Colóquio interdisciplinar @bangersbrasil e ThrashComH: “Manowar e o mal-estar à luz da preguiça de resenhar ‘SuperCollider‘ e criticar o Metallica, sob a perspectiva de Spinoza”.
Foi como legendei a foto legendária lá no Instagram. Todo mundo viu.
Mas q na real consistiu em Jessiê vindo a SP com a esposa pra assistir ao show da AnnekevanGiersbergen com Marko “desaposentado” Hietala, o q acabou fazendo com o Leo, o irmão (não guardei o nome!) e a Dani. Compareci ali só pelo barato de falar ao vivo as tantas pautas daqui e do @bangersbrasil
Não teve nada de hidromel, banquete de carne de javali nem nada disso. Ou sessões de acupuntura vodu em bonequinho de Marcello Pompeu. Foi bem legal o encontro, acompanhado duma porção generosa de quitutes do Giraffas ahahah
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Mas queria saber dos citados: e o show?
Vi fotos e reels, e tenho sério palpite de ter sido ótimo, já q não contou com jams do Bittencourt (q estava dando “canja” em banda cover no Café Piu Piu), nem do AndreasBeijador.
Ou “a batalha dos algoritmos”. Contra os algoritmos. Alguém consegue vencer?
Pessoal aqui viu domingo ou está a par de q Jessiê Machado – vulgo bangersbrasil – postou o documentário sobre o Death, hum?
A saga já dura meses: Jessiê posta, algoritmos tiram. Segundos de direitos autorais, legendas postas fora de sincronia, likes e comentários q se perdem.
Pq a internet não curte Chuck Schuldiner? Pq a internet tem lado e vícios: posts do amigo por ali não têm tido visualizações. Tipo censura prévia.
Parafraseando um meme: achávamos q Skynet, Umbrella, Weyland-Yutani e mega corporações distópico-fictícias tomariam o mundo, submeteriam a humanidade e pensariam pela gente.
São os bots e algoritmos – “anônimos” – quem o estão fazendo. Assistam “Death By Metal”, antes q Jessiê tenha q repostar de novo. E de novo, e de novo.
Pessoal q freqüenta aqui certamente conhece a página @bangersbrasil do amigo Jessiê Machado, certo?
No Instagram, mas ñ só.
Sei q märz e Leo certamente visitam lá. E sabem das lives, q têm rolado nas 4 últimas semanas, nas noites de sábado.
Carlos Lopes, a primeira (e ñ gravada), Angelo Arede (Gangrena Gasosa), Jairo Guedez (Sepultura, The Mist, Overdose, Eminence etc.) e a recente com Vladimir Korg (Chakal, The Mist, The Junkie Jesus Freud Project, Nut, The Unabomber Flies etc), q foi em 3 partes!
Conversamos bastante, Jessiê e eu, sobre as repercussões, pautas e alcances do q está fazendo. E especificamente, sobre Korg, o quão à vontade o sujeito foi ficando. Gente do metal q é como a gente. Sem estrelismos, nem pedestal.
E ainda, no caso do sujeito, um cara q me parece a “caixa preta” desse metal de MG oitentista. O articulador da porra toda, mentor intelectual, merecedor de comentários (durante a live) de gente do Mutilator, Overdose, Sarcófago e etc. Q me pareceu bem resolvido com relação a tudo o q foi conversado, sem recalque, inveja ou desdém a quem quer q seja.
Mas o mais legal q tenho achado dessas lives é q rolam sem patrocínio nem interesses outros. O amigo Jessiê tem conseguido pautar as conversas de modo a deixar os entrevistados à vontade, meio com jeito de fanzine e meio sério. Na medida certa.
Sem chapa branca, puxação de saco ou assuntos óbvios. E é por isso mesmo q tem dado certo.
Mesmo eu ñ conseguindo ver ao vivo, pq o Instagram no meu celular anda bugado. E ver no notebook ñ tem rolado (fica picado). Mas fica a dica, q logo após os papos os mesmos “sobem” pra página no YouTube.
