Seguinte: o CLUTCH é uma das bandas mais legais que você vai ouvir na sua vida. Sério. Se não conhece, tome vergonha na cara e corre atrás da extensa discografia desses caipiras de Maryland, que a satisfação é garantida.
A mídia os define como stoner, mas vão muito além. Tem classic rock, metal, funk e muito groove.
Estiveram no Brasil uma vez, há uns 10 anos, em show único em São Paulo, e agora repetem a receita: dia 26 de Abril no Fabrique Club, na Barra Funda – show organizado pelo Coletivo Abraxas, do RJ.
Sobre o vídeo com Ripper Owens cantando Sepultura e o frisson que isso causou em muito fã da banda internet afora: eu concordo que soa melhor que Derek e é compreensível que muitos defendam e gritem “Fora Predador, Ripper Já!”, mas a minha teoria é que isso NUNCA aconteceria.
O motivo? Ripper Owens carrega o estigma de eterno substituto que não deu certo. O cara errado na hora errada, o tapa-buraco, que não estava à altura do seu antecessor – este, sim, the real deal. Mesmo clube restrito ao qual pertencem Blaze Bayley e Tony Martin. Em suma: para grande parte dos fãs do estilo e mídia especializada, são fracassados.
Os álbuns dos quais participaram são considerados menores na discografia de suas bandas, tropeções a serem esquecidos. Sobrevivem hoje fazendo shows pífios em clubinhos para 80 pessoas no Brasil, Honduras e República Tcheca, mendigando trocados. E podem incluir Paul D’Ianno nesse grupo, apesar deste ter sido substituído ao invés de substituir. Mas está no mesmo nível – alguns diriam até mais baixo.
E é por isso que não consigo imaginar Andreas Kisser optando por Ripper no Sepultura. Andreas sabe disso tudo, acompanha in loco toda essa novela, e talvez pense que seria um tiro no pé (o outro, pois um já levou tiro faz tempo e teima em não curar). Mas essa é somente minha opinião e posso muito bem estar errado. No entanto, gostaria de ouvir a opinião de vocês.
As Lojas Americanas estão fechando seu departamento de cds e dvds nas lojas físicas e queimando tudo a preço de banana nanica, segundo dica que me foi dada por um amigo que comprou muita coisa boa de 1,99 a 9,99.
Como ontem tive que dar um pulo na capital, passei em uma de suas lojas para conferir. Não tinha mais nada, só refugo, mas consegui encontrar uns 3 cds perdidos a 4,99.
Um deles foi “Serenity Of Suffering”, penúltimo álbum do Korn, que acabei de ouvir minutos atrás aqui em casa. O que me chamou a atenção é o quanto soa parecido com “Take A Look In the Mirror”, álbum de 2003 que comprei anos atrás em circunstância parecida, na extinta Livraria Leitura de Vitória. Sinceramente: se colocar a mídia de um na embalagem do outro, ninguém vai notar. Ou, pelo menos, eu não notaria.
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Partindo desse raciocínio, dei uma ouvida rápida em momentos de outros discos da banda no YouTube e – surpresa! – o sentimento foi o mesmo. Isso é bom… ou ruim? Quer dizer que a banda criou uma identidade (fórmula?) e se agarra a ela? Ou que sofre por falta de criatividade e variação em seu trabalho, um assunto já abordado aqui com Overkill, Iron Maiden e outros? Ou ambos? É um estilo ou uma prisão?
E me parece que não somente a sonoridade é sempre a mesma, como também os temas abordados nas letras e a linguagem visual. As capas constantemente mostram crianças esquisitas, brinquedos, ursinhos… temas infantis freak em geral. Ou que eu, particularmente, acho um saco.
Algum fã da banda por aqui poderia fazer um contraponto?
Escrevi sobre as meninas do Nervosa neste blog há exatos 5 anos [foi em 10.07.14 – o editor demorou a postar], questionando quem seriam essas 3 garotas fazendo todo o barulho midiático que já então se fazia visível. Haviam então lançado somente 1 álbum, já tocavam na gringa e apareciam em revistas metálicas de vários países. Mera jogada de marketing de um bom empresário com os contatos certos? Talvez não estivesse longe dos fatos pensar assim. Mas as coisas mudaram de 2014 até 2019.
