Q é o q eu dizia num comentário por aqui outro dia: o Crypta não é “metal nacional” (apesar do DNA Fernanda q o André sacou), nem uma “banda feminina”: é uma banda de death/thrash rodando o mundo e construindo um legado. Inspirando a mulherada.
Acho q na República Tcheca vi Jéssica abraçando uma menina, criança mesmo, pegando no colo em final de show. Tvz as pessoas q estão indo aos shows não estejam (só) se identificando com as letras da vocalista e seus perrengues instagramáveis.
Torço de verdade pra q a Fernanda perceba isso e saia do pedestal um pouco.
E pau no cu de quem derrubou o YouTube do Jessiê. Minha solidariedade e empatia. Poucas situações podem ser piores do q ver um trabalho dedicado ir pro brejo por causa de filho da puta.
Papinho de q participei com meu inglês tabajara numa página facebúquica gringa sobre o Crypta.
Às vezes a fofoca e as birras rompem fronteiras e línguas.
Meu aparte, com a história da geladeira, q é worldwide.
Independente da minha birra com a Fernanda (curto o Crypta apesar dela), da dos metaleiros bolsonoias e de algum tímido (não são da panela) hype da “imprensa” daqui, estão ganhando fãs e conquistando espaço lá fora merecidamente.
Sem tentar pagar de “novo Sepultura“, até pq isso nunca existiu, e sem essa punheta insuportável de “Brasil lá fora”, metal nacional, “nos representando”. Q bom.
Feriado aqui na cidade – 470 anos de São Paulo – e como não aproveitar um show de graça do Crypta?
Assim fui, e o q aconteceu pode ser resumido neste e no próximo parágrafo: uma hora de músicas perfeitamente ensaiadas (mulherada voando) em q tocaram quase todo o “ShadesOfSorrow” pra um público absolutamente receptivo, repleto de periferic@s, meninas e pardos. População rara nos shows.
Ao mesmo tempo, o som estava uma bosta. Começou ruim, melhorou um tiquinho ao longo. A gente ali no público cansou de gritar q estava ruim, pra q melhorassem. Mas não aconteceu: só se ouvia a guitarra da Tayná, os bumbos e a caixa (quando não em levadas blast) da Luana e um pouco do vocal. Quase cochichado. Zero baixo, zero Jéssica, uma lástima.
E era visível q elas se ouviam. Hipóteses deste q vos bloga bosta? Incompetência do técnico de som ou sabotagem, o q a mim ganhou mais vulto quando o guitarrista da KarinaBuhr, q não é metal e tocou depois, estava em volume mais alto e com mais peso q Jéssica e Tayná. Pra q isso, kralho?
Independente de tudo isso, minha ênfase por aqui desta vez será em tratar do PÚBLICO, a verdadeira atração, o show pra valer q durou enquanto o Crypta tocava. Antes, um pouco de birra com justificativa:
Fernanda Lira é a dona da lojinha, sabemos. Mas acho o ponto fraco, tecnicamente, e muito fora da casinha. Exemplificando:
numa hora agradeceu a quem estava presente, disse estar achando foda (ou algo assim) e perguntou quem ali estava vendo o Crypta pela 1ª vez. Uns 80% levantaram a mão, no q ela emendou um discurso – interessante – de ser válido tocar na periferia assim, pra quem não consegue assistir show e emendou o quanto elas – ops – vêm brigando pra isso acontecer cada vez mais. No q os aplausos me soaram mistos, metade aprovando, metade soando como um “aham”
noutro momento equivocado, disse estar achando o máximo o monte de gente na frente cantando as letras – quê? – e se identificando – sério mesmo? – com as mesmas, sendo q são letras de um ano difícil q ela teve… A mina se acha e acredita de verdade q quem estava ali estava pela identificação com as letras.
Tá certo. Prova adicional contrária: não vi ninguém cantando nada. Não dá pra cantar as letras delas (ênfase: DELAS), mas cantar alguns dos riffs dos sons novos – “Lullaby For the Forsaken” e “Lord Of Ruins” – rolou demais. Menos, dona Fernanda.
Fazer zoinho virado e cara de pomba gira não falta. Assim como o ventilador no rosto. Falta noção e pé no chão – volto a isso no item 8, abaixo.
