WhiteZombie, “Astro-Creep: 2000 – Songs Of Love, Destruction And Other Synthetic Delusions Of the Electric Head”
Duas características inegavelmente noventistas deste “Astro–Creep: 2000…“:
1) faixa-bônus escondida (“Where the Sidewalk Ends, the Bug Parade Begins”) 3 minutos após a então última; 2) lançado pela onipresente Geffen Records.
(Pergunto de novo: q fim levou a Geffen Records?)
Tipicamente dos 90’s ainda nalguma sonoridade à NineInchNails, devido a Charlie Clouser, colaborador do Trent Reznor Group, enxertando uns efeitos e teclados ao longo. Alguns loops bateristicos à Ministry.
Reouvindo há pouco tb me ocorreu alguma influência do FaithNoMore safra “AngelDust”, em “Blood, Milk And Sky”. Não? E influência pros vindouros Rammstein nela e no groove de “Grease Paint And Monkey Brains”.
Defeito grave: não ter “Feed the Gods”, presente em “TheBeavisAndButt–HeadExperience” (Geffen!) e na trilha sonora de “Airheads”. E pra mim o melhor som do WhiteZombie.
Meu lastro metaleiro pra algum interesse era John Tempesta na bateria, vindo de passagens marcantes por Exodus e Testament. Em 1995 WhiteZombie pra mim “não era metal” e não me foi prioridade.
30 anos de lançado sábado, ainda não me é. Mas hoje consigo absorver as qualidades de “Astro–Creep: 2000…”. Era metal, sim. Metal alternativo. De produção requintada mas não diluída, q tb valorizou as idéias mais q a pouca técnica.
Não um disco clássico e obrigatório. Mas divertido, zero derivativo e nem um pouco chupim de grunge ou Pantera. Fica a dica.
Claramente tenta dialogar com o público do pop e das divas pop IA. Cada um com seus pobrema.
E se o Metallica virou o U2, o Ghost vai virando o novo Metallica. Visual de metal, arenas, marketing e ambição de “abrir horizontes”. Fãs do início aderindo ao sebastianismo.
Comentei por aqui em janeiro da minha frustração de ter passado 5 dias em Santiago e não ter encontrado nada de heavymetal latino-americano. Fosse cd, show ou boteco. Algo muito estranho, pq vimos metaleiros demais pelas ruas.
Sábado passado, eis q me cai no colo esse fest.
Venezuela Metal Fest, capitaneado pelos venezuelanos radicados (exilados) na Argentina GuerraSanta, e com Faraón (argentinos), LivingMetal (brasileiros) e Olymp (alemães), tudo banda totalmente desconhecida pra mim.
E por isso mesmo, resolvi ir.
Evento q teve algum atraso na passagem de som (me disseram), daí o La Iglesia só abrir às 20h e o Faraón (primeira banda) começar às 20:30. E daí eu não ter visto o Olymp, pq tive q sair fora às 23:45 pra pegar o metrô.
Aquele déjà-vu desnecessário de rolê metaleiro. (Acostumei com Sesc Belenzinho, Hangar 110 e festpunk…)
(faz de conta q a resenha está prolixa pra enxertar merchan ahah)
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Éramos em 13 pessoas + uma convidada (influencer, youtubber ou da produção) quando entramos. Noite q parecia realmenteunderground, ao contrário do fest de sexta-feira.
E é relativamente fácil descrever o q foram os shows do Faraón – q abriu a noiteinesquecível – e do GuerraSanta, a última q vi: bandas encaixadas entre o heavymetal tradicional e algum powermetal sem caricaturas.
Sem chupinhar JudasPriest, Accept, Helloween ou IronMaiden, o q sugeriria o nome Faraón. Bandas de identidade própria, cantando em espanhol e bastante profissionais. Tocando seus sets sem migué. União mesmo.
Um outro detalhe, meio periférico, q me chamou atenção: guitarrista barrigudo do Faraón, fisicamente lembrando um Tom Araya, usava camiseta do Death, capa de “Human“, sem q ele mesmo ou a banda tivessem qualquer traço da Chuck Schuldiner Group. O guitarrista base do GuerraSanta usava camiseta do DyingFetus, e idem zero traço de deathmetal no som
Quero dizer q parecem haver bandas com integrantes de influências distintas, ocupadas apenas em fazer heavymetal. De verdade e de qualidade. Ao contrário do LivingMetal, q deveria estar tocando no Manifesto, no Santo Rock Bar, num Matanza Fest ou no House Of Legends.
O q vou dizer desses é assim: paródia de Massacration. Bem tocado, vai. A vergonha alheia não era aí. 5 cabeludos de preto disputando a frente do palco (exceto o baterista) e fazendo músicas de louvor ao heavymetal.
Pesquisei: um único disco lançado, de 2021, com músicas como “Do You Believe In Steel?” (faixa-título), “I Am the True” (sic), “It’s Only About Heavy Metal” e “We Are Metal… You’re Not”, essas duas últimas tocadas. Descrevi o suficiente?
