RESENHA VELHA

Mais uma duma série de recortes q encontrei e jogarei fora. E q decidi digitalizar no Thrash Com H.

Resenha – legal, favorável. Rara – sobre “Correndo o Risco” (Camisa De Vênus), em meados de 1986, quando foi lançado, por um certo Apoenan Rodrigues, na revista Isto É.

FRONTAL ATAQUE AO COMODISMO

“Correndo o Risco”, com Camisa De Vênus, LP WEA

Um batalhão de estranhos caracterizados de músicos sacudiu o verão baiano de 1982, numa das mais concorridas noites do Teatro Vila Velha, em Salvador, com uma intenção que desde aquela época já era definida: o grupo tentaria representar o avesso das bandas pop brasileiras tendo como lição as determinações do pai do rock tupiniquim, Raul Seixas. O efeito, pelo menos local, foi instantâneo. E, mesmo arriscando a sucessiva repetição de três ou quatro acordes, o grupo baiano Camisa De Vênus arrebanhou um tipo de público completamente identificado com suas letras irreverentes, que desmistificam os sonhos de adolescentes de qualquer classe.

Se, o aval inicial da mídia, o conjunto sustentou sua divulgação pela propaganda espontânea dos fãs, que lotam os ginásios e discotecas de todas as cidades onde se apresenta. A Rede Globo, por exemplo, até hoje só incluiu a banda em três programas. “A diferença entre o Camisa e as outras bandas é que nós não batemos recordes, nós batemos nos recordes”, arremata o vocalista e letrista Marcelo Nova, 35 anos, ex-radialista e ex-atendente da clínica de fisioterapia onde o pai é médico, na Bahia. Pura ironia de um roqueiro, porque o grupo guarda na sua galeria a execução maciça do hit “Eu Não Matei Joana D’Arc”, do LP “Batalhões De Estranhos”, um disco de ouro pela vendagem do álbum “Viva” e pelo menos dois outros conquistados com a venda antecipada de 200 mil cópias deste “Correndo o Risco”.

Em quatro LPs o Camisa conseguiu se livrar, em termos, da pecha de grupo punk, revitalizando o instrumental de seus discos e abrindo espaço até para uma orquestra. Suas letras ácidas estão cada vez melhores e seus rocks, originados nas bases do grupo inglês The Clash, continuam provocando a inflexibilidade da Censura, que proibiu a venda e radiodifusão de “Viva” e da música “Mão Católica”, do último disco. Mera contingência, porque o vigor do Camisa De Vênus ainda vai subverter, pelo menos por algum tempo, as perspectivas de vida mais comportadas.