O que se vê hoje é uma banda que cavou seu lugar no underground. Mas não aquele underground da realidade metal brazuca, onde banda é um hobby para tocar em bares no interior com 35 pagantes. O underground onde habita o Nervosa está mais para o Obscene Extreme da República Tcheca ou o Durbuy Rock da Bélgica.
E é daí pra cima.
A quantidade de shows feitos pela banda nos últimos anos é na casa das centenas e continua subindo, juntamente com seu status no meio metal. Já deixaram de ser aquela novidade, três minas novas do Brasil fazendo thrash na veia alemã dos anos 80. A quantidade de países visitados é muito extensa para se listar e sua popularidade em algumas dessas nações é cada vez maior. Exceto em sua terra natal.
Aqui, permanece a mesma mentalidade de quando surgiram e começaram a fazer barulho: “ah, é só uma banda de garotas, não passa de uma curiosidade e não tem consistência para sobreviver sem o hype”. Isso é puro preconceito. E não adianta que já estejam em seu terceiro álbum e que venham melhorando a cada lançamento: esse preconceito persiste.
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Pertinente comentar que a mudança em seu som se deve principalmente pela adição da baterista Luana Dametto, que veio de um background mais death metal e injetou em seu último álbum uma agressividade inédita na música da banda. Já Fernanda é uma frontwoman de um carisma gigantesco, raramente visto no meio. Sério, é algo fora do normal. Como baixista, não é nenhum Geddy Lee de spandex, mas dá conta do recado. Mas é no terceiro eixo onde surgem os primeiros caroços do angu: a guitarrista Prika, fundadora e dona da banda, é muito limitada musicalmente. Se a banda é criticada por não ter as melhores performances ao vivo, deve agradecer a ela. Como substituí-la NÃO é uma opção, talvez devessem contratar uma segunda guitarrista com mais habilidade, que tomasse conta dos solos e, com duas guitarras soando juntas, disfarçasse certas limitações da colega. Mas esse é somente meu ponto de vista pessoal e de maneira alguma uma crítica gratuita. Torço para que evoluam, sempre.
O fato é que a banda vem mandando muito bem, evoluindo a olhos vistos, excursionando incessantemente pela Europa, Américas do Norte e do Sul, e entretanto por aqui continuam a ser olhadas de lado pelos fãs do estilo e mídia especializada – a Roadie Crew, nesses últimos 5 anos, no máximo fez uma única entrevista com Fernanda Lira. Por bem menos, outras bandas nacionais ganharam capa e muito mais apoio.
Então, repito: seria preconceito?
Discografia: “Victim Of Yourself” (2014), “Agony” (2016), “Downfall Of Mankind” (2018)
Comprei a peso de ouro o livro “Damn the Machine – The Story Of Noise Records”, lançado em 2017, e estou um pouco além da metade de suas 480 páginas. Para quem acompanhou a evolução das bandas do selo, é um prato muito saboroso e salpicado de nostalgia. Alguns detalhes:
Karl Walterbach, o idealizador e fundador do selo, veio do meio punk rock e já tinha um selo que lançava bandas punk alemãs. Com a falência do gênero na virada da década de 70 para 80, Karl começou a procurar qual seria a nova onda e identificou no metal sua próxima empreitada, fundando um selo e procurando bandas para assinar. No começo, baseado no que lia em revistas de metal da época, tentou assinar com bandas que se encaixavam no estilo hair metal, pois parecia ser a tendência em voga. A primeira banda a levar o selo “NOISE” na contracapa foi o desconhecido Rated X, que tocava um hard rock pendendo para o glam e não vendeu nada.
Quem deu a dica a Karl que havia um novo estilo híbrido de metal com punk chamado thrash metal foi o guitarrista do Black Flag, sua banda preferida. Anúncios foram colocados em revistas alemãs e lojas de discos, e moleques cabeludos com bandas toscas começaram a surgir aos montes, com suas demos mal gravadas e cinturões de balas.