Falo do público agora. Molecada sub 18. Q me impressionou e emocionou. Antropologia em profusão:
maioria estava no 1⁰ show do Crypta (pq de graça)
pessoal nem soube q o som estava ruim
ninguém senta no chão
ninguém tirando selfie; pedindo pra alguém tirar foto. Tirei fotos duns 2 grupos, a pedido. Experiência coletiva de música
meninas adolescentes comprando merchan como quem compra algo raro (e caro – cds a 50 lulas, camisetas a 90). Representatividade
mocinha exultante de ter conseguido palhetas da Jéssica (puseram num stories da banda no Instagram)
maquiagens indecisas entre o corpsepaint, o punk e o gótico. Molecada tentando se situar e ser metaleira
Jéssica Smurfette From Hell descendo do palco pra tirar selfie, dar setlist de presente (tirei foto pra mim), sorrir e dar palhetas às gurias q estavam na grade
ninguém assediando as garotas
prancha de bodyboarding: por q ninguém nunca pensou nisso antes
E esse público foi o q fez o show, a mim insuficiente, valer a pena. Pessoal podia estar num culto, num funk na quebrada, indiferente ao rock ou ao metal ou lambendo o Shamangra em rede social, mas estava lá. Ocupando o lugar de fala q não é o meu, nem os lugares de falha da moça do Pix.
Apoiando e coadjuvando uma banda de verdade. Inclusive no comprar merchan. Jéssica (mais ao fim) e Tayná interagiram com o pessoal nalguns momentos (Tayná espantada com o crowdsurfing), Luana dava risadas lá detrás; Fernanda, mais ocupada com outras coisas, tvz tenha olhado o público um pouco. E acho de verdade q muita menina ali saiu do rolê decidida a tocar guitarra e montar uma banda.
Tomara q não demore a acontecer.
Set-list: 1. “The Other Side Of Anger” 2. “Kali” 3. “Poisonous Apathy” 4. “Lift the Blindfold” 5. “The Outsider” 6. “Lullaby For the Forsaken” 7. “Stronghold” 8. “The Limbo” (em backtrack) 9. “Trial Of Traitors” 10. “Under the Black Wings” 11. “Lord Of Ruins” 12. “From the Ashes”
Meu 3⁰ show dos caras em menos de 6 meses, os 3 em Sescs diferentes, e ao mesmo tempo um pouco parecidos. Sim e não.
Desta vez, fui com a namorada e com o olhar pro público – como o Leo apontou outra vez – diferente: é uma banda de pretos q atrai pretos, periféricos, LGBTQA+ (mudou a sigla de novo?) (muita menina lésbica no rolê) e molecada q ñ se vê em show de Shamangra ou mesmo Krisiun, Crypta e RatosdePorão.
Ñ pq os 3 últimos citados sejam sectários: daí entra o fator identificação, com a cor e com a idade. E com o discurso, repleto dum lugardefala q mesmo os brancos simpatizantes ñ conseguem ter mais. (Alguém mais soube de Fernanda Torres verbalizando isso?). Ñ depois dos RacionaisMC’s, “SobrevivendoNoInferno” e o honoriscausa a eles (Racionais) consagrado recentemente pela Unicamp.
Tiozinhos fãs de newmetal tb tinha. Um chegou a me cumprimentar pela semelhança com o vocal do SystemOfADown ahahah
Ñ acho ruim. Mesmo. Mas passo ao show: uma hora e meia de repertório bem parecido com os do ano passado: “Padrão é o Caralho”, “Fogo nos Racistas”, “Moshá”, o cover de ElzaSoares com citação de “Negro Drama”… Só q tocados com ainda mais pegada e raiva. É nítido q a “estrada” está fazendo bem pra eles.
Rolou a roda só com as mulheres (e dessa vez Debora ñ foi…), o pula-pula catártico em “Fogo Nos Racistas”, o discurso bem humorado do baixista Chaene – q repetiu grato estarem vivendo de banda, e agora com endorsee de Tagima e Nagano – o baterista Pancho vir saudar amigos e aquele clima goodvibe, ñ forçado e q ñ aliena o discurso.
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Rolaram sons novos do ep em inglês, o vocalista/guitarrista Charles dando um mosh na platéia tocando guitarra e os três, antes e depois do show virem trocar idéia, tirar selfie, vender merchan.
O q uma banda do tamanho, da responsabilidade e do potencial pra crescer ainda mais, TEM Q fazer.
Curti. Debora tb, e agora é esperar disco novo (prometido pra 2024) e outros shows. Cada dia mais sujo e agressivo é o RatosdePorão, o próprio JG fala isso toda vez; mas o BlackPantera vejo cada dia mais agressivo e representativo.
