40 ANOS DEPOIS…
… o q ficou?
… o q ficou?
“Negócio de ‘Principe das Trevas’ veio depois, coisa da Sharon. Provavelmente dela. O Ozzy raiz, q às vezes assustava a gente no palco, era essa versão ‘Pomba Gira'”
Black Sabbath, “Deep Black“
Artefato arqueológico adquirido em Londres. Não veio empoeirado, pelo contrário: lacrado e etiquetado.
Material pra lá de conhecido, não tão raro afinal, mas q eu mesmo sempre tive preguiça de conferir nos YouTube da vida. Dos cds q mais mal via a hora de pôr pra tocar em casa. Ainda q desconfiando da qualidade do áudio.
E a qualidade é muitíssimo aceitável, oras.
Muito se elogiava Tony Martin por cantar sons de “sua” fase, “fase Ozzy” e “fase Dio“. Meio mal, mas cantava. (Dio na 2ª fase “Dio-Manizer” fazia sons Ozzy?) E q tal Gillan cantando “War Pigs”, “Heaven And Hell” e “Zero the Hero”?
Muito foda define.
… o q ficou?
… o q “ficaram”?
Agradecimento bastante simpático e certamente terceirizado do mesmo no encarte de “The Ozzman Cometh” (1997):
“To The Fans:
I hope you enjoy this compilation. This is very weird to me to have a ‘Greatest Hits’ album since I’m not a ‘Hit Single’, ‘Greatest Hits’, ‘Unplugged’ sort of guy. All of the above are people who have Guided, advised and encouraged me and who have been a creative force throughout my career and me personally. But most of all, you the fans have given me literally all that I have today and have made what I am. Without you I’m nothing (sounds like great lyrics for a song). I truly thank you and you know I love you all“.
… o q ficou?
versus
versus
Alguém mais soube disso?
Alguém se incomodou?
Me incomodou ver sites falando em “volta” de Ozzy e Tony Iommi.
Devem ser “produtores de conteúdo” mais preocupados com a contagem regressiva – duplo sentido! – pro Rock In Rio…
PS – baixista e baterista no playback totalmente deslocados no rolê
por märZ
Biografias, principalmente de músicos, são meu gênero literário favorito. Já li muitas: algumas são boas (Keith Richards), outras divertidas (Ozzy) e outras, decepcionantes (Bruce Dickinson). E raramente se tropeça em alguma que te tire o fôlego, te prenda nas páginas e acabe por te acertar um direto no estômago.
E isso tem de sobra na autobio de Mark Lanegan, músico que obteve certa fama nos anos 90 como vocalista do Screaming Trees, banda do interior do estado de Washington, radicada em Seattle.
Pra começar, Lanegan parecia não ter filtros e à medida que vai narrando sua vida de excessos, vai dando nomes aos bois e arrastando reputações para a lama fétida aonde foi parar com seu rascunho de vida.
E bota fétida nisso: infância problemática, aluno relapso e a paixão adolescente pela música, que salva a vida de tantos. Ou quase.
Viciado em heroína (e crack, cocaína, cigarro e álcool), a carreira de vocalista nada mais era que o meio para a obtenção do fim: os dois ou três picos diários de heroína na veia, pra evitar convulsões e ataques de abstinência. E pra não deixar isso acontecer, valia tudo: Mark se tornou um viciado clássico, mentiroso, ladrão, traficante.
Roubava o que podia de amigos, equipes de turnê, colegas de trabalho, namoradas, prostitutas, lojas de conveniência, farmácias e trocava na rua por moedas que juntava pra comprar mais drogas.
No auge da modesta popularidade que alcançou, se vestia como um mendigo esquelético, ficava semanas sem banho, dias sem comer, apanhava na rua de traficantes, só usava mangas compridas pra esconder as pústulas expostas de feridas de pico nos braços (e dedos, pernas, pescoço). E não tinha onde cair morto, chegou a morar no meio do mato.
***
A cada capítulo que termina, você pensa “não, não dá pra piorar”. E piora. O fundo do poço não tem fundo.
Salvo por Courtney Love, amiga que bancou sua recuperação em uma clínica cara onde ficou internado por 1 ano inteiro, recuperou sua dignidade e parte da saúde para assumir uma carreira solo de qualidade que gerou 12 discos. E que foi interrompida por sua morte, recentemente.
O livro termina logo após a temporada de rehab, e nada diz sobre a carreira pós-Trees, dando a entender que haveria uma muito bem-vinda segunda parte. Que infelizmente não virá.
Recomendo não somente pra quem possa conhecer o trabalho de Lanegan nos Trees, QOTSA e solo, mas pra todos que curtem uma boa história, bem escrita e vivida por um personagem fascinante. Mas não espere um conto de fadas grunge, o bagulho é intenso.