THRASH COM H CLASSICS

Reprise da vez. Dedicada ao Tucho.

Publicada originalmente em 9 de Julho de 2004.

“Just Another Crime… In Massacreland”, Ratos de Porão, 1994, Roadrunner

sons: MONEY * / MASSACRELAND / DIET PARANOIA / SATANIC BULLSHIT* / BREAKING ALL THE RULES (Peter Frampton)* / C.R.A.C.K. (CRIMINAL RATS ARE CHILDREN KILLERS)* / VIDEO MACUMBA* / THE RIGHT SIDE OF A WRONG LIFE / SUPOSICOLLOR* / REAL ENEMIES / QUANDO CI VUOLE CI VUOLE / BAD TRIP / ULTRA SEVEN NO UTA (tema do “Ultra Seven”)

formação: Gordo (laulu), Jão (kitarat), Boka (rummut), Bart (basso)

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Quem, como eu, acompanha o R.D.P. anterior ao Gordo virar VJ, sabe q o melhor disco deles é “Brasil” (de 1989), com uma veia thrash metal nunca antes – nem nunca mais – destilada.
Claro q com muitas bases inspiradas/chupinhadas do Kreator (culpa do então produtor Harris Johns apenas?), mas tudo bem…

(a hora q me faltarem “Cata Piolhos”, recorrerei a ele)

“Just Another Crime… In Massacreland”, por sua vez, é um puta disco e, ao mesmo tempo, o pior dos caras. Q me lembre, ñ vingou nem pegou nada por conta de sua MAIOR MANCADA: letras em inglês (daí o “pior”. 10 sons em inglês, 1 em italiano, 1 em japonês e só “Suposicollor” – ñ por acaso, o melhor do disco – em português). Ñ dá, R.D.P. em inglês é o mesmo q escola de samba desfilar em finlandês na avenida: ñ rola identificação, é esquisito, fora o fato da maioria delas serem pra lá de clichê. E dá-lhe:

“money runs all the world / money, money keeps you so blind…” (“Money”); “you can’t react / they kill for money / they kill for drugs / just for fun / they use the guns…” ( “Massacreland”); “my name is crack / living in the streets / I kill poor people / they die greeting me, oh yeah!” (“C.R.A.C.K.”); “my brain is melting down / everybody is staring at me / it’s too late, there’s no way / oh my god, set me free!!!” (“Bad Trip”)

Provavelmente por falta de inspiração, e por ilusão de uma carreira gringa (algo confirmado em entrevistas posteriores – precisavam?), fizeram isso; só faltou alguma letra com “last night I had a dream”

(a propósito: uma pá de banda de metal nacional já cometeu letras com isso, tipo o Volkana e o Mosh…)

“Diet Paranoia”, num pseudo-humor sobre o Gordo precisar emagrecer, tb é ridícula. E foi single/clipe (tosco, com uma geladeira acorrentada a cadeados). Já viu, né?…

A outra mancada é haverem tentado aproveitar o massacre do Carandiru pra conceito de disco – o então Sepultura fez o som definitivo a respeito, “Manifesto” (no “Chaos A.D.”): o resto é farofa.
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Só q pra falar do som, a conversa é outra. É, sim, o “puta disco”. TODOS OS SONS merecem destaque – ñ digo q os sons q ñ asterisquei ñ prestam: só ñ são tão geniais. Pra comparar ainda com o Sepultura, q na mesma época lançava o “Chaos A.D.” e embarcava na viagem de ‘menos é mais’, na qual está até hoje, “… Massacreland” é ousado, bem gravado (produzido pelo tal Alex Newport, genro/parceiro de Max Cavalera no Nailbomb; o Sepultura devia ter gravado com ele…), e, sobretudo BEM TOCADO.

Traz os melhores momentos de Jão e Boka, pra calar quem sempre considerou o R.D.P. tosco. Ñ é pouca bosta: a proposta crossover do Ratos encontra aqui o auge de sua forma (mesmo “Video Macumba”, e “Suposicollor”, as mais propriamente hardcore, ñ são só isso), e o q é melhor: com uma cara completamente própria.

Montes de riffs e bases inspirados (“Money” e “C.R.A.C.K.”), solos (“Real Enemies”), guitarras dobradas (“Satanic Bullshit”- perfeita, e exceção à ressalva q fiz às letras, em sua crítica ao satanismo metálico babaca), passagens com pedal duplo (“The Right Side Of A Wrong Life”, “Quando Ci Vuole Ci Vuole”), dissonâncias pouco estereotipadas, viradas e paradas bruscas thrash (“Satanic…”, “Massacreland”), timbragens diferentes de caixa num mesmo som, intros e efeitos e saturações, músicas maiores q o comum – e ñ cansativas como eram as do anterior “Anarkophobia” (“Money” quase chega a 6 minutos) – e uma demonstração de TÉCNICA e VONTADE q os caras ñ + cometeram (há até o Gordo tocando percussão em “Video Macumba”, fora as vocalizações diferenciadas, porém inteligíveis, q até hoje mantém): hoje viraram banda ‘cult’, pioneiros, “lendas” – e só repetem, diluídamente, algumas coisas surgidas daqui. Se acomodaram, enfim.

Os covers: “Breaking All the Rules” soa melhor q a do “Ultra Seven”, pq foi gravada e arranjada a sério (entra no conceito do disco, afinal), ao contrário da 2ª, q pareceu mais zoeira. Chegou a tocar no rádio, e deveria voltar a: é fiel ao original e ao mesmo o supera. O encarte, curioso, traz fotos de ditadores como Mussolini, Duvalier, Franco e Hitler ainda bebês, e ilustra tb o papo sobre crianças pobres, vitimadas ou corrompidas pela sociedade.

“Suposicollor” vale postar tb a letra [segue no ‘so let it be written’]: fala do Fernandinho “cheirador” Collor, e sua corja de marajás, ministros e puxa-sacos corruptos. Além de aludir a seu vício crônico em cocaína q, segundo denúncias do próprio irmão, Pedro Collor, incorria em uso de supositórios de cocaína tb com freqüência.

Outra letra ñ tão dispensável é a de “Video Macumba”, referente a Mike Patton e um video assim intitulado, por ele trazido em alguma turnê do Faith No More, repleto de baixarias, coprofagia, zoofilia e gosto pelo bizarro e sexo pervertido.

Disco ignorado (como a maioria do q resenho por aqui), “Just Another Crime… In Massacreland” é o elo perdido do Ratos De Porão e do q poderia se tornar uma tendência no heavy metal nacional. Falta ser redescoberto (ñ sei se tem em cd…).

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CATA PIOLHO 39 (tributo a Dave Mustaine, parte 2 de 3) – na linha do q o ainda Metallica fez ao lançar “Metallica”, Mustaine desovou “Countdown to Extinction”, q só ñ é literalmente chupação de conceito, por ñ se chamar “Megadeth” (aí seria demais). Mas de resto, é a mesma receita: todos os sons têm refrão, baterias retas, gravação/produção moderna. Fora isso, o q é aquele início de baixo distorcido crescente em “This Was My Life”: inspiração em “Phantom Lord”, ou o quê?