Nem Raimundos nem Megadeth, q tocaram em duas edições.
Nas 4 edições noventistas – 1994, 1995, 1996 e 1998 – quem mais tocou no Philips Monsters Of Rock foi Jimmy DeGrasso, baterista no Suicidal Tendencies (edição 1994), na banda do Alice Cooper (1995) e no Megadeth, em 1998.
Fonte: minha memória. Q, aliás, desconfia q já foi pautado isso por aqui eheh
Um assunto que talvez já tenha sido brevemente pincelado por aqui: machismo e misoginia nas letras de rock, hard e metal em geral.
Minha reflexão que culminou na idéia de abordar o tema começou com um cd do Raul Seixas que comprei semana passada, “Abre-te Sésamo” (1980), e mais especificamente, a canção “Rock das ‘Aranha'”. Minha namorada, bem mais jovem do que eu, estava aqui em casa e coloquei o cd pra tocar; quando chegou na referida canção, ela se virou pra mim com olhar grave e mandou:
“é sério, isso?”
Todo homem já recebeu esse olhar congelante de uma namorada, parceira, esposa e sabe o que vem em seguida: tentativas patéticas de explicar o quase inexplicável, atropelando palavras e conceitos.
***
O fato é que, se eu ouvia e cantava essa música do Raul a plenos pulmões e com um sorriso na cara aos 19, hoje aos 50 fico com vergonha alheia por ele, e ainda mais das pessoas à minha volta. O mundo mudou? Eu mudei? Estou velho, careta, me transformei em um dos coroas de quem, quando jovem, adorava tripudiar e criticar?
Complementando, ontem inventei de ouvir o álbum de estréia dos Raimundos, que não escutava há uns bons 10 anos. O sentimento foi parecido ao “episódio Raul“, ainda que estivesse sozinho em casa com meus gatos. Novamente: mudou, mudei?
Me lembrei então de um artigo de revista gringa com Robert Plant, à época do lançamento da versão remasterizada tripla do ao vivo “The Song Remains the Same”, onde Plant descreve ter pedido ao produtor que retirasse certos trechos de diálogos seus com a platéia, e até mesmo partes das canções onde o teor de suas palavras tinha cunho misógino, por hoje se sentir envergonhado por tê-los dito. O produtor então explicou que seria um erro fazê-lo, pois o público do Zeppelin está bem familiarizado com eles e espera ouvi-los ao adquirir o material. Apagá-los agora seria trapaça e geraria mais controvérsia do que o contrário.
E assim ficou.
E o que não dizer de algumas (muitas?) letras de artistas com Bon Jovi, Whitesnake (as letras de Coverdale costumam ser embaraçosas), Rolling Stones, os óbvios Mötley Crüe e Poison, e tantos outros que não chegaram a atingir o mainstream?
O raciocínio que estou querendo gerar é: está tudo realmente mudando ou continua o mesmo, e nós é que adquirimos um ponto de vista diferente? Ou nada disso?
Sabe aquele papo de biscoito da sorte de que “o importante é a jornada?” Pois é…
Em 1994, ainda sem internet, já tínhamos uma grande facilidade de ter materiais (principalmente com o boom dos cds) e acesso a shows de bandas médias e grandes do mundo todo, desde que você morasse ou se deslocasse para São Paulo. Menos mal, considerando que na década anterior você precisaria se deslocar para Minnesota.
Mas em Goiânia tudo ainda era só um sonho e shows “grandes”, até então, foram apenas Dorsal e Ratos, sem contar que a Rock Brigade (como qualquer outra fonte de informação metálica) chegava com delay. Por isso levamos (eu e a comunidade banger local) um grande susto ao descobrir que um dos maiores festivais de metal do mundo faria sua versão no Brasil! Com Slayer e Black Sabbath! Monsters Of Rock! Comoção total.
Problemas: faltava uns 10 dias somente, estávamos a mais de 1000 km e cada um mais quebrado que o outro.
Quando um grande amigo, até hoje, que se chama Júlio disse que o pai era caminhoneiro e ia/voltava toda semana para SP e que iria falar com ele para ver a possibilidade de uma carona. Sendo que dava pra ir eu, ele e mais um.
Falou com o tio, eu confirmei e chamei outro amigo (Josmar, éramos o “trio J”). O show era dia 27/08, um sábado, iniciando-se às 12h, com doze horas de shows. O tio do amigo sairia na quinta com previsão de chegada na sexta. Ou seja: teríamos que nos virar entre sexta e sábado.
