julho 2016
SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
“Crest Of A Knave”, Jethro Tull, 1987, Chrysalis/EMI
sons: STEEL MONKEY / FARM ON THE FREEWAY / JUMP START / SAID SHE WAS A DANCER / DOGS IN THE MIDWINTER / BUDAPEST / MOUNTAIN MEN / THE WAKING EDGE / RAISING STEAM
formação: Ian Anderson (vocals, flute, guitar, acoustic guitar, percussion, keyboards and drum programme on “Steel Monkey”, “Dogs In the Midwinter” and “Raising Steam”), Martin Barre (lead guitars), David Pegg (bass guitar)
adicionais: Doane Perry (drums on “Farm On the Freeway” and “Mountain Men”), Gerry Conway (drums on “Jump Start”, “Said She Was A Dancer”, “Budapest” and “The Waking Edge”), Ric Sanders (violin on “Budapest”)
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Este é o famigerado. O infame. O profano. O amaldiçoado, e até há algum tempo o mais famoso disco do Jethro Tull (durou pouco: “Aqualung” voltou ao pódio e continua sendo o mais) q em 1989 – !! – abiscoitou o Grammy de “Melhor Álbum de Heavy Metal”, ou algo do tipo, do Metallica e seu “… And Justice For All”.
É um álbum de heavy metal? Ñ. Nem é o melhor álbum do Jethro Tull. Tvz o melhor da banda nos 80’s, pra quem se importa. Ficou dele a indignidade (pra quem se importa com Grammys), Ian Anderson brincando q sua flauta é um instrumento “de metal”… e tb um belo disco. A quem se dispuser a encará-lo.
Para tanto, contextualizo “Crest Of A Knave” na obra da banda: o Jethro Tull, tal como ZZ Top e Judas Priest (ostensivamente) e Rush e Iron Maiden (com melhores resultados), rendeu-se a teclados, timbres especificamente sintéticos/pop e bateria eletrônica nos 80’s. Resultou, no meu entender, na leva mais fraca de discos da banda: “A” (q era pra ter saído disco solo de Anderson), “Broadsword And the Beast” (legalzinho) e “Under Wraps” (horroroso).
Ñ q a identidade da banda, “fenômeno único de hard rock com melodias folk, licks de blues e letras surreais, densas e impossíveis, q desafiam análises superficiais” (de acordo com o Allmusic.com) tenha se perdido totalmente nestes; ficou só opaca e insossa. Tvz tanta tecnologia tenha servido de álibi pra fase pouco inspirada de Anderson, dono, produtor e compositor-mor na banda desde sempre. De todo modo, “Crest Of A Knave” recupera muito das veias folk, jazz, progressivas e progressistas da banda, já dinossaura, ainda q contando com bateria eletrônica aqui e ali. E mesmo soando pop de modo mais sóbrio q os discos anteriores citados, e q o seguinte, “Rock Islands”, faria ainda melhor.
Uma entrelinha no encarte entrega ainda um despojamento – ou cansaço frente à indústria fonográfica? – pioneiro na produção do álbum, pq feito em casa, sem mega-estúdio ou mega-produtor envolvido. Mudanças várias de formação tb erodiam um pouco as coisas previamente. Apesar da voz de Anderson soar como a de Mark Knopfler nalguns momentos (já havia a idade pesando), o Jethro Tull aqui retomou um fôlego q duraria por mais uns 5 álbuns, até o seu final mais ou menos oficial…
… uma vez q Anderson continua apresentando-se como Jethro Tull’s Ian Anderson, tendo cometido em 2012 parte 2 de “Thick As A Brick” e etc.
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Mas se ñ é disco de thrash metal, tampouco de heavy metal, muito menos o melhor do Jethro Tull – o melhor duma época ‘menor’ dos caras – por q indicá-lo?
