Vontade recorrente (e contida) q tive ao longo do show e tb depois, na rua voltando ao metrô, era ficar vociferando “chupa, Zakk Wylde“ e “chupa, Dimebag”. Guitarrista de verdade é Tommy Victor.
Considerava sobre a injustiça do sujeito ñ ser enaltecido como deveria, mas ao mesmo tempo sobre minha vã empatia: o cara tá se lixando pra isso. E isso é foda.
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Contexto: o show estava agendado há meses pra quinta-feira 13, mas a organização quis tentar tirar proveito do feriado (conseguiram comigo: comprei na porta) pra ver se rolava mais público. E nem adianta falar q foi o show do U.D.O. rolando no Carioca ou o Popload Festival pra hipster no Clube Tietê, rolando no mesmo dia atrapalhando. Nem o Corinthians x Flamengo em Itaquera.
Ou o show do Nightwish (Unimed Hall, pra 8 mil presentes) no dia seguinte. Ou o Helloween baile da saudade de sábado antes. A real é q o show do Prong rendeu metade do Fabrique (ex-Clash Club). E se isso significou 200 pessoas, eram 200 FÃS DE VERDADE presentes.
Gente q nem foi pela nostalgia, mas por conhecer a obra da banda, fases noventista e recentes. Aliás, Victor e seus asseclas (ñ peguei nomes) estavam com sangue nos óio: o set-list colado ao palco – e do qual tirei foto – tinha duas páginas. 19 sons + uma intro.
E foram todas magistralmente executadas. Requinte de crueldade mesmo.
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E a comoção era genuína: galera cantando os sons, air guitar comendo solto, decibéis açoitados impiedosamente e à exaustão. (TUDO muito alto, mas definitdo). Fazia muito tempo q ñ saía SURDO dum show. Padrão de qualidade, oras.
E o público ñ tinha ninguém abaixo de 25 anos. O público comprou todas as poucas – e caras – camisetas de 120 reais. O público ñ teve do q reclamar.
E tenho impressão de q Victor ficou por ali mais um tempo, trocando idéia, tirando selfie, autografando a Rock Brigade véia q um tiozão portava embaixo do braço. Esbanjou simpatia: entrou e saiu do palco rindo e mascando chiclete.
Mandava beijinhos, estava claramente curtindo o evento. Show único em SP, duma turnê latino-americana visivelmente modesta. Do tamanho q a banda (ainda) tem. E tudo bem.
Rolou “Unconditional”? Logo, no 6º som. “Snap Your Fingers, Snap Your Neck”? Como ñ? Com direito a introdução alongada. Em “Beg to Differ”, 4º som, Victor dava de Tim Maia, pedindo retorno pro sujeito da mesa de som (daqui, ñ da banda), até se dar por satisfeito. Sem cuzice, zero estrelismo.
[ele era técnico de som ou porteiro no CBGB, né?]
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E foi aquele show q pra mim apontou duas possibilidades:
ou a banda vai começar a voltar direto (e poderia ser em Sesc), até cansar
ou a banda nunca mais volta e quem deixou de ir vai lamentar o resto da vida
Puta show.
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Set list: 1. Intro 2. “Test” 3. “Whose Fist Is It Anyway?” 4. “Disbelief” 5. “Beg to Differ” 6. “Lost & Found” 7. “Unconditional” 8. “Ultimate Autority” 9. “Cut-Rate” 10. “Rude Awakening” 11. “Broken Peace” 12. “Cut & Dry” 13. “Another Wordly Device” 14. “Snap Your Fingers, Snap Your Neck” 15. “However It May End” 16. “Revenge… Best Served Cold” 17. “Close the Door” 18. “Prove You Wrong” [bis] 19. “Third From the Sun”
PS – teve uma banda de abertura sem sal tb. Considero nos comentários, pra ñ gerar incômodos PS 2 – q legal um show começando e terminando cedo e na hora. 21h30min eu já estava em casa, vendo Corinthians x Flamengo. Com a tv no mudo.
Deu uma vibe Rock Brigade aqui, deixa escolher melhores instrumentistas do ano? Steve Harris (baixista), Edu Ardanuy (guitarrista nacional, pouco à frente do Kiko Kiko Ha Ha Ha), Mike Portnoy (melhor baterista), Jon Lord (melhor tecladista… pra quem ñ conhece outros). Deixa quieto.
