Resenhar isto é complicado. Replicantes é banda q ouvi demais nos meus 13, 14 anos. Assisti demais o vhs “Replicantes em Vórtex”, gravado de exibição da tv Gazeta. Tenho ainda os lps “Histórias de Sexo e Violência” (1987) e “Papel de Mau” (89) e fui juntando cá e acolá os outros discos.
Os Replicantes ñ são mais os mesmos: Wander Wildner (q saiu, voltou e saiu de novo) e Carlos Gerbase (virou cineasta. Recomendo “Tolerância”) estão fora há tempos. Mas jamais pararam, sempre aliando amadorismo e algum holofote. Lançamentos razoáveis e sofríveis, q pouco abalaram minha memória afetiva.
Vieram pra cá sexta pra comemorar 35 anos de banda; 35 dos irmãos Cláudio e Heron Heinz, guitarrista e baixista fundadores, 13 da vocalista “nova” Júlia Barth, e pelo menos 28 do baterista Cléber Andrade. Desde o início do ano via pelo Instagram q viriam. E fui. E valeu demais.
Pra quem ñ curte, ñ adianta tentar convencer: banda é tosca e até hoje ñ aprenderam a tocar. Os solos de guitarra pouco saem da mesma corda. Acho o máximo Heron ainda ñ conseguir tocar sem olhar pro baixo e fazer os backings mais atonais ahahah
Ao mesmo tempo, os 2 discos recentes com Júlia, “Replicantes 2010” (2010) e o novo “Libertà” (2018 – devidamente adquirido na lojinha), revigoraram a banda. Com bandeiras feministas e atualizadas, mais foco e menos zoeira.
E o show foi um arregaço de 24 sons, de todas as fases, excluídos sons dos discos piores, “Andróides Sonham Com Guitarras Elétricas” e “Replicantes Em Teste” e privilegiando músicas do novo (foram 4, as executadas com mais tesão) e dos 2 primeiros.
Tinha monte de tiozão na plateia (incluindo um punk de moicano old school), mas tb muita criança, a ponto de Júlia antes de começarem pedir pra se tomar cuidado com elas. Mas o clima era amistoso: rodas poucas e breves (a lombar do pessoal certamente indeferiu), stage dive nenhum. O máximo de treta q vi foi sujeito afanar cerveja dum outro na roda. Estava todo mundo ali curtindo, como um show punk deve ser.
Alguns protestos antifascistas tb compareceram; na plateia e via Júlia. Q cresce ao vivo, bem melhor q em disco. Todo modo, sons do disco novo e vários dos antigos (“Chernobil”, “Censor” e “A Verdadeira Corrida Espacial”) cumpriram seus papéis.
Melhores momentos, catárticos, pra mim: “Festa Punk”, “Hippie-Punk-Rajneesh” (a melhor versão q já ouvi do som), “Chernobil”, “Nicotina” e “Mentira”, todas antigas, e a última com um rearranjo bacana do baterista.
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A namorada foi tb, pra curtir e conhecer. Já tinha me acompanhado no Krisiun, no Mutilator e no The Mist, nesse mesmo Sesc. Disse q ficou com o ouvido apitando no fim, o q estranhei: há muito tempo meu ouvido ñ apita mais.
Ainda ñ sei se isso é bom.
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Set-list: 1. “Libertà” 2. “O Futuro É Vórtex” 3. “Ele Quer Ser Punk” 4. “Punk de Boutique” 5. “Sandina” 6. “Bergamotas” 7. “Só Mais Uma Chance (Pin-Up)” 8. “Motel Da Esquina” 9. “Censor” 10. “Surfista Calhorda” 11. “Tramandaí no Verão” (versão pra ‘Califórnia Sun’, emprestada dos conterrâneos Sangue Sujo) 12. “Não Me Leve a Mal” 13. “Nicotina” 14. “One Player” 15. “Feminicídio” 16. “Chernobil” 17. “Boy do Subterrâneo” 18. “Maria Lacerda” 19. “Hippie-Punk-Rajneesh” 20. “Go Ahead” 21. “Festa Punk” [bis] 22. “Mentira” 23. “O Princípio do Nada” 24. “A Verdadeira Corrida Espacial”