FORA DA CASINHA

clímax

“Clímax”, Chuck Palahniuk, 2014, 226 pp., Ed. LeYa

Assim como considero Quentin Tarantino um Woody Allen q ouve Slayer e fuma crack, literariamente Chuck Palahniuk me é como um Kurt Vonnegut q ouve Zappa e cheira pó.

Como ñ ler um cara q escreveu “Clube da Luta”? Tvz o problema seja comigo – q ainda nem li o livro, esperando esquecer bem o filme – mas sei lá se tanto. Encontrei “Clímax” por aqui num sebo e me interessei pela sinopse, q assim reproduzia elogio do USA Today: “Chuck Palahniuk anda com sexo na cabeça (…) Mas não estamos falando de 50 Tons de Cinza. Clímax é praticamente um dedo do meio para a mommy porn e para a fama do erotismo moderno – e, ao mesmo tempo, uma sátira esperta sobre misoginia, fama, moda, autoajuda e ciência”.

Resumindo sem resumir? É uma aventura delirante, inicialmente decalcada de “50 Tons de Cinza”, parodiando-o sem dó, até a página 21. Parte chata. Dali pra frente, melhora: Penny Harrigan, estagiária de advocacia interiorana, se envolve com um milionário cobiçado e midiático, C. Linus Maxwell, acreditando ser ele o “cara ideal”, q dela tudo ouve, presta atenção, anota. Sem interrupções nem discórdia. Até a mesma descobrir ter sido feita de cobaia para o aperfeiçoamento de produtos eróticos femininos, dum segmento de seus negócios miliardários, a grife “Beautiful You”.

Isso dá pra contar, pq tem na orelha de “Clímax”. O q se desenrola nas páginas seguintes é toda uma viajeira sobre o tal milionário ter sordidamente viciado em sexo a mulherada adulta de praticamente todo o mundo industrializado. A ponto de os maridos e homens todos se tornarem prescindíveis, obsoletos. Ñ acho q dá pra transformarem em filme, ao menos q consigam fazer um com mulheres usando vibradores em Nova Iorque a céu aberto.

Ao menos q conseguissem passar com verossimilhança o início, depois repetido ao fim (ñ acho q estrague contar), duma cena com Penny sendo estuprada num tribunal sem q ninguém presente reaja. Ñ daria um filme de “Sessão da Tarde”. A história envolve ainda nanotecnologia, culto a celebridades, propaganda subliminar ostensiva, controle da mídia, suicídio em público, idosa bicentenária do Nepal, lesbianismo, machos indóceis queimando vibradores em pira pública, ginecologia a granel e ciência futurista desvairada, de fazer Isaac Asimov se remoer na tumba.

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Rola tb um escrachar cruel do feminismo, em livro cujas entrelinhas de ridicularizações à nossa pós-modernidade me parecem mais interessantes e importantes até q a trama, q tem falhas, como mudanças abruptas de cenários ou situações, ou falta de capítulos estruturados: o enredo se desenrola com pouquíssimas pausas, tresloucada e vertiginosamente. Palahniuk teve ter feito questão de ser assim ou então faltou editor com culhão (ui!) pra interferir.

A crítica mais mordaz e ferina cito aqui: “Analistas de comportamento foram rápidos em destacar como a publicidade se aproveitava havia muito tempo dos impulsos sexuais naturais dos homens. Para vender certa marca de cerveja e fisgar o público masculino, a mídia só precisava mostrar corpos femininos idealizados. Essa tática histórica parecia explorar as mulheres e favorecer os homens, mas os observadores mais astutos reconheciam como as mentes de homens inteligentes estavam sendo apagadas – suas ideias, sua capacidade de concentração e de compreensão – a cada vislumbrar de seios atraentes e de coxas lisas e firmes.

(…) Talvez tenha sido por isso que o mundo aceitara tão rápido o sumiço das mulheres caídas no mesmo abismo. A superestimulação artificial parecia ser a maneira perfeita de sufocar uma geração de jovens que queria mais em um mundo em que havia cada vez menos. Fossem as vítimas homens ou mulheres, a dependência de estímulo parecia ter se tornado a nova normalidade”.

O final achei bem besta e frouxo, em suas últimas 11 páginas, mas entendo. Por se tratar de história sem precedentes, algum final ainda mais bizarro e condizente seria humanamente impossível. Algo q já – ñ – vi  em livros distópicos outros, como de José Saramago ou Stephen King. Tvz seja até bizarro, mas dum jeito q ñ me agradou. De todo modo, é livro forte, chulo, cruel, politicamente incorreto e sarcástico como poucos. Por isso o recomendo.

Quando contei à esposa de q se tratava, ficou em dúvida se era o autor o mais xarope em fazer o livro, o editor em publicá-lo, a editora daqui em traduzi-lo ou eu em tê-lo comprado, lido e resenhado. Confesso q ainda estou em dúvida.

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CATA PIOLHO CCLI – Jogo dos 7 Erros capístico eheh

"Earth And Sun And Moon", Midnight Oil (1993)
“Earth And Sun And Moon”, Midnight Oil (1993)
"Stag", Melvins (1996)
“Stag”, Melvins (1996)