O post é sobre isso mesmo. Pra falar q tem sido foda e recomendar. Quais as próximas, Jessiê?
Jessiê me mandou esta outro dia. Postou lá no @bangersbrasil
Achei sensacional. Mandei pra amigos do metal, um com filha pequena, e todo mundo rachou de rir.
Por outro lado, enviando pra namorada, q tem filho pequeno (e q tb riu, mas se espantou), tive q explicar o contexto, o Inner Circle norueguês, aquelas pataquadas.
A descrição no YouTube fala em “dicas criativas para pais solteiros do metal” na hora de criar os filhos rebentos. Ñ conseguimos achar a origem, se é uma pessoa ou um grupo fazendo a zoeira. E tudo bem.
Parece coisa de norueguês mesmo. Sem saber se é de zoeira ou estão falando sério. Vide a menininha, tr00 demais. E pra lá de incorreto. Mas muito bem feito, zero fuleiro.
Aqui no Brasil, seria cancelado ou proibido. E nem sei se discordaria da medida.
Vinte anos atrás (eu disse 20 anos!!), o Metallica começava o capítulo mais lembrado de sua história desde a expulsão de Dave Mustaine:
tudo começou com o vazamento de uma versão demo de “I Disappear” e a banda resolveu processar o Napster, seus criadores, 3 universidades americanas e os usuários da plataforma, que na verdade eram os próprios fãs da banda.
Relembrando que o Napster foi um programa pioneiro em compartilhamento de mp3 em uma época de internet discada – quem nunca deixou um programa desses aberto a noite toda baixando toda a sorte de vírus? – que consiste basicamente no modo P2P, que basicamente era a troca de arquivos feita remotamente por computadores de todo o mundo, sem os criadores nada receberem por isto.
O direito invocado pela banda era legítimo e é a base legal de todas as plataformas que existem hoje, como o YouTube; o problema foi a forma irônica e agressiva com que a banda (leia-se “Lars”) tocou toda a coisa e, chegaram a afirmar que quem baixava as músicas do Metallica dessa forma “não era fã”, era criminoso e não tinha moral, dentre diversas outras coisas.
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No fim, o tiro saiu pela culatra pois o Napster era apenas um dos milhares de sistemas similares (Ares, Limewire…) e o caso apenas deu visibilidade ao sistema até a criação de sistemas como o iTunes, até chegar ao que temos hoje, que inclusive é a maior fonte de renda de músicas pelo mundo todo.
O fato é que a banda já não vinha em paz com os fãs old school, ficou com a pecha de “arrogante” e nunca superou o episódio, mesmo passado tanto tempo. Quer ver o semblante mudar, é em qualquer entrevista tocar no assunto. Lars tentou contemporizar recentemente, dizendo: “Ficamos presos nessa tempestade e todo mundo comentava ‘o Metallica é muito ganancioso’, mas aquilo não tinha nada a ver com dinheiro (…) Fomos pegos de surpresa e não sabíamos o que fazer. Como o Napster significava muito para algumas pessoas, tivemos que decidir como seguir em frente”. Dizendo ainda que é até amigo de Sean Parker, co-fundador do Napster e atual investidor do Spotify.
Mas intimamente não é bem assim, pois Kirk em entrevista a um canal de tv sueco, disse que “todo esse lance do Napster não nos favoreceu de forma alguma. Mas quer saber? Ainda estamos certos nisto, ainda estamos certos sobre o Napster, não importa quem ainda diz ‘o Metallica estava errado’. Tudo o que você tem que fazer é olhar para o estado da indústria da música, e isso meio que explica toda a situação aqui”.
Nos últimos dias, tentando preencher o tempo na quarentena comecei a dar maior valor aos canais de streaming de filmes, no meu caso Netflix e Amazon.
Comecei pelo “Endurance”, documentário do Sepultura, mas não agradou e parei em 1/3 da película. Achei muito chapa branca, tipo biografia em 1ª pessoa, coisa que nunca me agradou. Ainda vou terminar, nem que gaste algumas semanas, em doses homeopáticas.
