(dedicado ao Tucho)
“Temporada Na Estrada – Histórias de Uma Banda de Rock”, Yves Passarell, 1999, Gryphus, 172 páginas
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Todo mundo por aqui sabe da minha birra com o Viper, banda de q até tentei gostar (cheguei a ir a show, inclusive), e q respeito até um pouquinho – pelo 1º disco – baseada (a birra) sobretudo em 2 aspectos: 1) nunca fui com a cara, nem com a voz, do André Chatos; 2) achar o “Theatre Of Fate” exagerado e enfadonho, ainda q esforçado e ousado pro contexto do metal brasileiro oitentista.
Um 3º motivo pra eu nunca ter ido com a cara deles, e q eu apenas intuía, era a impressão de POUCA AMBIÇÃO dos caras. De banda ímpar no quesito “tiro no pé”: tiveram chances legítimas de se confirmarem, até resolverem jogar tudo no lixo. E o digo baseado nos ladeira-abaixo “Evolution” (as caveirinhas andando de bicicleta me soando pra lá de irônicas), “Maniacs In Japan” (com cover de Tim Maia!) e “Coma Rage”, de q conheci um ou outro som fuleiro.
Do “Tem Pra Todo Mundo” prefiro ñ comentar pq, àquela altura, tinha desistido MESMO dos caras.
Pois o motivo da pouca ambição e amadorismo tive confirmado após concluir a leitura desse “Temporada Na Estrada…”, lançado em 1999 com um delay – pra mim – inacreditável: quase 10 anos após feita a turnê de q se pretende descrever e rememorar. Cujo título e orelhas prometem descrição de turnê européia da banda, de meados de 1992, mas ñ cumprem: o livro é um monte de relatos e divagações pouco detalhadas, fora disperso pra cacete.
Pois se os primeiros capítulos da bagaça falam na expectativa da 1ª turnê européia (ocorrida nos lados do Leste Europeu sob as ruínas do Muro de Berlim desabado) e início da banda, logo as coisas se misturam e se atropelam: pois entendemos q os caras viajaram tb pra gravar o disco novo (sequer o título “Evolution” é citado), em meio a ensaios com Charlie Bauerfind e, do meio pra frente, tudo se torna um livro de memórias do próprio Viper em seus últimos dias, sem o mínimo cuidado de se “rechear” mais os fatos – do tipo citar nomes de gente envolvida – ou descrever maiores peripécias vividas pelos quatro amigos. E com o pior, embora óbvio: sempre sob o olhar distraído de Yves (q na verdade se chama Osvaldo).
Ah, há relato de jogo de sinuca “perigoso” na Hungria, assim como tb de “mico” de brinde feito com breja (o q era feito pelos ex-ditadores, em comemoração à morte de opositores) em balada com os caras do Omen (banda húngara ainda ativa), encontro com figuraça q ganhou aposta auto-priápica em restaurante lotado, assim como encontro de Pit (vulgo “Pedrão”) com sósia idêntico nos confins europeus. Há menção a estresses entre eles mesmos, tudo muito sutil e displicente – em uma página e meia, dentre as 130 de texto – com destaque maior ao ronco do baterista Renato Graccia (!).
Muito pouco, pra mim, q esperava estórias mais detalhadas, “quentes” ou politicamente incorretas: tanta coisa parece ocorrer em turnê, e sequer nomes de sons DELES PRÓPRIOS são mencionados qualquer vez. O show ocorrido no Japão, resultante no álbum ao vivo, gerador de ansiedades tremendas por ter sido show único em Tóquio (tivessem tocado mal, ñ teriam outra chance de fazê-lo), tem os receios mencionados, mas já estamos no fim do livro. Por outro lado, o show deles no 1º Philips Monsters Of Rock daqui (em 1994) vem assim descrito verborragicamente (p. 117):
“Voltamos ao Brasil e modéstia à parte fizemos um puta show no Monsters Of Rock. Tocamos praticamente todas as músicas conhecidas dos discos anteriores e algumas do nosso até então novo CD “Coma Rage”.”
