Mais uma história sobre Moto Clube e a relação normalizada entre esquisita e abusiva estabelecida com banda contratada. No caso, a minha.
O penúltimo show do No Class aconteceu em 28 de janeiro de 2018 no MC Amantes da Estrada, em Itapevi. Em convite q se deu na semana anterior, 20 de janeiro, em Jandira, no antepenúltimo show do No Class, q fizemos no Caveira Velha, bar tr00 local.
Cujo público foram apenas e tão somente 4 ou 5 integrantes desse MC. Gostaram de nós, convidaram e tinham pressa de q fosse na semana seguinte, negociaram cachê conosco e fechamos. Ñ sem um aviso:
“ó, mas vcs têm q tocar a tarde inteira, tá?”
Algo próximo à descrição q fiz – no post “Walk A Crooked Mile”, há 2 meses – do MC Sinistros de Araras: bandas contratadas à moda “máquina de videokê”, fundadas na base do “já q tô, pagando, tem q tocar muito”.
Um detalhe: ñ seria à noite, mas num domingo à tarde “a partir das 14h”.
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Foi difícil de chegar, mas o presidente ali já tinha avisado q chamássemos no WhatsApp quando chegássemos à rodoviária da cidade. Q ele e uns amigos (comitiva?) nos encontrariam e os seguiríamos ao local. Feito.
Chegando ao local, um espanto já conhecido e ao mesmo tempo ñ. A parte insólita veio da namorada do guitarrista bostonarista (viria a saber desse aspecto lamentável 7 meses mais tarde) q perguntou: “ué, vcs vão tocar aí?”
Namorada nova do cara, ainda novata nos rolês presepeiros da gente. Lembro de ter conseguido rir, comentando algo tipo “bem vinda ao nosso mundo”.
E o q era o “aí”? Um espaço do tamanho duma vaga de carro no meio fio da rua do MC com uma tenda de lona em cima. Zero palco. Bateria até boa montada, 1 amplificador de baixo; o de guitarra o guitarrista levou. Puta sol. Imagina na Copa.
E o q era o MC: um boteco 2 x 5, q nem mesa dentro cabia. Cabia espaço pra duas ou três pessoas em pé atrás dum balcão, a geladeira de cerveja na parte de trás do balcão e uma porta ao fundo q deveria ser um banheiro.
Numa área barra pesada duma cidade ñ exatamente fofa. Na frente duma COHAB, conjunto habitacional provavelmente habitado por pagodeiros e funkeiros em sua quase totalidade.
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Tirando essa impressão inicial ruim, e o fato de ser um pessoal mal encarado (e bostonaristas; já dava pra sacar), foram todos receptivos e gente boa. Ajudaram a descarregar o equipamento do carro, sujeito da mesa de som veio trocar idéia, famílias com crianças correndo e nos observando.
O presidente nos pagou o cachê adiantado (200 reais), justificando q iria ficar bêbado logo e acabar esquecendo.
Segue o jogo.
Tocamos, tocamos e tocamos. Igual Araras. Parando um pouco pra respirar (acho q fizemos intervalo pra tomar água; aliás, ninguém nos ofereceu água, cerveja, amendoim ou palito de dente pra mastigar, o q até tudo bem pq já sabíamos q nos locais o q a gente consumisse a gente mesmo pagaria) e se começamos umas 14h30, acho q fizemos som até umas 17h.
Com direito a repetir “Ace Of Spades” e “Iron Fist”.
Acabamos, ainda um puta sol, e um ou outro motoclubista ainda querendo mais, no bom sentido. No mau sentido, um ou outro da comitiva do presidente demonstrando q tínhamos tocado pouco, mas q se danasse. Esgotamos repertório, esgotados estávamos.
Algo meigo e único tb me aconteceu: uma das motoqueiras (gostam q chamem de ‘motociclista’, q se fodam) veio me pedir baqueta pro filho. Do q só fui reparar um menininho duns 5 ou 6 anos, com colete de MC e tudo, q esteve o tempo todo atrás de mim me vendo tocar. “Ele quer tocar bateria, está fazendo aula”.
Me senti demais lisonjeado, dei um parzinho ñ muito zoado pra ele, q agradeceu e pareceu feliz. Mas ñ acabou aqui.
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Veio a maletice motoclubística da vez: algum importante ali foi ao microfone, nos agradeceu e mandou algo como: “agora, o fulano, sicrano e beltrano venham pra cá pra tocar um pouco, o pessoal da banda vai emprestar os instrumentos”.
Oi?
Na hora, o guitarrista me cochichou, pistola: “não vou emprestar minha guitarra nem fodendo”. Era uma Ibanez, ainda. Retruquei q tb ñ iria deixar usarem meus pratos.
Pouco importava: chegaram uns caras pra pegar emprestados nossos instrumentos e “tocar”. “Fazer uma jam“. O da bateria, já chegando diplomático q iria tomar cuidado com meus pratos. Porra.
Tvz as linguagens corporais minhas e do guitarrista tivessem falado ALTO q ñ cederíamos. O Edinho, baixista, vocalista, diplomata e budista-mor, tomou as dores, conversou com o pessoal e fez um acordo: um dos caras tomaria o microfone pra cantar, enquanto a gente tocaria uns Maiden, uns Judas e uns Sabbath pra acompanhar.
Menos mal.
Lembro vagamente de termos tocado mal e porcamente “The Trooper”, “Grinder” (q a gente brincava de tocar em ensaio), “Breaking the Law”, “Wasted Years” (tvz) e provavelmente tb “N.I.B.”.
É bem provável q tenha rolado “Born to Be Wild” tb. MC, né?
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Ainda mais esgotados, doloridos, fedendo, famintos e de saco cheio, mas justificadamente precisando ir embora, juntamos nossas coisas no carro e fomos. Ninguém da “presidência” ou assessores veio agradecer, trocar idéia etc.
Lembro q alguém ali veio perguntar de tocarmos num outro evento dum outro MC (até deu um cartão) noutra cidade barra pesada próxima no próximo domingo. Provavelmente mesmo esquema “tocar a tarde inteira”. Respondemos, os 3, q ñ daria. Sem sequer pensar em inventar desculpas. Ou confirmar entre a gente q ñ poderíamos mesmo. Mas q nos convidassem mais pra frente, pra alguma próxima vez.
Ñ houve uma próxima vez. Nem ali nem no tal outro local.