Já comentamos aqui “Hellfire Thunderbolt”, o primeiro vídeo do KK(K?) Priest, e minha visão destoava da maioria à medida em que achava bem razoável, numa pegada mais “Jugulator”. Agora às vésperas do lançamento do álbum – previsto para agosto – sai o segundo clipe (faixa-título) e, como não poderia deixar de ser, pra bombar o lançamento, declarações polêmicas.
À parte o clipe horroroso (sério: há “defeitos” especiais que não deveriam sequer passar pela cabeça de alguém usar, se não quiser parecer um cover das versões místicas do INRI Cristo), a música me agrada – talvez, mais longa do que deveria, mas boa!
Aliás, ainda não descobri quem produziu, mas tenho muita curiosidade.
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E, para além do som, vem a “polêmica”:
Fico pensando: qual o interesse do Judas em tirar um de seus guitarristas naquele momento? E “talvez ele tenha tido um tipo de colapso”? Não estou dizendo que não possam ter passado uma espécie de rasteira nele, nem que a questão do campo de golfe seja a verdadeira, mas há algo estranho… Aliás, tb me parece que a tradução poderia ser melhor.
A pergunta que me fica é: quão difícil pode ser o processo de fim de uma banda com tanto tempo de estrada?
Parece compreensível?
Mais que as estórias do Angra, certamente.
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PS – sobre a dúvida do post anterior [“Dissidência Agressora”, em 12 de maio último] a respeito da participação do Les Binks: ele teve uma fratura no pulso às vésperas do início das gravações e, por isso, chamaram o Sean Elg. Mas parece que cogitam ainda contar com ele em aparições nas futuras turnês pós-pandêmicas.
Foi uma conversa iniciada no WhatsApp, mandando um link pro Marcão, dizendo: “nem é abril e eu já escolhi o melhor disco do ano!”, e q antes mesmo q ele visse a mensagem, uma nova, com outro link, eu (me) retruquei: “5 minutos depois da mensagem sobre o melhor disco, já começo a repensar. Rs”.
Para aplacar a curiosidade sobre os petardos que prenunciam excelentes álbuns, eis o conteúdo da conversa:
O primeiro link, de “Murderous Rampage”, do Cannibal Corpse, dando seqüência ao já excelente outro petardo “Inhumane Harvest” (a serem lançados oficialmente no “Violence Unimagined”, em 16 de abril):
Banda de 33 anos que entrega SEMPRE, pós-saída de Pat O’Brien, preso por incendiar sua própria casa, cheia de armas e munições, e conseqüente entrada de Erik Rutan (Morbid Angel, Ripping Corpse, Hate Eternal) soando ainda mais insana, técnica e agressiva, com os vocais de George Corpsegrinder no auge.
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O segundo link, “Amazonia”, do Gojira, terceiro single – após “Another World” e “Born For One Thing” – do novo álbum, “Fortitude” (que sai dia 30 de abril):
O vídeo chama atenção mesmo pra quem não conhece ou gosta muito do trabalho dos franceses, se não pelo som, ao menos pelo conceito do clipe, espetacular, e pelas excelentes tomadas da floresta, do desmatamento, de tribos amazônicas, que buscam dar corpo pra crítica da letra.
E se vocês, como eu, também lembraram do Sepultura do “Roots”, justamente no ano em que o disco e o próprio Gojira celebram um quarto de século, vos digo: estamos atrasados, porque já circulam memes por aí
Será?
Fato é que, embora a referência ao Sepultura exista, é bem depurada. Provavelmente se tivessem feito a imersão que Max e companhia fizeram com os Xavantes na composição de “Itsári”, não teriam substituído a levada de berimbau pela do didgeridoo, que é um instrumento australiano. Por outro lado, ponderemos que o Gojira hoje tem um alcance muito maior que o Sepultura.
Pelos números do YouTube, “Amazonia”, com 1 dia, tem 685 mil visualizações e 79 mil curtidas, enquanto “Guardians Of the Earth”, do bem conceituado “Quadra”, sobre o mesmo tema e com a mesma estética, tem 925 mil visualizações e 64 mil curtidas.
