SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
“Cleansing”, Prong, 1994, Epic/Sony
sons: ANOTHER WORDLY DEVICE / WHOSE FIST IS THIS ANYWAY? / SNAP YOUR FINGERS, SNAP YOUR NECK / CUT-RATE / BROKEN PEACE / ONE OUTNUMBERED / OUT OF THIS MISERY / NO QUESTION / NOT OF THIS EARTH / HOME RULE / SUBLIME / TEST
formação: Tommy Victor (vocals, guitars), Paul Raven (bass), John Bechdel (keyboards, programming), Ted Parsons (drums)
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Certa vez um amigo atribuiu ao Prong a criação dum metal “pára e continua”, característico da banda, de guitarras providas de riffs secos, curtos, bruscos e ñ raro saturados, acompanhados de vocais e cozinha igualmente secos, curtos, retos e levemente grooveados.
Até concordo com o parecer, no entanto relativizo-o: pois foi ao longo dos 90’s q surgiram bandas estadunidenses como tb Helmet e Biohazard (mais grooveados q aqueles), dos quais se pode até depreender paternidade em Suicidal Tendencies e Bad Brains.
Estando fixados no Arizona à época, mesmo o Sepultura safra “Chaos A.D.” usufruiu, à sua maneira, dos mesmos elementos, sendo assim difícil precisar a paternidade desse metal “rude”. E o Machine Head, tb ao seu modo, pelas paralelas, tangentes ou co-secantes. Passível de caber no balaio ainda o Corrosion Of Conformity, “pára e continua” entre hardcore, metal e um estilo próprio. Sei lá.
Toda a epistemologia inconclusiva acima servindo de introdução e para justificar a resenha de “Cleansing” aqui por 2 singelos motivos: 1) ser um ótimo álbum; 2) apontar conexões com o Killing Joke, banda seminal na seara grooveada e rústica, só q em período fora do radar noventista.
A conexão mais óbvia se tem na formação do Prong aqui: metade da banda inglesa – Paul Ravel e John Bechdel – gravou aqui com os originais – ops! – Tommy Victor e Ted Parsons.
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Quando lançado, lembro de “Cleansing” haver chocado os headbangers ortodoxos, assim como os de ocasião q vieram a conhecer a banda via “Prove You Wrong”, disco anterior mais thrasher e tb mais acessível (alta rotatividade em clipes na Mtv Brasil!), e q considero até superior por conta da proposta mais típica.
Neste aqui, a proposta apresentou-se mais alternativa: abundam os riffs circulares e o trampo baterístico é reto como nunca. Ñ por flacidez ou por incompetência, e sim por opção consciente e deliberada.
Por isso recomendo uma primeira audição do trabalho sem focar tanto a bateria, até q a devida assimilação se dê. Claro q “Cut-Rate” em seu início (viradas junto às bases), passagens breves (viradas poucas) nos outros sons, ou ainda o final em ”Another Wordly Device” brincando opressivamente com contratempos me desmentem outro tanto, mas o acento thrash baterístico por aqui (mesmo havendo 2 bumbos só em ”Out Of This Misery”) é nulo.
O q tvz fosse péssimo, ñ fosse o desempenho e prevalência de Tommy Victor nos sons todos. Moeda corrente na época foi destacá-lo em “Cleansing”, e aqui no Thrash Com H ñ seria diferente.
Baixo e teclados comparecem, mas com funções ornamentais de sujar, dar climas e “industrializar” o menu. Todo o resto é GUITARRA, praticamente um catálogo de palhetadas, riffs, bends, stacattos, overdubs, apitadas e até solos poucos (4 ou 5 sons apenas os têm), funcionando como um verdadeiro workshop – e melhor, um workshop funcional – pouco dado a punhetas estéreis e pentalhatônicas atrozes de shredders e guitar-heros.
Tudo isso, entretanto, ñ poupa o álbum de ser um tanto longo: tem músicas demais, o q gera necessidade de ser assimilado aos poucos, em blocos. Sendo q, pra meu gosto, os 5 últimos discos soam mais “alternativos” q metal alternativo. Mais Killing Joke descarada e escancaradamente q banda de metal influenciada por Killing Joke. Tb ñ gosto de “Broken Peace”, new metal demais pra mim.
Quem dera os “guitarristas” (notem aspas) de new metal e metalcore tivessem todos este “Cleansing” – ou, tendo, o tivessem devidamente assimilado – para aprender bem mais sobre rítmica e pertinência, ao invés de forçarem peso mediante baixarem afinação e encherem as bases de pedais de efeito.
Sem mais.
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CATA PIOLHO CCXLVI – “Dystopia”: Kreator ou Megadeth? // “Agent Orange”: Sodom ou Tori Amos? // “Over the Wall”: Echo & the Bunnymen ou Testament?