Só que quando joguei na busca “Heavy Metal”, procurando algum documentário ou até show que possa ser de alguma forma interessante, sempre via um tal de “Mudando o Destino” (“Metalhead”, em inglês), com uma garota de corpsepaint (Amazon). Nada que me atraísse, pois o nome é medonho e toda abordagem de heavy metal pelo cinema é um desastre, já que o estilo se resume a estereótipos. Tão somente.
Mas acabei cedendo depois de 1/3 de Sepultura e foi um achado!
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A maioria que hoje tem entre mais de 30 e quase 50 anos chegou ao heavy metal na adolescência (entre início dos 80’s e 90’s), por motivos geralmente ligados a dor, perda, inconformismo, solidão, sentimento de não pertencimento (talvez tudo junto) e encontrou no movimento certo amparo por encontrar pessoas que tinham empatia com seu interior, geralmente guardado debaixo de camadas de roupa preta, monossílabos, raiva e decibéis ensurdecedores de guitarra, baixo, bateria e voz (grave ou estridente).
Incompreensível para quase todos, o que gerava um mundo próprio cuja senha para pertencer era entender tudo numa simples primeira vista, cujo cartão de visitas, invariavelmente, passava pela sua camiseta e, na seqüência, duas ou três perguntas sobre que bandas curte e quais álbuns prefere. Quase sempre também carregado por um sentimento contrário à religiosidade, pois Deus deveria ter culpa por uma vida desgraçada. Enfim…
Todos estes sentimentos vieram a mim no decorrer do filme, aliados a uma trilha sonora de memória afetiva. Me deixou muito pensativo e mexeu muito com minhas lembranças, provocando reflexões. O que se espera de qualquer arte que não se atém a ser produto descartável de entretenimento em massa.
Talvez até pelo enredo alguns o encarem como uma “sessão da tarde” islandesa, o que não deixa de ser verdade. Mas é basicamente um belo filme europeu: denso, arrastado, pouco diálogo, belíssima fotografia e, principalmente, muito verossímil no aspecto “heavy metal” da coisa (que nem é o cerne, diga-se de passagem).
Tem, inclusive, uma passagem da personagem principal que seria algo como “Black, Led e Purple anunciaram, mas o Judas formatou a coisa toda!”, no que não deixo de concordar, em certo aspecto. A dor dela é palpável e a acidez, de uma forma européia, hilária.
Recomendo veementemente aos amigos e paro por aqui, para não atrapalhar a sessão.
Sabe aquele papo de biscoito da sorte de que “o importante é a jornada?” Pois é…
Em 1994, ainda sem internet, já tínhamos uma grande facilidade de ter materiais (principalmente com o boom dos cds) e acesso a shows de bandas médias e grandes do mundo todo, desde que você morasse ou se deslocasse para São Paulo. Menos mal, considerando que na década anterior você precisaria se deslocar para Minnesota.
Mas em Goiânia tudo ainda era só um sonho e shows “grandes”, até então, foram apenas Dorsal e Ratos, sem contar que a Rock Brigade (como qualquer outra fonte de informação metálica) chegava com delay. Por isso levamos (eu e a comunidade banger local) um grande susto ao descobrir que um dos maiores festivais de metal do mundo faria sua versão no Brasil! Com Slayer e Black Sabbath! Monsters Of Rock! Comoção total.
Problemas: faltava uns 10 dias somente, estávamos a mais de 1000 km e cada um mais quebrado que o outro.
Quando um grande amigo, até hoje, que se chama Júlio disse que o pai era caminhoneiro e ia/voltava toda semana para SP e que iria falar com ele para ver a possibilidade de uma carona. Sendo que dava pra ir eu, ele e mais um.
Falou com o tio, eu confirmei e chamei outro amigo (Josmar, éramos o “trio J”). O show era dia 27/08, um sábado, iniciando-se às 12h, com doze horas de shows. O tio do amigo sairia na quinta com previsão de chegada na sexta. Ou seja: teríamos que nos virar entre sexta e sábado.