Agradaram aos amigos e namoradas presentes. Amigos imaginários e espíritos zombeteiros tb, tvz. (Não sou médium) Vocalista com bandana parecia querer fazer hard farofa, mais q heavymetal. A vergonha alheia era minha… e não deles.
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Na banquinha de merchan, material do GuerraSanta (peguei o cd com o vocalista) e do LivingMetal. Praticamente nada do Olymp e zero produtos do Faraón.
Troquei idéia com um sujeito (brasileiro, não perguntei o nome) q tem um selo, Storm Atoom Records, q está lançando bandas latino americanas de heavymetal (tem página no YouTube) e me explicou q o Faraón não tem material lançado devido à crise econômica argentina.
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Volto ao Faraón: 4 sujeitos tocando bem e fazendo um metal puxando pro tradicional. Baixista empolgado e preciso, baterista tiozão carismático e careteiro, o guitarrista “Tom Araya” sossegado e um vocalista sem pose. Tocaram sons próprios e chamaram o vocal do Olymp pra fazerem juntos uma versão aceitável de “Resurrection” (Halford). Gente mais nova pegando o “Judas” etariamente mais próximo. Ficaram depois trocando idéia e conversando com latinos q foram chegando pro show.
(Q já não era mais a dúzia e pouco)
O GuerraSanta veio em formação quinteto (duas guitarras) e fazendo um metal quase melódico (mais próximo dum Helloween “BetterThanRaw” e “TheDarkRide“, sem chupim), mezzo tradicional. O som importando mais q qualquer pose.
O vocalista Martino Vázquez fisicamente lembrava uma cruza de JeffScottSoto com um Chuck Billy depois da bariátrica e, incrível, não foi incômodo. Tom de voz médio e agradável, sem querer soar Kiske, Bruce ou AndreMatos sem acento. Sendo emotivo e épico sem afetação. Não me parece ter vocalista do estilo assim aqui.
O baterista magrelo Lucas Gonçalves tb não apelou pra malabarismos e maneirismos desnecessários. Segurou a bronca e reiniciou a contagem num som q o guitarrista solo meio clone de YngwieMalmsteen acelerou na largada. Tudo de boa.
A certa altura, chamaram o vocalista do LivingMetal pra traduzir algumas falas e contexto: se apresentaram como uma banda exilada da Venezuela e residindo em Buenos Aires, com impulso de fazer esse festival entre os países afora e etc. Cantaram juntos “Camina”, sobre esse exílio e outros 5 sons do disco (de 2023) q comprei lá do Vásquez, “Êxodo: UnNuevoComienzo“. Foi muito bom.
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Meu juízo sobre o evento: Faraón e GuerraSanta não perdem em nada – muito pelo contrário – pra bandas similares aqui do (🤢) metalnacional, mais afeitas a “polêmicas” e podcasts q a tocarem de verdade. Acho mesmo q caberiam num Bangers Open Air (processa, Jessiê!) mais q muito europeu série B q está vindo e sendo vendido como “revelação”.
De uma forma geral, geopoliticamente falando tb, vejo q falta uma troca entre nós brasileiros (latinos não admitidos) e os latino-americanos de língua espanhola; ainda q se saiba q eles nos conhecem mais q vice-versa. Satisfez minha curiosidade com relação ao metal hermano e torço pra q outros eventos assim ocorram.
Com banda brasileira menos caricata escalada e a farta oferta de bandas latinas q parece existir.
Admito: parei com o Sodom no chatissimo “EpitomeOfTorture” (2013). Falávamos disso outro dia por aqui numa lista de segunda. Pulei “DecisionDay” (2016) e acredito de verdade no q märz me disse de bom sobre “GenesisXIX” (2020), q tb não fui atrás.
Fica uma impressão de q Tom Angelripper quer voltar a ser tosco, e isso é uma decisão artística. Do contrário teriam q evoluir tecnicamente, e sei lá se o cara consegue.
Clipe novo do Sodom, “Trigger Discipline”, antecipando novo disco, “TheArsonist“, a ser desovado em 27 de outubro. Bora criar expectativa.
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Não pra mim. Clipe legal, e só. Impressão birra confirmada: muito esforço e tecnologia pra soar tosco. Vocal muito alto na mixagem embolada. E duvido q Angelripper consiga cantar (direito) isso ao vivo.
E numas horas, soando como Destruction. Ué.
Destruction mudou o som, então o Sodom deve tentar ocupar a vaga?
Desenvolvia com o Leo no pós-show de sexta a seguinte tese: é muito difícil numa banda avaliar realisticamente se a mesma é boa (tem apelo) e/ou consegue angariar público.
Cito isso pra aludir ao festSãoPauloemChamas ocorrido sexta-feira no La Iglesia. Cujo público pouco não se deu por conta da chuva, do frio ou de ser numa sexta-feira, a meu ver.