O show custava R$30 na pista, consegui R$50. Ou seja: ainda me sobrariam R$20 para alimentação, viagem, emergência… De quinta até domingo. Em São Paulo! Meu amigo tinha conseguido R$80. Estava melhor que eu.
Em cima da hora o Julio desistiu, acho que pensou bem na barca furada: andar 1000 km sem ter onde ficar, como ficar basicamente com o dinheiro do ingresso, em São Paulo. Foi o único sensato. Mas eu só conseguia pensar no Slayer e Black Sabbath e achava que íamos conhecer alguém e dormir na casa desta pessoa. Putz!
Óbvio que menti para minha mãe que estava na casa de um amigo qualquer, já que ela (e mãe nenhuma) nas circunstâncias permitiria.
***
Chegamos na sexta-feira umas 9h da manhã, já tinha gastado R$10 dos R$50 em alimentação na ida, o tio do amigo nos deixou na Freguesia do “Ó”, pegamos ônibus e fomos descobrir onde era o Pacaembu. De lá, fomos na Barra Funda, perguntando até chegar na Woodstock para comprar o ingresso.
Ainda faltavam 24 horas para o show e só me restavam R$5. Tive a idéia de ir para a Rodoviária do Tietê, pois chegariam bangers lá, e como eu conhecia gente do Brasil todo (via carta, por causa do zine) conseguiria fácil uma hospedagem e deslocamento. Ao menos era o que o meu otimismo juvenil sem noção achava.
De fato chegavam cabeludos aos montes, mas rapidamente se dispersavam. Puxava papo, falava do quanto éramos bangers de verdade, que o tal espírito do metal corria em nossas veias e coisas do gênero. Teve uns caras que queriam, inclusive, nos levar juntos (deviam ter uns 16 anos) mas as mães (ou tios) logo os demoveram da idéia. E vendo em retrospectiva, éramos cabeludos, meio barbudos (o que os 19/20 anos permitiam), com roupas pretas rasgadas, cheias de patches. Mendigos quase.
Anoiteceu: vieram o frio, a fome e o sono. Passamos a noite na rodoviária, que se por um lado era seguro, fazia muito frio e não podia deitar em lugar nenhum, que o segurança já cutucava. De madrugada, o frio cortava como navalha. Quando o metrô voltou a rodar, ficamos andando de um lado a outro. Era quentinho e podíamos dormir nas cadeiras. Assim ficamos fazendo até às 9h de sábado.
Resolvemos, dado o perrengue e a falta de dinheiro (o meu já tinha acabado; meu amigo devia ter uns R$15) ir na Woodstock e vender nossos ingressos para comprar passagens de ônibus de volta para Goiânia. Chegando na loja, devia ter umas 500 pessoas de fora, um burburinho de cabeludos de todo o país. Naquele momento, percebemos que não podíamos desistir: era histórico, tínhamos ido longe demais para desistir. Chance única. Iríamos ao show e depois pra BR para pedir carona. De novo a visão juvenil das coisas.
Resolvemos bater perna na Galeria do Rock, rumamos para lá e ficamos babando nas coisas de loja em loja até dar a hora do show. Estava passando os Lps, quando passa uma menina que eu conhecia de vista de Goiânia; pensei: “que louco ver essa mina aqui”. Passou outra, mais outra e a irmã de um amigo veio me cumprimentar! Era uma excursão de Goiânia cheia de pessoas que eu conhecia, inclusive alguns amigos próximos. Foi um choque positivo. Contei pra eles a história toda e veio o cara que organizou (Kleber) falar comigo, chamando pra ficar com eles e ir embora pra Goiânia no ônibus. Expliquei que estávamos sem dinheiro nenhum. Ele disse que estava tudo certo. Inclusive a galera dividiu comida, água e ainda pagaram lanches pra gente na volta.
Toda história tem um “deus ex machina”. Esse foi o meu. Encontrar uma excursão da minha cidade em uma das maiores Metrópoles do mundo.
***
Ah, já ia esquecendo dos shows, que acabaram ficando menores do que a jornada, de fato. Pouca coisa lembro do Angra e Dr. Sin, que fizeram shows pequenos. Do Viper, lembro que a galera interagiu com o cover do Queen. O Raimundos destruiu tudo, foi um show insano. Nessa altura, já estava bem cheio. Comecei o show perto do palco, mas as ondas te levavam de um lado ao outro. Foi insano. Insano! Eram uma enorme banda nessa época.