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Sem nos furtarmos aos dados e às comparações, deixo ainda uma pergunta: há algo que explique tantas bandas “antigas” lançarem alguns de seus melhores álbuns nestes últimos anos? E aí não falo apenas de “trintões” como Cannibal Corpse e Gojira, mas também de “quarentões”, como Napalm Death e o próprio Sepultura.
Zeitgeist? Pandemia? Virada de década? Um novo movimento musical? Alinhamento dos astros?
Uma das melhores coisas quando assisto a esses vídeos de audições e reações a músicas de bandas/artistas que gosto – principalmente quando trazem a primeira audição – é poder lembrar de como são boas, complexas e pensadas em mínimos detalhes.
Dessa vez, ao navegar despretensiosamente pelo YouTube, me deparei com esse canal “The Charismatic Voice”, em que a cantora de ópera e professora de canto Elizabeth Zharoff analisa linhas vocais e músicas de vários artistas e, aqui mais especficamente, de 2 clássicos da Donzela: “Hallowed Be Thy Name” (registrada em 2008) e “Rime Of the Ancient Mariner” (do “Live After Death”, de 1985).
Os comentários à voz, dicção e sustentação de Bruce Dickinson são muito elogiosos, a análise de como se intercalam e se sobrepõem às músicas são muito bem sacadas, mas o que mais me chamou a atenção foi ver como Bruce parece ter melhorado entre as duas gravações, mesmo passando 23 anos!
Impressionante.
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E por falar em impressionante, e também em vídeos de audição e reação, e no tema do post de domingo do Marcão, fica de brinde uma análise do Pat Flanigan de “Means to An End” (Sepultura), com o Eloy:
Sempre defendi bandas que se atualizassem, que não ficassem presas a uma produção antiga, apenas revisitando uma forma de fazer música, com mesmo tipo de som e mesma estrutura, a fim de não perder seu público cativo (aqueles que, ao menos no Brasil, se legou o título de “trues” – que antigamente te inquiriam na porta de lojas da Galeria pra saber se você estava à altura de comprar tal cd).
Assumo: acho que vem daí um pouco da minha dificuldade de gostar de boa parte dos clássicos anteriores à década de 1990, pq eram justamente essas produções que alimentavam essa forma exclusiva de tratar o metal como um grupo fechado, sectário, a que pouquíssimos eleitos podiam ter acesso.
Lógico: a qualidade de produção, a incorporação de outros tipos de levada, riffagem e etc também contam, mas tenho que ser franco ao dizer que me satisfazia gostar de tudo aquilo que essa galera “true” não gostava. Rs
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Outro adendo: não se trata de neofilia, mas de entender que há uma trajetória que mescla as mudanças técnicas, conjunturais, de membros nas bandas, eventos na trajetória individual de cada músico, entre tantas outras coisas, que simplesmente torna impossível acreditar que um som possa se manter a despeito do tempo. Zeitgeist? Talvez.
E o In Flames sempre foi uma banda de ponta nessa linha, que mudou muito seu som e – embora eu mesmo tenha ressalva com algumas produções mais recentes, e me parecesse que meu desinteresse era proporcional à acomodação da banda à indústria fonográfica estadunidense – achava interessante ver o processo deles.
Pois, agora, parecem ter iniciado um movimento que me inspira a escrever este post: desde 2019, com o lançamento do (bom) “I, the Mask”, a banda está lançando seu terceiro cd. Terceiro? Sim! Mas como? No micro-ondas? Ahn?
Explico: aparentemente, perceberam o potencial dessa atualização no mercado musical e resolveram investir mais pesadamente nesse segmento. Talvez, percebendo que as “edições de colecionador” são um nicho importante e, mais importante, sabendo exatamente em que público mirar. Fruto de análises de data science? Provável.
