O box triplo “Tijolo Na Vidraça” (2001), com hits do anarquista conservador e do Camisa de Vênus acrescentados duns sons inéditos (49 totais), tem encarte com release chapa branca (de Pedro Só) e alguns comentários do próprio, pra alguns sons. Alguns desses irônicos, outros auto-reverentes, alguns poucos surpreendentemente auto-críticos e maduros.
(Nem ele se poupa!) Como o q consta pra “Silvia”:
“Padece do mal da música ‘engraçada’. Depois da décima audição, o que parecia um escracho hilário transforma-se num desconforto entendiante. Antes do advento do rap, era considerada uma canção ‘machista’“.
E como era de se esperar, nos comentários do YouTube, tem corno (claque?) aplaudindo a atitude “anti-sistema”. Puta q pariu.
Trago o assunto desagradável (sem pretensão de encerrá-lo) de novo: cancelar? Deixar pra lá? Passar pano? Macula a obra anterior?
De minha parte, a torcida é q pra ele – e pra tantos outros – em a poeira baixando na pandemia, q venham ostracismo e isolamento. Vão fazer show pra “gente” infectada e aí tvz Darwin assuma a atração principal.
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Ao mesmo tempo, uma pitada histórica:
Sujeito chamado Red Saunders, fotógrafo e co-fundador do Rock Against Racism (meio uma ong?) dando relato de haver iniciado o trabalho… após um show de Eric Clapton. Aquele famoso show setentista, q estava embaixo do tapete da passação de pano até hoje. Valioso.
E esse Bass Research Culture parece algo interessante: algum tipo de projeto cultural q visa resgatar e/ou ressaltar o papel da música jamaicana (NEGRA, portanto) na música britânica. Ñ fui atrás mais, mas lanço a dica.
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Ao mesmo tempo ainda, um artigo q compartilhei no Facebook e q lanço aqui tb, sobre passação de pano pra cima de artista escroto, bolsonóia, anti-vax ou qualquer merda dessas.
Insisto q a discussão ainda me parece pertinente, mas o texto me deu uns parâmetros interessantes. E como creio q “parâmetros” sejam algo em falta atualmente, bora buscá-los.
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Arrematando, bora falar do equivalente pátrio leso, o fiscal de cu baiano recém-assumido anti-isolamento. Faz o q quer, está cagando (provavelmente igual ao presidente q provavelmente elegeu), e “ninguém tem nada a ver com isso”. SQN.
De carreira solo errática/moribunda, eis q voltou com a banda nome-fantasia (só ele e um guitarrista originais) com álbum novo, de bom título. “Agulha No Palheiro”. Do qual ouvi 3 músicas – uma das quais ñ entendi porra nenhuma (“Gegê, Cadê Getúlio?”) – q achei bem tocados e igualmente produzidos. Embora sonoramente fracos e clichê.
A letra acima, “O Anarquista Conservador”, me parece a inversão/regressão completa, metamorfose de irreverente pra doberman do sistema, cartão de visita do cara q, como ele mesmo já disse uma vez, “de Nova só tem o nome”.
Há pelo menos 25 anos, tenho q Marceleza deixou a irreverência (mas era mesmo irreverência?) pra virar fiscal de cu geral. Virou aquele tipo q ele jurava combater. O tipo de intolerante q paga de antisocial, do “respeita minha opinião” e q CAGA pra opinião divergente, alheia, outra.
Ñ vi o vídeo, nem quero, mas aposto q rolou algum termo da moda reaça como “mimimi”, “geração Nutella” e “politicamente correto”.
Ñ acho q tenha quórum ou haja seguidores suficientes pra lamentar. Posso estar errado. Tenho q publicações mais de esquerda estejam forçando um pouco a mão tb. Ñ acho q caiba justificar o fato de “estar ficando velho”. Vi gente passando pano e comentando q o cara sempre foi “anarquista”. Aham.
Quarentena, algum tempo livre, resolvi pegar este aqui
Q comprei em 2017 em Londres. Demoro bastante pra ler em inglês, um pouco mais q o Bostossauro fazendo pronunciamento em português, então vamos lá.
Surpreendente. Sujeito articulado e agregador, com opiniões embasadas. Ñ no sentido punk “foda-se”. Inclusive fala mal dos punks cabeça-fechada desde q foi – ainda em tempos de “Sex Piss-ups” (sic) – em programa de rádio e tomou bronca de Malcolm McLaren por ter tocado Peter Hammill, Captain Beefheart e Can.