Ñ é assim uma porcaria o livro: lá pelo 4º e 5º capítulos as descrições e divagações vão ficando interessantes, alguns eventos e passagens são bem chamativas, assim como reflexões do autor. No entanto, ficou tudo muito “jogado”: era pra ser sobre turnê, daí rola falar de gravações, daí rola falar de sessões de autógrafos no Brasil e no mundo, daí há capítulo sobre desencanto com empresário, mais um sobre festa em Los Angeles na casa – decorada com discos de ouro no banheiro – de Neil Young, sobre 1º encontro com Bill Metoyer (produtor) em banheiro de aeroporto. A impressão é q, nos tempos atuais de blog, “Temporada Na Estrada” teria rendido um (ou um site) bem legal, com a interatividade de (ex) fãs cumprindo preenchimentos de lacunas, sanear de dúvidas, depoimentos cúmplices, etc. e tal.
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OMISSÃO é tb palavra-chave na leitura deste livro: o André Chatos (tudo bem q ex-integrante, coisa e tal) sequer é mencionado (só em fotos), assim como ñ se cita de outras turnês japonesas jamais ocorrendo pelo desencanto dos japas com a banda (esperavam alguém como o Chatos cantando, ñ como o Pit). Outros ex-integrantes são citados muito de raspão. Ex-empresário pilantra ñ tem nome citado. Também é omitida a má recepção ao “Coma Rage”, q até deve ter rendido fãs disk-mtv à banda, mas ñ manteve os das antigas.
Omissão específica essa passada bem por alto, com Yves descrevendo algum “cansaço” em fazerem sons em inglês ou de ñ agüentarem “mais ficar tocando a mesma música”, o q, aliada à vontade de “estar mais perto dos músicos brasileiros”, fez com q cometessem “Tem Pra Todo Mundo”, onde descrições de participações de Ivo Meirelles e Dado Villa-Lobos se fazem como fossem Tom Araya ou Steve Harris indo tocar com eles…
Ainda q, sob a perspectiva de “integridade”, fique nítido q SEMPRE fizeram o q quiseram musicalmente na trajetória toda, por outro lado fica patente q o Viper careceu de orientação. De algum produtor q os fizesse aprimorar a receita melódica, reinventar o estilo, lapidar o talento… assim como algum revisor dizendo a Yves q poderia ter escrito mais detalhadamente uma série de eventos com os quais ficamos sob breves impressões.
A conclusão fácil q tive após ler o livro, confirmando hipótese acima lançada, é de ter sido o Viper uma banda q “se divertiu” pra caramba. Ñ tinha maiores pretensões, a q turnês fora do país funcionaram como bônus: se ñ desejavam muito, brincaram de banda profissa, curtiram as noites (e nisso o livro é prodigioso em descrever: como iam a botecos os caras!) e cumpriram seu papel, tendo encerrado atividades – ilação minha, já q o livro ñ chega nesse ponto – por falta de outros objetivos e por diluições múltiplas: de musicalidade, oportunidades, potencial etc.
Yves é lapidar nesse sentido, no trecho abaixo (p. 120):
“E no meio disso estavam quatro caras que se uniram e queriam se divertir e divertir os outros, numa boa. Essa era a essência principal que nos levava a estar onde estávamos, independente de sucesso ou não. As coisas apareciam e desapareciam como tinham que ser”.
E sua carreira atual no Capital Inicial, ao mesmo tempo me soa melancólica e devida: está onde “tinha q” estar?
Por fim: embora pareça contraditório elencar “Temporada Na Estrada…” como S.U.P., por tudo de ruim q falei a respeito, mesmo assim considero fundamental a leitura – mesmo com a capinha verde-fosforecente-caderno-de-menina e a cobrinha esquisita (certamente o q a editora encontrou pra retratar uma víbora…) – sobretudo por gente interessada na história do heavy metal brasileiro, do qual este livro é AINDA dos poucos relatos.
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CATA PIOLHO CLXXXV – ouvi isto aqui no rádio duas semanas atrás. E fora haver escancarado minha total ignorância com relação ao rock sulista setentista estadunidense, lanço cá impressão q ñ diluiu desde então: quanta semelhança com “The Unforgiven II”, hum?
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=nFl0nlHaWa4 [/youtube]
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Melhor dizendo: vice-versa ahah