Curti bastante o Suicidal, mas havia uma tensão porque viriam Black Sabbath e Slayer. A galera estava tensa mesmo, inquieta. Tipo esperando a barragem romper e vir uma avalanche de água. Sinceramente, curti o Black Sabbath demais e lembro bem dos trejeitos e traquejos do Tony Martin. Dava vontade de chorar ao ver quem moldou sua vida, ao vivo. Foi muito foda. É tipo sofrer um acidente automobilístico: você fica em transe e em choque. Parece um sonho e você não tem certeza do que é realidade ou delírio.
Quando, de repente, “Hell Awaits” anuncia o apocalipse. Se você nunca viu Slayer ao vivo, é uma experiência que não se passa incólume. Não existem fãs como os da banda. Nego sai do nada, te segura e grita “Slayeeerrrr”. O tempo todo. O pau come. Você não sabe pra onde olhar. Todo mundo é seu amigo a ponto de te abraçar, chutar, empurrar, bater cabeça junto. Temi pela minha vida caso caísse.
Acabou o show e o festival pra mim, fui pro fundo dormir (uma cobertura que estava em cima do gramado) enquanto o Kiss tocava, até alguém da excursão me acordar por volta de uma da manhã, que iríamos embora.
Cidade e Estado de origem: Goiânia-GO radicado atualmente em Joinville-SC
Gênero musical preferido: heavy metal
Ouve rock desde: 1985 com o Rock in Rio
Disco que mudou sua vida: “Master of Reality” Black Sabbath
Disco que mais ouviu na vida: Black Sabbath Vol. 4
Primeiro disco que comprou: King Diamond – “Fatal Portrait” (sem convicção)
Último disco que comprou: “The end” – Black Sabbath
Top 5 discos ilha deserta: “Reign In Blood”, “Master of Puppets”, “Vol. 4”, “Rust In Peace”, “Sad Wings of Destiny”
Top 5 bandas: Black Sabbath, Slayer, Deep Purple, Led, The Gathering.
Top 3 melhores shows que já viu ao vivo: Slayer, Black Sabbath e Raimundos (todos no Monsters of Rock no melhor dia musical da minha vida)
Música que seria a abertura do seu próprio programa de rádio: “74 Jailbreak”, AC/DC
Não entendo como conseguem gostar de: Nickelback e afins
Já tocou em alguma banda: porcamente
Além de rock, curto muito: blues e folk
Maior decepção musical: Metallica ter virado o U2
Indique 3 bandas novas: Não conseguiria recomendar nada que tenha surgido nos últimos dois anos
LP, CD, mp3 ou streaming: LP pela nostalgia, fetiche e sonoridade, mp3 pela portabilidade e volume a se ouvir no carro. CD nunca curti e streaming ainda me é esquisito.
O quê? O documentário “Sem Dentes – Banguela Records e a Turma de 1994”, sobre o rock/pop brasileiro dos anos 90, focando no selo Banguela, de curta duração mas de amplo alcance. Tem muito pouco, praticamente nada, de heavy metal nele, mas há Raimundos, Chico Science & Nação Zumbi, Maskavo Roots, Planet Hemp, mundo livre s/a e etc.
A destacar, como aperitivo:
o papel crucial de Carlos Eduardo Miranda nisso tudo. E como vem se arrastando por aí até hj, graças ao q fez nos 90’s
o papel calhorda da revista Bizz nisso tudo. Escancarando o q li recentemente em “Número Zero”, de Umberto Eco: ñ são as notícias q fazem a imprensa, mas o contrário…
Raimundos souberam seguir em frente. Caso contrário, teriam ficado no mesmo limbo duma Graforréia Xilarmônica e da precariedade cult do mundo livre s/a, de capenguice impressionante
infelizmente ñ há qualquer menção ao Linguachula, de álbum único autointitulado, lançado tb pelo Banguela
Nando Reis é um cuzão de marca maior
Tem o papo, exterior, de ter sido documentário premiado em Brasília, ou o caralho a quatro, q nada me diz. É complementar ao livro de Ricardo Alexandre sobre o mesmo contexto, “Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar”. O lance é histórico, pra quem viveu ou ñ a época. E isso é o q importa, a meu ver.