30 ANOS DEPOIS…
… o q ficou?
… o q ficou?
versus
“Good God’s Urge”, Porno For Pyros, 1996, Warner
sons: PORPOISE HEAD / 100 WAYS / TAHITIAN MOON / KIMBERLY AUSTIN / THICK OF IT ALL / GOOD GOD’s://URGE! / WISHING WELL / DOGS RULE THE NIGHT / FREEWAY / BALI EYES
formação: Perry Farrell (vocals, percussion, samples, harp, keyboards), Peter DiStefano (guitars, samples, backing vocals), Stephen Perkins (drums, percussion, samples, backing vocals) + Mike Watt and Martyn LeNoble (bass), Thomas Johnson (samples and sounds)
participações especiais: em “Porpoise Head” (Daniel Ash, guitar; David J, bass; Kevin Haskins, samples); em “100 Ways” (Kimberly Juarez, backing vocals; Lili Haydn, violin; Ralf Rickert, trumpet); em “Freeway” (Flea, bass; Dave Navarro, guitar intro; John Flannery, space guitar; Josh Klassman and Christine Cagle, backing vocals); em “Tahitian Moon” e “Bali Eyes” (Matt Hyde, slide guitar); em “Good God’s://Urge” (John Flannery, backing vocals and trash can; Christine Cagle e Shawn London, backing vocals); em “Wishing Well” (Leo Chelyapov, clarinet)
–
“Good God’s Urge” ñ é metal. Como o Porno For Pyros tb ñ o foi. (A ñ ser q o primeiro álbum – q ainda ñ ouvi – o fosse).
Como o Jane’s Addiction gerador/anterior/posterior tb ñ o era, mas aproximava-se por causa de Dave Navarro e sua guitarrice. E pq algum zeitgeist noventista os abrigava num nicho “metal alternativo”, muito pelas beiradas.
“Good God’s Urge” traz esoterismo eletroacústico. Bicho-grilice e cacofonia, talentosamente equilibrados, às vezes num mesmo som. Disco homogêneo, nada esquizóide. De timbres e atmosferas, mais q de riffs. Tem peso. E instrumentação exótica – sobretudo percussiva – sem estereotipias nem afetação; cortesia do fodaço Stephen Perkins, fiel escudeiro de Perry Farrell nesta outra empreitada.
São 10 sons em pouco mais de 30 minutos, o q favorece ouvir bastante. Gosto é pessoal: eu curto o álbum, e quando me dá umas de ouvir, faço repetidamente. Destaco, dentre as pesadas, “Tahitian Moon” (rolava um clipe na Mtv Brasil) e “Dogs Rule the Night”. Dentre as (mais) acústicas, “100 Ways” e “Kimberly Austin”. E a quem ñ curte o vocal de Farrell, advirto: está mais pertinente aqui. 8 ou 80.
A banda durou pouco: o “Porno For Pyros” (1993) anterior mais este. Fecharam a lojinha devido a um câncer de Peter DiStefano, tratado e curado, mas sem volta da banda. Ñ deixaram legado, tampouco um saudosismo q a nostalgia + volta do Jane’s Addiction, posterior, tb ñ acalentou. Serve pra listarmos em conversas como das tantas bandas noventistas boas q ñ foram grunge.
E é o tipo de disco q eu deixaria tocando em loop em minha sala de espera caso fosse tarólogo ou quiroprata.
*
*
CATA PIOLHO CCLXV – nova jornada de “capas de inspiração semelhante”
“Green Naugahyde”, Primus, 2011, ATO/Prawn Song/Lab 344
sons: PRELUDE TO A CRAWL / HENNEPIN CRAWLER / LAST SALMON MAN / ETERNAL CONSUMPTION ENGINE / TRAGEDY’S A’COMIN’ / EYES OF THE SQUIRREL / JILLY’S ON SMACK / LEE VAN CLEEF / MORON TV / GREEN RANGER / HOINFODAMAN / EXTINCTION BURST / SALMON MEN
formação: Les Claypool (vocals & bass), Larry Lalonde (guitars), Jay Lane (drums)
.
O tempo fez bem ao Primus.
E tb seu hiato duns 10 anos, os trocentos projetos-solo, paralelos e/ou co-secantes de Les Claypool (Sausage, Oysterhead, Les Claypool & the Holy Mackerel, Colonel Les Claypool Fearless Flying Frog Brigade, Les Claypool’s Frog Brigade e Colonel Claypool’s Bucket Of Bernie Brains – dos quais nunca ouvi nadinha de nada, mas q desconfio terem podado seu umbigo), o ep + dvd aperitivo “Animals Should Not Try to Act Like People” (com a volta de Tim ‘Herb’ Alexander à horda, q ñ se consumou na seqüência) e tb a saída de Brain ‘Brain’ Mantia da banda.
Creio ñ ter sido só comigo este “Green Naugahyde” chegando sem estardalhaços, nem lançamento nacional por multinacional, meio na miúda. A apresentação brasuca dos caras em 2011 (no SWU) meio q o trouxe por tabela. E a mim, trouxe estranhamento. Tornado fascínio imediato, quando da aquisição do citado artefato.
