PIO XII, FILHO DA PUTA
“Assim morreu um dos mais extraordinários pontífices na história do papado, sua memória dominada pela estima geral. A autocensura envolvendo seu nome e pontificado era tão reverente que anos se passariam antes que relatos mais fracos sobre sua morte e funeral alcançassem o público em geral. Sua agonia de morte, por exemplo, foi fotografada por seu antigo médico, Galeazzi-Lisi, sendo as fotos oferecidas a várias revistas. O bom doutor, além disso, assumiu o comando do embalsamamento, experimentando um novo método que deixava os intestinos no lugar; em conseqüência, o corpo começou a deteriorar imediatamente, no calor do outono.
Quando o carro fúnebre parou diante da igreja de São João de Latrão, as pessoas mais próximas puderam ouvir uma série terrível de gases e arrotos dentro do caixão, o resultado da rápida fermentação, ao que tudo indica. Durante o velório na Basílica de São Pedro, o rosto do papa falecido tornou-se cinza-esverdeado e depois púrpura. O mau cheiro era tão forte que um dos guardas chegou a desmaiar. Uma indignidade final: seu nariz ficou preto e caiu, antes do sepultamento.
Em anos posteriores, os críticos de seu pontificado destacariam essas circusntâncias insalubres como para exemplificar a corrupção final do papado mais absolutista na História moderna. Com o passar do tempo, porém, surgiram outras questões, de ação e omissão, mais vergonhosas e mais prejudiciais à sua memória e à instituição do papado do que qualquer um jamais imaginara ser possível durante sua vida”.
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Mas q catso é isso, os amigos perguntarão?
Trecho final, de morte e sepultamento de Pio XII, papa da igreja católica por quase 20 anos (1939-1958), cujo pontificado acompanhou de perto a 2ª Guerra Mundial, mediante alianças políticas feitas com Hitler e Mussolini. Com nenhuma objeção lançada pelo Vaticano em relação ao massacre dos judeus, mas ñ só: Pio XII e o Vaticano endossaram MASSACRE de cristãos ortodoxos (487 mil sérvios ortodoxos, entre 1941 e 1945) na Croácia durante o mesmo período.
Por conta da santa igreja querer expandir o q achava q era certo – o catolicismo apostólico romano – e tb temer o “perigo bolchevique”.
Ler “O Papa de Hitler – A História Secreta de Pio XII”, de John Cornwell (editora Imago, 474 pp.), é ler a fundo as pretensões imperialistas/absolutistas do Vaticano, ñ só na época citada, mas tb nas dos 4 papas anteriores a Pio XII (Leão XIII, Pio X, Bento XV e Pio XI) – em q Eugenio Pacelli, seu verdadeiro nome, já atuava na política e na burocracia eclesial, de modo absolutamente carreirista – e ainda compreender o papado atual, de falso papa “bonzinho” argentino.
Os caras querem mercado, querem manter o status. Poder. Os sujeitos chegam ao trono papal e surtam: passam a se considerar Deus na Terra. A estrutura podre, arcaica, aristocrática e ditatorial do Vaticano se mantém mesmo assim. João Paulo II, o carismático e erradicador do comunismo na Polônia, tb era da mesma cepa. Só era mais carismático. Papinhos de “modernização” da igreja são só marketing fuleiro.
Cornwell revela tb a face psicótica e autista da igreja e do Vaticano: com o monte de críticas (mesmo à época) em relação à omissão – dita “neutralidade” – do Vaticano em relação às matanças nazistas na 2ª Guerra, e mesmo com o monte de objeções e oposições (devidamente caladas) entre os religiosos a Pio XII contemporâneos, o ilustre filho da puta está sendo cogitado pra ser beatificado e canonizado. Ñ q eu pessoalmente dê a mínima, mas tem quem se comova com isso.
É muita coisa, muito detalhe, muitas reviravoltas históricas, dum livro assumidamente crítico. Dum autor q, 50 ou 60 anos atrás, jamais conseguiria publicar um livro assim. E q é livro denso, repleto de nomes, datas e citações, por isso um tanto enfadonho certas horas. Mas q recomendo a quem tem banda q curte falar mal da igreja: ñ precisa falar só sobre a Inquisição e riqueza do Vaticano, q já são assuntos manjados.
A tal “santa madre igreja” tem mais podres à disposição. Pio XII e sua carreira imunda dariam um álbum conceitual abjeto e repulsivo. Tal como sua trajetória e lugar na História.