STARS!
por märZ
No começo de 1986 um vídeo começou a tocar no programa vespertino Super Special da TV Bandeirantes, um precursor do que viria ser a MTV Brasil anos depois. Nele, vários músicos de bandas de heavy metal majoritariamente americanas apareciam em um estúdio cantando e tocando uma canção grudenta aos moldes de “We Are The World”, que logo se tornou um hit no canal e era mostrado a cada dois dias (ou assim me recordo).
Eventualmente o LP chegou na loja da minha cidade e, como de costume à época, gravei uma fita BASF 60 com o disco e ouvia non stop no meu toca-fitas portátil, trancado em meu quarto.
Ontem revi o vídeo e o curto making of disponíveis no Youtube, e uma onda de saudosismo me atingiu com tudo. Como o álbum nunca foi editado em cd, não tenho o hábito de ouvi-lo a não ser em momentos como esse, a cada X anos. Algumas considerações:
A canção é realmente muito boa e envelheceu muito bem. Grudenta como deve ser qualquer hit, mas não descartável e esquecível. A gravação guiada por Ronnie James Dio (idealizador do projeto juntamente com seus bandmates Vivian Campbell e Jimmy Bain) é enxuta e honesta, sem apelar aos excessos então costumais no estilo. Os diferentes vocais e solos de guitarra que montam o quebra-cabeça sonoro são muito bem encaixados e em momento algum parecem forçados ou fora do lugar. A coisa toda funciona como uma unidade bem costurada e sólida.
Mas o que mais me chamou a atenção, quase 40 anos depois (o projeto foi gerado em 1985 mas só lançado no começo do ano seguinte), foi a visão dos músicos em seu auge, todos voando, seguros de seu talento e sucesso, a maioria no topo de sua forma e autoconfiança.
Don Dokken com 32 anos, Paul Shortino com a mesma idade e detonando nos vocais, Geoff Tate com meros 26 e uma estrela em ascenção, Malmsteen já um superstar aos 22! Também Vince Neil, Neil Schon, Kevin Dubrow, Ted Nugent, Blackie Lawless, Adrian Smith e Dave Murray em plena World Slavery Tour, Rob Halford no auge e o próprio Dio então com maduros 41 anos, um dos mais experientes do grupo.
Pareciam todos maiores que o Universo, tão confiantes de sua posição privilegiada no show business dos férteis anos 80.
E pensar que toda aquela cena viria abaixo meros 5 ou 6 anos depois. Deve ter sido um choque de realidade gigantesco nos egos de muitas daquelas pessoas, ao se tocarem que não passavam de mais um produto de gravadora com curto prazo de validade, totalmente descartáveis. Mas pelo menos a obra sobreviveu para a posteridade. Se alguém ainda se importar, claro.