Tem tb um linguajar próprio, cheio de trocadilhos e gírias, q fez com q a editora colocasse aviso no início do livro sobre o livro ser uma autobiografia do cara “em suas próprias palavras” (sic), o q faz com q em alguns momentos a ortografia ñ seja correta ahahah
(um dia posto isso na pauta “encartes”)
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Legal o livro tb ñ ficar só nos Pistols. Dura até a página 178 (de 538 totais), mais q o suficiente. Legal tb ñ perder muito tempo com infância e vida pregressa, embora tenha passado poucas e boas. Do tipo ter tido meningite (por contato com mijo de rato) aos 7 anos, o demandou 1 ano de internação hospitalar e gerou dano cognitivo/neurológico de ter esquecido “tudo o q sabia” até então.
Ñ conseguia falar (pensava, saíam sons inarticulados – afasia) e ñ reconhecia nem os pais. Mas os irmãos, sim. Enfim.
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Mas o motivo de eu postar isto aqui, fora pela empolgação (e ñ acabei ainda; estou na p. 276) foi querer destacar umas curiosidades:
Sid Vicious (aliás, nome de batismo John Simon) e John (Jah) Wobble, eméritos baixistas toscos, eram amigos de escola de Lydon
Chrissie Hynde (The Pretenders) era amigona já na adolescência e tentou ensiná-lo a tocar violão, o q recusou por preguiça e por “ser canhoto”
a mãe de Sid era “junkie profissional” e deu de presente ao filhão uma vez um tanto de heroína. E havia suspeitas de q punha drogas na comida do filho
quando do assassinato de Nancy Spungen, foi Mick Jagger quem interveio com advogados, o q me fez pensar numa certa confraria/maçonaria do rock (um dia faço post)
antes dos Sex Pistols nunca teve banda, jamais tinha escrito uma letra de música ou sequer cantado. Grande coisa e tudo a ver, mas caso raro de alguém q parece ter surgido abruptamente. Combustão espontânea
as roupas dos Pistols, desenhadas e costuradas por Vivienne Westwood, demandavam alfinetes pra segurar e pq eram modeladas pra mulher (camisetas baby look e calças pegando no saco) e ela era péssima estilista
ler tudo isso me tem feito pensar no quão deliberadamente Marcelo Nova se inspirou no “personagem” Rotten/Lydon pra se tornar aquele personagem/figura pública (meio “fiscal de cu”) característico
Mas o mais engraçado deixo pro fim: Lemmy tentou ensinar Sid a tocar baixo. Segue o trecho:
(p. 145)
“Off all people, it was Lemmy from Motörhead, amongst others, who tried to teach Sid to play bass. Lemmy was really funny about it; he said, ‘Sid has no aptitude at all, no sense of rhythm, and he’s tone deaf’”
sons: SIMCA CHAMBORD / MÃO CATÓLICA / MORTE AO ANOITECER / DEUS ME DÊ GRANA / OURO DE TOLO [Raul Seixas] / SÓ O FIM / O QUE É QUE EU TENHO DE FAZER? / TUDO OU NADA / A FERRO E FOGO
formação: Marcelo Nova (vocais), Gustavo Müllem (guitarra solo), Karl Franz Hummel (guitarra), Robério Santana (baixo), Aldo Machado (bateria)
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Pequenos fatos significativos se encadeiam e dão sentido a esta vida miserável:
ñ tem nem 8 dias q finalmente comprei nova agulha pro meu toca-discos, o q me vem tirando dum jejum duns 4 a 5 anos sem ouvir maravilhas de meus lp’s que jaziam na estante. E ñ tem 2 dias q encontrei a 5 contos na Galeria o vinil de “Correndo o Risco”, imediatamente posto pra tocar ao chegar em casa.
Pequenos fatos esses q desencadearam ainda outros dois: 1) finalmente poder aposentar a fita cassete, ainda funcional passados 21 ou 22 anos de comprada no Pastorinho (supermercado daqui); 2) pretexto infalível pra resenhá-lo no Exílio Rock.