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Karl e Tom Warrior se odiavam, e o disco do Hellhammer era tão ruim que virou uma piada na indústria e no meio metal, quase comprometendo o potencial do então jovem selo. A má fama da banda era tal que Tom decidiu mudar o nome do grupo para o que seria o segundo disco e então nasceu o Celtic Frost. Com o eventual sucesso da banda, o dono do selo, que não gostava de metal e só tinha olhos e ouvidos para o potencial de mercado, deu total liberdade a Tom e sua banda para fazerem o que bem entendessem em estúdio, o que gerou o aclamado e experimental “Into the Pandemonium” e, mais tarde, o equivocado “Cold Lake”.
Helloween eventualmente se tornou o best seller da Noise e foi o carro-chefe quando da assinatura de um contrato de lançamento e distribuição com a CBS/Epic. Como públicos europeu e americano tinham gostos diferentes, o que vendia em um continente não necessariamente dava certo no outro. Por exemplo, Running Wild era gigante na Europa, perdendo somente para a banda de Kai Hansen em termos de vendas, mas era odiado e ridicularizado nos EUA, onde nunca vingaram. Aliás, bandas como Running Wild, Helloween e mais tarde o Gamma Ray nunca fizeram questão de excursionar pela América do Norte, pois o custo das turnês eram muito altos e não alteravam em nada as vendas naquela região.
Para minha surpresa, um dos primeiros grupos a assinar com a Noise e que foi um enorme sucesso de vendas na Europa foi o Grave Digger, e só não tiveram uma carreira melhor sucedida porque decidiram mudar de estilo e nome, o que deu tremendamente errado e acabou com a banda em seu terceiro disco.
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O Kreator era um trio amador de moleques que mal sabiam tocar e seu guitarrista/vocalista Miland Petrozza, um adolescente de 16 anos tímido e impressionável, que foi totalmente guiado por Karl em termos de como soar e se vestir. Até o nome da banda, que antes chamava Tormentor, foi escolhido pelo dono do selo e seus músicos foram informados disso por telefone dias antes de entrarem em estúdio para a gravação do que seria seu primeiro álbum. Mais adiante, “Extreme Aggression” foi o primeiro álbum do selo lançado nos EUA e resto do mundo devido ao contrato com a CBS/Epic, que logo depois foi absorvida pela Sony. “Keeper Of the Seven Keys I” foi o segundo. Até então, todos os álbuns do catálogo Noise chegavam aos EUA como importados.
Tankard era outra banda de moleques e o que os diferenciava era que nunca tiveram pretensão de serem músicos profissionais. Desde o começo deixaram claro que manteriam seus empregos regulares e a banda seria um hobby. E assim tem sido há mais de 30 anos. Coroner foi indicação de Tom Warrior, e por um curto tempo fizeram algum barulho no meio, tidos como “o novo Celtic Frost“, que havia fechado as portas devido ao fracasso de “Cold Lake”. Mas sua recusa em deixar a Suíça, aliado a mudanças de mercado no começo dos anos 90, pôs também um fim ao trio tecnothrash.
Nenhuma dessas bandas da primeira geração Noise viu dinheiro algum: todas assinaram contratos onde basicamente o dinheiro das vendas ia todo para as mãos de Karl Walterbach, e eventualmente os grupos sobreviventes deixaram o selo. O ponto do livro em que estou agora começa a descrever a segunda leva de bandas do cast da gravadora, e nomes como Blind Guardian começam a dar as caras. Talvez não seja mais tão interessante para mim, por isso decidi escrever este texto agora.
Uma pena que esse livro só saiu na Alemanha e EUA, pois é bem interessante para os fãs dessa geração do metal.
Na esteira da morte de André Matos, andei reouvindo alguns de seus trabalhos. Além dos óbvios dois primeiros álbuns do Viper, que curto até hoje, decidi checar outras empreitadas do falecido vocalista. Tenho – e gosto – “Reason”, do Shaman. Passa ao largo do nefasto power metal melódico, pendendo para um híbrido gótico paradiselostiano e é bem interessante. Ouvi também um de seus discos solo, baixado aqui no meu HD faz tempo: “Mentalize” tem boas músicas, produção pesada e as artimanhas vocais de sempre. Também interessante.