E isso, fora inédito pra nossos padrões do caralho, é bom. Q venham outras bandas sintônicas pra tocarem junto. Q o metal feito no Brasil deixe de ser “metal nacional” e passe a ser mais plural e inclusivo.
Aninho xumbrega em se tratando de lançamentos, mas potente no q diz respeito a shows (dureza escolher 10 entre os 33 q fui). Segue o jogo:
MELHORES DISCOS DE 2023:
“ShadesOfSorrow“, Crypta
“ChaosHorrific“, CannibalCorpse
“UnhealthyMechanisms“, GoAheadAndDie
“Phantomime“, Ghost
“LiveAtMontreuxJazzFestival ‘06″, Motörhead
“MörgothTales“, Voïvod
“Atenciosamente, Eskröta“, Eskröta
“BestialDevastation“, Cavalera
“MorbidVisions“, Cavalera
“I Inside the Old Year Dying”, PJ Harvey [pra inteirar 10]
MELHORES DISCOS COMPRADOS EM 2023, MAS DESOVADOS NOUTRAS SAFRAS:
“Isentön Päunokü”, Ratos de Porão
“Rammstein”, Rammstein
“Ruas”, Inocentes
“Slaves Mass”, Hermeto Pascoal
“Anacrônico”, Pitty
“Cold Lake”, Celtic Frost
“Blood Mountain”, Mastodon
“18”, Jeff Beck And Johnny Depp
“Stripped”, Rolling Stones
“The Best Of Sublime – The Millennium Collection”, Sublime
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PIORES DISCOS OBTIDOS EM 2023, LANÇADOS NOUTROS ANOS OU EM 2023:
“The Doom Generation”, trilha sonora
“Gone With the Wind”, trilha sonora
“Bye Bye Beauté”, Coralie Clément
“Closer”, David Sanborn
“SLA² – Be Sample”, Fernanda Abreu
“At War With the Mystics”, The Flaming Lips
“Homebrew”, Neneh Cherry
“Brochas From Hell”, Crotch Rot*
“Rendez Vous!”, Crotch Rot/Shitfun [split]*
“Christophobia”, Arame*
*discos q ganhei. Dolos culposos
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MELHORES POUCOS LIVROS LIDOS ESTE ANO E Q OUSO RECOMENDAR:
“João Gordo: Viva la Vida Tosca”, André Barcinski
“Open Up And Bleed: A Vida e a Música de Iggy Pop”, Paul Trynks
“Dance Dance Dance”, Haruki Murakami [lendo no momento]
“As Intermitências da Morte”, José Saramago [não consegui ir até o final]
Pouca leitura, admito. Celular e redes sociais me ferrando.
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MELHORES SHOWS – RANKING PRA VALER:
Voïvod
Vulcano
Ratos de Porão [Virada Cultural]
Patife Band
The Troops Of Doom
Garotos Podres [Sesc Belenzinho]
Black Pantera [Sesc Bom Retiro]
Marky Ramone’s Blitzkrieg
L7
Supla e os Punks de Butique [abertura Marky Ramone’s Blitzkrieg]
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PROFECIAS PRA 2024:
Shows gratuitos de Eric Martin e Jeff Scott Soto em bar de roqueiros de sapatênis. Pelo menos 1 show de Ripper Owens, tvz com Blaze Bayley dividindo a noite. Rock in Rio com Red Hot Chili Peppers e Sepultura. Korzus fazendo show no Summer Breeze e só mais um no ano, abrindo pra alguém. Pq ninguém é de ferro. Angraverso não perdendo espaço, pq coisa minimamente melhor no segmento continuará sem aparecer. Bandas punk velhas e sem público fora fazendo shows hypados. Megadeth fiascando em show aqui, pós-Tesouro.
Admito: fui pra achar ruim. Pra falar mal. Por curiosidade antropológica de conferir quem seria o público do Vulcano em 2023, e consequente contraste com o público do BlackPantera, q assisti no início de setembro. E pq a 12 reais, até show ruim.
(mas nunca show do Korzus nem do Shamangra, q a 12 centavos eu pediria troco)
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Faltando meia hora pro início, parecia vazio. Não me dei conta da galera do lado de fora enchendo a cara no bar ao lado (cultura headbanger raiz?). Repleto de veteranos por ali, tvz eu fosse dos mais novos. Banda mais nova em camiseta era o Slayer ahahah Não: apareceu um banger com TroopsOfDoom, outro com camisa do Crypta. E um metaleiro tiktoker (famoso pra bolha dele) ali deslocado, mais pra ser visto do q pra estar lá.