Sem rodeios: embora eu prefira o derradeiro álbum seguinte, “Duplo Sentido” (o 2º álbum duplo duma banda de rock brasileira), “Correndo o Risco” acho o MELHOR DISCO do Camisa De Vênus. E ñ o digo só pelos hits infalíveis “Simca Chambord”, “Só o Fim” e “Deus Me Dê Grana” constantes. Tb o é pela EVOLUÇÃO da banda por aqui demonstrada.
Pois o Camisa, mesmo tendo sido sempre banda de público cativo e discurso afiado/irreverente, musicalmente deixava sempre a desejar nos álbuns: guitarras chôchas e mal gravadas, fora MAL TIMBRADAS compareceram até o ao vivo anterior, igualmente clássico/memorável, “Viva”. “Correndo o Risco”, gravado sob contrato com a múlti Warner, traz produção melhor, requintada, mais digna.
E aí, dá-lhe guitarras com sons de guitarra (ñ de violãozinho de arame), baixo bem timbrado, vocal (Marcelo Nova em seu auge desbocado) destacado, bateria mais a contento q de antigas gravações com bateria eletrônica destoante. Ñ só isso: convidados surgem a rodo, edulcorando ainda mais a proposta (ao invés de diluí-la). E aí era piano e saxofone em “Simca Chambord”, gaita em “Mão Católica”, guitarrista solo convidado em “Morte Ao Anoitecer”, percussionista e piano em “Só o Fim”, orquestra e côro em “A Ferro e Fogo”.
Em termos estéticos, ainda a mudança prum logotipo mais modernoso e clean, como a citação de Allen Ginsberg na contracapa: qual banda, q ñ o Camisa, conseguiria o feito de fazê-lo sem parecerem entojados?
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No DISCURSO, outra singela diferença, q à época considerei regressiva, hoje tenho como evolução e maturidade: em vez das letras repletas de palavrões (nada contra) e deslavadamente machistas/sexistas (ñ deixaram de sê-los), algumas bastante sérias, como “Mão Católica” (obviamente contra a Igreja Católica, ainda da época de músicas q tinham “radiodifusão e execução pública proibidas”), “Tudo Ou Nada” (minha preferida, meio filosófica e herética) e outras ainda fantasistas, como “Morte Ao Anoitecer” (vampirista e soturna) e “A Ferro e Fogo” (sobre naufrágio em batalha ancestral contra galeões romanos).
Q ñ excluíram em nada aquela irreverência debochada característica, como em “Deus Me Dê Grana” (“mas se você não achar meu bolso, Deus/Por favor coloque na carteira”) e “O Que É Que Eu Tenho De Fazer?” (um proto-reggae safado sobre alguém estudando modos e jeitos de tentar traçar uma garota). No meio do caminho entre sério e sarrista, cometeram versão mais roqueira pra “Ouro De Tolo”, a posteriori analisável como a 1ª aproximação entre “Marceleza” e Raulzito.
E em q, a despeito dumas atualizações bem sacadas – “centos mil cruzados por mês”, “Monza 86”, “cidade marabichosa” – nem achei assim tão boa. Pq envolveu mutilarem os longos dylanescos versos pra caber na aceleração imprimida.
Uma certa “tradição chupim” da banda tb se manteve no disco: pois se em outros tempos a banda se “inspirou” em sons de Buzzcocks (“Bete Morreu”, “O Adventista”) sem dar-lhes crédito, a bola da vez foi o Rolling Stones e seu “Gimme Shelter”, escaneado (na época, o termo melhor seria “xerocado”) um tanto em “Só o Fim”, cujo clipe tem a pérola de contar com a ainda garotinha Penélope Nova, quem sabe se menos por nepotismo do q pra baretear custos de produção.
Por outro lado, nada dos prós e dos contras até aqui citados é páreo aos quase 8 minutos de “A Ferro e Fogo”, a música MAIS OUSADA e ÉPICA do rock brasileiro ainda hoje. Pq gravada com orquestra de 40 integrantes, incluídos tenor e côro. A dramaticidade vocal de Nova nela comove, empolga, se esparrama. Se for um o som do álbum pra ser ouvido/baixado, ESSE é o merecedor.
Pra concluir, meu assombro e indignação a respeito de “Correndo o Risco”: como é q um disco pra lá de bem produzido, com clipe – “Deus Me Dê Grana” – no Fantástico (grande bosta isso, mas q na época era marca dalguma relevância) e som de timing impressionante como “Simca Chambord” (de letra incrivelmente política e HISTÓRICA, fora de clipe controverso, pesado e forte, q o Fantástico nem deve ter passado) nunca saiu em cd?
