Ñ SAIU EM CD

“Correndo o Risco”, Camisa De Vênus, 1986, WEA

sons: SIMCA CHAMBORD / MÃO CATÓLICA / MORTE AO ANOITECER / DEUS ME DÊ GRANA / OURO DE TOLO [Raul Seixas] / SÓ O FIM / O QUE É QUE EU TENHO DE FAZER? / TUDO OU NADA / A FERRO E FOGO

formação: Marcelo Nova (vocais), Gustavo Müllem (guitarra solo), Karl Franz Hummel (guitarra), Robério Santana (baixo), Aldo Machado (bateria)

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Pequenos fatos significativos se encadeiam e dão sentido a esta vida miserável:

ñ tem nem 8 dias q finalmente comprei nova agulha pro meu toca-discos, o q me vem tirando dum jejum duns 4 a 5 anos sem ouvir maravilhas de meus lp’s que jaziam na estante. E ñ tem 2 dias q encontrei a 5 contos na Galeria o vinil de “Correndo o Risco”, imediatamente posto pra tocar ao chegar em casa.

Pequenos fatos esses q desencadearam ainda outros dois: 1) finalmente poder aposentar a fita cassete, ainda funcional passados 21 ou 22 anos de comprada no Pastorinho (supermercado daqui); 2) pretexto infalível pra resenhá-lo no Exílio Rock.

Sem rodeios: embora eu prefira o derradeiro álbum seguinte, “Duplo Sentido” (o 2º álbum duplo duma banda de rock brasileira), “Correndo o Risco” acho o MELHOR DISCO do Camisa De Vênus. E ñ o digo só pelos hits infalíveis “Simca Chambord”, “Só o Fim” e “Deus Me Dê Grana” constantes. Tb o é pela EVOLUÇÃO da banda por aqui demonstrada.

Pois o Camisa, mesmo tendo sido sempre banda de público cativo e discurso afiado/irreverente, musicalmente deixava sempre a desejar nos álbuns: guitarras chôchas e mal gravadas, fora MAL TIMBRADAS compareceram até o ao vivo anterior, igualmente clássico/memorável, “Viva”. “Correndo o Risco”, gravado sob contrato com a múlti Warner, traz produção melhor, requintada, mais digna.

E aí, dá-lhe guitarras com sons de guitarra (ñ de violãozinho de arame), baixo bem timbrado, vocal (Marcelo Nova em seu auge desbocado) destacado, bateria mais a contento q de antigas gravações com bateria eletrônica destoante. Ñ só isso: convidados surgem a rodo, edulcorando ainda mais a proposta (ao invés de diluí-la). E aí era piano e saxofone em “Simca Chambord”, gaita em “Mão Católica”, guitarrista solo convidado em “Morte Ao Anoitecer”, percussionista e piano em “Só o Fim”, orquestra e côro em “A Ferro e Fogo”.

Em termos estéticos, ainda a mudança prum logotipo mais modernoso e clean, como a citação de Allen Ginsberg na contracapa: qual banda, q ñ o Camisa, conseguiria o feito de fazê-lo sem parecerem entojados?

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No DISCURSO, outra singela diferença, q à época considerei regressiva, hoje tenho como evolução e maturidade: em vez das letras repletas de palavrões (nada contra) e deslavadamente machistas/sexistas (ñ deixaram de sê-los), algumas bastante sérias, como “Mão Católica” (obviamente contra a Igreja Católica, ainda da época de músicas q tinham “radiodifusão e execução pública proibidas”), “Tudo Ou Nada” (minha preferida, meio filosófica e herética) e outras ainda fantasistas, como “Morte Ao Anoitecer” (vampirista e soturna) e “A Ferro e Fogo” (sobre naufrágio em batalha ancestral contra galeões romanos).

Q ñ excluíram em nada aquela irreverência debochada característica, como em “Deus Me Dê Grana” (“mas se você não achar meu bolso, Deus/Por favor coloque na carteira”) e “O Que É Que Eu Tenho De Fazer?” (um proto-reggae safado sobre alguém estudando modos e jeitos de tentar traçar uma garota). No meio do caminho entre sério e sarrista, cometeram versão mais roqueira pra “Ouro De Tolo”, a posteriori analisável como a 1ª aproximação entre “Marceleza” e Raulzito.

E em q, a despeito dumas atualizações bem sacadas – “centos mil cruzados por mês”, “Monza 86”, “cidade marabichosa” – nem achei assim tão boa. Pq envolveu mutilarem os longos dylanescos versos pra caber na aceleração imprimida.

Uma certa “tradição chupim” da banda tb se manteve no disco: pois se em outros tempos a banda se “inspirou” em sons de Buzzcocks (“Bete Morreu”, “O Adventista”) sem dar-lhes crédito, a bola da vez foi o Rolling Stones e seu “Gimme Shelter”, escaneado (na época, o termo melhor seria “xerocado”) um tanto em “Só o Fim”, cujo clipe tem a pérola de contar com a ainda garotinha Penélope Nova, quem sabe se menos por nepotismo do q pra baretear custos de produção.

Por outro lado, nada dos prós e dos contras até aqui citados é páreo aos quase 8 minutos de “A Ferro e Fogo”, a música MAIS OUSADA e ÉPICA do rock brasileiro ainda hoje. Pq gravada com orquestra de 40 integrantes, incluídos tenor e côro. A dramaticidade vocal de Nova nela comove, empolga, se esparrama. Se for um o som do álbum pra ser ouvido/baixado, ESSE é o merecedor.

Pra concluir, meu assombro e indignação a respeito de “Correndo o Risco”: como é q um disco pra lá de bem produzido, com clipe – “Deus Me Dê Grana” – no Fantástico (grande bosta isso, mas q na época era marca dalguma relevância) e som de timing impressionante como “Simca Chambord” (de letra incrivelmente política e HISTÓRICA, fora de clipe controverso, pesado e forte, q o Fantástico nem deve ter passado) nunca saiu em cd?

Tb ñ vai nunca mais. Uma lástima.

[resenha cometida no finado Exílio Rock em 5 de Dezembro de 2010 – certo, doggmático?]

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CATA PIOLHO CCXXI – capístico da vez. Jogo dos 7 Erros:

“5150”, Van Halen (1986)

“Obedience Thru Suffering”, Crowbar (1991)