TEMPOS LIDOS – BIZZ

Em tempos pretéritos por aqui já disse: a Bizz foi meu berço.

E ñ só baseado em memória afetiva q digo: foi a melhor revista de música q este país já teve. Comecei nela em 1988, fui seguindo, fui atrás das anteriores, assinei por muito tempo e só desencanei quando a própria revista decaiu, ali pro fim dos 90’s.

Minha maior inspiração pra escrever sobre música veio dali. Lia e relia as resenhas de discos e shows, minhas sessões favoritas. Depois pra mim é q vieram Rock Brigade (minha primeira – ainda tenho – foi uma com o Michael Kiske de calça vermelha na capa), Valhalla, Rock Press, Revista Zero e outras tantas revistas e sites, inclusive de heavy metal.

Q pra mim veio um pouco depois de eu começar a curtir rock.

Tudo isso pra preambular q tive um papo com o märZ no sábado sobre a revista. E sobre edições especiais de heavy metal da mesma (Bizz Heavy ou Heavy Bizz?), q ele teve e eu nem nunca soube da existência.

A Bizz oitentista ñ enfatizava o heavy metal. Era basicamente BRock e rock inglês (The Smiths, New Order, Echo & the Bunnymen, Siouxsie & the Banshees, The Cure, Jesus & Mary Chain – vide acima) dos quais eram devotos, eventualmente MPBD consagrada e algum jazz, e ocasionalmente falavam de heavy metal, em resenhas de 1 parágrafo de discos primordiais de Venom, Metallica, Slayer, Saxon e tal.

E aí, me deparei com umas pérolas, q devem ter em torrent ou coisa do tipo, mas q resolvi tornar pauta freqüente aqui no blog. [Uma bizarrice: entrevista com Motörhead SEM Lemmy; apenas Animal Tayor e Würzel]. Pra gerar discussão (obviamente), mas tb pra vermos o tipo de olhar q se tinha (dum certo mainstream) ao estilo então “maldito”, e ainda conferirmos equívocos de avaliação e profecias involuntariamente certeiras.

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Nesta vez, da edição de fevereiro de 1988 (cuja capa, acima, peguei do Google pq a minha rasgou e ñ mais existe), resolvi pegar uma pauta de 2 páginas, assinada por um certo Marcos Campolim, um dos raros entendedores do assunto na publicação, falando em “Metal Brasileiro”.

Intitulada “Metal Brasileiro – é o que só pode ser”, teve ainda uma intro q dizia “Ele mostra suas garras – e não é de hoje. Com a explosão do heavy metal no exterior, muitos grupos daqui podem chamar a atenção”.

Segue:

“A atual geração do heavy metal brasileiro possui uma infinidade de bandas. Concentrado no eixo sudeste – junto aos grandes centros -, o metal tem conquistado seguidores em todo o Brasil, num reflexo do que acontece, atualmente, em todo o mundo.

Uma boa parte desses grupos passa por uma fase de transição, tanto nos temas abordados como no instrumental. Quanto às letras, aquele satanismo que por muito tempo marcou a trajetória do metal está sendo, pouco a pouco, deixado de lado, abrindo espaço para contestações políticas ou temas desenvolvidos de acordo com a identidade de cada banda.

Mas essa quantidade de bandas não espelha qualidade – a mesmice musical ainda é o grande mal que afeta a maioria delas. Mesmo assim, os trabalhos diferenciados vêm aparecendo gradualmente. Por hora, destacaremos cinco deles: Panic, Mutilator, Korzus, Atomica e Taurus.

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O Korzus apareceu em meados de 84 e começou a freqüentar o circuito metal paulista em dezembro do mesmo ano. Influenciados tanto pelas correntes mais tradicionais do heavy quanto pelas mais recentes, como o black metal, eles foram convidados a entrar na coletânea “SP Metal II” (Baratos Afins), lançada no primeiro semestre de 86. Em dezembro a Devil Discos lançou o “Korzus ao Vivo”, gravado em um show ocorrido no Sesc Pompéia em julho de 85. Essa gravação serviu para cobrir o lapso de tempo em que o Korzus ficou parado, para reestruturações. “Sonho Maníaco”, o LP solo lançado esse ano pela Devil, mostra o trabalho atual do Korzus. Atentos às mais variadas influências – do progressivo ao jazz rock, inclusive -, o disco vem recebendo elogios dos fãs, bem como abrindo espaços fora de seu Estado. A formação que o gravou incluía Sílvio (guitarra), Dick (baixo), Pompeu (vocal) e Zhema (bateria), que se suicidou em outubro último. Embora ainda abalado pela morte de Zhema, o Korzus pretende dar continuidade ao trabalho e promete um som “cada vez mais ácido”, como diz o Sílvio.