Mas a jóia foi mesmo “Virgo”, parceria de Matos com o músico e produtor alemão Sasha Paeth. Comprei esse CD a meros 7 reais em um sebo de Vitória, por pura curiosidade, e gostei desde a primeira audição. Passa longe do heavy metal, seja lá qual vertente, e pende mais para o progressivo e, às vezes, ao pop. Poucas guitarras, muito groove na cozinha, teclados e pianos discretos que não inundam o instrumental, ocasionais orquestrações, melodias delicadas e sutis. O que brilha é realmente a voz de André, que não é (era) tão potente ou de alcance tão elevado quanto gostam de propagar por aí. Mas desliza como veludo por cima da cama instrumental.
Me lembro vagamente quando saiu, 18 anos atrás, e recebeu a babada de ovo padrão das revistas nacionais (quando ainda havia mais de uma). Passou batido. Ninguém comprou, ninguém ouviu. Pena, pois talvez estejam aqui alguns dos melhores momentos de André Matos. Recomendo conferir, de mente aberta.
Amigos mais antigos por aqui sabem q, de posse de minha devida insignificância, montei este blog há 16 anos como modo de desmerecer bandas como as dele. Metal melódico, modismo chato, música de parquinho. Com o tempo, percebi q, além de besta, era pouca. Minha birra. Meu foco passou a ser esse “metal nacional” reaça, brodístico e de condomínio.
Nunca foi meu ídolo, jamais comprei a idéia de “melhor vocalista do Brasil” – nem em tempos de Viper (assisti lançamento do “Theatre Of Fate” ainda com ele, 1989, Projeto SP) – tampouco a pataquada de “ex quase Iron Maiden“; além disso, parece q ñ era desses seres detestáveis e afetados do meio. Foi um dos poucos (e ñ foi pouco) q REALMENTE fez parte da História do Heavy Metal no Brasil.
Parece q acabou de acontecer. Contatos q tenho metade estão sabendo, metade estão bastante consternadas. De modo q ñ sei ainda as causas. E nesse sentido, só lamento.
48 anos. 4 mais velho q eu. Foda.
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Outro recém-falecido, e este sim lendário, foi Serguei. De legado musical mixo, mas o melhor fake da internet disparado. 85 anos e estava com Alzheimer. Finalmente esqueceu q tvz tenha traçado a Janis Joplin. Porra.
Me deram de presente uma assinatura do tal Spotify. “Tem tudo com somente 2 cliques!” – me disseram, entusiasmados. Aceitei, testei, realmente é uma mão na roda (se você não se importa em ouvir música via celular) e me acompanhou numa recente viagem à Bahia. Me fez refletir também em como as coisas mudaram desde que comecei a ouvir música a sério, como fã de “rock pauleira”.
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Havia muito pouco disponível em 1985. Desse pouco, menos ainda chegava na minha pequena cidade. E desse pouquinho, tínhamos acesso a menos ainda. LPs eram caros, conhecia raríssimos fãs desse tipo de música e qualquer coisa que chegava aos meus ouvidos era ouro. Mesmo se fosse porcaria.
Ficava namorando as capas de discos na loja, deslumbrado com a arte. Ozzy, Dio, Maiden, Whitesnake, AC/DC, Kiss. Era fascinante, era perigoso, era… quase proibido. Não era bem visto pela sociedade majoritariamente católica conservadora da época. Nossas mães odiavam, o que aumentava ainda mais a vontade de ter e ouvir. Mas eu nem toca-discos tinha, somente um 2×1 portátil onde ouvia as duas rádios FMs locais e gravava fitas toscas sempre que rolava alguma música legal na programação. Invariavelmente, perdia o começo de todas. E foi nele que passei muito tempo ouvindo as fitas que gravava de amigos. De LPs ou outras fitas, que eram reproduzidas dezenas de vezes, e mal se ouvia o que estava tocando.
“Esse é o Dio“, “Sério? Tem certeza que não é o Ozzy?”