Por achar q vale a pena conhecê-lo, tentar entender o ininteligível – ganhar um Grammy por disco de heavy metal? – e recomendar a obra da banda, tão superficialmente conhecida como a banda de “Aqualung”, hit q todo mundo já enjoou de ouvir, e “Aqualung”, disco muito falado mas ñ tão ouvido. Em tempos atuais de download, se for pra indicar UM som daqui, recomendo “Budapest”, épico e medieval, ao mesmo tempo q futurista e setentista. Tem 10 minutos e ñ cansa, pq é composição q evolui em si própria. Outros dois? “Farm On the Freeway” e “Raising Steam”.
Claro q se alguém por aqui tem aversão à flauta de Anderson, melhor desencanar. É condição ‘ame ou odeie’. Ao mesmo tempo, o guitarrista Martin Barre – nunca elencado dentre os grandes do instrumento, sei lá por q catso – oferece farto material para deleite: solos, riffs, peso e timbres jamais óbvios. Elogiado por Ritchie Blackmore certa vez, ele q nunca li/vi elogiar quem quer q seja…
Aparte extra-álbum: em tempos idos recentes de folk metal badalado (Tuatha de Danann) e cultuado (Skyclad) e de Blackmore’s Night, conhecer um pouco mais de Jethro Tull auxilia no entendimento desse povo q pegou a estrada pavimentada há muito por Anderson e cia… Colchete dentro do parêntese: sacar algumas sutilezas do Iron Maiden tb – afinal Steve Harris ñ chupinhou se inspirou só em U.F.O., Wishbone Ash e Thin Lizzy.
Fecha parêntese, volta ao assunto: as letras parecem bem interessantes, tanto no aspecto vernacular incomum (ñ insistem em rimar ‘pain’ com ‘gain’ ou ‘desire’ com ‘fire’) como no das passagens, quase como contos de trovador. A ressalva é percebê-las predominando em relação às melodias na maior parte dos sons, algo um tanto folk demais. Por outro lado, “Budapest” e “Said She Was A Dancer” parecem ser sobre groupie(s), como q quebrando um pouco a seriedade dos temas, q tratam de guerra (“Mountain Men”) e contrastes entre vidas urbana e pastoril.
Contraditoriamente, ñ acho o melhor disco pra se iniciar no Tull: pra fugir da mesmice, recomendo “Minstrel In the Gallery” ou “Heavy Horses” (dos 70’s) e/ou “Roots to Branches” e “J-Tull Dot Com” (noventistas, e evoluídos deste), todos até mais ‘pesados’ e q põem “Crest Of A Knave” noutra perspectiva. E nunca é demais ter assunto: quando algum outro veterano vier, xiita e desdenhoso, lembrar agora q um dia o Metallica perdeu prêmio pro Jethro Tull os amigos poderão dizer q ouviram o disco e acharam ridículo o ocorrido. Mas ñ o disco.
Ou ñ.
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CATA PIOLHO CCLII – “Neurotica”: King Crimson ou Rush? // “Pride And Joy”: Stevie Ray Vaughan ou Coverdale/Page? // “Phantasmagoria”: The Mist ou Annihilator?
FORA DA CASINHA
“Clímax”, Chuck Palahniuk, 2014, 226 pp., Ed. LeYa
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Assim como considero Quentin Tarantino um Woody Allen q ouve Slayer e fuma crack, literariamente Chuck Palahniuk me é como um Kurt Vonnegut q ouve Zappa e cheira pó.
Como ñ ler um cara q escreveu “Clube da Luta”? Tvz o problema seja comigo – q ainda nem li o livro, esperando esquecer bem o filme – mas sei lá se tanto. Encontrei “Clímax” por aqui num sebo e me interessei pela sinopse, q assim reproduzia elogio do USA Today: “Chuck Palahniuk anda com sexo na cabeça (…) Mas não estamos falando de 50 Tons de Cinza. Clímax é praticamente um dedo do meio para a mommy porn e para a fama do erotismo moderno – e, ao mesmo tempo, uma sátira esperta sobre misoginia, fama, moda, autoajuda e ciência”.