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O Atomica vem de São José dos Campos (São Paulo) e foi montado em outubro de 85 por Laerte (vocal), Mário (bateria), André (baixo), João Paulo e Pyda (guitarras). O Atomica tem suas raízes musicais no heavy metal dos anos 70, estilo considerado, pelos integrantes da banda, de vital importância para as fusões atuais do heavy. Mesmo assim, sua maior influência vem de grupos americanos como Metallica, Anthrax e Exodus. Logo após os primeiros seis meses de formação, eles estrearam na Semana da Cultura de São José dos Campos. Em seguida, partiram para vários shows no interior do Estado e daí para o Rio e Minas. Recebendo boa aceitação do público nas diversas cidades em que se apresentaram, eles resolveram, no primeiro semestre de 87, gravar uma fita demo. Com ela nas mãos, o selo Enigma confirmou o contrato para um LP. “Disturbing the Noise” é o título provisório do disco que deverá ser lançado pelo selo Equinox, de Juiz de Fora, numa produção conjunta com o Enigma.

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No sul, os gaúchos do Panic sentem dificuldade em divulgar seu trabalho devido a distância do eixo RJ-SP. Formado em julho de 85 e ensaiando no subsolo da loja Megaforce de Porto Alegre, o Panic tem como integrantes Marcelo (bateria), Olsen (baixo), Reneger (vocal) e Martinez e Paulo Cássio (guitarras). Assim que recebeu uma demo com três músicas do Panic, Walcyr, da Woodstock Discos de São Paulo, se interessou em produzir o primeiro LP do grupo. Mesmo tendo lançado “Rotten Church” em agosto último, o Panic só conseguiu fazer sua primeira apresentação ao vivo em outubro deste ano no Ocidente (o espaço underground de Porto Alegre). O Panic concentra seu estilo na rapidez da bateria. Suas influências são, portanto, DRI e Slayer. Eles partem, agora, para uma divulgação maior de seu trabalho e a programação de shows, já que em sua cidade isso se torna muito difícil devido ao fato de a banda ser a única do gênero em Porto Alegre.

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Os mineiros do Mutilator foram influenciados, desde o início, pelas bandas de black e death metal, além do hardcore. Mas com o passar do tempo eles exploraram novas sonoridades, tendendo para músicas mais trabalhadas e de menor velocidade. Juntos desde o segundo semestre de 85, Magu (guitarra solo), Rodrigo (bateria), Ricardo (baixo) e Kleber (guitarra base e vocal) participaram da coletânea “Warfare Noise”, lançada pela Cogumelo Discos de Belo Horizonte no ano passado. Enquanto não saía a coletânea, o Mutilator fez uma série de apresentações pelo interior de São Paulo e Minas Gerais, abrindo shows de outras bandas como, por exemplo, o Sepultura. Logo após o lançamento desse disco (no início de 87), eles entraram em estúdio para gravar um LP próprio, o “Immortal Force”, lançado em junho deste ano. Com ele, o Mutilator firmou sua posição e ganhou um grande número de fãs pelo Brasil. Eles são a segunda banda mineira a chamar a atenção do mercado exterior, depois do Sepultura.

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O Taurus é um quarteto carioca formado em 85. Durante o primeiro ano de existência eles conseguiram fazer alguns pequenos shows e gravar duas demos. A proposta para um LP surgiu pelo selo Point Rock (RJ) surgiu com a segunda demo. “Signo de Taurus” foi gravado em julho de 86 e impulsionou o grupo para uma posição relativamente boa no cenário do heavy nacional. Formado por Jeziel (vocal, guitarra base), os irmãos Cláudio (guitarra solo) e Sérgio Bezz (bateria) e Jean (baixo), o Taurus é a única dessas bandas que se define dentro de um estilo metal (as outras se recusam a dar rótulos para seu trabalho), se autointitulando “power-speed“. Bastante influenciados por Metallica, a ênfase do som do Taurus recai sobre as guitarras de Cláudio e Jeziel. Atualmente eles se preparam para lançar o segundo LP, que deverá sair em maio de 88, inclusive no exterior. Como lamenta Jean, em relação ao heavy metal: “Existe uma barreira entre o Brasil e o mundo. Nós vivemos o presente e o Brasil não nos diz nada quanto a isso – o presente está lá fora”.