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O “I, the Mask”, que já resenhei no S.U.P. [em 26 de abril de 2019], é um bom cd, que despertou bastante o interesse dos fãs antigos e gerou uma mobilização de retorno à banda, ainda que não fosse um cd nos moldes dos mais clássicos (um movimento similar ao “Quadra”, do Sepultura, pra balizar aqui). Desde lá, lançaram uma versão ‘Arcade’, ou seja, com o som do “I, the Mask” em midi’s de videogame de 16 bits da década de 90 – que também achei muito legal – e agora, para comemorar 20 anos de “Clayman”, o cd tido como o maior clássico da banda, não simplesmente fizeram turnê comemorativa, mas regravaram todo o álbum pra relançar.
(puxando aqui pela memória, não me lembro de uma iniciativa como essa – talvez esteja sendo injusto)
De toda forma, achei muito boa a proposta: novas artes, novos arranjos, novas gravações, sobre as músicas antigas. Há, obviamente, algo de saudosista, de mercadológico (mirando nos fãs antigos), mas a proposta acho bacana… Inclusive enquanto desafio pra própria banda: como relançar um clássico mudando (já que a idéia foi regravar e não simplesmente remasterizar), mas sem perder a essência? Muito melhor a proposta que a execução, a meu ver, como demonstram as duas versões (original e atual) que compartilho aqui no post com vocês.
Mas, embora entenda que a avaliação do resultado seja preponderante numa avaliação daquilo que você vai ouvir no fone, no carro ou com os amigos, isso repõe a questão do que é, efetivamente, o produto final da música, que vem sendo paulatinamente secundarizada com a era do streaming.
Uma forma de recuperar e atualizar o saldo de 20 anos atrás, talvez. Gostemos ou não.
E aí não tem como, novamente, não dar ponto pros caras!
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Talvez bandas com mais tempo de estrada – principalmente as que comemoram até os 21 anos, 7 meses e 18 dias de seus cd’s clássicos sem conseguirem uma produção relevante desde lá – tenham bastante a aprender com eles. Mas, pra isso, precisariam deixar um pouco seu lado ‘true‘.
Há pouco mais de 1 mês, o Lamb Of God começou a antecipar as músicas do cd novo paulatinamente, e vem mostrando bons trabalhos, o que leva a crer que será um bom cd.
Mas quando ouvi a última música lançada, por um momento me peguei em dúvida: é mesmo o Lamb Of God? Se ouvisse numa audição às cegas, diria que se trata de uma banda de groove metal?
À exceção da voz de Chuck Billy, que é obviamente característica, fiquei impressionado como o LoG se moldou a um estilo de fazer música do Testament pra encaixar essa participação. Os riffs, a afinação, as melodias que antecedem e compõem o refrão, a bateria… Até as letras são muito características da produção do Testament!
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O que me fez lembrar de outras participações de peso em bandas “emergentes”, das quais acho que a do Mille Petrozza em “Retain the Scars” (de 2007) é uma das mais sintomáticas: nessa música, parece que existe um corte quase esquizofrênico entre aquilo que o Dew-Scented fez e a entrada do Mille na música, quando se torna um som do Kreator.
Eis o exemplo:
Aí fica a pergunta: de onde surge essa relação?
Será que o peso de tocar com o ídolo deixa as bandas tão inseguras que as leva a adequar seu som? Será que os “ícones” realmente não têm disposição (ou condição) de se adequar a outras sonoridades? Será decisão de gravadora? Produtor? Estratégia de marketing?
Obviamente, entramos no terreno especulativo e dificilmente teremos uma resposta com importância estatística que comprove uma única causa, mas acho que esse debate puxa o gancho de um post anterior do Marcão, “Velha Guarda”, pra pensar que tipo de relação com a história alimentamos no metal, a importância e vigência dos clássicos, e como se dá o processo de renovação da própria música.
Sou capaz de pagar minha língua, mas acho que o Sepultura tá com um material muito bom (absolutamente bom, não só relativamente – “melhor da fase Derrick”).
O negão continua sendo a parte mais fraca (fora o Paulo, que não conta), mas até os vocais dele estão bem encaixados nessa música, fazendo o que deveria ter feito desde o “Against”… Ou, pra dar um desconto pela época, no mínimo, depois do “Nation”.