MELHORES ÁLBUNS DE 2021:
“Violence Unimagined”, Cannibal Corpse
“Lost Machine – Live”, Voïvod
“Persona Non Grata”, Exodus
“Torn Arteries”, Carcass
“Helloween”, Helloween
“Senjutsu”, Iron Maiden
“Rocket to Kingston”, Bobby Ramone
“Leviathan”, Therion
“Too Mean To Die”, Accept
“Aggression Continuum”, Fear Factory
comentário: os 2 primeiros, tipo quenianos na São Silvestre, ñ deixaram os 2 primeiros lugares desde q os adquiri em julho
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MELHORES DISCOS ADQUIRIDOS EM 2021, MAS DESOVADOS NOUTRAS ERAS:
“Live at Chene Park”, Jean-Luc Ponty
“Tourist”, St. Germain
“Still Got the Blues”, Gary Moore
“Dark At the End Of the Tunnel”, Oingo Boingo
“The Process Of Belief”, Bad Religion
“Anderson Wakeman Bruford Howe”, Anderson Wakeman Bruford Howe
“Hypocrisy Is the Great Luxury”, Disposable Heroes Of Hiphoprisy
“Always Outnumbered, Never Outgunned”, The Prodigy
“Siroco”, Paco de Lucía
“Adios Nonino”, Astor Piazzolla y Su Quinteto
comentário: Gary Moore ainda é subestimado. E esse aí comprei sem capa mesmo
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PIORES DISCOS ADQUIRIDOS EM 2021, LANÇADOS EM 21 OU Ñ:
“Original Soundtracks 1”, Passengers
“Remixes”, Freddie Mercury
“Beautiful Morning”, Die Happy
“Is This It”, Strokes
“Cássia Eller” (1995), Cássia Eller
“Presets”, P.U.S.
“El Greco”, Vangelis
“Mtv Ao Vivo Vol.2”, Barão Vermelho
“Ghost Stories”, Coldplay
“The World’s First Iron Man”, Paul D’Ianno
comentário: pois é, Coldplay melhor q P.U.S.
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MELHORES LIVROS LIDOS E Q OUSO RECOMENDAR (MAIS OU MENOS):
“Pequeno Manual Antirracista”, Djamila Ribeiro
“Outsider”, Stephen King
“Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock”, João Luiz Bovinoafetivo
“Juliette Society”, Sasha Grey [lendo ainda]
“2 ou + corpos no mesmo espaço”, Arnaldo Antunes
comentário: o celular matou meu hábito de leitura. Ano retrasado, li 7; ano passado esses 5. Pela desprogressão aritmética, periga eu ler só 3 em 2022
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SHOWS
Obviamente nenhum. Mas posso recomendar documentários ótimos, como o de Jeff Beck (“The Jeff Beck Story – Still On the Run”) ou os capítulos de Metal Evolution disponíveis no YouTube. Aqui sou retrô, ñ rola Netflix.
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PREVISÕES
Megadeth vai lançar o disco novo e vão falar maravilhosamente bem por uma semana; depois, cai no limbo. Overkill lança disco novo, mais um. Voïvod e Napalm Death novos provavelmente elencarão o topo de minha top lista 2022. Deep Purple e Cannibal Corpse lançam algo até dezembro, e ñ disco ao vivo. Continuarão rolando os boatos de q o Rush vai voltar com Porretnoy.
Ozzy Osbourne e Keith Richards brindarão o revèillon pra 2023.
Por A + B tenho confessado por aqui q eu era mais assíduo na Bizz q na Rock Brigade, q passei a acompanhar um pouco mais a partir de 1995. Por isso, ñ acompanhei in loco a repercussão dum certo “metal alternativo” (Faith No More, Living Colour, Jane’s Addiction) nas revistas de metal à época.
Imagino terem sido ignorados todos, ou pixados como “modinha”, pra daí o tempo se encarregar de “aceitar”. Brigade pôs Red Hot Chili Peppers uma vez em capa, deve ter dado muita chiadeira…
Do q lembro de “alternativices” em Brigade, foi algum primórdio daquilo q se consolidou como new metal, chamado antes pela publicação de “alterna metal”. Um balaio confuso no qual incluíam ainda Placebo… Enfim.
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Pincei de duas Bizz de 1991 (reiterando o zeitgeist 1991, em q a publicação intuitivamente sacava o metal e as bandas alternativas ascendendo sobre o mainstream) resenhas sobre “The Real Thing” (Faith No More) e “Ritual De Lo Habitual” (Jane’s Addiction), a mim bastante interessantes passados 30 anos, e q creio ainda renderem um papo.
[edição 67, fev. 1991]
“‘The Real Thing’ – Faith No More (London/PolyGram)
Este é realmente um LP matador. Nove faixas que deram ao Faith No More o status de melhor grupo de 90 para a revista Spin. Altamente versátil – não apenas nos arranjos, mas sobretudo na variedade das composições -, o Faith realiza habilmente um crossover de thrash metal com outros estilos pesadões, como rap, heavy dos 70 e funk bombástico.
As faixas mudam de teor de forma assombrosa. Enquanto o funk metal ‘Epic’ termina com um piano acústico solo, é o ruído de uma hecatombe nuclear que dá cabo de ‘Surprise! You’re Dead!’. O mais esquisito é que logo após tamanho barulho entra ‘Zombie Eaters’ com dois violões e um teclado com timbre de cordas fazendo a cama para a comoção do vocalista Mike Patton.
Com setenta versos, a faixa-título abre o lado B. Banquete servido em taças de cristal e talheres de prata, ‘The Real Thing’ sintetiza numa boa duas décadas de rock’n’roll – sem exagero. Aqui não há desperdício de talento. Apesar da maestria de cada músico da banda, as linhas de todos os instrumentos são econômicas e há uma distribuição equânime de funções, inclusive da voz supervalorizada em outras faixas do álbum.
A ‘romântica’ ‘Underwater Love’ (tema tão bucólico para um grupo idolatrado por metaleiros) é a única de todo o disco em que não há tensão à flor-da-pele. O andamento é rápido, mas ela está inebriada por uma atmosfera soft que cria algum relaxamento – algo impossível de dizer sobre as outras faixas.
Com sotaque red-hot-chili-peperiano, ‘The Morning After’ mostra um riff de baixo repleto de slaps de funk. A letra traz indagações tipo ‘se estou morto, por que estou sonhando?’. Os torpedos disparados na música que abre o LP (‘From Out Of Nowhere’) percorrem um sinuoso e fantástico caminho até atingirem o alvo na derradeira ‘Woodpecker From Mars’. Sozinha, esta faixa instrumental já é uma epopéia. Base thrash realmente acelerada contraposta a um teclado quase minimal. Até o final, tudo vai se fundindo, guitarra estilo Hendrix, arranjo meio progressivo, está tudo ali. Enfim, um disco para quem gosta de porrada mas não perdeu o bom senso. Algum headbanger não gostou?
Celso Masson“
_-_-
[edição 72, jul, 1991]
“‘Ritual De Lo Habitual’ – Jane’s Addiction (Warner/WEA)
Você é maluco? Gosta de ELP e Van Der Graaf Generator, e não se conforma com o rock de hoje?
Pois há boas chances que o Jane’s Addiction resgate você desta penúria. Perry Farrell, vocalista da banda, é um hippie à antiga. Surfa, toma heroína, transa homens e mulheres, faz letras viajandonas e quer chocar a moçada. Tem ‘atitude’. O baixista e o guitarrista costumam dar beijões de língua na frente dos repórteres. O som é metal complicado, a bateria e o baixo fazem firulas intermináveis, as músicas são compridas.
As letras são sub-Burroughs (até quando, Senhor)? Você conhece o gênero: ‘Sou mutcho loco, meu, tomo todas e transo as minas enquanto reflito sobre o significado do universo’. OK, parece importante uma moçada tão radicalzinha chegar ao top ten americano, ombro a ombro, com MC Hammer e esses malas todos. Mas, Cristo, considerá-los como uma banda crucial, seminal e o escambau – como tem feito muita gente – é pesado.
O álbum começa com ‘Stop’, aquela da MTV, chata e longa. ‘No One’s Leaving’ é metal weird com uma boa linha (‘queria saber o apelido de todo mundo’), mas é muito longa. ‘Ain’t No Right’ até que é legal, na linha hardcore/Sly Stone; parece uma frota de Boeings caindo de bico numa vila dos Alpes suíços. ‘Obvious’ é, sorry, óbvia demais. O segundo lado é pior: ‘Three Days’ começa baladinha e acaba pau, citando a capa ‘ousada’ – quá, quá, uns bonecos imitando o Perry transando com duas minas, grande coisa! – enquanto a letra diz: ‘Erotic Jesus love his Marys’. ‘Then She Did’ é um épico setentão, ‘Of Course’ faz a linha ‘ciganos malvados dançando polca num pântano’ e ‘Classic Girl’ é chata.
Minha cópia de Ritual de Lo Habitual só não foi ainda para o sebo por causa de uma música. ‘Been Caught Stealing’ é jóia: uma batida sincopada coberta de guitarras barulhentas, cachorros latindo e uma letra legal, que faz o elogio da roubalheira. Diz que é bacana afanar. Lembra umas letras antigas dos Talking Heads, antes de Byrne começar a achar que era o gênio da raça – o que Farrell parece se achar.
Aliás, ele diz que a banda dura no máximo até o fim do ano. Vai com Deus, meu filho.
Inventariando revistas antigas, me deparo com a Rock Brigade #253, de setembro de 2007. Uma rara entrevista com Justin Sullivan, do New Model Army, de passagem por shows (eu fui!) por aqui.
Mais rara ainda a entrevista ter sido conduzida por Márcio Baraldi, aquele, quadrinista e fã dos caras. Com propriedade pra entrevista em si, mas q aparentemente ficou tietando a banda tb em tarde de autógrafos e tudo mais.
Trecho sobre política e América Latina. Entre o profético e o lúcido, me impressionou. Acho q na época ñ saquei. Sem print hoje, segue:
“RB – Como um cara bastante politizado, você acompanha o que acontece na política sul-americana? O que pensa do crescimento da esquerda na região, com os presidentes Lula, Morales, Kirschner e Chavez? SULLIVAN – Acho que o povo cansou de gente dizendo como se deve agir ou pensar. Então, esses homens que você citou chegaram ao poder numa reação natural ao modelo norte-americano neoconservador que sempre se meter na América do Sul. Eu não sou um expert no assunto, mas, pra mim, todos os democratas que chegam ao poder são geralmente surpreendidos ao descobrirem o pouco poder que realmente possuem e as poucas mudanças que realmente podem e conseguem realizar. Mesmo assim, é bom saber que a América do Sul se organiza em uma espécie de levante e agora enfrenta a América do Norte“.
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PS – o show ocorrido no dia 7 de agosto daquele 2007 contou com uma resenha minha… no site da Dynamite, na coluna semanal de Humberto Finatti, crítico indie metido a junkie com quem eu trocava idéias metal x antimetal na época, e q ñ chegou a tempo do show. Aliás, chegou DEPOIS do show.
Simplesmente enquanto eu saía rumo ao metrô, trombei o sujeito na rua, q por motivos óbvios (tosse tosse) ñ poderia resenhar a apresentação. Num misto de eu oferecer e ele pedir (sem envolver dinheiro), acabei resenhando e mandando pra ele, q publicou.
Uma hora tenho q dar um Google nisso, pra saber se ainda existe. Ou fuçar aqui no blog mesmo, pq ñ lembro se repostei.
Será q já posso virar youtubber? Ahahah Ou virar “colaborador” do whiplash? Sei lá.
Estou inventariando por aqui um monte de Rock Brigade antiga. E tb alguma coisa da revista do “metal nacional”. Num plano de reduzir as edições e ficar somente com as essenciais. E/ou com as q tiverem matérias com Rush e Motörhead.
O print vintage (vulgo foto) acima é duma Rock Brigade de abril de 2005, edição 225, com Masterplan na capa (estavam lançando “Aeronautics”) e com entrevista com Mikkey Dee, respondendo pelo Motörhead, e à época lançando “Inferno”.
(Aham, q sacada!)
Destaquei a parte final – confiando no campo de busca do blog, q me serve de “memória anexa”, já q eu lembrar ou ñ q havia postado isto na época está se tornando remoto – muito direta por parte do entrevistador (Ricardo Franzin) e muito sincera da parte de Mikkey Dee, q ao q consta neste 2021 já teria gravado suas partes num novo do Scorpions.
O q me dizem: material “controverso”? Quão polêmico? Renderia quantas curtidas? Quantos likes esse guerreiro merece?
Em tempos pretéritos por aqui já disse: a Bizz foi meu berço.
E ñ só baseado em memória afetiva q digo: foi a melhor revista de música q este país já teve. Comecei nela em 1988, fui seguindo, fui atrás das anteriores, assinei por muito tempo e só desencanei quando a própria revista decaiu, ali pro fim dos 90’s.
Minha maior inspiração pra escrever sobre música veio dali. Lia e relia as resenhas de discos e shows, minhas sessões favoritas. Depois pra mim é q vieram Rock Brigade (minha primeira – ainda tenho – foi uma com o Michael Kiske de calça vermelha na capa), Valhalla, Rock Press, Revista Zero e outras tantas revistas e sites, inclusive de heavy metal.
