Nada memorável assim. Um bom show, daqueles “mais um” pra conta. Matou minha curiosidade antropológica.
Q eu já tinha visto trechos de show e dvd no YouTube, cheios de pompa, edição frenética e agitação da parte dos violoncelistas. A última parte, obviamente rolou.
A pompa ficou só com um dos celistas, Perttu Kivilaakso, meio vestido de Dartagnan e o deles mais incomodado com o calor (foi captado no vídeo abaixo), q chegou a 34⁰C na sexta-feira. E q lá dentro do Carioca ñ estava tão mais (ou menos?) ameno.
A Finlândia está em pleno inverno polar.
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Foram pouco mais de 1h30min de repertório, em apresentação prometida pra começar às 22h e q começou impecavelmente às 22:02. E q pode ser dividida em 3 segmentos, intercalados entre si:
covers/versões – q ñ foram a maior parte
músicas autorais, 3 delas de “Cell-O” (disco mais recente) com um vocalista – Erik Canales – q só entrava no palco pra cantar
músicas autorais instrumentais, com o trio sentado em cadeiras e de ostensivo uso do telão no palco. Pra mim, os melhores sons.
Várias delas contando com um baterista ok e discreto, cuja função era ñ embolar o meio de campo. E assim foi.
Tocaram “Refuse/Resist”? Sim. Destaque do show, galera foi ao delírio? Até q ñ. Um cara próximo a cantou inteira, eu tb. Baixinho. Quem mais cantou, só entoou o refrão.
Admito q se rolou mesmo “Inquisition Symphony” (constava do setlist q fotografei) tb passou batido, até por mim. Os covers de Metallica – três – cativaram mais, mas ñ mais q os sons autorais com vocal. Torci pra rolar o cover de FaithNoMore: ñ veio na bagagem.
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E vou dizer, sob o risco de pedradas: “Nothing Else Matters” – sobretudo no arranjo daquele solinho final de James Hetfield – e “Seek & Destroy” – com a parte rápida e os solos do meio – achei as melhores do show. Elas e duas das autorais instrumentais – “Shadowmaker” e “Peikko” (com uma cara de “vamos nos divertir no final”).
A presença de palco do trio é dinâmica, com os dos extremos (Perttu e Paavo Lötjönen) trocando de lugares no decorrer. O aparente líder Eicca Toppinen ficava mais ao centro e foi quem mais falou com o público. Com instantes de humor finlandês exótico.
O público ñ lotou; ¾ da casa, tvz. Parece caso de banda nichada, do q vale lavrar um clichê: quem ali esteve ñ eram muitos, mas muito fãs de Apocalyptica.
Muita mulher, e ñ exatamente mulherada “mina do banger“, mas em casais com namorado/marido banger/fã. Legal, isso. E todos cantando as músicas, principalmente as autorais com vocais
Ao final – ñ acabaram e foram embora; terminaram e voltaram pra falar no microfone – Toppinen prometeu álbum novo pra 2024 e voltar ano q vem.
O tempo dirá.
Defeitos, dois: 1) merchan “oficial” com camisetas (bem feias, piores q as vendidas na calçada) a 150 vodkas e bonés a 120; 2) a banda de abertura, banda de formatura metal, de q só falarei nos comentários.
Curiosidade atroz e a tôa: 2 sons autorais homônimos de sons do Ramones. Gabbagabbahey!
Setlist: 1. “Ashes Of the Modern World” 2. “For Whom the Bell Tolls” 3. “Grace” 4. “Refuse/Resist” 5. “I’m Not Jesus” 6. “Not Strong Enough” 7. “Rise” 8. “En Route to Mayhem” 9. “Shadowmaker” 10. “I Don’t Care” 11. “Nothing Else Matters” 12. “Inquisition Symphony” 13. “Seek & Destroy” – bis: 14. “Farewell” 15. “Peikko”
28 músicas – ou uma intro + 28 músicas? – no meu 28⁰ show do ano. Nada mal.
Gosto de Inocentes, mas há muito tempo não ia a um show. Q me lembre, a última vez este blog sequer se cogitava existir: eram meados dos 90’s e os vi no Centro Cultural Vergueiro, com abertura do Volkana.
(Volkana. Ainda. Com Marielle. No. Vocal)
E os caras estão aí ainda. Beirando os 30 anos da formação “nova” Clemente/Ronaldo/Anselmo/Nonô. E não sabia o q esperar: nostalgia, bolor ou contundência?
Contundência ganhou.
Assim: trinca inicial impactante.