Bases de guitarra PESADAS DE VERDADE! Até o solo tá bem encaixado… Longo demais, mas muito bom.
Bateria comendo solta, aproveitando o real potencial do moleque.
Tenho impressão que se mandaram pra Suécia pra aprender a soar como “metal brasileiro” (ironia!) de verdade! Mas, de fato, talvez tenham se trancado com um produtor que fez os caras ouvirem 200 mil vezes o “Arise” e entender o que eles tinham que produzir finalmente.
Como bom são-paulino, mestre em me iludir, tenho esperanças de um ótimo cd vindo por aí.
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[1h15min depois]
Ouvi e re-ouvi e re-ouvi. Conclusão, além do que já escrevi:
Os caras produziram esse cd na Suécia, o que explica tanto alguns elementos mais sinfônicos como os old school.
Pra ter uma idéia, esse é um resumo das bandas do produtor (Jens Bogren): Opeth, Dimmu Borgir, Sepultura, Arch Enemy, At the Gates, Katatonia, Baby Metal, Soilwork, James LaBrie, Moonspell, God Forbid, Kreator, Devin Townsend, Ihsahn, Dark Tranquillity, Paradise Lost, Amon Amarth, Dragonforce, The Ocean, Haken, Rotting Christ, Symphony X, Myrath, Angra e Dir En Grey.
Sem dúvidas, o cara deve ter colocado o Andreas e o Eloy pra ouvir “Arise”, “Beneath the Remains”… E entender que é aquela a identidade que consolidou o Sepultura, que eles derivaram pra um lado depois do “Roots” que era o caminho do Max, mas sem o Max – o que fica uma coisa mambembe e esquizofrênica.
Que eles não perderiam o público recente se soassem como antigamente e que ainda reconquistariam os fãs velhos.
Acertaram na mosca neste som. Ele tem tudo que precisa pra fazer sucesso, sem perder unidade.
*post q foram zaps q o Leo me enviou hoje cedo e eu transformei em post
No aniversário de 25 anos (a ocorrer no próximo 1 de junho) do “Burn My Eyes”, cd de estréia do Machine Head, eis que surge a temida pergunta cronofágica daqui: “o que ficou?”
Já adianto: acho que a resposta não é lá muito positiva, ainda mais considerando a fase mais recente da banda, mas gostaria de propor um outro olhar pra ele e, pra isso, primeiro, tentar entender o contexto em que ele se inseria.
1994 foi um ano peculiar. Acho possível até dizer que se tratava de um momento de transição, com duas categorias de cd’s: por um lado, bandas de thrash consolidadas lançando álbuns que já se afastavam de seus auges, como Pantera e seu “Far Beyond Driven” (que foi o disco de maior repercussão na crítica daquele ano), Slayer com o “Divine Intervention”, Testament com o “Low”, e até o Megadeth com o “Youthanasia”.
E por outro lado, bandas estreando já com uma proposta nova, como o Korn, com seu cd homônimo, que inaugurava o ‘nu metal’, P.O.D., Marilyn Manson, Stone Temple Pilots e até o Nailbomb.
(uma análise muito legal, mas que vai ficar pra uma próxima, seria pensar como as primeiras bandas se influenciaram pelas segundas em seus cd’s seguintes)
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O Machine Head também nascia nesse ano, mas mais do que uma banda nova na esteira do nu metal (algo que os próximos cd’s consolidariam), minha tese é que ele é filho desse momento dúbio, e caminha com um pé em cada barco.
Para quem não acredita, comece o cd pelo começo: as duas primeiras músicas, que são justamente “o que ficou” desse cd (ao menos, nos shows do Machine Head até hoje), “Davidian” e “Old” são pra lá de pesadas, alternam agressividade e cadência de uma forma bem consistente, com uma “cozinha” muito bem montada, uma profusão de harmônicos artificiais na guitarra… Enfim, música de gente grande; ainda mais se pensarmos que são músicas de um cd de estréia.
Uma banda que começa assim certamente merece ser ouvida. Rs
O restante do disco oscila de uma forma muito menos relevante, mas acho que o saldo é bem positivo, apesar de relativamente pequeno.