Ñ sei cravar “Green Naugahyde” como clássico, junto a “Frizzle Fry”, “Sailing the Seas Of Cheese”, “Miscellaneous Debris”, “Pork Soda” ou “Tales From the Punchbowl” (clássico pra mim, pelo menos) – tvz seja questão de TEMPO para tal – mas já o afirmo superior a “The Brown Album”, “Rhynoplasty” e “Antipop”, com absoluta certeza. Por ser álbum sem qualquer dos tantos deméritos dos 3 últimos citados. ‘Brain’, um deles.
Os sons neste aqui têm coesão, a banda mostra-se como banda de fato (só a intro e 2 sons são só do baixista), há elementos novos em termos de PESO e timbres (vocais inclusos) e, no mais, percebe-se o Primus aqui maduro, usando a técnica A FAVOR dos sons bizarros, sem autoparódia, autoindulgência, nem relação suserania e vassalagem Claypool – os outros 2.
Claro q ñ faltam os típicos elementos da banda: sons falando em salmão e/ou pescaria, as letras pitorescas, influências de Frank Zappa e King Crimson a rodo, o baixo às vezes alto demais na mixagem, repetição a tôa dum tema ao final (“Salmon Men”) e 3 sons q poderiam ter constado de qualquer álbum anterior: “Hennepin Crawler”, “The Last Salmon Man” e “Eternal Consumption Engine”.
Este último, enfadonho como a quase totalidade de “The Brown Album”, e o único q ñ curto.
Além disso, “Green Naugahyde” traz como acréscimo traços prog e psicodélicos às composições, como nunca antes decantados. Sons pra viajar, conduzidos até mesmo pela guitarra, a mim são destaque: “Eyes Of the Squirrel”, “Jilly’s On Smack” e “Green Ranger”, dos quais a duração extensa – exceto a da última, praticamente uma vinheta – nada atrapalha, muito pelo contrário. Os caras conseguiram fazer com q viajemos COM OS SONS, ñ com a técnica de workshop meio autista iniciada em “Pork Soda”… pra daí ter virado um casulo q os encapsulou, sem volta.
**
Muito dessa viajeira pode-se tb atribuir ao baterista Jay Lane, q era integrante original (co-fundador; gravou a 1ª demo) e formatador da sonoridade q o Primus consolidou: Tim Alexander o seguiu e aprimorou, Brian Mantia, ñ.
Sua técnica ñ é neilpeartiana como a de ‘Herb’, mas ostenta timbres (splashes, sinos e uso de tom-tons), firulas (semicolcheias em chimbau) e um modo percussionista de tocar q me lembra o subestimado Stephen Perkins (Jane’s Addiction, Porno For Pyros). Tem mais ginga e oferece o elo de ligação pra lá de articulado entre as fritações de Claypool e Larry Lalonde, monstro guitarrístico à paisana como nem Alex Lifeson (Rush) consegue ser.
“Tragedy’s A’Comin'” e “Extinction Burst”, voltando aos sons, trazem um sotaque prog mais acentuado, o q reflete e reitera a tal maturidade q enxergo nos caras aqui: a 1ª tem um inusitado quê de AC/DC (da safra “Ballbreaker”) no riff guitarristico, um elemento classic rock q se amolda à perfeição aos slaps baixisticos alucinados. Puta som, e tvz a única realmente radiofônica, junto de “Lee Van Cleef”.
“Extinction Burst” contém riff de baixo sublime e pesado no qual o som e a banda evoluem junto, paralelamente e colidindo com o mesmo: coisa de louco – se for o caso de se ouvir UM som do disco, tentem esse.
“Hoinfodaman” (composição de Lalonde) e “Moron Tv” – o riff de baixo mais pesado da banda! – prestam-se àquele primo (ops!), amigo ou vizinho mais novo, órfão de System Of A Down e de Fake Against the Machine: ñ derrubarão qualquer governo, tampouco levarão o ‘sistema’ ao colapso, nem gerarão banda com Chris Cornell pra cumprimento de contrato, mas são pesados a vera. Mó pauleiras.
“Lee Van Cleef” parece o hit premeditado. Com louvor. E tem letra fantástica, com variações: “on the big screen they want to see old Clint, they all want to see old Clint/But I want to see Lee Van Cleef, ya know I like to see old Lee”… Num futuro “greatest hits” da banda (num Universo Paralelo e longínquo) constará. Fora isso, gerou um clipe bacana. Procurem no You Tube.
O tempo fez bem ao Primus. E a volta do Primus fez bem a mim. Tomara mesmo q ñ precisem de novos excessos e hiatos pra cometer novas coisas tão boas como “Green Naugahyde” mais adiante. Adiante é onde eles já estão… quero continuar correndo atrás.
*
*
CATA PIOLHO CCXXXII – capistico, Jogo dos 7 Erros: