METAL ALTERNATIVO
Por A + B tenho confessado por aqui q eu era mais assíduo na Bizz q na Rock Brigade, q passei a acompanhar um pouco mais a partir de 1995. Por isso, ñ acompanhei in loco a repercussão dum certo “metal alternativo” (Faith No More, Living Colour, Jane’s Addiction) nas revistas de metal à época.
Imagino terem sido ignorados todos, ou pixados como “modinha”, pra daí o tempo se encarregar de “aceitar”. Brigade pôs Red Hot Chili Peppers uma vez em capa, deve ter dado muita chiadeira…
Do q lembro de “alternativices” em Brigade, foi algum primórdio daquilo q se consolidou como new metal, chamado antes pela publicação de “alterna metal”. Um balaio confuso no qual incluíam ainda Placebo… Enfim.
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Pincei de duas Bizz de 1991 (reiterando o zeitgeist 1991, em q a publicação intuitivamente sacava o metal e as bandas alternativas ascendendo sobre o mainstream) resenhas sobre “The Real Thing” (Faith No More) e “Ritual De Lo Habitual” (Jane’s Addiction), a mim bastante interessantes passados 30 anos, e q creio ainda renderem um papo.
[edição 67, fev. 1991]
“‘The Real Thing’ – Faith No More (London/PolyGram)
Este é realmente um LP matador. Nove faixas que deram ao Faith No More o status de melhor grupo de 90 para a revista Spin. Altamente versátil – não apenas nos arranjos, mas sobretudo na variedade das composições -, o Faith realiza habilmente um crossover de thrash metal com outros estilos pesadões, como rap, heavy dos 70 e funk bombástico.
As faixas mudam de teor de forma assombrosa. Enquanto o funk metal ‘Epic’ termina com um piano acústico solo, é o ruído de uma hecatombe nuclear que dá cabo de ‘Surprise! You’re Dead!’. O mais esquisito é que logo após tamanho barulho entra ‘Zombie Eaters’ com dois violões e um teclado com timbre de cordas fazendo a cama para a comoção do vocalista Mike Patton.
Com setenta versos, a faixa-título abre o lado B. Banquete servido em taças de cristal e talheres de prata, ‘The Real Thing’ sintetiza numa boa duas décadas de rock’n’roll – sem exagero. Aqui não há desperdício de talento. Apesar da maestria de cada músico da banda, as linhas de todos os instrumentos são econômicas e há uma distribuição equânime de funções, inclusive da voz supervalorizada em outras faixas do álbum.
A ‘romântica’ ‘Underwater Love’ (tema tão bucólico para um grupo idolatrado por metaleiros) é a única de todo o disco em que não há tensão à flor-da-pele. O andamento é rápido, mas ela está inebriada por uma atmosfera soft que cria algum relaxamento – algo impossível de dizer sobre as outras faixas.
Com sotaque red-hot-chili-peperiano, ‘The Morning After’ mostra um riff de baixo repleto de slaps de funk. A letra traz indagações tipo ‘se estou morto, por que estou sonhando?’. Os torpedos disparados na música que abre o LP (‘From Out Of Nowhere’) percorrem um sinuoso e fantástico caminho até atingirem o alvo na derradeira ‘Woodpecker From Mars’. Sozinha, esta faixa instrumental já é uma epopéia. Base thrash realmente acelerada contraposta a um teclado quase minimal. Até o final, tudo vai se fundindo, guitarra estilo Hendrix, arranjo meio progressivo, está tudo ali. Enfim, um disco para quem gosta de porrada mas não perdeu o bom senso. Algum headbanger não gostou?
Celso Masson“
_-_-
[edição 72, jul, 1991]
“‘Ritual De Lo Habitual’ – Jane’s Addiction (Warner/WEA)
Você é maluco? Gosta de ELP e Van Der Graaf Generator, e não se conforma com o rock de hoje?
Pois há boas chances que o Jane’s Addiction resgate você desta penúria. Perry Farrell, vocalista da banda, é um hippie à antiga. Surfa, toma heroína, transa homens e mulheres, faz letras viajandonas e quer chocar a moçada. Tem ‘atitude’. O baixista e o guitarrista costumam dar beijões de língua na frente dos repórteres. O som é metal complicado, a bateria e o baixo fazem firulas intermináveis, as músicas são compridas.
As letras são sub-Burroughs (até quando, Senhor)? Você conhece o gênero: ‘Sou mutcho loco, meu, tomo todas e transo as minas enquanto reflito sobre o significado do universo’. OK, parece importante uma moçada tão radicalzinha chegar ao top ten americano, ombro a ombro, com MC Hammer e esses malas todos. Mas, Cristo, considerá-los como uma banda crucial, seminal e o escambau – como tem feito muita gente – é pesado.
O álbum começa com ‘Stop’, aquela da MTV, chata e longa. ‘No One’s Leaving’ é metal weird com uma boa linha (‘queria saber o apelido de todo mundo’), mas é muito longa. ‘Ain’t No Right’ até que é legal, na linha hardcore/Sly Stone; parece uma frota de Boeings caindo de bico numa vila dos Alpes suíços. ‘Obvious’ é, sorry, óbvia demais. O segundo lado é pior: ‘Three Days’ começa baladinha e acaba pau, citando a capa ‘ousada’ – quá, quá, uns bonecos imitando o Perry transando com duas minas, grande coisa! – enquanto a letra diz: ‘Erotic Jesus love his Marys’. ‘Then She Did’ é um épico setentão, ‘Of Course’ faz a linha ‘ciganos malvados dançando polca num pântano’ e ‘Classic Girl’ é chata.
Minha cópia de Ritual de Lo Habitual só não foi ainda para o sebo por causa de uma música. ‘Been Caught Stealing’ é jóia: uma batida sincopada coberta de guitarras barulhentas, cachorros latindo e uma letra legal, que faz o elogio da roubalheira. Diz que é bacana afanar. Lembra umas letras antigas dos Talking Heads, antes de Byrne começar a achar que era o gênio da raça – o que Farrell parece se achar.
Aliás, ele diz que a banda dura no máximo até o fim do ano. Vai com Deus, meu filho.
André Forastieri”
marZ
29 de outubro de 2021 @ 06:17
Tive as duas, li e reli essas resenhas dezenas de vezes. E comprei ambos os LPs, que ainda tenho ate hoje. Discordei do tom negativo da critica de Forastieri, mas ele era assim mesmo: adorava polemizar.
Nessa onda funk o’metal (lembra desse termo?) comprei tambem os LPs de Mucky Pup, Ignorance, RHCP (Mother’s Milk) e Scatterbrain. Era divertido, mas enjoativo.
André
29 de outubro de 2021 @ 12:54
“o Faith realiza habilmente um crossover de thrash metal com outros estilos pesadões, como rap, heavy dos 70 e funk bombástico.”
hahaha eu adoro essas categorizações. Tipo, alguma coisa disso tudo deve ter no som da banda. Enfim…
Marco Txuca
29 de outubro de 2021 @ 14:13
Essa necessidade de rotular, ou de colunista tentar demonstrar q conhecia de tudo, era da época e era da Bizz dessa época q, reitero, parecia estar mudando de direcionamento e tinha uma questão de os colunistas novos meio q desafiarem os anteriores.
märZ: esse lance do “funk’o’metal” era tão bizarro quanto aquilo de se categorizar “speed metal” tudo o q era metal rápido: Slayer, Helloween, Blind Guardian, Megadeth… Rotulação modista da época.
Mas queria manter uma pergunta, q ficou meio perdida no post: como foi a reação de Rock Brigade e revistas do metal a FNM e a esse “metal alternativo”?
marZ
29 de outubro de 2021 @ 16:31
Apesar de na epoca colecionar tambem a Brigade, confesso que nao me lembro bem. FNM com certeza foi absorvido pela revista, pois tinha certo dna metal, mas essas outras bandas alternativas (e nada metal), creio que nao.
Living Colour talvez, pois eram respeitados na cena e inclusive excursionaram com o Anthrax. Mas os donos da Brigade nao eram bobos: ja em 91 colocaram o GNR na capa e nos anos seguintes, com o Hollywood Rock, lembro de ver RHCP e Alice In Chains tambem com materia de capa.
André
29 de outubro de 2021 @ 16:33
Acho que a Roadie Crew que sempre foi resistente mais do que a RB.
Marco Txuca
29 de outubro de 2021 @ 22:28
“O grunge matou o hard rock, buá”…