“Crest Of A Knave”, Jethro Tull, 1987, Chrysalis/EMI
sons: STEEL MONKEY / FARM ON THE FREEWAY / JUMP START / SAID SHE WAS A DANCER / DOGS IN THE MIDWINTER / BUDAPEST / MOUNTAIN MEN / THE WAKING EDGE / RAISING STEAM
formação: Ian Anderson (vocals, flute, guitar, acoustic guitar, percussion, keyboards and drum programme on “Steel Monkey”, “Dogs In the Midwinter” and “Raising Steam”), Martin Barre (lead guitars), David Pegg (bass guitar)
adicionais: Doane Perry (drums on “Farm On the Freeway” and “Mountain Men”), Gerry Conway (drums on “Jump Start”, “Said She Was A Dancer”, “Budapest” and “The Waking Edge”), Ric Sanders (violin on “Budapest”)
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Este é o famigerado. O infame. O profano. O amaldiçoado, e até há algum tempo o mais famoso disco do Jethro Tull (durou pouco: “Aqualung” voltou ao pódio e continua sendo o mais) q em 1989 – !! – abiscoitou o Grammy de “Melhor Álbum de Heavy Metal”, ou algo do tipo, do Metallica e seu “… And Justice For All”.
É um álbum de heavy metal? Ñ. Nem é o melhor álbum do Jethro Tull. Tvz o melhor da banda nos 80’s, pra quem se importa. Ficou dele a indignidade (pra quem se importa com Grammys), Ian Anderson brincando q sua flauta é um instrumento “de metal”… e tb um belo disco. A quem se dispuser a encará-lo.
Para tanto, contextualizo “Crest Of A Knave” na obra da banda: o Jethro Tull, tal como ZZ Top e Judas Priest (ostensivamente) e Rush e Iron Maiden (com melhores resultados), rendeu-se a teclados, timbres especificamente sintéticos/pop e bateria eletrônica nos 80’s. Resultou, no meu entender, na leva mais fraca de discos da banda: “A” (q era pra ter saído disco solo de Anderson), “Broadsword And the Beast” (legalzinho) e “Under Wraps” (horroroso).
Ñ q a identidade da banda, “fenômeno único de hard rock com melodias folk, licks de blues e letras surreais, densas e impossíveis, q desafiam análises superficiais” (de acordo com o Allmusic.com) tenha se perdido totalmente nestes; ficou só opaca e insossa. Tvz tanta tecnologia tenha servido de álibi pra fase pouco inspirada de Anderson, dono, produtor e compositor-mor na banda desde sempre. De todo modo, “Crest Of A Knave” recupera muito das veias folk, jazz, progressivas e progressistas da banda, já dinossaura, ainda q contando com bateria eletrônica aqui e ali. E mesmo soando pop de modo mais sóbrio q os discos anteriores citados, e q o seguinte, “Rock Islands”, faria ainda melhor.
Uma entrelinha no encarte entrega ainda um despojamento – ou cansaço frente à indústria fonográfica? – pioneiro na produção do álbum, pq feito em casa, sem mega-estúdio ou mega-produtor envolvido. Mudanças várias de formação tb erodiam um pouco as coisas previamente. Apesar da voz de Anderson soar como a de Mark Knopfler nalguns momentos (já havia a idade pesando), o Jethro Tull aqui retomou um fôlego q duraria por mais uns 5 álbuns, até o seu final mais ou menos oficial…
… uma vez q Anderson continua apresentando-se como Jethro Tull’s Ian Anderson, tendo cometido em 2012 parte 2 de “Thick As A Brick” e etc.
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Mas se ñ é disco de thrash metal, tampouco de heavy metal, muito menos o melhor do Jethro Tull – o melhor duma época ‘menor’ dos caras – por q indicá-lo?
Por achar q vale a pena conhecê-lo, tentar entender o ininteligível – ganhar um Grammy por disco de heavy metal? – e recomendar a obra da banda, tão superficialmente conhecida como a banda de “Aqualung”, hit q todo mundo já enjoou de ouvir, e “Aqualung”, disco muito falado mas ñ tão ouvido. Em tempos atuais de download, se for pra indicar UM som daqui, recomendo “Budapest”, épico e medieval, ao mesmo tempo q futurista e setentista. Tem 10 minutos e ñ cansa, pq é composição q evolui em si própria. Outros dois? “Farm On the Freeway” e “Raising Steam”.
Claro q se alguém por aqui tem aversão à flauta de Anderson, melhor desencanar. É condição ‘ame ou odeie’. Ao mesmo tempo, o guitarrista Martin Barre – nunca elencado dentre os grandes do instrumento, sei lá por q catso – oferece farto material para deleite: solos, riffs, peso e timbres jamais óbvios. Elogiado por Ritchie Blackmore certa vez, ele q nunca li/vi elogiar quem quer q seja…
Aparte extra-álbum: em tempos idos recentes de folk metal badalado (Tuatha de Danann) e cultuado (Skyclad) e de Blackmore’s Night, conhecer um pouco mais de Jethro Tull auxilia no entendimento desse povo q pegou a estrada pavimentada há muito por Anderson e cia… Colchete dentro do parêntese: sacar algumas sutilezas do Iron Maiden tb – afinal Steve Harris ñ chupinhou se inspirou só em U.F.O., Wishbone Ash e Thin Lizzy.
Fecha parêntese, volta ao assunto: as letras parecem bem interessantes, tanto no aspecto vernacular incomum (ñ insistem em rimar ‘pain’ com ‘gain’ ou ‘desire’ com ‘fire’) como no das passagens, quase como contos de trovador. A ressalva é percebê-las predominando em relação às melodias na maior parte dos sons, algo um tanto folk demais. Por outro lado, “Budapest” e “Said She Was A Dancer” parecem ser sobre groupie(s), como q quebrando um pouco a seriedade dos temas, q tratam de guerra (“Mountain Men”) e contrastes entre vidas urbana e pastoril.
Contraditoriamente, ñ acho o melhor disco pra se iniciar no Tull: pra fugir da mesmice, recomendo “Minstrel In the Gallery” ou “Heavy Horses” (dos 70’s) e/ou “Roots to Branches” e “J-Tull Dot Com” (noventistas, e evoluídos deste), todos até mais ‘pesados’ e q põem “Crest Of A Knave” noutra perspectiva. E nunca é demais ter assunto: quando algum outro veterano vier, xiita e desdenhoso, lembrar agora q um dia o Metallica perdeu prêmio pro Jethro Tull os amigos poderão dizer q ouviram o disco e acharam ridículo o ocorrido. Mas ñ o disco.
Ou ñ.
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CATA PIOLHO CCLII – “Neurotica”: King Crimson ou Rush? // “Pride And Joy”: Stevie Ray Vaughan ou Coverdale/Page? // “Phantasmagoria”: The Mist ou Annihilator?