O show custava R$30 na pista, consegui R$50. Ou seja: ainda me sobrariam R$20 para alimentação, viagem, emergência… De quinta até domingo. Em São Paulo! Meu amigo tinha conseguido R$80. Estava melhor que eu.
Em cima da hora o Julio desistiu, acho que pensou bem na barca furada: andar 1000 km sem ter onde ficar, como ficar basicamente com o dinheiro do ingresso, em São Paulo. Foi o único sensato. Mas eu só conseguia pensar no Slayer e Black Sabbath e achava que íamos conhecer alguém e dormir na casa desta pessoa. Putz!
Óbvio que menti para minha mãe que estava na casa de um amigo qualquer, já que ela (e mãe nenhuma) nas circunstâncias permitiria.
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Chegamos na sexta-feira umas 9h da manhã, já tinha gastado R$10 dos R$50 em alimentação na ida, o tio do amigo nos deixou na Freguesia do “Ó”, pegamos ônibus e fomos descobrir onde era o Pacaembu. De lá, fomos na Barra Funda, perguntando até chegar na Woodstock para comprar o ingresso.
Ainda faltavam 24 horas para o show e só me restavam R$5. Tive a idéia de ir para a Rodoviária do Tietê, pois chegariam bangers lá, e como eu conhecia gente do Brasil todo (via carta, por causa do zine) conseguiria fácil uma hospedagem e deslocamento. Ao menos era o que o meu otimismo juvenil sem noção achava.
De fato chegavam cabeludos aos montes, mas rapidamente se dispersavam. Puxava papo, falava do quanto éramos bangers de verdade, que o tal espírito do metal corria em nossas veias e coisas do gênero. Teve uns caras que queriam, inclusive, nos levar juntos (deviam ter uns 16 anos) mas as mães (ou tios) logo os demoveram da idéia. E vendo em retrospectiva, éramos cabeludos, meio barbudos (o que os 19/20 anos permitiam), com roupas pretas rasgadas, cheias de patches. Mendigos quase.
Anoiteceu: vieram o frio, a fome e o sono. Passamos a noite na rodoviária, que se por um lado era seguro, fazia muito frio e não podia deitar em lugar nenhum, que o segurança já cutucava. De madrugada, o frio cortava como navalha. Quando o metrô voltou a rodar, ficamos andando de um lado a outro. Era quentinho e podíamos dormir nas cadeiras. Assim ficamos fazendo até às 9h de sábado.
Resolvemos, dado o perrengue e a falta de dinheiro (o meu já tinha acabado; meu amigo devia ter uns R$15) ir na Woodstock e vender nossos ingressos para comprar passagens de ônibus de volta para Goiânia. Chegando na loja, devia ter umas 500 pessoas de fora, um burburinho de cabeludos de todo o país. Naquele momento, percebemos que não podíamos desistir: era histórico, tínhamos ido longe demais para desistir. Chance única. Iríamos ao show e depois pra BR para pedir carona. De novo a visão juvenil das coisas.
Resolvemos bater perna na Galeria do Rock, rumamos para lá e ficamos babando nas coisas de loja em loja até dar a hora do show. Estava passando os Lps, quando passa uma menina que eu conhecia de vista de Goiânia; pensei: “que louco ver essa mina aqui”. Passou outra, mais outra e a irmã de um amigo veio me cumprimentar! Era uma excursão de Goiânia cheia de pessoas que eu conhecia, inclusive alguns amigos próximos. Foi um choque positivo. Contei pra eles a história toda e veio o cara que organizou (Kleber) falar comigo, chamando pra ficar com eles e ir embora pra Goiânia no ônibus. Expliquei que estávamos sem dinheiro nenhum. Ele disse que estava tudo certo. Inclusive a galera dividiu comida, água e ainda pagaram lanches pra gente na volta.