“Fechem os Olhos dos Jornais” abriu em playback. E tudo bem. Enquanto os sujeitos entravam na penumbra, com um giroflex de viatura policial (q ficou intacto durante a apresentação) dando o tom. Acaba o som – q é meio um hip hop pancadão – os 4 estão tapando os olhos. Brilhante.
Nada de “boa noite” ou “e aí?”: mandaram “Nada de Novo no Front”, em cima da pinta do massacre Israel – Palestina. Desnecessário legenda. Daí “A Cidade Não Pára” e “Nada Pode Nos Deter”, de retórica puramente Inocentes, tomaram forma.
Clemente só foi dar uma saudação antes de explicar “Lisa”, q já era sobre empoderamento feminino há tempos. E dedicar a amiga antiga presente. E dizer q não gostava de ficar explicando letras. Não precisa.
E pra quem conhece a banda, reitero: desnecessário. Baita letrista e cronista urbano, Clemente e a banda desfilaram repertório de todas as fases da banda – com exceção de “Estilhaços” (1992) – sendo plenamente compreendidos.
E passou de uma hora e meia o show. Tipo futebol com acréscimos, os caras não querendo sair. Pq pegaram o embalo no decorrer.
Clemente estava rouco, mas aos poucos “esquentou”. Continua não muito brilhante nos comentários e brincadeiras, mas q q tem?
A banda demonstrou o entrosamento de décadas, e gana. Destaco o baterista Nonô, meio “retão” pro meu gosto, mas preciso e sem esmorecer. Acho q por ele e Clemente, estavam tocando até agora.
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Ronaldo, q tinha visto mês passado no RoqueReverso, cantou “Eu Vou Ouvir Ramones” e ainda “Desequilíbrio”, quando Clemente desceu e entrou no meio da roda no público TOCANDO GUITARRA.
Esse foi o (alto) nível. Platéia envelhecida, muita criança (içadas ao palco quase no fim) presente – coisa q só o Sesc proporciona – som excelente e banda competente. Zero formulaicos ou burocráticos: como não curtir?
Problema técnico q estragou um pouco – e não a ponto de Clemente nos pedir desculpas – foram uns maus contatos no baixo, resolvido quando roadie trocou o tal cabeçote.
Teve brado pró-Palestina, teve “Pátria Amada” e “Pânico em SP”, “A Face de Deus” continua herética e recomendo conferir vídeos (só achei 2, segue um) no YouTube. Foi um puta show, a pretexto de lançarem um single novo (tocado) (e não disponível no merchan…), “Queima!”, mas foi bem mais q isso.
Inocentes é do tamanho do RatosdePorão, só q ficou do tamanho da metrópole, provinciana e imensa a um só tempo. Contradições…
no set-list abaixo destaco sons pra quem quiser conhecer melhor e fazer uma playlist
Set-list: 1. “Fechem os Olhos dos Jornais” 2. “Nada de Novo no Front” 3. “A Cidade Não Pára” 4. “Nada Pode Nos Deter” 5. “Lisa” 6. “Rotina” 7. “Expresso Oriente” 8. “Garotos do Subúrbio” 9. “Ele Disse Não” 10. “A Face de Deus” 11. “Eu Vou Ouvir Ramones” 12. “São Paulo” (365) 13. “Aprendi a Odiar” 14. “Medo de Morrer” 15. “4 Segundos” 16. “Underground” 17. “MisériaeFome” 18. “Nem Tudo Volta” 19. “Restos de Nada” (RestosdeNada) 20. “Desequilíbrio” (Restos de Nada) 21. “Escombros” 22. “Queima!” 23. “Cala a Boca” 24. “Pátria Amada” 25. “Pânico em SP” – bis: 26. “Quanto Vale a Liberdade?” (Cólera) 27. “Blitzkrieg Bop” (Ramones) 28. “I Fought the Law” (TheBobbyFullerFour/TheClash) 29. “Franzino Costela” (SexNoise)
Comentários de Bobby Blitz sobre os Ramones e sobre a versão pra “I’m Against It”, coverizada em “Coverkill” (1999):
“Being from N.Y. you have a special attachment to theRamones. We think they’re ours, and they are. We didn’t own the original master of this recording, so we transfered it from a 10 years old, shitty console copy… makes no never mind. It was resolved in 88, with the ‘Under the Influence’ lineup. Remember getting ready to take the stage at the Ritz for the first time as a headliner, and we got a special introduction.
