“King For A Day, Fool For A Lifetime”, Faith No More, 1995, Slash/London/PolyGram
sons: GET OUT * / RICOCHET * / EVIDENCE / THE GENTLE ART OF MAKING ENEMIES * / STAR A.D. / CUCKOO FOR CACA * / CARALHO VOADOR * / UGLY IN THE MORNING * / DIGGING THE GRAVE * / TAKE THIS BOTTLE / KING FOR A DAY / WHAT A DAY / THE LAST TO KNOW / JUST A MAN *
formação: Mike Bordin (drums), Roddy Bottum (keyboards), Billy Gould (bass guitar), Mike Patton (vocals)
guitars by Trey Spruance
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Dia desses, enquanto fuçava no You Tube sons do Faith No More – sobretudo deste “King For A Day, Fool For A Lifetime” – me deparei na parte dos comentários com alguém dizendo ser essa uma banda subestimada e q ñ encontrou o mesmo status e suce$so dum Nirvana pelo fato do vocalista ñ haver se matado…
Sim e ñ (e discutir a respeito disso, melhor deixar pro ‘so let it be written’). Pq, ao mesmo tempo, tenho q o FNM virou LENDA, o q em minha opinião é tanto quanto consagração comercial e/ou necrofílica. O fato de ñ haverem voltado pra qualquer show tributo ou caça-níqueis – segundo outra lenda, quem empaca isso é um irredutível Mike Patton – ajuda na consolidação desse status, q nem a deturpação de alguns manés em atribuírem à banda a paternidade do horrendo new metal (se era estilo, ñ moda, por q morreu? – ainda q do System Of A Down ñ ouso questionar dna) chegou a macular.
Poupo parágrafos e paciência alheia em ñ aludir ao histórico dos caras, de época obscura com vocalista idem, disco consagrador milimetricamente composto (“The Real Thing”) e o seguinte ainda mais consagrado por crítica e fãs resilientes (os q continuaram ligando pra banda depois da moda gerada pelo anterior) – e, para mim, superestimado – “Angel Dust”, q de certa maneira aponta uma trajetória gloriosa cujo declínio supostamente começaria na demissão do guitarrista heavy (Jim Martin) e no álbum seguinte ao apoteótico – este aqui – até pq é banda bastante conhecida e de histórico recente. Fora ao menos 3 deles ainda atuarem por aí.
“King For A Day, Fool For A Lifetime” é pra mim O disco do FNM, o q me dá gás suficiente para resenhá-lo aqui tb por motivos q vou listando no ínterim.
O 1º é ser um álbum APARENTEMENTE menos caótico e misturado, e mais acessível q “Angel Dust”, catadão até coeso de sons bastante excêntricos (cada um e entre si), de q particularmente só me seduzem as 4 primeiras faixas – raramente passo de “Land Of Sunshine”, “Midlife Crisis”, “Caffeine” e “RV” (mesmo a última sendo bastante derivada de “Cosmik Debris”, de Frank Zappa). O 2º é o PESO nalguns sons, por conta dos teclados estarem mais amenos aqui.
E um 3º fator é Mike Patton, q como se ñ bastasse a marca deixada nos 3 álbuns anteriores, se consagrando aqui lindamente como porra-louca berrador. Sabe aquela berraria tão característica dele no meio dos sons? Aqui comparecem nuns 4 ou 5. O sujeito quase rouba a cena em praticamente todos os sons. Sem, entanto, aparecer mais q a banda.
E se é verdade q um vocalista é o limite e o alcance de uma banda, em se tratando duma banda esquizo como o FNM, nada mais justo atribuirmos a Patton a condição de BÚSSOLA desse álbum 3 em 1, praticamente. Pois – voltando à 1ª razão citada anteriormente – se cada 1 dos 14 sons (ou 15, se a pessoa tiver a edição com a versão de “Easy”, o q ñ é meu caso) se apresenta – exceção a “The Gentle Art Of Making Enemies” – mais enxuto, menos extravagante (numa extravagância pela extravagância) e mais conciso, se os agruparmos em 3 divisões ñ perdemos a leitura desvairada da banda incomum.
“King For A Day, Fool For A Lifetime” é a um só tempo um disco pop (q tem “Evidence”, “Take This Bottle”, “The Last to Know” e “Just A Man”), um álbum pesado, quase heavy metal (“Get Out”, “Ricochet”, “The Gentle Art Of Making Enemies”, “Cuckoo For Caca”, “Ugly In the Morning”, “Digging the Grave” e “What A Day”) e ainda experimental (com “Star A.D.”, “King For A Day” e “Caralho Voador”, sobretudo, mas sem eximir outros sons do experimentalismo de arranjos inusuais característico…
… como “Get Out”, aparentemente reta, mas q quem experimentar tentar tocar vai perceber bateria e vocais ‘apoiados’ ñ um no outro, mas sabe-se lá onde, ou “The Gentle Art Of Making Enemies”, em q estrofe, pré-refrão e refrão são coisas discrepantes conjugadas num mesmo som… A divisão acima, porém, é arbitrária um tanto, já q “The Last to Know”, meio pop, meio pesada, tb ñ cabe bem num ou noutro ‘disco’). Ñ é pouca porcaria.