Toda história tem um “deus ex machina”. Esse foi o meu. Encontrar uma excursão da minha cidade em uma das maiores Metrópoles do mundo.
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Ah, já ia esquecendo dos shows, que acabaram ficando menores do que a jornada, de fato. Pouca coisa lembro do Angra e Dr. Sin, que fizeram shows pequenos. Do Viper, lembro que a galera interagiu com o cover do Queen. O Raimundos destruiu tudo, foi um show insano. Nessa altura, já estava bem cheio. Comecei o show perto do palco, mas as ondas te levavam de um lado ao outro. Foi insano. Insano! Eram uma enorme banda nessa época.
Curti bastante o Suicidal, mas havia uma tensão porque viriam Black Sabbath e Slayer. A galera estava tensa mesmo, inquieta. Tipo esperando a barragem romper e vir uma avalanche de água. Sinceramente, curti o Black Sabbath demais e lembro bem dos trejeitos e traquejos do Tony Martin. Dava vontade de chorar ao ver quem moldou sua vida, ao vivo. Foi muito foda. É tipo sofrer um acidente automobilístico: você fica em transe e em choque. Parece um sonho e você não tem certeza do que é realidade ou delírio.
Quando, de repente, “Hell Awaits” anuncia o apocalipse. Se você nunca viu Slayer ao vivo, é uma experiência que não se passa incólume. Não existem fãs como os da banda. Nego sai do nada, te segura e grita “Slayeeerrrr”. O tempo todo. O pau come. Você não sabe pra onde olhar. Todo mundo é seu amigo a ponto de te abraçar, chutar, empurrar, bater cabeça junto. Temi pela minha vida caso caísse.
Acabou o show e o festival pra mim, fui pro fundo dormir (uma cobertura que estava em cima do gramado) enquanto o Kiss tocava, até alguém da excursão me acordar por volta de uma da manhã, que iríamos embora.
Ainda sobre André Matos: o amigo Jessiê postou em seu Instagram esses dias fotos de edição de zine q editava – Cachorro Bispo – contendo entrevista com o sujeito, prestes a lançar “Angels Cry”. Ainda se falava da saída do Viper e tudo.
Pedi pra colar por aqui; acho q se clicar nas fotos aumenta e dá pra ler bem.
O resto é o amigo comentar o q já comentou comigo no Whatsapp esses dias: bastidores da entrevista, contatos e estrelismos (q ñ o do cara) da cena.
Apesar de ter já uma pá de anos que estou erradicado no Sul (primeiro em Curitiba, definitivamente em Joinville), não estou muito inteirado com a cena metálica joinvilense, já que aqui potencialmente todo mundo é banger e em toda esquina tem um Varg Vikernes, além de toda mulher – de menina a vovó – ter piercings por todo lado e tatuagens (muitas) nem um pouco amistosas (nada de florzinhas e afins), além de ruivas (naturalíssimas) de olhos verdes, em botas altíssimas com sobretudo preto…
Pelo que fiquei sabendo, foi o primeiro evento deste porte na cidade, mas Santa Catarina tem outros festivais (um bem conhecido é em Rio Negrinho, aqui próximo) e o Sul, desde que me entendo por gente, tem uma forte cena de metal extremo, principalmente Black Metal e afins.
O lugar escolhido é muito próximo da minha casa (paguei 6 reais no Uber à uma da manhã pra voltar): um parque “público” terceirizado, onde tem um complexo para eventos e praticamente todos os finais de semana rolam eventos como feiras, festas temáticas e até mesmo casamentos e aniversários de abastados (nos salões menores). Mas é também onde levo meus filhos aos finais de semana para andar de bike. Prosaico, sossegado, seguro e bem cuidado.
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Fui esperando aquela “turma do barulho” com camisetas do Guns/Ramones estilizadas e, ultimamente, também do Motörhead. Tentei também não ter spoilers das bandas. Paguei o ingresso (170 reais na porta + 1kg de não perecível) e fui de peito aberto para 12 – doze! – horas de metal prometido. Mas não me deparei com tais vestimentas: a maioria era composta por thrash oitentista de segunda e terceira divisões e death/black. Nada de Sepultura, Metallica ou Iron Maiden. Estava tranquilo com a minha “Slayer” de estimação.