Q pra mim veio um pouco depois de eu começar a curtir rock.
Tudo isso pra preambular q tive um papo com o märZ no sábado sobre a revista. E sobre edições especiais de heavy metal da mesma (Bizz Heavy ou Heavy Bizz?), q ele teve e eu nem nunca soube da existência.
A Bizz oitentista ñ enfatizava o heavy metal. Era basicamente BRock e rock inglês (The Smiths, New Order, Echo & the Bunnymen, Siouxsie & the Banshees, The Cure, Jesus & Mary Chain – vide acima) dos quais eram devotos, eventualmente MPBD consagrada e algum jazz, e ocasionalmente falavam de heavy metal, em resenhas de 1 parágrafo de discos primordiais de Venom, Metallica, Slayer, Saxon e tal.
E aí, me deparei com umas pérolas, q devem ter em torrent ou coisa do tipo, mas q resolvi tornar pauta freqüente aqui no blog. [Uma bizarrice: entrevista com Motörhead SEM Lemmy; apenas Animal Tayor e Würzel]. Pra gerar discussão (obviamente), mas tb pra vermos o tipo de olhar q se tinha (dum certo mainstream) ao estilo então “maldito”, e ainda conferirmos equívocos de avaliação e profecias involuntariamente certeiras.
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Nesta vez, da edição de fevereiro de 1988 (cuja capa, acima, peguei do Google pq a minha rasgou e ñ mais existe), resolvi pegar uma pauta de 2 páginas, assinada por um certo Marcos Campolim, um dos raros entendedores do assunto na publicação, falando em “Metal Brasileiro”.
Intitulada “Metal Brasileiro – é o que só pode ser”, teve ainda uma intro q dizia “Ele mostra suas garras – e não é de hoje. Com a explosão do heavy metal no exterior, muitos grupos daqui podem chamar a atenção”.
Segue:
“A atual geração do heavy metal brasileiro possui uma infinidade de bandas. Concentrado no eixo sudeste – junto aos grandes centros -, o metal tem conquistado seguidores em todo o Brasil, num reflexo do que acontece, atualmente, em todo o mundo.
Uma boa parte desses grupos passa por uma fase de transição, tanto nos temas abordados como no instrumental. Quanto às letras, aquele satanismo que por muito tempo marcou a trajetória do metal está sendo, pouco a pouco, deixado de lado, abrindo espaço para contestações políticas ou temas desenvolvidos de acordo com a identidade de cada banda.
Mas essa quantidade de bandas não espelha qualidade – a mesmice musical ainda é o grande mal que afeta a maioria delas. Mesmo assim, os trabalhos diferenciados vêm aparecendo gradualmente. Por hora, destacaremos cinco deles: Panic, Mutilator, Korzus, Atomica e Taurus.
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O Korzus apareceu em meados de 84 e começou a freqüentar o circuito metal paulista em dezembro do mesmo ano. Influenciados tanto pelas correntes mais tradicionais do heavy quanto pelas mais recentes, como o black metal, eles foram convidados a entrar na coletânea “SP Metal II” (Baratos Afins), lançada no primeiro semestre de 86. Em dezembro a Devil Discos lançou o “Korzus ao Vivo”, gravado em um show ocorrido no Sesc Pompéia em julho de 85. Essa gravação serviu para cobrir o lapso de tempo em que o Korzus ficou parado, para reestruturações. “Sonho Maníaco”, o LP solo lançado esse ano pela Devil, mostra o trabalho atual do Korzus. Atentos às mais variadas influências – do progressivo ao jazz rock, inclusive -, o disco vem recebendo elogios dos fãs, bem como abrindo espaços fora de seu Estado. A formação que o gravou incluía Sílvio (guitarra), Dick (baixo), Pompeu (vocal) e Zhema (bateria), que se suicidou em outubro último. Embora ainda abalado pela morte de Zhema, o Korzus pretende dar continuidade ao trabalho e promete um som “cada vez mais ácido”, como diz o Sílvio.
