VULCANO
Sesc Belenzinho, 29.09.23
Admito: fui pra achar ruim. Pra falar mal. Por curiosidade antropológica de conferir quem seria o público do Vulcano em 2023, e consequente contraste com o público do Black Pantera, q assisti no início de setembro. E pq a 12 reais, até show ruim.
(mas nunca show do Korzus nem do Shamangra, q a 12 centavos eu pediria troco)
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Faltando meia hora pro início, parecia vazio. Não me dei conta da galera do lado de fora enchendo a cara no bar ao lado (cultura headbanger raiz?). Repleto de veteranos por ali, tvz eu fosse dos mais novos. Banda mais nova em camiseta era o Slayer ahahah Não: apareceu um banger com Troops Of Doom, outro com camisa do Crypta. E um metaleiro tiktoker (famoso pra bolha dele) ali deslocado, mais pra ser visto do q pra estar lá.
Ninguém de sites ou revista oficiais. Por q não havia credenciamento? Tanto faz. Acabou enchendo.
Bem mais q Eskröta e The Mist recentes; menos q Crypta, Krisiun e Dorsal Atlântica. E mais, comparando, q Black Pantera. Pq outro público mesmo. Exemplo: mulherada presente, aquelas tiazonas com cinto de bala e provavelmente iniciadas no metal com Doro Peste e Leather Leone.
Todo mundo começa no metal com quem quiser, permanecer parada no tempo tb é opção. Mas ninguém fuleirão, no final. Só gente mais velha mesmo, das q tem pouco rolê pra ir.
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E o Vulcano veio bem a caráter, nesse sentido: bateria de 2 bumbos vintage, zero backdrop no palco, tampouco som de introdução. Entraram no palco juntos, afinaram um pouco as guitarras, baterista fez contagem no chimbau e mandaram pau.
E foi um puta show. Uma hora e meia à moda antiga. Nenhum som emendado no outro, sempre uma pausa pro vocal contextualizar, falar umas gírias tchaptchura, e tudo bem assim.
O som estava impressionante tb. Old school demais: tudo ALTO e audível. Técnico de som deles mesmos, soube aproveitar o equipamento. Há muito tempo não saía surdo – há anos meu ouvido já não apita, aliás – dum show.
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E o maior destaque achei a participação do ex-vocalista, Angel. Q era previsto cantar uns 3 ou 4 sons e ficou mais. Vi true chorando ali na pista, de verdade.
E com razão. Continuou dividindo os vocais com o “novo” em outros sons, de boa. Ora o microfone ia pra platéia, tb de boa. Ora levavam pro técnico de som entoar refrão. Foda.
E a presença desse Angel achei quase sobrenatural: poderia ter sido um encosto invocado pelo Gangrena Gasosa e teve mais voz e presença de palco aos 60 anos (a comemorar no dia seguinte) q o vocalista titular. Q não é ruim.
Melhor som, disparado? “Death Metal”. Hipnótica.
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Meu ponto é o seguinte: tecnicamente são toscos. Mas aperfeiçoados na tosqueira. Teve hora com uma “atravessada”, mas demonstraram ser banda entrosada e ensaiada. Tvz pq tocaram no Setembro Negro outro dia tb, mas não aparentaram ser banda q ensaia só quando arrumam show. E tá cheio de banda assim. Ponto pra eles.
Outra coisa: são underground de verdade e por vocação. Sem mimimi, falar de “cena”, de “dificuldade”. E na beirada pro amador ruim, o q não são. Não soam paródia. As músicas em Português não soaram constrangedoras, muito pelo contrário. Tampouco o público presente.
Meio q todos ali vindos dum outro tempo, sem nostalgias tóxicas ou apologias demagógicas. Apenas um bando de gente, banda e público, irmanados pelo metal. Chupa, Manowar. Todo mundo voltou à realidade logo após, e faz parte.
Como tvz um dia o metal brasuca imaginariamente tenha sido. Como um show de metal brasileiro tem q ser. Deram aula.
Até q eu encare algo do mesmo nível, ou superior, este ano, o melhor show nacional de 2023. Mais até q o Ratos de Porão na Virada Cultural. Pelo som, pela coerência. Por me calarem a boca. Pelo todo.