YOU BETTER RUN
Ñ foi nossa primeira vez no Esconderijo Rock Bar, em Ferraz de Vasconcelos. Era a segunda.
Havíamos tocado no bar, q pouco mais era q um salão ladrilhado (uns 10 x 8 de medida) e sem palco, em 10 de março do longínquo 2006, pra um público de molecada ávida por banda (tive uma hora q pedir pra recuarem, estavam avançando na gente) mas q nada conheciam de Motörhead.
O ponto alto da apresentação foi quando inventamos de tocar “Come As You Are” do Nirvana, sem nunca termos ensaiado (e sem errar) e comigo cantando. Pq eu sabia a letra. O lugar quase veio abaixo.
Ninguém aqui nunca me viu cantando, por isso acreditem: show de horror.
O dono curtiu mesmo assim e ficou de nos convidar de novo. Ñ lembro nome nem fisionomia mais do sujeito, mas parecia chamar Bruno.
(tocamos em muitos botecos cujos donos chamavam Bruno, então tanto faz)
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Voltamos no 29 de Abril seguinte, e naquela vez acompanhados por uma banda de amigos, Burn Out.
Pq, fora a vocação tácita de tocarmos em locais inóspitos, tínhamos uma disposição para sempre chamar bandas de amigos pra tocar junto, sem nunca exigir contraparte – até pq em 5% das vezes tivemos retribuição – e esses caras eram o q tínhamos à disposição.
Quarteto formado por um baixista/vocalista, Luís, figurinha meio difícil e meio estrela (e q em meados de 2015 risquei de meus contatos, antevendo o q já era um bostonarista) e um baterista gente fina (de quem esqueci o nome) egressos dos chapas do Napster, o Metallica Cover de quem vivo citando nesta pauta. Inicialmente parceiros, depois joint venture.
Detalhe: saíram dum Metallica Cover por desavenças pra montar esse Burn Out… como outro Metallica Cover. Covers de Metallica nessa época davam mais q foda de coelho.
Fomos em 2 carros, o meu e um deles, em sete pessoas (sem namoradas ou amigos) divididas, assim como o equipamento. O bar acho q só tinha caixa de voz. Provavelmente levei minha bateria, e o arranjo com o outro baterista era tipo “vc leva a estante de caixa, a máquina de chimbau e estantes de prato, pode ser”?
Sendo q cada baterista levava sua caixa, pratos, baquetas e pedais de bumbo. Pq isso é igual namorada e cueca: Ñ SE EMPRESTA.
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O foco da história hoje nem foi o show/shows, pq realmente ñ me recordo. Tivesse havido algum problema, tvz a memória acusasse. Fiquemos com: foi um bom show pra todo mundo, bandas, dono do bar (lembro q ñ rolou cachê), público e tudo bem.
A encrenca foi a volta. Ferraz é uma cidade da Grande São Paulo (a leste da Zona Leste, q já é um outro mundo), periférica, pobre e perigosa como Mauá e Taboão da Serra, já citadas nesta pauta. Até aí, era aquele foda-se mântrico aventureiro da época – “bora tocar”.
Só q meu carro naqueles dias era um Monza já bem avariado por tempos mais impulsivos deste q vos bosta bloga ao volante. Já tinha avariado filtro de óleo do carter em 2003 quando toquei na ZL com o Lethal (e tive q usar o serviço do reboque), assim como tb já tinha arrebentado mangueira do tanque de gasolina numa calçada em Santo André, a trabalho. Quando tb tive q chamar reboque. Na descoberta empírica de q o “chão” do Monza é baixo. E tvz ficasse ainda mais, com 4 sujeitos e equipo dentro.
E eis q voltando de Ferraz, num puta frio numa madrugada deserta de sábado pra domingo, passei numa lombada alta e senti cheiro de gasolina. Fiquei quieto, por acreditar q ñ tocar no assunto deixaria de existir o assunto.
Mas um dos colegas, pouco adiante, realisticamente lançou o bode na sala: “vcs estão sentindo cheiro de gasolina”? No q minha olhada silenciosa ao retrovisor acusou: todo um rastro de gasolina vazando do meu carro.
Mandei um: “fodeu”. E tirei de sei lá qual âmago a decisão correta: de q ñ daria pra chegar em São Paulo e q… era melhor chamar o reboque. Meu seguro ainda dava direito a um táxi, prontamente chamado tb, e no qual colocamos os baixistas pra voltarem à civilização.
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Ñ sem uma cordialidade bacana: mesmo os colegas no outro carro adiaram a volta e ficamos todos esperando o guincho. Numa avenida imensa, da qual só tinha aberto uma padaria deserta, em q alguns foram comer alguma coisa.
Reboque chega, Monza içado, colegas do outro carro – ops! – vazados, baixistas embarcados no táxi, sobe eu e o Cássio (guitarrista) no reboque, no q fomos prontamente fuzilados com a pergunta de 1 milhão de dólares da noite.
Guincheiro pergunta: “o q é q vcs estão fazendo em Ferraz a essa hora?”
O deboísta aqui respondeu: “a gente veio tocar num boteco por aqui”.
Resposta fulminante do guincheiro: “vcs devem gostar muito de tocar, hein?”.
No q emendou história horrenda dum outro colega guincheiro, rendido ali em Ferraz duas madrugadas antes, em ocorrência em q dele levaram tudo – dinheiro, guincho, cartão e até as roupas do corpo – ao mesmo tempo em q pisava fundo no acelerador.
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O percurso entre Ferraz e a Radial Leste, via de acesso imensa daqui de SP entre a ZL e o Centro (e tb o contrário), chuto q levava pouco mais de 20 minutos. A memória me diz q o guincheiro fez o percurso, movido a diesel e cagaço, em 5.
Cheguei em casa, Cássio morava perto e foi a pé, e foi isso. Cagaço de guincheiro na perifa.
PS – e o baterista gente boa do Burn Out esqueceu seu pedal duplo Pearl, recém-comprado (aliás, pro show) embaixo duma cadeira no bar. Mesmo eu insistindo em levá-lo de volta a Ferraz pra buscar, ñ quis. Pois é.