GLENN HUGHES
por märZ
VIP STATION – SÃO PAULO, 11.11.2023
Eu fui a SP inicialmente por dois motivos: visitar meu irmão que mora lá há anos e assistir ao show do Roger Waters. Mas com estadia prevista de 4 dias, decidi aproveitar: fui na Galeria (onde encontrei o redator-chefe aqui do blog), garimpei cds, comi em restaurantes e lanchonetes legais, visitei bares e pubs. Não fiz mais porque a grana é finita e os joelhos me doem.
Sabendo da apresentação de Hughes na cidade, previamente sugeri ao meu irmão comparecermos, ele topou e lá fomos nós. De início, uma certa confusão quanto ao local do show: dependendo de onde se checasse a informação, a casa seria o Carioca Club ou uma tal VIP Station. Soube mais tarde que trocaram da primeira pra segunda por causa da demanda de publico, maior do que se esperava. Esclarecida a duvida, pegamos o Uber numa noite quente de sábado e rumamos para o desconhecido (ênfase em “quente”).
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Chegamos, entramos e assistimos ao final da apresentação da primeira banda de abertura, um trio setentista de nome Hammerhead Blues de quem já tinha ouvido falar. O som estava ruim (só nas bandas de abertura) e apesar do esforço em promover uma jam no palco, não impressionou. A banda seguinte, um tal Red Water de quem nunca tinha ouvido falar, padeceu dos mesmos problemas. Quanto a ambos os grupos, digo o seguinte: vc pode ter a attitude correta, o visual certo e saber tocar pra cacete: mas se não souber compor/escrever, sua música nao vai decolar.
Nesse ponto da noite a casa ja estava completamente lotada e o calor incomodava a todos. E da-lhe longneck Heineken a 15 reais pra suportar a temperatura. Antes de comentar do show principal, preciso discorrer sobre o que esperava de uma apresentacao de Glenn Hughes em 2023: cresci enquanto fã de rock ouvindo as músicas dele no Deep Purple, e lendo de como entrou em decadência devido a álcool e drogas. E mais recentemente comprei e curti tudo que lançou com o Black Country Communion, então tinha noção de que estava recuperado e produzindo música de qualidade novamente.
Mas um show marcado há poucos anos em Vila Velha/ES, onde Glenn se apresentou completamente sem voz e pedindo desculpas a todo momento, junto com a notícia de que 3 dias antes havia cancelado seu show em Curitiba por estar gripado, não me deixaram criar muitas expectativas.
Felizmente, cai do cavalo. A banda toda entrou com sangue nos olhos! Glenn parecia ter saido diretamente da epoca do Trapeze, com suas roupas estilo anos 70, óculos escuros vintage e cabelo longo e desgrenhado. Agitou o tempo todo, sorriu e mandou beijos, cantou tudo impecavelmente – inclusive as notas mais altas – e parecia genuinamente estar se divertindo muito. Ah, sim: mencionei que tem 72 anos?! A banda que o acompanhava – guitarra, bateria e teclados – era composta por músicos mais jovens e muito talentosos, também vestidos a caráter seguindo a ultima moda. De 1974.
O set durou exatas 2 horas e teve 9 músicas, todas do Deep Purple, algumas se alongando por até 20 minutos, com partes de outras inseridas em meio a jams e solos individuais de todos os músicos. Um show como o Purple devia fazer nos anos 70, quando Hughes fazia parte da banda. No meio da apresentação, Chad Smith surgiu na lateral do palco e ficou ali assistindo, claramente se divertindo, sorriso no rosto.
Ao final, foi apresentado pelo anfitrião e assumiu as baquetas pra tocar “Highway Star” – a única da fase Gillan – e fechar tudo com “Burn”. Foi apoteótico. Um puta show sem erros, sem momentos anticlimáticos, sem performances meia-bomba, som excelente (na banda principal), casa lotada (capacidade de 4 mil pessoas), público totalmente feliz.
***
Agora… o calor quase pôs tudo a perder. Estava insuportavelmente quente, e lá pro final comecei a me sentir estranho, fraco, e achei que fosse desmaiar. Deixei a posição privilegiada em que estava e tive que ir pra lateral, onde ficava o bar e haviam menos pessoas. Cheguei a sentar no chão pra me recuperar e pensei em sair pra conseguir respirar. No fim, ficou tudo bem.
Stormbringer
Might Just Take Your Life
Sail Away
You Fool No One / High Ball Shooter / The Mule
Mistreated
Getting’ Tighter
You Keep On Moving
Highway Star
Burn
As fotos do post (exceto a primeira) são do excelente fotógrafo Andre Tedim (https://www.instagram.com/andretedimphotography/)
Leo
16 de novembro de 2023 @ 09:24
2 horas.
8 sons (incluindo um medley).
Que coisa maravilhosa.
Queria muito ter ido.
Mas essa ênfase no calor me deixa menos arrependido.
E mais uma bela resenha do TcH. De gente que paga ingresso. Isso aqui é outro nível. Parabéns, märZ.
E pena que não nos encontramos.
Na próxima, faço questão.
André
16 de novembro de 2023 @ 15:41
Show pra quem quer ouvir música e não apenas hits tocados de forma burocrática. Reunião do Deep Purple? Seria legal. Mas Coverdale tem condição de acompanhar Glenn?
Como disse o Léo, mais uma resenha que não desrespeita a inteligência do leitor. Foda!
Jessiê
16 de novembro de 2023 @ 19:48
Chegamos a conversar em algum momento sobre o Hughes e me lembro de levantarmos essa questão de ele estar zoado (e septuagenário).
Pensei diversas vezes em ir no show, mas me pesava o fato de ter que me deslocar para Curitiba (100 km mas quase sempre envolve hotel pelo horário), acabei não indo pelo risco de não ser legal…
Acabou sendo um misto de sorte e azar: azar por não ter visto (não sei se haverá outra oportunidade) mas sorte porque o show de Curitiba (que seria no dia 8, após o de Porto Alegre no dia anterior) foi cancelado. Segundo nota oficial, “Ontem em Porto Alegre, após o show, Glenn não se sentiu bem por conta de uma gripe e, por recomendação médica, precisa de repouso absoluto para garantir o término da turnê.”.
Parece ter se recuperado. Mas convenhamos duas horas de shows aos 72 anos um dia após o outro… Seria falta de grana uma agenda absurda desta em tal idade?
André
17 de novembro de 2023 @ 20:31
Falta de grana ou obrigação contratual. Vai saber.