Cheguei às 14:10, com facilidade de estacionamento e na entrada me espantei em saber que o show já havia começado com o Violent Curse (só consegui saber nos agradecimentos, pois o logo não permitia entendimento para incautos) de São Bento do Sul, cidade vizinha, com umas 200 pessoas – talvez mais – assistindo. Thrash metal oitentista, como o nome entrega, meio acanhados e perdidos no palco, com umas atravessadas, microfonias e afins. Mas um som honesto e dentro da proposta. Achei válido e teve minha atenção. Se divertiram e teve uma galera na frente retribuindo. Foi rápido: 30 minutos (e perdi 10). Acabou e desci – o show ficava no 1º andar, com uma grande escada, mais escada rolante e elevador; ótima acessibilidade e vários cadeirantes, muletantes e afins – para comprar a primeira cerveja.
Por falar em cerveja: aqui não existem ambevianas, na verdade até que existe mas não faz a cabeça da galera: o esquema é chopp artesanal e cervejas regionais, no caso a ótima Opa (“vovô” em alemão). A Opa era 6 reais e o chopp ardidos 12, apesar de que era ótimo e muito forte. Optei pelo chopp no início.
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Subi e já tinha rolado uns 10 minutos da segunda banda; aí fui entender que não tinha intervalo entre os shows, pois como eram 2 palcos (um ao lado do outro, sem distinção de tamanho ou importância), acabava um e emendava o outro. Putz!
A banda era a curitibana Semblant, que no início não curti (death metal melódico com vocalista feminina atraente e vocal masculino fazendo contraponto), mas na 3ª música melhorou demais, com o vocalista simpático e a mina performática, em dancinha pra lá de sensual nos riffs e solos e bom timbre. Curti bastante e é nítida a experiência, a comunicação com o público e o preenchimento do palco com 7 pessoas duma forma natural e que fluía. Me interessei, e no espaço das lojinhas tinha muito material à venda (cds, moletons, bandanas, vinil) e pra minha surpresa tinha participação do David Ellefson (não lembro se era a produção) e do selo dele. Não comprei nada (40 pilas o cd), mas me interessei.
Veio o Symmetria (daqui de Joinville) com um som mais pro lado do melódico (não tipo Angra, mais pra Helloween old) e o vocalista me lembrou o Dio no jeito de cantar, entonação e até no estilo, quando leva o primeiro e único (que ouvi) cover da noite, “Heaven And Hell”, que me fez ficar cantando no íntimo a noite toda, atrapalhando a concentração. Tudo muito morno, que refletia na galera, exceto no cover – e mais pela música que pela execução.
Na seqüência, outra local: Flesh Grinder. Banda que vem desde os anos 90 com um grindCarcassold, rápido, brutal e puro gore. No início, achei tudo tosco e embolado (talvez até como proposta mesmo), mas engrenou e foi a primeira banda que pôs a galera para ‘dançar’ e o negócio começou a tomar jeito e ficar animado. Peguei uma cerveja na animação. Não é meu som, mas foi divertido.
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Aí veio o paulista Huey, que nunca tinha ouvido falar e com uma proposta ousada, um som trampado com 3 (três) guitarristas, com toques de Helmet,prog e vez ou outra me lembrando a estrutura das músicas do Opeth (bem de longe). Fiquei esperando vocal entrar para ver como soaria, já que o som tava massa e… nada. Instrumental!!! Me deu uma broxada, mas é legal, só não teria saco para um hora de show. Não é minha praia. Me desinteressei rápido, mas curti hahaha
Como levei meu filho de 5 anos, ele também se encheu do instrumental e pediu para comer. Descemos e enquanto esperávamos a batatinha, ele me laçou questões filosóficas tais como: “por que nem todos estavam de preto? (como ousam?)”, “por que roqueiro usa cabelo comprido?”, “por que tinha flores lá se era um show de metaal, que é a música das trevas?”. Ele se encheu e, junto com a batatinha, pediu para ir embora. Entre ligar para a mãe buscar e ficar esperando ele comer, perdi uma pá de bandas, como o tal Tuatha de Danann, que nunca ouvi mas odeio.