This guy walks on stage; ripped jeans, shadles, leather and say in a very low voice: ‘Uh, these guys are called Overkill‘. It was JoeyRamone. The most memorable intro off DD + my career… Hey-Ho, Let’s Go!!!”
Não tinha como dar errado, desde o nome da banda: um RamonesCoverOficial, nada de MarkyRamoneAndtheIntruders (q tinha elepê novo, 2023, na lojinha de merchan). E foi foda: Ramones é gabba gabba hey e amor no coração peludo.
Mas não foi memorável. Fatores periféricos e capitais a seguir.
Q tal chegar a um Carioca Club estrumbado de gente entrando de filas de ambos os lados do recinto e ficar sabendo de shows de abertura não avisados?
Tampouco solicitados. E foram QUATRO, q mesmo breves e bons (alguns) tvz eu não assistisse, deixasse pra entrar mais tarde, sei lá. Não tenho mais idade pra não cogitar preservar minha lombar, os joelhos e as panturrilhas.
(não houve onde nem como sentar)
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Entrando no recinto, uma molecada de franquia de escola de música hipster fazendo show. Audição de fim de ano. Cheio de pai e mãe por ali curtindo (sumiram correndo quando os shows de verdade aconteceram) e uma coisa q achei anticlimática: covers de “Burn” e GreenDay certinhas (tocaram Raimundos tb… bah), mas q teriam melhor lugar e ocasião num boteco.
Ou num evento de dia das crianças q estava previsto acontecer no próprio 12 de outubro. Com presença do Blizkrieg, daí remarcado pra ali. Galera curtiu, pq afinal tem banda pior por aí. Mas acho q parte dos tiozões curtiu tb por conta da vocalista teen usando calça de couro apertada. Pedofilia estrutural enrustida.
Mas se serviu pra batizar a molecada, q não façam mais shows sem aviso assim. Poderia ter dado ruim.
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Pouco depois entra o Apneia (ou Apnéia), projeto paralelo meio stoner meio Soundgarden meio Helmet meio Kyuss do Boka (RatosdePorão). Q me passou impressão de trampo sério, e do mesmo estar tentando coisa fora dum “moldeRDP“. E q não foi hostilizado, nem ruim. Mas eu queira ver Ramones.
Dai surge um tal RoqueReverso (foto acima), capitaneado por Johnny Monster (daquela banda R.I.P. Monsters com Gastão Moreira, de outros tempos) e ladeado por Ronaldo Passos (pilar guitarrístico do Inocentes)… fazendo coverspunk. Punk raiz gringo.
E uma puta banda, de verdade, com um puta baterista (não guardei nome), à TheDamned. Tocaram TheClash, Buzzcocks, StiffLittleFingers (salvo engano), DeadKennedys (com um punk velho cantando) e fecharam com DeadBoys.
Agradaram pq tocaram muito. Tocarem sozinhos ou noutro evento, vou de boníssima. Tocaram uma autoral pra filmar videoclipe e anunciaram turnê europeia pra 2024. Tocaram “Eu Vou Ouvir Ramones” com Ronaldo e galera cantando junto, e era isso. Porra.
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Mas aí ainda entrou o SuplaeosPunksdeBoutique. Porra de novo. E o mais doido? Um puta show. Faz de novo, no Sesc (teve na Virada Cultural, não fui), e eu pago pra ver. Sem ranços.
O cara é um meme ambulante. Um ridículo. Mas acredita de verdade no q faz, e olha na cara de quem achou ruim e mostra o dedo do meio. Durante a música. E isso é admirável. E fizeram set emendando sons uns nos outros, tvz pra coibir hostilidade. Q não veio.
Politicamente correto? Subiu com duas gostosas de lingerie e couro fingindo se lamber e fazer sexo lésbico. Tocou músicas novas, músicas velhas (não teve “Japa Girl” nem “Encoleirado”), medley do Tokyo (aquelas duas) e a ironia suprema:
Eu. Vivi. Pra. Ver. Supla. Tocar. BillyIdol. Tocaram “Dancing With Myself”. Numa versão noise bagaceira. E fiquei rachando de rir. Sozinho, acho. Mas é pq eu queria ouvir Ramones.
Baita show o do Supla. Em qualquer lugar solicitado, pode ser ainda melhor. Prestes a fazer 40 anos de carreira, posso atestar q ele finalmente venceu. Pelo cansaço.