Resumindo sem resumir? É uma aventura delirante, inicialmente decalcada de “50 Tons de Cinza”, parodiando-o sem dó, até a página 21. Parte chata. Dali pra frente, melhora: Penny Harrigan, estagiária de advocacia interiorana, se envolve com um milionário cobiçado e midiático, C. Linus Maxwell, acreditando ser ele o “cara ideal”, q dela tudo ouve, presta atenção, anota. Sem interrupções nem discórdia. Até a mesma descobrir ter sido feita de cobaia para o aperfeiçoamento de produtos eróticos femininos, dum segmento de seus negócios miliardários, a grife “Beautiful You”.
Isso dá pra contar, pq tem na orelha de “Clímax”. O q se desenrola nas páginas seguintes é toda uma viajeira sobre o tal milionário ter sordidamente viciado em sexo a mulherada adulta de praticamente todo o mundo industrializado. A ponto de os maridos e homens todos se tornarem prescindíveis, obsoletos. Ñ acho q dá pra transformarem em filme, ao menos q consigam fazer um com mulheres usando vibradores em Nova Iorque a céu aberto.
Ao menos q conseguissem passar com verossimilhança o início, depois repetido ao fim (ñ acho q estrague contar), duma cena com Penny sendo estuprada num tribunal sem q ninguém presente reaja. Ñ daria um filme de “Sessão da Tarde”. A história envolve ainda nanotecnologia, culto a celebridades, propaganda subliminar ostensiva, controle da mídia, suicídio em público, idosa bicentenária do Nepal, lesbianismo, machos indóceis queimando vibradores em pira pública, ginecologia a granel e ciência futurista desvairada, de fazer Isaac Asimov se remoer na tumba.
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Rola tb um escrachar cruel do feminismo, em livro cujas entrelinhas de ridicularizações à nossa pós-modernidade me parecem mais interessantes e importantes até q a trama, q tem falhas, como mudanças abruptas de cenários ou situações, ou falta de capítulos estruturados: o enredo se desenrola com pouquíssimas pausas, tresloucada e vertiginosamente. Palahniuk teve ter feito questão de ser assim ou então faltou editor com culhão (ui!) pra interferir.
A crítica mais mordaz e ferina cito aqui: “Analistas de comportamento foram rápidos em destacar como a publicidade se aproveitava havia muito tempo dos impulsos sexuais naturais dos homens. Para vender certa marca de cerveja e fisgar o público masculino, a mídia só precisava mostrar corpos femininos idealizados. Essa tática histórica parecia explorar as mulheres e favorecer os homens, mas os observadores mais astutos reconheciam como as mentes de homens inteligentes estavam sendo apagadas – suas ideias, sua capacidade de concentração e de compreensão – a cada vislumbrar de seios atraentes e de coxas lisas e firmes.
(…) Talvez tenha sido por isso que o mundo aceitara tão rápido o sumiço das mulheres caídas no mesmo abismo. A superestimulação artificial parecia ser a maneira perfeita de sufocar uma geração de jovens que queria mais em um mundo em que havia cada vez menos. Fossem as vítimas homens ou mulheres, a dependência de estímulo parecia ter se tornado a nova normalidade”.
O final achei bem besta e frouxo, em suas últimas 11 páginas, mas entendo. Por se tratar de história sem precedentes, algum final ainda mais bizarro e condizente seria humanamente impossível. Algo q já – ñ – vi em livros distópicos outros, como de José Saramago ou Stephen King. Tvz seja até bizarro, mas dum jeito q ñ me agradou. De todo modo, é livro forte, chulo, cruel, politicamente incorreto e sarcástico como poucos. Por isso o recomendo.
Quando contei à esposa de q se tratava, ficou em dúvida se era o autor o mais xarope em fazer o livro, o editor em publicá-lo, a editora daqui em traduzi-lo ou eu em tê-lo comprado, lido e resenhado. Confesso q ainda estou em dúvida.
