinho com slide e uma programaçãozinha interessante e sutil, aliadas ao peso. De “Home On the Strange”, por conter umas firulinhas, fugir ao padrão das músicas todas de mesma formatação, muito próximas ao Rush de fase “hard prog” (conforme denominação da Wikipédia) – período iniciado em “Vapor Trails”, ainda atualmente vigente. E de “Moving to Bohemia” pelo mesmo motivo de “My Favorite Headache”: vejo (ouço)-a como som q constando em álbum do trio matriz ñ faria feio.
Ñ gosto de “The Angels’ Share” e de “Slipping” por serem as mais melosas (ñ chegam a ser baladas no sentido pop/comercial do termo): pra mim, as piores do trampo. A 1ª baseada em violões (e com violinos, q melam ainda “Working At Perfekt” e a mesma “Slipping”), contém O MAIOR POBREMA DO DISCO – e do Lee no Rush ultimamente, pra mim – o das dobras vocais. Ñ me agrada Lee cantando grave tendo ele mesmo agudo ao fundo: poderia fazê-lo mais a contento com o gordinho (no trio) e aqui no álbum com alguma cantora, pra dar melhor efeito.
As q ñ acho as melhores nem as piores, dão na mesma falar mal ou bem. A redundância vai ameaçando o S.U.P., por isso lanço só mais 2 aspectos:
As letras ñ vêm no encarte, sendo “My Favorite Headache” dos primeiros casos de q me lembro de álbum complementado por site. Há o aviso de q pra lê-las, visitemos www.myfavoriteheadache.com, o q tentei fazer, em vão: ñ sei se ñ está mais no ar, ou se fiz coisa errada (provavelmente a 2ª opção), mas encontrei as mesmas no Metal Archieves e o q posso dizer é serem elas letras sóbrias comuns, reflexivas acerca da vida e de relacionamentos do sujeito, etc. e tal. Ñ muito diferente – oh! – das do Rush cunhadas por Neil Peart.
Tvz se possa dizer serem mais simétricas, mais ligadas às melodias, e ñ encontrei nenhuma q realmente se destacasse, a ñ ser a de “Home On the Strange”, q fala sobre um “ícone canadense” q “dorme com uma serra elétrica”, “com a roupa do corpo”, “ñ gosta de falar”, nem de “mudanças” e q “gosta de trabalhar com suas mãos”, fora ser “um homem apolítico”. Q me deixou seriamente intrigado sobre ser homenagem ou crítica a Peart em seu auto-exílio (citado acima), ou algum auto-retrato bisonhamente engraçado (canadense tem humor esquisito, afinal de contas).
E minha conclusão é a de “My Favorite Headache”, disco solo discreto, se prestar a algumas coisas. A Geddy Lee, como peça de currículo (vai q ele resolve procurar vaga noutra banda… pode servir), a fãs incondicionais de Rush, como peça cult – de integrante da banda cult mais adorada no mundo – a ser especulada em fóruns (em discussões, p.ex., acerca de quais sons melhor caberiam em álbum do trio-mor), a fãs ñ tão xiitas de Rush como mais um item de coleção, sujeito a críticas e a audições ocasionais (meu caso), e a quem ñ suporta Rush, como prova cabal de q nem em carreira solo se consegue aturar o Geddy Lee ahahah
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Tivesse pelo menos UM som instrumental!…
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CATA PIOLHO CLXXXVII – “My Apocalypse”: Arch Enemy ou Metallica? // “The Legacy”: Testament ou Iron Maiden? // “Kill It”: Fight ou Helloween?