Tb ñ vai nunca mais. Uma lástima.
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[resenha cometida no finado Exílio Rock em 5 de Dezembro de 2010 – certo, doggmático?]
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CATA PIOLHO CCXXI – capístico da vez. Jogo dos 7 Erros:
Mais uma duma série de recortes q encontrei e jogarei fora. E q decidi digitalizar no Thrash Com H.
Resenha – legal, favorável. Rara – sobre “Correndo o Risco” (Camisa De Vênus), em meados de 1986, quando foi lançado, por um certo Apoenan Rodrigues, na revista Isto É.
FRONTAL ATAQUE AO COMODISMO
“Correndo o Risco”, com Camisa De Vênus, LP WEA
Um batalhão de estranhos caracterizados de músicos sacudiu o verão baiano de 1982, numa das mais concorridas noites do Teatro Vila Velha, em Salvador, com uma intenção que desde aquela época já era definida: o grupo tentaria representar o avesso das bandas pop brasileiras tendo como lição as determinações do pai do rock tupiniquim, Raul Seixas. O efeito, pelo menos local, foi instantâneo. E, mesmo arriscando a sucessiva repetição de três ou quatro acordes, o grupo baiano Camisa De Vênus arrebanhou um tipo de público completamente identificado com suas letras irreverentes, que desmistificam os sonhos de adolescentes de qualquer classe.
Se, o aval inicial da mídia, o conjunto sustentou sua divulgação pela propaganda espontânea dos fãs, que lotam os ginásios e discotecas de todas as cidades onde se apresenta. A Rede Globo, por exemplo, até hoje só incluiu a banda em três programas. “A diferença entre o Camisa e as outras bandas é que nós não batemos recordes, nós batemos nos recordes”, arremata o vocalista e letrista Marcelo Nova, 35 anos, ex-radialista e ex-atendente da clínica de fisioterapia onde o pai é médico, na Bahia. Pura ironia de um roqueiro, porque o grupo guarda na sua galeria a execução maciça do hit “Eu Não Matei Joana D’Arc”, do LP“Batalhões De Estranhos”, um disco de ouro pela vendagem do álbum “Viva” e pelo menos dois outros conquistados com a venda antecipada de 200 mil cópias deste “Correndo o Risco”.
Em quatro LPs o Camisa conseguiu se livrar, em termos, da pecha de grupo punk, revitalizando o instrumental de seus discos e abrindo espaço até para uma orquestra. Suas letras ácidas estão cada vez melhores e seus rocks, originados nas bases do grupo inglês The Clash, continuam provocando a inflexibilidade da Censura, que proibiu a venda e radiodifusão de “Viva” e da música “Mão Católica”, do último disco. Mera contingência, porque o vigor do Camisa De Vênus ainda vai subverter, pelo menos por algum tempo, as perspectivas de vida mais comportadas.
O Carcass QUASE zoou a pauta de hj, anunciando o tal álbum de retorno semana passada.
Esta aqui é uma sugestão já de muito tempo do amigo Tiago, de listarmos os “últimos”, de fato, melhores álbuns de bandas/artistas, algo bastante complicado de se fazer, ante o retorno de tantas bandas, quanto menos se espera.
Nicho de mercado é um cu.
Acabei me balizando por bandas q morreram, ou q tiveram integrantes falecidos, o q ñ impede da banda continuar mesmo assim. Ou de voltar pra fazer lucrativas “homenagens”. Tb excluí os discos postmortem. Sei lá, vamos ver se a pauta rende, q periga os critérios de desempate gerarem discussão…
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OS MELHORES ÚLTIMOS ÁLBUNS, DE FATO, PRA MIM:
“The Devil You Know”, Heaven And Hell
“Album Of the Year”, Faith No More [por enquanto?]
“Coroner”, Coroner *
“Warehouse: Songs And Stories”, Hüsker Dü
“Monotheist”, Celtic Frost
“The Yellow Shark”, Frank Zappa
“In the Hot Seat”, Emerson Lake & Palmer
“The Sound Of Perseverance”, Death
“Apocalypsed”, Subtera
“South American Nightmare”, Zero Vision
bônus novo aeon: “A Panela Do Diabo”, Raul Seixas & Marcelo Nova
* álbum de resenha reprisada aqui no blog em jun/12