O público presente era basicamente de amigos e namoradas dos caras das primeiras bandas + o cara da mesa, o casal do bar, a moça do caixa, eu, o Leo e o Amílcar do TortureSquad, q chegou (e pagou) só pra ver o ChaosSynopsis. Vamos ver se me faço entender:
O Andralls é veterano (“25 anos”, bradou o vocalista/guitarrista) e acho q não erro em cravar q é formado pelo vocalista/guitarrista original membro fundador + quem ele consegue alistar à causa.
Não tocam mal e não me parecem mais o thrash bate-estaca q conheci há uns anos e não me “pegou”. Trabalho de guitarras muito entrosado – e o guitarrista solo heróico tocando praticamente todo o repertório faltando a corda lá – baterista novo muito bom, repertório redondo e ensaiado, cds pra vender… mas sem apelo.
Claramente gostam de fazer o q fazem, como apontou o Leo, mas fazem um som sem maiores destaques. Em determinado momento, o vocalista enalteceu a condição “underground” da banda.
Não acho. Acho banda q ficou pra trás, como Claustrofobia, SiegridIngrid e até mesmo o TortureSquad. Veteranos por anos em atividade, não por uma obra ou legado, e “underground” pq claramente não têm público. Só a meia dúzia de amigos.
O FacesOfDeath veio de Pindamonhangaba e acertei em cravar q eram uns tiozões q tinham a banda quando moleques e voltaram adultos (com melhores condições materiais de comprar instrumentos bons). Só q voltaram do pause, no mau sentido.
Não posso falar q são toscos ou horríveis, mesmo pq acompanho alguém deles q posta novidades, sons e videoclipes novos com freqüência num grupo de WhatsApp. O problema é q correria apenas não resolve.
Os caras claramente acordam, dormem, almoçam, jantam e cagam Slayer, mas não têm apelo. É um metal datado, sem destaques ou com um riff ou refrão q chame atenção. Pra piorar, o baterista é um idiota.
Pagando de truzão, subindo ao banquinho pra “agitar” a galera, parecendo o Diabo da Tasmânia do desenho, totalmente vergonha alheia. A banda puxou pra si mesmos o coro de “Faces Of Death, Faces Of Death”, o q tb achei constrangedor.
No fim das contas, uma banda q não é ruim, mas q tvz chamasse atenção ou causasse identificação em 1988. Falaram orgulhosos em “underground“. Nada disso: o som é meio ultrapassado – underground é Krisiun, Surra, Velho – e não atrai público. Não é de se ufanar.
Quando o ChaosSynopsis entrou, metade do público tinha vazado (e nem meia-noite era ainda); chamam essa fuleiragem de underground tb. SQN.
Significa q parte graúda do público foi pra ver a banda do amigo e sair fora. O mesmo tipo de “público” q depois vai pra rede social reclamar não termos “cena”… Temos, mas acontecendo em outros lugares e com outras bandas.
Q é a deixa pro feedback q dei pro Jairo, baixista/vocalista mesmo sem ele pedir. A banda é razoavelmente veterana por tempo de estrada (são de 2006) e por lançamentos (4 álbuns + disco ao vivo + singles e splits) e fazem um death/thrash com técnica, culhão e apelo. Discos conceituais sobre serialkillers (“ArtOfKilling“) e deuses perversos (“GodsOfChaos“) acompanham.
Só q entendo q cabem em fests com Crypta, Surra, TortureSquad, MangerCadavre? (do Vale do Paraíba igual eles), só precisando vir mais pra São Paulo e usar mais rede social pra se divulgar.
Por exemplo: sei q estão ensaiando gravação de disco novo, daí uns makingofs tvz ajudassem. O destaque técnico indiscutível acho o baterista Friggi Mad Beats (aliás, guitarrista no Debrix, q vai abrir show do Helmet), nuns cacoetes Death e com uma pegada próxima à de Amílcar, só q melhor. Destacando os sons e lhes dando dinâmicas, ao invés de POLUIR tudo.
Jairo está melhor nos vocais e um guitarrista novo, viciado em palhetadas, deu liga. Tocaram músicas de todos os discos, incluída a em Português (“Son Of Light”) sobre o serialkiller brasileiro Febrônio Índio do Brasil, o q tb me meti a sugerir: músicas novas (tvz não todas) em Português, pra gerar mais adesão.
Afinal, é um ciclo assim q estamos vivendo, com BlackPantera, Surra, Desalmado, Cemitério, SanguedeBode, Vazio, Velho, Flageladör, MangerCadavre? e Eskröta.
Música não é competição, sabemos, mas fui pra ver e gostar do ChaosSynopsis e os achei os melhores da noite. Com sobras. Pq ainda com lenha pra queimar.
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Setlist: 1. “Raising Hell” 2. “Zodiac” 3. “Sarcastic Devotion” 4. “Serpent Of the Nile” 5. “Son Of Light” 6. “Gods Upon Mankind” 7. “Chaos Synopsis” 8. “Spiritual Cancer”
“Computador, faz um catado de chavões de LinkinPark, música de Olimpíadas, tema de comercial de isotônico, coisa de disco antigo da gente, metalcore e divas pop?”
Saiu isso.
Pra quem se incomodou (como eu), ler os comentários no YouTube é o devido revide.