Quanto a alguém torcer o nariz perante ausência de Jim Martin, pode-se dizer q a falta é percebida mas nem tanto: nenhum dos sons contêm solos, mas até aí contam-se nos dedos de metade de uma mão os q existem na época em q era da banda (tirando “Epic”, o q mesmo?); falta aquela pegada thrash ortodoxa, mas o peso é tanto quanto antes. Voltando ao q apontei como concisão, este é um disco de banda, no qual os méritos técnicos – sobretudo do subestimadíssimo Billy Gould (o destaque instrumental) – aparecem nas entrelinhas, nos arranjos.
Mike Bordin, q ñ está na banda do Ozzy há 10 anos à toa, comparece em seus grooves canhotos únicos, misturando peças da bateria como nenhum outro; baterista de pegada idiossincrática, de identidade própria sem firulices. Volto aos arranjos: se por maturidade ou por saco cheio (como a história a posteriori meio q disse), os caras parecem ter parado de querer mostrar saber tocar para se divertir, tvz. Passemos aos sons:
“Angel Dust” é foda? Ñ gerou assim um hit. É importante tocar no rádio? Sei lá. Mas “Evidence” e “Take This Bottle” tocaram (e ainda tocam nas horas de flashback) bastante por aqui – a 1ª tendo sido incluída em trilha de novela até – e como as outras baladas (como ainda a soul catártica “Just A Man” e mais ou menos “The Last to Know”) têm aquele sarcasmo FNM, q as levou a sério o suficiente pra incluírem no álbum, mas ao mesmo tempo tiraram grandão conosco, como q recusando a missão (maldição?) a eles atribuída de ‘futuro do heavy metal‘ – como foi tb o show por aqui no Monsters com set repleto de baladas, Bee Gees e Commodores (e em q ñ tocaram “War Pigs” nem “Suprise! You’re Dead”). “Ricochet”, limítrofe tb entre pop e pesada, é tudo o q o Fake Against the Machine tentou – e ñ conseguiu – copiar.
“Caralho Voador” tortamente homenageia o Brasil (consta haverem feito mais sucesso aqui q fora, o q ñ sei se procede mesmo) com título e trecho sem sentido em português, e se foi tentativa de fazer som The Police (como os vi declararem certa vez), por outro lado mais parece gringo tentando fazer bossa nova – e nesse sentido, já vi atrocidades piores; “Evidence”, por outras vias, tb nos puxava o saco, com single sendo lançado em português, assim como foi sua execução no Monsters. Ñ gosto, assim como tb ñ de “Take This Bottle”, mas ñ são assim medonhas.
“What A Day”, q pra mim é a menos boa das pesadas, com letra falando de cabeça degolada enviada pelo correio, poderia constar na trilha daquele filmeco, “Se7en” (tvz num Universo Paralelo…); “Star A.D.” é o ‘momento Zappa‘ no álbum, com teclados emulando naipe de metais, e tvz fosse a única a caber no “Angel Dust”, ñ sendo exatamente a mais destacada. A faixa-título viajante e despojada, limítrofe entre os ‘3 discos’, reaproveita linha de teclado de “Another Body Murdered”, participação do FNM no álbum-trilha “Judgement Night” [S.U.P. mês passado], e ñ é assim ruim, mas poderia ñ ter quase 7 minutos (o maior som do álbum), uma vez q fica à beira de cansar.
Todas as demais – “Get Out”, “Cuckoo For Caca”, “Ugly In the Morning”, “The Gentle Art Of Making Enemies” e “Digging the Grave” – são tudo o q da banda se esperava, e com folga, lições de ARREGAÇO: gritarias, groove, vontade de pular e de berrar junto, fora peso. Tudo o q os new metal disseram ouvir pra tentar auferir credibilidade, em vão (pq claramente ñ ouviram ou ñ tiraram direito). “Gentle Art” e “Digging the Grave”, por suas vezes, incluo na categoria OBRAS-PRIMAS; a 1ª por ser um híbrido perfeito de peso, acessibilidade e ironia (tem 3 Patton‘s cantando nela), a 2ª por ser o OUTRO hit da banda, daqueles q fizeram e jogaram a forma fora.
O “Album Of the Year” finado e cansado posterior, por exemplo, ñ tem nos melhores sons (pra mim, “Got the Feeling” e “Naked In Front Of the Computer”) nem sombra da INSPIRAÇÃO destes 2. Em suma, mais do q tentar esquadrinhar cada nota e esquisitice por aqui, só cabe recomendar a audição deste subestimado “King For A Day Fool For A Lifetime” – ou ao menos dos sons pesados – mais e mais vezes. Mais e mais vezes. Mais e mais vezes. Até q ele te deixe com um ‘jeitão doentio no olhar’.
Faz isso comigo toda vez q o ouço. Cadê meu colírio de Haldol?
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CATA PIOLHO CLXIX – lembro, em tempos de tocar em banda tributo ao Iron Maiden, dum dos guitarristas haver percebido o refrão da horrenda “The Angel And the Gambler” sendo repetido 66 vezes. Ficamos nos perguntando “seria intencional?”, e, pelo jeito, sim; no entanto, o q existe precisamente é o refrão sendo “cantado” (modo de dizer) 22 vezes. Como é constituído de 3 partes de 2 versos cada, acaba ficando 66 por vias tortas.
O Steve Harris poderia ter ido dormir sem essa.