Mas ouvi um cara reclamando que a galera do metal é incompreensiva e fica de longe olhando com desprezo, e nem para fazer uma roda folk… Putz! Que bom que eu perdi.
Quando subi os paranaenses black metalBlackmass (corpsepaint e tudo) já tavam detonando Jesus Cristo e afins, rolando odes a Satanás entre a galera (tinha muuuita gente curtindo), mas tudo meio discreto. Galera do black metal é muito instrospectiva e espiritual, ao que parece. Pelo pouco que ouvi, foi até legal.
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Daí eis que o negócio ficou sério com a trinca The Mist, Gangrena Gasosa e RDP. Foi animal, insano, excruciante. Fiquei morto, esgotado. E impressionado com o The Mist, muito bom o show. Porrada! Rápido, excelente conexão com a galera e o pau quebrou na roda. Curti tanto que vou me atualizar com o som dos caras. Bem ensaiado, bem tocado e, ao que parece, era a estréia do baixista.
Sobre o Gangrena, achei que o Txuca tinha exagerado no post [em 03.04.18] porque nos 90 não curtia tanto (médio). Mas é insanamente bom! A melhor banda ao vivo hoje no país! Nível de show do Ratos nos melhores dias. Galera conhece os novos sons, empolgantes, engraçado, tudo muito louco. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que você nem vê o tempo passar. Só precisa cuidar pra nenhum Exu te jogar no chão. Ficou todo mundo possuído, foi sensacional!! Me lembrou o pique do Raimundos no início, aquela loucura contagiante e aqueles shows vibrantes. Se não viu, veja urgente. Aproveitei e comprei o cd novo e o dvd duplo por meros 20 reais.
Vendeu que nem água (que custava 5).
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O Ratos também fez um showzaço. Turnê de 30 anos do “Brasil”, que por si só já é espetacular. Gordo parecendo o Papai Noel, com uma barriga enorme (circunferência abdominal, não gordo como antes), mas simpático e sorridente. Totalmente indignado contra o Bozo. Entremeando discursos politizados e atualizações nas músicas de 30 anos (mudando pouco, de tão atual). Em torno de 70 minutos, sem tempo nem para tomar um ar. Foda! Foda mesmo.
Em determinado momento vazou um som do palco ao lado e ele disse “pára, pára! Música ruim do caralho”. Era o Shaman hahah. Só um conselho: se curte Ratos, procure os shows. Gordo não agüenta mais: mal se movia e está baqueado e desanimado com a porra toda. Mas canta com a mesma ferocidade de sempre.
Descansei no Shaman e nem sei quem era o vocalista. O som tava uma merda de embolado e uma choradeira no piano me fez pensar que era o André. Mas não cravo e nem me importo. O problema é que foi longo pra caralho! Tinha black metal espalhado por todo o espaço, dormindo ou chapados esperando o Rotting Christ. Devem ter sido duas horas de show. PQP! O Ratos devia ter o dobro de pessoas, pelo que vi rapidamente quando fui pegar uma cerveja; e eram espectadores em um teatro, imóveis. Bah!!
Até que veio o Rotting Christ, que me lembro de ouvir nos 90 com black metal clássico da época. Me surpreendi com a qualidade de som dos gregos. Climático, bem executado, pesado, lento. Em nada lembra a banda da minha memória, está mais próximo do que a nova leva de black metal faz (tipo Dimmu Borgir). Showzaço, curti tanto que vou atrás pra me inteirar. E foi nítido que a galera veio para vê-los: tinha mais camisetas deles no show do que das outras bandas. Galera cantando, concentrada, pedindo música pelo nome. Alguns nitidamente emocionados. Foi muito bom.
