“Global Metal” – Scott McFadyen & Sam Dunn, 2007, Banger Productions/Europa Filmes
estrelando: Metallica, Iron Maiden, Slayer, X-Japan, Orphaned Land, Tang Dinasty, Max Cavalera; duração: 95 min
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Tinha comentado uma vez por aqui (ñ lembro quando) sobre este “Global Metal”, de q vira uns tecos no You Tube e lamentava ñ ter passado, quanto mais sido lançado, por aqui.
Ledo engano e baita supresa: passava por uma Saraiva (vou propor merchan pra eles eheh) 3ª passada e eis q me deparo com este aqui. Em português – legendado ou dublado – a preço ñ tão barato, nem tão caro: 30 contos. Pegar sem pensar, mas sem esquecer de pagar, foi IMPERATIVO. Assim como assistí-lo na mesma noite. Feito.
O q eu tinha ouvido falar, autenticado pela premissa descrita na capa (acima, ñ na do dvd comprado, q contém o subtítulo beócio “A Jornada Continua”… bah!), q fala em “7 países, 3 continentes, uma tribo”, era de ser este um documentário tratando do heavy metal no 3º Mundo. Ñ é bem por aí, embora ñ esteja completamente errada a análise. Ñ é o foco principal, quero dizer.
“Global Metal” inicia literalmente do fim do documentário anterior de Sam Dunn, o excelente “Metal: A Headbanger’s Journey” (de 2005; e tb disponível em dvd. Duplo, com extras), inclusive resumindo-o em seu início (em ótimo expediente para quem ñ o viu), e parte dum espanto levemente antropocêntrico do magrelo: o de se dar conta de o heavy metal ñ existir apenas no eixo América do Norte-Europa Ocidental.
Rincões periféricos do mundo, como a América do Sul (Brasil), a Ásia (Japão, China, Índia e Indonésia) e o Oriente Médio (Emirados Árabes e Israel) tb têm bandas e apreciam o estilo fervorosamente. Daí Dunn parte aos países citados no intuito de observar o q o heavy metal significa em cada logradouro.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=0Zv2j4a6Shk&feature=related[/youtube]
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Nosso país varonil é o 1º visitado e nobremente contemplado pelos olhos dreadlocks de Max Cavalera e de meu querido Rafael Bittencu (ambos em inglês) e pelo bem-amado Carlos Vândalo (em português mesmo). Dunn vai à Galeria do Rock e ao (agora) finado fã-clube sepultúrico, tira depoimento do Toninho Iron (destacado em foto na contracapa) e dos citados, mas deixa um gosto ralo q nos demais países ñ me ficou: ficando a impressão de o heavy metal por aqui ter sido só um vetor-mor de liberdade e de livre-pensar advindo com o 1º Rock In Rio e fim da ditadura militar em 1985. Cita-se de leve a brasilidade misturada ao metal – via “Roots” – como algo inovador, e pouco mais q isso.
Mesmo assim, ñ deixa de ser memorável Max contando q a partir da capa do “Sentence Of Death” (Destrúcho), ele e Igor, recém-montando a banda, se impuseram à tarefa de ter um cinto de balas tb. Apenas tiveram q FAZÊ-LOS (os q constam na contracapa do “Morbid Visions”) utilizando imaginação e produto facilmente descartável.
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No Japão, tem-se a conclusão de o heavy metal prestar-se à catarse da japaiada, muitíssimo bitolada em trabalhar e em obedecer. Com depoimento dum veterano q fala do desvirginar da Terra do Sol Nascente via turnê do Deep Purple em 1972 (a do “Made In Japan”) e do Kiss (chocando com pirotecnia, ñ com a maquiagem) chegando logo após. Conta com depoimentos entusiasmados de Marty Friedman – e eu nem sabia q ele falava – sobre a abertura q o Japão tem para com misturas sonoras, de sua banda local, Death Panda (!!!), fora empolgado com um certo Visual K, banda hiper-mega-ultra-super poser, q faz o Poison parecer uns mendigos.
Lars Ulrich – e medalhões do metal ocidental tem lá sua quota de depoimentos (até Barney Greenway tem um único, falando da China), meio pra dar uma temperada no negócio. Ou alguém agüentaria hora e meia de desconhecidos headbangers falando? – tem depoimento engraçado falando de presente insólito q os japas oferecem às bandas.
Na China, na Índia e na Indonésia conseqüentemente visitadas, tem-se a leitura do heavy metal como elemento libertador e de livre-pensar em relação à pobreza, à censura ideológica e ao esquema de castas. Curioso ver uma escola de guitarras chinesa: ampli pra todo lado, pessoal tocando sentado em carteiras… Índia e Indonésia curiosamente soaram-me mais próximas à nossa realidade terceiro-mundista: mídia impondo lixo o tempo todo e aqueles q ouvem metal sendo segregados, tratados meio por alto, como fase etc.
Outro momento memorável nesse pedaço ocorre quando tratam – com imagens – da turnê noventista do Sepultura pela Indonésia: foram a 1ª horda banda pesada de fora a tocar por lá, em estádio lotado (o Metallica acabaria indo posteriormente, mas sem desbravar). E achei curioso q nenhum outro Sepultura (nem mesmo o arroz de festa Beijador) tem qualquer depoimento no filme.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=WX-wUxjjowg&feature=related [/youtube]
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A passagem pelo Oriente Médio supostamente contemplaria uma passadinha pelo Irã, no q negaram a entrada de Dunn, e há uma riqueza de depoimentos de Tom Araya, Kerry King e de headbangers nos Emirados Árabes e Israel falando da censura religiosa imposta, das bandas como forma de resistência (pixações do logo do Slayer pelos muros incluídas) e da internet e do download como único meio para se ter as músicas, uma vez q cd’s ñ são encontráveis nesses países.
Nesse pedaço, é memorabilíssima a ENQUADRADA q Dunn dá em Lars a respeito. Tem no You Tube como “Lars eats your words” ahah
O filme termina com uma volta à Índia, onde o Iron Maiden se tornaria a 1ª banda de heavy metal consagrada a tocar por ali, servindo como prévia indireta do próximo documentário do nerd, o morninho “Flight 666” (09), com depoimento genérico de Bruce Dickinson.
No fim, penso q enquanto estudo acadêmico ou antropológico estrito, o documentário – assim como o anterior, bem legal, mas demasiado amplo na proposta – tvz peque em algumas omissões, nalgumas generalizações, em reforçar alguns estereótipos. Por outro lado lado, vejo Dunn como figura já emérita no heavy metal, naquilo q vem legando de documentariar o estilo, os sub-estilos, os impasses, de maneira coerente e vigorosa, como NINGUÉM de qualquer outra emissora, veículo ou bagagem cultural, faria.
Assim, resumidamente: ITEM OBRIGATÓRIO. Corram comprar/baixar essa porra!
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PS – ñ foi erro citar acima versão DUBLADA do documentário. Há a opção no menu, um tanto equivocada, outro tanto vergonha alheia, involuntariamente cômica. Ñ o revi dublado todo, mas a parte inicial no Japão, em q Dunn se depara com o mapa metroviário de Tóquio, dá uma noção da tosqueira: onde, no legendado, se vê Dunn dizer “cara, isso é um sistema de metrô gigantesco!”, dublado virou “cara, o metrô daqui é muito irado!”…
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CATA PIOLHO CXCIII – “Coming Home”: Deep Purple ou Iron Maiden? // “The Preacher”: Testament ou Mercyful Fate? // “Living Hell”: Volkana ou Nuclear Assault?