Ninguém de sites ou revista oficiais. Por q não havia credenciamento? Tanto faz. Acabou enchendo.
Bem mais q Eskröta e TheMist recentes; menos q Crypta, Krisiun e DorsalAtlântica. E mais, comparando, q BlackPantera. Pq outro público mesmo. Exemplo: mulherada presente, aquelas tiazonas com cinto de bala e provavelmente iniciadas no metal com DoroPeste e LeatherLeone.
Todo mundo começa no metal com quem quiser, permanecer parada no tempo tb é opção. Mas ninguém fuleirão, no final. Só gente mais velha mesmo, das q tem pouco rolê pra ir.
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E o Vulcano veio bem a caráter, nesse sentido: bateria de 2 bumbos vintage, zero backdrop no palco, tampouco som de introdução. Entraram no palco juntos, afinaram um pouco as guitarras, baterista fez contagem no chimbau e mandaram pau.
E foi um puta show. Uma hora e meia à moda antiga. Nenhum som emendado no outro, sempre uma pausa pro vocal contextualizar, falar umas gírias tchaptchura, e tudo bem assim.
O som estava impressionante tb. Oldschool demais: tudo ALTO e audível. Técnico de som deles mesmos, soube aproveitar o equipamento. Há muito tempo não saía surdo – há anos meu ouvido já não apita, aliás – dum show.
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E o maior destaque achei a participação do ex-vocalista, Angel. Q era previsto cantar uns 3 ou 4 sons e ficou mais. Vi true chorando ali na pista, de verdade.
E com razão. Continuou dividindo os vocais com o “novo” em outros sons, de boa. Ora o microfone ia pra platéia, tb de boa. Ora levavam pro técnico de som entoar refrão. Foda.
E a presença desse Angel achei quase sobrenatural: poderia ter sido um encosto invocado pelo GangrenaGasosa e teve mais voz e presença de palco aos 60 anos (a comemorar no dia seguinte) q o vocalista titular. Q não é ruim.
Melhor som, disparado? “Death Metal”. Hipnótica.
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Meu ponto é o seguinte: tecnicamente são toscos. Mas aperfeiçoados na tosqueira. Teve hora com uma “atravessada”, mas demonstraram ser banda entrosada e ensaiada. Tvz pq tocaram no SetembroNegro outro dia tb, mas não aparentaram ser banda q ensaia só quando arrumam show. E tá cheio de banda assim. Ponto pra eles.
Outra coisa: são underground de verdade e por vocação. Sem mimimi, falar de “cena”, de “dificuldade”. E na beirada pro amador ruim, o q não são. Não soam paródia. As músicas em Português não soaram constrangedoras, muito pelo contrário. Tampouco o público presente.
Meio q todos ali vindos dum outro tempo, sem nostalgias tóxicas ou apologias demagógicas. Apenas um bando de gente, banda e público, irmanados pelo metal. Chupa, Manowar. Todo mundo voltou à realidade logo após, e faz parte.
Como tvz um dia o metal brasuca imaginariamente tenha sido. Como um show de metal brasileiro tem q ser. Deram aula.
Até q eu encare algo do mesmo nível, ou superior, este ano, o melhor show nacional de 2023. Mais até q o RatosdePorão na Virada Cultural. Pelo som, pela coerência. Por me calarem a boca. Pelo todo.
Qualquer Maiden, dentre todos os ex vivos ou se arrastando. Há mercado.
Pra ser justo, parece uma nova perna (varizenta?) duma turnê já ocorrida em abril, e q teria rolado em 2020, não fosse uma tal pandemia.
Gente ilustre do metal nacional e integrantes de banda cover servindo de lastro. Vi algum post há pouco especulando turnê conjunta Stratton e Di’Anno.
Clickbait pra Steve Harris nenhum botar defeito.
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PS – enquanto isso, lição de assessoria de imprensa: alguém aqui hoje não viu Nicko McBrain relatando ter sofrido um avc em JANEIRO, daí ter se recuperado e estando pronto pra mais uma perna (descalça) de turnê retrô? Bravo!
Cito pq achei ruim o Crypta fazer turnê com baterista reserva (q deve ter ensaiado algum tempo com elas antes), só esclarecendo q se tratava duma sub no fim da perna (depilada?) de turnê e sem nenhum esclarecimento sobre motivos de Luana não tê-la feito.