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E aí veio Marc Bell, MarkyRamone pessoa ramonística. O peruquento. E mandaram 35 sons em pouco mais de uma hora. E aí problemas capitais aconteceram:
João Gordo entrou logo no 2⁰ som. Pra cantar “Havana Affair” (esqueceu a letra) e “Commando” (ficou foda, a banda até assustou); voltou depois pra backing em “Surfin’ Bird”, e não comprometeu.
O show foi repleto de lados B, o q gosto por convicção e birra. Sons q os próprios Ramones não tocariam, e se o fizeram foi uma vez (ou na época) e descartaram. “I Don’t Care”, “Tomorrow She Goes Away”, “She’s A Sensation”, “You Sound Like You Sick” (foda!), “I Wanna Be Your Boyfriend”, “Anxiety” (q é do Marky), “Oh Oh I Love Her So” e etc. Ponto alto achei “I Just Want Have Something to Do”.
Tocaram Motörhead (a ode aos Ramones) quase no final e o bis foi apoteótico, com “What A Wonderful World” (do Joey, ninguém ligou. Mesmo) e a protocolar “Blitzkrieg Bop”.
O vocalista foi o maior destaque: não imitou maneirismos nem os yeah de Joey (aliás, guitarrista e baixista tb não em relação a Johnny e DeeDee), mas tinha hora q eu fechava o olho e era JoeyRamone. Impressionante.
Não tocaram “Psycho Therapy” (e nem liguei) nem “Do You Remember Rock’n’Roll Radio?”, q pra mim teria sido legal, como ainda a faltante “I Believe In Miracles”. Mas não ouso reclamar.
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Apenas atestar q Marky atravessou tempos, rateou andamentos e fez viradas desnecessárias e erradas. Muitas. Pouca gente ligou, e faz parte.
Sujeito estava claramente cansado. Turnê insana, com muita data e um ir e vir do Paraná (teve show surpresa no bar do Jão na quinta 12) em poucos dias.
Se não por isso, penso ser natural um sujeito de 71 anos já estar com outro timing. Meio aquilo da cabeça pensar e o corpo não responder de acordo.
Assisti a tudo acompanhado do OsRockets, banda cover ramônica de Santos (q tem o guitarrista do Vulcano, Gerson Fajardo, na trupe), nos divertimos, berramos junto e eu cravei ao final q possivelmente não veremos mais MarkyRamone. Ou não mais se fizer uma turnê desvairada, nessas condições.
O homem é uma lenda, um sobrevivente. Sobreviveu a Joey, DeeDee e Johnny Ramone e merece mais respeito. Foi foda, mas não foi memorável.
Por tudo isso dito acima.
Setlist: Rock’n’Roll High School ° Havana Affair ° Commando ° Teenage Lobotomy ° Beat On the Brat ° I Don’t Care ° Sheena Is a Punk Rocker ° Now I Wanna Sniff Some Glue ° We’re A Happy Family ° You’re Sound Like You Sick ° Rockaway Beach ° Gimme Gimme Shock Treatment ° Let’s Dance ° Surfin’ Bird ° Judy Is A Punk ° I Wanna Be Your Boyfriend ° She’s A Sensation ° The KKK Took My Baby Away ° Pet Sematary ° I Wanna Be Sedated ° Oh Oh I Love Her So ° California Sun ° I Don’t Walk Around With You ° Pinhead ° Cretin Hop ° Tomorrow She Goes Away ° I Just Want Have Something to Do ° (Sitting In My Room ou Chainsaw) ° She’s the One ° Listen to My Heart ° Anxiety ° R.A.M.O.N.E.S. ° [bis] You’re Gonna Kill that Girl ° What A Wonderful World ° Blitzkrieg Bop
Imagine compor uma playlist ramônica diferente. Um som subestimado e foda de cada disco, excetuado os ao vivo*.
Pra mim:
“Ramones” – “I Don’t Wanna Go Down to the Basement” “Leave Home” – “You’re Gonna Kill That Girl” “Rocket to Russia” – “Here Today, Gone Tomorrow” “Road to Ruin” – “I Just Want to Have Something To Do”
“End Of the Century” – “Let’s Go” “Pleasant Dreams” – “You Sound Like You Sick” “Subterranean Jungle” – “Roots Of Hatred” [faixa-bônus] “Too Tought to Die” – “I’m Not Afraid Of Life”
“Animal Boy” – “Something to Believe In” “Halfway to Sanity” – “Garden Of Serenity” “Brain Drain” – “Zero Zero UFO” (ou “All Screwed Up”) “Mondo Bizarro” – “Cabbies On Crack”
“Acid Eaters” – “When I Was Young” “Adiós Amigos!” – “Got A Lot to Say”