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O Atomica vem de São José dos Campos (São Paulo) e foi montado em outubro de 85 por Laerte (vocal), Mário (bateria), André (baixo), João Paulo e Pyda (guitarras). O Atomica tem suas raízes musicais no heavy metal dos anos 70, estilo considerado, pelos integrantes da banda, de vital importância para as fusões atuais do heavy. Mesmo assim, sua maior influência vem de grupos americanos como Metallica, Anthrax e Exodus. Logo após os primeiros seis meses de formação, eles estrearam na Semana da Cultura de São José dos Campos. Em seguida, partiram para vários shows no interior do Estado e daí para o Rio e Minas. Recebendo boa aceitação do público nas diversas cidades em que se apresentaram, eles resolveram, no primeiro semestre de 87, gravar uma fita demo. Com ela nas mãos, o selo Enigma confirmou o contrato para um LP. “Disturbing the Noise” é o título provisório do disco que deverá ser lançado pelo selo Equinox, de Juiz de Fora, numa produção conjunta com o Enigma.
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No sul, os gaúchos do Panic sentem dificuldade em divulgar seu trabalho devido a distância do eixo RJ-SP. Formado em julho de 85 e ensaiando no subsolo da loja Megaforce de Porto Alegre, o Panic tem como integrantes Marcelo (bateria), Olsen (baixo), Reneger (vocal) e Martinez e Paulo Cássio (guitarras). Assim que recebeu uma demo com três músicas do Panic, Walcyr, da Woodstock Discos de São Paulo, se interessou em produzir o primeiro LP do grupo. Mesmo tendo lançado “Rotten Church” em agosto último, o Panic só conseguiu fazer sua primeira apresentação ao vivo em outubro deste ano no Ocidente (o espaço underground de Porto Alegre). O Panic concentra seu estilo na rapidez da bateria. Suas influências são, portanto, DRI e Slayer. Eles partem, agora, para uma divulgação maior de seu trabalho e a programação de shows, já que em sua cidade isso se torna muito difícil devido ao fato de a banda ser a única do gênero em Porto Alegre.
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Os mineiros do Mutilator foram influenciados, desde o início, pelas bandas de black e death metal, além do hardcore. Mas com o passar do tempo eles exploraram novas sonoridades, tendendo para músicas mais trabalhadas e de menor velocidade. Juntos desde o segundo semestre de 85, Magu (guitarra solo), Rodrigo (bateria), Ricardo (baixo) e Kleber (guitarra base e vocal) participaram da coletânea “Warfare Noise”, lançada pela Cogumelo Discos de Belo Horizonte no ano passado. Enquanto não saía a coletânea, o Mutilator fez uma série de apresentações pelo interior de São Paulo e Minas Gerais, abrindo shows de outras bandas como, por exemplo, o Sepultura. Logo após o lançamento desse disco (no início de 87), eles entraram em estúdio para gravar um LP próprio, o “Immortal Force”, lançado em junho deste ano. Com ele, o Mutilator firmou sua posição e ganhou um grande número de fãs pelo Brasil. Eles são a segunda banda mineira a chamar a atenção do mercado exterior, depois do Sepultura.
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O Taurus é um quarteto carioca formado em 85. Durante o primeiro ano de existência eles conseguiram fazer alguns pequenos shows e gravar duas demos. A proposta para um LP surgiu pelo selo Point Rock (RJ) surgiu com a segunda demo. “Signo de Taurus” foi gravado em julho de 86 e impulsionou o grupo para uma posição relativamente boa no cenário do heavy nacional. Formado por Jeziel (vocal, guitarra base), os irmãos Cláudio (guitarra solo) e Sérgio Bezz (bateria) e Jean (baixo), o Taurus é a única dessas bandas que se define dentro de um estilo metal (as outras se recusam a dar rótulos para seu trabalho), se autointitulando “power-speed“. Bastante influenciados por Metallica, a ênfase do som do Taurus recai sobre as guitarras de Cláudio e Jeziel. Atualmente eles se preparam para lançar o segundo LP, que deverá sair em maio de 88, inclusive no exterior. Como lamenta Jean, em relação ao heavy metal: “Existe uma barreira entre o Brasil e o mundo. Nós vivemos o presente e o Brasil não nos diz nada quanto a isso – o presente está lá fora”.
Sabe aquele papo de biscoito da sorte de que “o importante é a jornada?” Pois é…
Em 1994, ainda sem internet, já tínhamos uma grande facilidade de ter materiais (principalmente com o boom dos cds) e acesso a shows de bandas médias e grandes do mundo todo, desde que você morasse ou se deslocasse para São Paulo. Menos mal, considerando que na década anterior você precisaria se deslocar para Minnesota.
Mas em Goiânia tudo ainda era só um sonho e shows “grandes”, até então, foram apenas Dorsal e Ratos, sem contar que a Rock Brigade (como qualquer outra fonte de informação metálica) chegava com delay. Por isso levamos (eu e a comunidade banger local) um grande susto ao descobrir que um dos maiores festivais de metal do mundo faria sua versão no Brasil! Com Slayer e Black Sabbath! Monsters Of Rock! Comoção total.
