BEAT
Espaço Unimed, 09.05.25

Todo mundo ali com idade pra pegar busão de graça. Dois deles, mais velhos q o novo Papa.
Repertório q abrange 23 músicas do King Crimson oitentista, tocaram 18 + uma mais antiga (q não “21th Century Schizoid Man”, ufa). Duas horas e 10 minutos de show, excluídos os 20 minutos de intervalo entre os 2 sets. Baita custo-benefício.
E pra fechar com a parte numérica, 2 ex-Zappa. Não poderia dar errado.
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Tudo o q se disser e ouvir sobre esse show único (tb pq único no Brasil) será verdade.
Não é uma reles banda cover autorizada por Robert Fripp, são interpretações muito próximas dos sons originais. Exemplos: Danny Carey acrescentou umas passagens de pedal duplo; Steve Vai pirou nuns solos à “modo Vai“. E com o bônus da timbragem adequada, o q os sons de “Beat” não tiveram em 1983.

A fase crimnsoniana oitentista é um pouco complicada justamente pela questão timbragem: Bill Bruford, então baterista, se serviu daquelas baterias eletrônicas Simmons oitavadas primitivas, as guitarras tinham muito flanger (por influência de Talking Heads e new wave). Ou complicada só pra mim e uns poucos: qualquer traço de complicação passou ao largo sexta-feira.
Pessoas cantaram junto, davam risadas catárticas, aplaudiram passagens, se sentiram à vontade.
O início foi bastante atípico: vieram os 4 – Adrian Belew, Tony Levin, Vai e Carey – à beira do palco, um a um, nos saudaram e daí começaram.
Primeiro set foi basicamente dedicado a “Beat” e “Three Of A Perfect Pair“, com os sons mais complicados do segundo (q é o terceiro da fase). “Heartbeat”, a mais próxima dum hit, teve mais apelo. “Dig Me” achei a mais foda: fragmentada, barulhenta, aleatória. Incômoda, como tem q ser.
Quem quisesse música digerivel – ou digestiva – q comparecesse ao Unimed domingo pra ver o Foreigner e depois fazer o teste de diabetes.

Segundo set pareceu melhor recebido pq com 85.71% de “Discipline” – tvz o melhor , tvz o mais acessível da fase – executado (só a faixa-título q não) e pq o intervalo não funcionou como anticlímax, muito pelo contrário. Estávamos em privação, bora saciar.
E me surpreendeu demais “The Sheltering Sky”, ainda mais pq esticada pra além de seus 8 minutos. “Sleepless”, a música “fácil” de “Three Of A Perfect Pair” – leiam: o hit – foi muitíssimo bem recebida, com Levin e seu baixo amarelo estilizado (vide foto acima) mandando ver os slaps com umas dedeiras.
Tinha feito a lição de casa no caminho, ouvindo “Discipline” no carro, daí “Frame By Frame” me descer redondo. “Elephant Talk”‘(oucam-na, depois ouçam Primus) parecia a última descarga de endorfina (platéia entoando e Belew comemorando tê-la acertado, ao final), mas houve ainda “Red” no bis, q cantamos junto mesmo sendo instrumental (à “YYZ”, quando do Rush aqui) e um fechamento grooveado quase anti-Crimson com a anagrâmica “Thela Hun Ginjeet”.
Um show sublime e uma puta dor nas pernas ao final. Voltei mancando pro carro.

Falta falar um pouco sobre os 4 monstros no palco e uma queixadina ao final:
Adrian Belew tem currículo (Frank Zappa, David Bowie, Talking Heads, King Crimson e sei lá mais o q) e CARISMA. Toca muita guitarra e tinha um sorriso estampado na cara o tempo todo. A voz não mudou com a idade. Teve locuções e passagens vocais em backing track, sim, só q compreensíveis: difícil fazer e tocar junto.
Danny Carey não se ocupou em coverizar Bill Bruford, mas não descaracterizou. Teve momentos solo em “Indiscipline” (tocada há 7 anos no mesmo Unimed com 3 bateristas) e no início de “Waiting Man”‘ fazendo dos rotontons uma marimba escarlate. Com Belew o acompanhado no meio. Como faziam, ele e Bruford, nos 80’s.

Tony Levin tem classe, tem currículo tb e trocentos baixos e stick basses. Não só comigo, mas parecia às vezes ocorrer pra todo mundo: lembrar q o homem estava ali alinhavando tudo, ora rítmico ora harmônico. E é fotógrafo: vez ou outra puxava uma máquina pra fotografar os colegas ou nós ali. Durante as músicas. Não teria moral pra proibir q tirássemos foto ahah
Steve Vai é um alienígena e veio trajado à Stevie Ray Vaughan – um Steve Ray Vai–Vaughan – q tem sido traje de turnê mesmo. E tomara q alguém pergunte se uma homenagem deliberada. Tocou pro time, discreto como o Fripp de quem fez as partes e não sei dizer o percentual de cópias dos solos, mas tudo bem. Toca fácil.
As queixas: 1) rolê começando às 22h e passando da meia-noite, tive q ir de carro. Desacostumei; 2) ingressos vendidos só tinha Pista Premium, pra mesas num mezzanino enxertado no q seria a pista normal (não havia pista normal) e camarote. Só pôde ver o Beat quem teve pelo menos 550 reais pra apreciar. (Não sei dizer se houve meia entrada) Abordagem elitista, imagino q muita gente muito fã acabou ficando fora.

Set-list: 1. “Neurotica” 2. “Neal And Jack And Me” 3. “Heartbeat” 4. “Sartori In Tangier” 5. “Model Man” 6. “Dig Me” 7. “Man With An Open Heart” 8. “Industry” 9. “Larks’ Tongues In Aspic III” -(intervalo)- 10. “Waiting Man” 11. “The Sheltering Sky” 12. “Sleepless” 13. “Frame By Frame” 14. “Matte Kudasai” 15. “Elephant Talk” 16. “Three Of A Perfect Pair” 17. “Indiscipline” – bis: 18. “Red” 19. “Thela Hun Ginjeet”