Já era uma da manhã e não aguentei mais, fui embora antes de acabar. Estava morto, e nem vi o restante das bandas (parece que faltava apenas o Motorocker).
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Chamou minha atenção o envelhecimento da galera: maioria entre 25 e 35 anos, menor quantidade entre 18 e 25 anos. Pouquíssimos abaixo de 18 (era totalmente permitido qualquer idade) e bastante os acima de 35. Também me impressionou a educação da galera – nego mal te encosta e pede mil desculpas – organização fora do comum (climatizado, ninguém fumava no ambiente, banheiros limpíssimos, cerveja geladíssima, latinhas no lixo e mesmo assim várias pessoas fazendo a limpeza), comida gostosa, variada e rápida; pontualidade das apresentações; seguranças cortezes e de enfeite, de tão comportada e ordeira a horda. Palcos e sons fora do comum. Tudo muito impressionante e um espaço que merece diversos repetecos. Devia ter umas 2000 pessoas, tranquilamente.
Dormi até às 15h do domingo e ainda estou sentindo o ciático.
Quatorze anos! O tempo é relativo, 14 anos pode ser muito tempo ou pouco, depende do referencial, alguém disse um dia. Ter 14 anos de vida, na média, te faz uma criança, talvez um pouco mais que isso.
Provavelmente eu não tinha 14 anos quando conheci o Bathory, meados de 1987/88. As duas primeiras capas dos discos eram assustadoras para um garoto (e para quase qualquer um com valores cristãos). O som desses primórdios? Bom, o som era praticamente inaudível e dificilmente se tirava algo que fizesse sentido debaixo de riffs rápidos, má gravação e toda sorte de blasfêmia. Mas para quem tinha 14 anos o som, neste caso, não vinha em primeiro lugar. Era a postura, era o significado. Você era radical!
Não no sentido surfista, e sim no sentido de cara malvado mesmo (ao menos na foto de Natal da família com a camisa de bode silkada). Não malvado de boutique tipo Venom. Você era malvado escandinavo e isso importava… nem que fosse de boutique.
Falar do Bathory é meio divagação, já que Bathory era Quorthon e Quorthon era totalmente sueco. Viking em pessoa. Poucas palavras, poucas fotos de domínio público, praticamente nada não autorizado e oficial. Provavelmente é mais fácil achar um ensaio pirata dos Beatles antes de gravarem seu debut do que algo do Bathory. A maior parte do que você lê na internet é lenda, invenção, suposição, exceto “One Rode to Asa Bay”.
https://www.youtube.com/watch?v=I0-aA5GnKL4
Quorton sempre deu de ombros. Na verdade era um visionário e ele nem tinha essa ligação com o heavy metal em si como movimento. Curtia basicamente Black Sabbath dos primeiros álbuns e Motörhead. Pouco depois o contato com o Manowar fez uma ligação com suas raízes cimérias e notam-se umas batidas “a la” em alguns sons, além de uma foto icônica.
Como “black metal” em si (não no sentido de diabo, eis que não era cristão para acreditar em tal dualidade, ao que consta) é mais seminal que Venom, Possessed e Hellhammer. Na temática viking é avô, pai e, obviamente filho.
Nascido em 66, morto no mês 6. Este mês fez quatorze anos de sua passagem para o, indubitavelmente, Valhalla. Conduzido por uma Valquíria e agraciado por Thor e Odin. Poético assim, merecido desta forma a todos que combatem o bom combate, terminam a corrida e guardam sua fé, qualquer que seja ela.
Thomas Börje Forsberg, eu o saúdo. E convido incautos, iniciados, convertidos ou alheios a dedicarem pouco menos de uma hora a escutarem mais uma vez (ou pela primeira) “Twilight Of the Gods” e vislumbrar o reino musical e lírico de Quorthon, e deixe fluir. Até porque a maior parte é lenda, invenção, suposição.