Problemas: faltava uns 10 dias somente, estávamos a mais de 1000 km e cada um mais quebrado que o outro.
Quando um grande amigo, até hoje, que se chama Júlio disse que o pai era caminhoneiro e ia/voltava toda semana para SP e que iria falar com ele para ver a possibilidade de uma carona. Sendo que dava pra ir eu, ele e mais um.
Falou com o tio, eu confirmei e chamei outro amigo (Josmar, éramos o “trio J”). O show era dia 27/08, um sábado, iniciando-se às 12h, com doze horas de shows. O tio do amigo sairia na quinta com previsão de chegada na sexta. Ou seja: teríamos que nos virar entre sexta e sábado.
O show custava R$30 na pista, consegui R$50. Ou seja: ainda me sobrariam R$20 para alimentação, viagem, emergência… De quinta até domingo. Em São Paulo! Meu amigo tinha conseguido R$80. Estava melhor que eu.
Em cima da hora o Julio desistiu, acho que pensou bem na barca furada: andar 1000 km sem ter onde ficar, como ficar basicamente com o dinheiro do ingresso, em São Paulo. Foi o único sensato. Mas eu só conseguia pensar no Slayer e Black Sabbath e achava que íamos conhecer alguém e dormir na casa desta pessoa. Putz!
Óbvio que menti para minha mãe que estava na casa de um amigo qualquer, já que ela (e mãe nenhuma) nas circunstâncias permitiria.
***
Chegamos na sexta-feira umas 9h da manhã, já tinha gastado R$10 dos R$50 em alimentação na ida, o tio do amigo nos deixou na Freguesia do “Ó”, pegamos ônibus e fomos descobrir onde era o Pacaembu. De lá, fomos na Barra Funda, perguntando até chegar na Woodstock para comprar o ingresso.
Ainda faltavam 24 horas para o show e só me restavam R$5. Tive a idéia de ir para a Rodoviária do Tietê, pois chegariam bangers lá, e como eu conhecia gente do Brasil todo (via carta, por causa do zine) conseguiria fácil uma hospedagem e deslocamento. Ao menos era o que o meu otimismo juvenil sem noção achava.
De fato chegavam cabeludos aos montes, mas rapidamente se dispersavam. Puxava papo, falava do quanto éramos bangers de verdade, que o tal espírito do metal corria em nossas veias e coisas do gênero. Teve uns caras que queriam, inclusive, nos levar juntos (deviam ter uns 16 anos) mas as mães (ou tios) logo os demoveram da idéia. E vendo em retrospectiva, éramos cabeludos, meio barbudos (o que os 19/20 anos permitiam), com roupas pretas rasgadas, cheias de patches. Mendigos quase.
Anoiteceu: vieram o frio, a fome e o sono. Passamos a noite na rodoviária, que se por um lado era seguro, fazia muito frio e não podia deitar em lugar nenhum, que o segurança já cutucava. De madrugada, o frio cortava como navalha. Quando o metrô voltou a rodar, ficamos andando de um lado a outro. Era quentinho e podíamos dormir nas cadeiras. Assim ficamos fazendo até às 9h de sábado.
Resolvemos, dado o perrengue e a falta de dinheiro (o meu já tinha acabado; meu amigo devia ter uns R$15) ir na Woodstock e vender nossos ingressos para comprar passagens de ônibus de volta para Goiânia. Chegando na loja, devia ter umas 500 pessoas de fora, um burburinho de cabeludos de todo o país. Naquele momento, percebemos que não podíamos desistir: era histórico, tínhamos ido longe demais para desistir. Chance única. Iríamos ao show e depois pra BR para pedir carona. De novo a visão juvenil das coisas.
Resolvemos bater perna na Galeria do Rock, rumamos para lá e ficamos babando nas coisas de loja em loja até dar a hora do show. Estava passando os Lps, quando passa uma menina que eu conhecia de vista de Goiânia; pensei: “que louco ver essa mina aqui”. Passou outra, mais outra e a irmã de um amigo veio me cumprimentar! Era uma excursão de Goiânia cheia de pessoas que eu conhecia, inclusive alguns amigos próximos. Foi um choque positivo. Contei pra eles a história toda e veio o cara que organizou (Kleber) falar comigo, chamando pra ficar com eles e ir embora pra Goiânia no ônibus. Expliquei que estávamos sem dinheiro nenhum. Ele disse que estava tudo certo. Inclusive a galera dividiu comida, água e ainda pagaram lanches pra gente na volta.
