CORRERIA
por märZ
Crypta, Nervochaos, Krisiun, Belphegor – Correria Music Bar, Vila Velha, 23.05.22
Terça-feira não é um bom dia para ir a shows, seja lá em qualquer estado/cidade. Mas quando se trata do público capixaba de metal, preguiçoso e pedante por natureza, fica ainda pior.
Os fãs de metal da Grande Vitória, em específico, são mais xexelentos do que os do interior, e isso se refletiu no público presente: encontrei muitos amigos e conhecidos de cidades vizinhas, que se deslocaram por cerca de 150km para comparecer, enquanto os que moram a 5 minutos de Uber do local inventaram mil desculpas para não ir. Sem surpresas.
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Minha expectativa estava toda focada no show do Crypta, queria ver se o hype se traduzia em performance. Subiram ao palco às 19:35, pouca gente presente, e pude ver todo o show encostado na grade, sem ser incomodado. Visual couro preto (falso) e rebites de prata (falsos), começaram com o pé no acelerador e mantiveram a velocidade até o fim do set de 30 minutos.
Ganharam o público, que foi aumentando no decorrer da apresentação, já na 2ª música. Galera gritando, cantando os refrãos, batendo cabeça e socando o ar ao ritmo da batida. Muitas garotas presentes. Todas as quatro impecáveis em suas respectivas funções: Fernanda altamente performática e comunicativa, toda caras & bocas; Luana, um zombie elétrico – toca com uma facilidade quase incompreensível para mim – e a guitarrista novata parecia uma smurfette fofinha, e ganhou a galera com sua simpatia e competência.
Agora, eu não estava preparado para o impacto que me causou Tainá Bergamaschi… A garota é o demônio. Ou melhor, é uma Sandy do Inferno. Performance totalmente metal, como se imaginava que era o metal nos anos 80: perigoso, nefasto, lúgubre, demoníaco. Toca com absoluta desenvoltura e naturalidade e mantém uma persona intimidadora, desafiadora, in your face. Após o show, passou ao meu lado e não pude acreditar que aquela figura imponente no palco era na verdade essa menina pequena e magrinha. Ponto pra ela, que já tem a manha de saber que show de metal é mais do que saber tocar as músicas, envolve também todo um mise-en-scéne que abrange atitude e visual.
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Nervochaos veio depois, achei barulhento e confuso. Todas as canções tocadas à velocidade da luz, e houve momentos em que pareciam o Napalm Death. Bem diferente do que eu conheço de estúdio dos cds que possuo. Menos thrash e quase grind. Ruim não foi, só me causou estranhamento.
Krisiun na seqüência foi a máquina de moer carne de sempre. Meio que chover no molhado tentar descrever a performance dos irmãos Kolesne. É pedrada em cima de pedrada, sem tempo pra reagir. Caiu, vai ficar no chão. Há anos que não possuem concorrentes no death metal e aparentemente isso não vai mudar.
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Nunca tinha ouvido Belphegor, nenhuma canção sequer. Não sou chegado em black metal cara-pintada, e só recentemente comecei a me abrir ao estilo, ouvindo alguma coisa aqui e ali. Honestamente, tive uma crise de riso durante a primeira música tocada… achei caricato e cômico. Não dá pra levar esse povo a sério. O som era aquele bate-estaca de costume, com climinhas encaixados por samples pra dar o tom. Fui pra fila da cerveja.
Saldo final foi bem positivo: evento bem organizado, boa estrutura e pelo menos 2 shows excelentes, um mediano e outro nem isso. Pelo menos para o meu gosto pessoal. Casa divulgou público pagante de 400 pessoas, mas duvido muito. Chuto no máximo uns 250. No fim, nada a reclamar, que venha mais.