Alguém tinha alguma fita com “Piece Of Mind”, outro ganhou o LP “Powerage” de aniversário – “pode me emprestar pra eu gravar na casa do tio de um amigo?”. Já outro tinha “um rockão, cara, você vai pirar!”. Era Ted Nugent. Gravava tudo que colocava as mãos. Se alguém dizia que tinha um amigo no bairro tal que comprou o “Kiss da capa azul”, você perguntava o nome e que ônibus pegar até lá. Saía de casa num sábado antes do almoço, pegava 2 ônibus pro tal bairro, subia um morro, passava a caixa d’água municipal e ia perguntando: “você conhece um tal Vitor que mora por aqui?”… até achar o cara.
Batia a porta, se apresentava e explicava. “Sim, tenho um disco do Kiss, mas não empresto nem gravo porque meu cabeçote tá fudido”. Voltava pra casa de mãos vazias. Quantas vezes passei por algo parecido…
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E havia o tal Metallica, de quem ouvíamos falar o tempo todo, mas ninguém tinha ouvido, muito menos tinha algo físico. Todo novo amigo metaleiro que fazia já perguntava: “já ouviu Metallica?”. A resposta era sempre negativa. Tinha gente que pensava que era banda brasileira, por causa do nome com grafia e fonética meio latina. Demorou um tempão até conseguir ouvir algo deles. Um amigo de um amigo de um amigo veio dos States e trouxe uma coletânea caseira em fita, sem capinha, sem nomes de bandas ou músicas. “Ele falou que tem duas músicas do Metallica aqui!”. Ouvimos com atenção e aparentemente as identificamos, pela descrição que líamos na revista Metal.
“Porra, som massa! Metallica é foda!”
Aconteceu que as duas músicas que ouvimos por meses achando que era Metallica, na verdade era English Dogs. “Fight Fire With Fire” e “Ride the Lightning” passaram batidas aos nossos inexperientes ouvidos metálicos.
O começo foi assim, depois foi aos poucos mudando. Mais discos foram lançados no mercado brasileiro, mais fãs foram aparecendo, o metal ficou popular por aqui. Era difícil mas era legal. Bons tempos aqueles, em que eu tinha 8 ou 10 álbuns gravados em fitas cassete e ouvia a mesma coisa, over and over, até literalmente gastar (ou arrebentar) as fitas.
“Minha fita do ‘Metal Heart’ já era, me empresta a sua pra eu gravar de novo?”
Foi um longo caminho até os modernos “2 cliques”, mas fico feliz de ter testemunhado tudo de perto.
Eu calculo umas 250 pessoas, não mais do que isso. E creio que era o esperado.
Público meio a meio, no que diz respeito a old school e gurizada, o que me surpreendeu um pouco: onde estão todos os meus amigos que séculos atrás curtiam metal, compravam LPs, gravavam fitas, faziam suas próprias camisetas? Há tempos desapareceram, quase em sua totalidade.
Mesmo em meio às minhas amizades atuais, sou pelo menos 5 anos mais velho que os demais. Meus contemporâneos envelheceram, engordaram, casaram, tiveram filhos, encaretaram, “traíram o movimento”.
Pior pra eles, pois o Nuclear Assault fez um show muito legal e divertido no Correria Music Bar de Vila Velha, aqui no pequeno e secreto Estado do ES. “Eles são mulambos demais”, amigos me alertaram, tendo-os visto anteriormente. Achava que isso se traduzia em performances ruins, mas não necessariamente. Despretensiosos, sim. Mas com certo charme e competência.
Dan Lilker e Erik Burke são hippies maconheiros de coração, o segundo inclusive tocando descalço, uma característica sua. John Connelly é um toco, pequeno e com alguns kilos a mais, e o batera Nicholas Barker um Buda atômico, praticamente imóvel a não ser por mãos e pés.
Entraram no palco despretensiosamente e deu pra perceber que nem roadie trouxeram, o único em atividade sendo funcionário da própria casa. Fizeram um show empolgante, acelerado e quente. Connelly reclamou do calor algumas vezes, e todos suavam em bicas. Inclusive o público.
Não encontrei o setlist por aí, mas foi aquele desfile de semi-clássicos dos 3 primeiros álbuns, e uma que não reconheci, suponho que do mediano EP “Pounder”. Ao vivo, nota-se ainda mais claramente a influência do hardcore americano em suas músicas, algo pelo qual sempre foram notórios e diferenciava seu trabalho de outras bandas de thrash metal da época.