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CATA PIOLHO CCLI – Jogo dos 7 Erros capístico eheh
ENCARTE: ANNIHILATOR
Momentos ‘visite nossa cozinha’ comparecem nalguns discos da banda. Jeff Waters em pessoa depondo. Eis o de “Refresh the Demon” (1996):
“Done once again in my studio, with long-time friend and engineer Paul ‘The Pastor’ Blake, ‘Demon’ was more of an aggressive sound and writing-style than on ‘King’. I think that my guitar playing on this cd was much better than on the previous cd; I go through many phases in my life where some years I rarely play guitar except for writing/recording/touring while other years, I play alot for fun and the love of it! Randy Black was again on this cd as well as some good soloing from Dave ‘The Glove’ Davis. I really like this cd and favorite tunes are the title track, Pastor, Ultraparanoia, Hunger and Innocent Eyes. The latter was obviously special as it was written for and about my son Alex. This was a tough time for traditional heavy metal; 1996 was the middle of the decade when, by this time, most metal bandas from the 80’s had either broken up or could not given a record deal. Annihilator was very fortunate to still be given the chance to forge on and we had some good touring, once again, for this cd. KK Downing once told me one of the most influential pieces of advice which I have applied in my life and career to this day: ‘If you believe in what you are doing, just keep your head up and keep going; it will eventually pay off’. I wonder if he knew how important those brief words were going to be to that kid from Ottawa, Canada.
Jeff Waters, 2001”
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Glossário básico:
- “King” é o disco anterior, “King Of the Kill”
- “Pastor” é a faixa “The Pastor Of Disaster”
VIGGIE & VIKA
Islandeses xaropes? Redundância.
Esses aí devem consumir arenque radioativo com água q foca ñ bebe.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Mqd4_eaaqLE[/youtube]
Nunca tinha visto ou ouvido falar. (Daqui uns dias o whiplash descobre). Encontrei enquanto procurava versão (ruim) de “Ace Of Spades” do Abattoir no You Tube. Apareceu monte de janelinhas com esses dois tocando ela, sons do Metallica (“One”, “Battery”), Sepultura (“Kaiowas”), System Of A Down, Tool , Slayer e Nine Inch Nails.
A versão acima, de “Tornado Of Souls”, achei sublime. Coisa pro mala do Dave Mustaine deixar cair uma lágrima. Ou pra Marty Friedman chamar os malucos praquele pograma dele na tv japonesa – ainda passa aquilo?
Eu viraria cliente vip do dentista q tocasse isso aí no consultório.
ESTOCOLMO NO MAPA
DISCOS DO ENTOMBED PRA MIM:
- “Clandestine”
- “Morning Star”
- “Wolverine Blues”
- “Inferno”
- “Left Hand Path”
- …
- …
- …
- …
- “Same Difference”
Estarei perdendo qual mais?
COMENTANDO DISCOGRAFIA
Menu do bimestre? Altas confusões com essa turminha da pesada!
Helloween
“Walls Of Jericho” – Kai Hansen liberta a 8ª Praga do Egito
“Keeper Of the Seven Keys – part 1” – o favorito dos órfãos
“Keeper Of the Seven Keys – part 2” – o preferido dos viúvos
“Live In the U.K.” – amador e engraçadinho
“Pink Bubbles Go Ape” – acertado, contundente e ignorado (por eles, tb)
“Chameleon” – quando tentaram algo, q ñ se sabe o q, nem pra quem
“Master Of the Rings” – o cd bônus supera, de longe
“The Time Of the Oath” – poderoso, vigoroso e prolixo (poderia ter sido 2)
“High Live” – cacetada impagável, duma formação tinindo
“Better Than Raw” – peso, melodia e acessibilidade em equilíbrio. Inspirado
“Metal Jukebox” – hermético e desnecessário
“The Dark Ride” – regurgitando e devolvendo pedradas aos (maus) imitadores
“Rabbit Don’t Come Easy” – nem Mikkey Dee salvou. Nem a capa. Nem nada
“Keeper Of the Seven Keys – the Legacy” – recolocando-os no mercado
“Live On 3 Continents” – presunçoso e pífio
“Gambling With the Devil” – pesado e refinado [a partir desse, ninguém parece ter dado a mínima]
“Unarmed” – humor germânico pitoresco
“7 Sinners” – Destrúcho poderia tê-lo cometido. Culhudo
“Straight Out Of Hell” – mais um disquinho, pra constar
“My God – Given Right” – mais um disquinho, pra cumprir contrato?