Toda história tem um “deus ex machina”. Esse foi o meu. Encontrar uma excursão da minha cidade em uma das maiores Metrópoles do mundo.
***
Ah, já ia esquecendo dos shows, que acabaram ficando menores do que a jornada, de fato. Pouca coisa lembro do Angra e Dr. Sin, que fizeram shows pequenos. Do Viper, lembro que a galera interagiu com o cover do Queen. O Raimundos destruiu tudo, foi um show insano. Nessa altura, já estava bem cheio. Comecei o show perto do palco, mas as ondas te levavam de um lado ao outro. Foi insano. Insano! Eram uma enorme banda nessa época.
Curti bastante o Suicidal, mas havia uma tensão porque viriam Black Sabbath e Slayer. A galera estava tensa mesmo, inquieta. Tipo esperando a barragem romper e vir uma avalanche de água. Sinceramente, curti o Black Sabbath demais e lembro bem dos trejeitos e traquejos do Tony Martin. Dava vontade de chorar ao ver quem moldou sua vida, ao vivo. Foi muito foda. É tipo sofrer um acidente automobilístico: você fica em transe e em choque. Parece um sonho e você não tem certeza do que é realidade ou delírio.
Quando, de repente, “Hell Awaits” anuncia o apocalipse. Se você nunca viu Slayer ao vivo, é uma experiência que não se passa incólume. Não existem fãs como os da banda. Nego sai do nada, te segura e grita “Slayeeerrrr”. O tempo todo. O pau come. Você não sabe pra onde olhar. Todo mundo é seu amigo a ponto de te abraçar, chutar, empurrar, bater cabeça junto. Temi pela minha vida caso caísse.
Acabou o show e o festival pra mim, fui pro fundo dormir (uma cobertura que estava em cima do gramado) enquanto o Kiss tocava, até alguém da excursão me acordar por volta de uma da manhã, que iríamos embora.
Dependendo de onde você obtinha informação no começo dos anos 90, Sebastian Bach era ou um cara muito legal, ou um babaca completo. Assim rezavam, respectivamente, Rock Brigade e Bizz, naqueles tempos pré-internet.
A Bizz sempre odiou o Skid Row, sempre execrou hard rock e heavy metal e fez tudo para ridicularizar o estilo, até que a força das vendas os obrigou a colocar Metallica e Sepultura em suas capas, assim como o próprio Skid Row. E aqui entre nós, fãs assumidos e incontestáveis do estilo: porra, Skid Row era massa!
Eu sempre curti, e olha que hard rock não era muito minha praia. Seus dois primeiros álbuns são excelentes e dá pra escutar de ponta a ponta a qualquer hora do dia.
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E Sebastian Bach? Tião era um puta performer, cantava bem e encarnava o rock star hedonista e festeiro ao extremo, digno herdeiro de David Lee Roth. E tudo isso vem à tona em sua autobiografia, recentemente lançada no Brasil. Acabei de ler e recomendo a todos. Leitura rápida e divertida, como a música da banda que o fez famoso. Mas sua carreira não fica só nisso, vai além com participações em musicais da Broadway, seriados de tv e discos em carreira solo. Que, olha só, também são bem legais mas ninguém hoje em dia dá atenção.
Outra coisa que fortalece sua imagem de cara bacana são suas entrevistas em rádios e tvs que podem ser encontradas em abundância no You Tube. São hilárias. E Tião está sempre bem humorado, sorrindo e fazendo piada com tudo. Novamente David Lee Roth me vem à mente. Sempre o bobo da corte da hora. Nada de verniz pop/rock star, nada de distanciamento entre artista e fã. Somente um cara normal que sempre se considerou extremamente sortudo por fazer o que faz e obter sucesso e atenção.
Acho q eu estava dormindo na época, ou ouvindo Slayer demais. Ou dedicando meu tempo a idolatrar Neil Peart.
Vai ver, perdi a edição da Rock Brigade q cobriu o episódio abaixo. Q eu encontrei, aleatoriamente, fuçando no Metal Archieves:
Gene Simmons of Kiss filed a lawsuit against King Diamond in the late ’90s, claiming KD’s face paint design closely resembled his own (which he had registered as a TradeMark). The lawsuit was eventually dropped. KD later commented “even a child could tell that my makeup wasn’t similar to Gene‘s”.