Show legal, ingresso barato, local pequeno, pouca gente, Devassa gelada, som razoável pra bom (a não que, como eu, se teimasse em ficar colado no palco, onde só se ouvia bateria e baixo). Zero de pretensão, 90 de atitude. Valeu ter ido. Mulambo eu, mulambo tu.
Segue a parte 2 do post sobre dicos supostamente fracos que têm rotação constante por aqui:
Dio: “Sacred Heart”
Novamente, meu primeiro contato com o artista. Antes de conhecer Sabbath com Dio, ou mesmo Rainbow. Gravei isso em cassete e ouvi centenas de vezes. Entendo que foi um ponto baixo se comparado com os dois anteriores e até mesmo os posteriores, mas gosto muito deste álbum. O produtor até tentou salvar, mas as músicas são um tanto mais comerciais, fruto novamente da época em questão. Mas tirando a última, “Shoot Shoot”, o restante eu acho maravilhoso.
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Kreator: “Endorama”
Inicialmente comprei este cd pra completar a coleção, mas eventualmente comecei a apreciá-lo de verdade. Não soa como o Kreator com que nos acostumamos, mas tem vida própria e alguns momentos interessantes. Descobri que o ouço mais regularmente que os álbuns que saíram depois, mais próximos do som característico da banda.
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Newsted: “Heavy Metal Music”
Acho que ninguém gostou desse disco. A crítica malhou, meus amigos odiaram… mas eu adorei. Não lembra em nada o Metallica, e esse talvez seja seu maior trunfo. A clara influência de Voïvod em nada atrapalha, e no todo acho um disco legal e honesto.
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Neil Young: “Mirror Ball”
Neil esquece o Crazy Horse e chama o Pearl Jam para ser sua banda de apoio. A crítica caiu matando, boa parte dos seus fãs também. Novamente, foi o primeiro álbum que escutei inteiro do artista, na época em fita cassete original emprestada de um amigo na Alemanha, onde residia. Andei muito de bicicleta ouvindo “Mirror Ball” no walkman e até hoje acho muito bom.
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Slayer: “Undisputed Attitude”
Ah, esse já foi até discutido por aqui. Apesar de se tratar de um disco de covers, a maioria dos fãs detesta este álbum. Eu, fã de punk rock e hardcore que sempre fui, acho muito legal. Curto, rápido, despretensioso e divertido. Pra mim tá bom.
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Ultraje a Rigor: “Crescendo”
A banda teve dois discos extremamente bem sucedidos no mercado e havia muita expectativa para o terceiro. O que chegou foi um álbum de guitarras pesadas, palavrões e músicas esquisitas, fora dos padrões das rádios comerciais. Eu adorei e ouço muito, até hoje.
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Scorpions: “Fly to the Rainbow”
Comprei esse em Lp numa época em que a banda já era uma máquina de fazer baladas radiofônicas e hits hard rock. Ninguém gostava dessa fase inicial do Scorpions; era muito presa ao som dos anos 70, a produção era tosca e não havia hits. Mas tinha Uli Jon Roth na guitarra solo e isso pra mim sempre foi ouro.
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Pink Floyd: “A Momentary Lapse Of Reason”
PF sem Roger Waters ainda é PF? Sei lá, talvez não. Mas gravei esse Lp em fita na época do lançamento, quando ainda só conhecia “The Wall”, e achei interessante. Algumas músicas funcionaram bem e outras nem tanto, mas no geral acho um bom disco.
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Manowar: “Fighting the World”
Pra muita gente TODOS os discos da banda poderiam entrar nessa lista de “malditos”, mas o fato é que na época o Manowar ainda era considerado uma banda séria por aqui, e eu gostava muito. “Fighting” foi somente o segundo Lp lançado no Brasil, após “Battle Hymns” (nenhum dos 3 no meio saíram aqui) e trouxe um som mais comercial que os anteriores, pegando todo mundo de surpresa. Não agradou, mas eu ouvi bastante e curto até hoje (com ressalvas).