BLOCO 77 + GAROTOS PODRES
Tendal da Lapa, 27.01.24
Blocos de Carnaval roqueiros não são novidade: há uns anos ouço falar de vários, por aqui em SP e em BH, dedicados a Beatles, Iron Maiden e Pink Floyd.
Assistir in loco, ver se funciona, aí já é uma outra conversa.
Foi o q me aconteceu sábado passado: fiquei sabendo de ensaio desse Bloco 77, cujo repertório é de punk rock brasileiro, num local q (re)descobri como reduto de punk, hardcore e grindcore – o Tendal da Lapa, aqui pela Zona Oeste – em evento q encerraria glorioso e garboso às 19:30 com show dos Garotos Podres. E de graça.
E por q não ir?
E o q foi?
Duas horas ininterruptas (desde quando cheguei, por volta das 17h) com um pessoal (não chegam a 20 pessoas, salvo engano) q é a percussão em si + 3 vocalistas + 1 guitarrista tocando punk, punk e mais punk.
E tudo alto pra kralho. Como tem q ser. Em loop. E num ambiente semi-aberto lotado: tinha punk velho, punk novo vegano, hipsters, curiosos, crianças, eu e mesmo parte da molecadinha trevosa q vi no Crypta, 2 dias antes.
Sem a menina da prancha e sem prancha.
É divertido. Tipo o “Feijoada Acidente – Brasil“, do Ratos de Porão, ao vivo. Tocaram “Fuma Bebe” dali, Ratos de Porão (“Crucificados Pelo Sistema”), Replicantes (“Surfista Calhorda”), Restos de Nada/Inocentes (“Desequilíbrio”), Plebe Rude (“Até Quando Esperar?”), marchinhas de domínio público alteradas, sons próprios (uns 2 – “Desmascarar Sua Bandeira” achei foda) e Cólera, me surpreendendo como ponto alto da coisa toda.
Teve ainda Garotos Podres, com o vocalista José Rodrigues Mao participante no final no medley “Papai Noel Velho Batuta”, “Vou Fazer Cocô” e “Não Devemos Temer”. Uma hora brincaram q tocariam um cover, e tocaram (bem) “The KKK Took My Baby Away”, dos Ramones, único som estrangeiro no repertório.
Mas volto ao Cólera.
Normalmente não curto Cólera. Sempre achei a banda mais tosca (no mau sentido), pq mais mal tocada e mal cantada, do punk brasileiro. Ao mesmo tempo, quase todo mundo q os regrava ou faz versão, faz melhor.
E assim foi ali no rolê com “Pela Paz” e “Medo”. Épicas. A mensagem é muito maior q o meio. Impressionante de verdade, tb pela atualidade. E entoadas por todo mundo presente.
Há quem possa acusar a proposta de nutellice. Pode até ser. Merchan caprichado e vendido caro (camisetas, chaveiro, copo exclusivo) e alguma afetação. Mas não me ofendeu, nem a quem lotava o lugar. Comemoraram 10 anos de bloco e não é quem não gosta q vai estragar.
Concluo assim: vai quem quer. Quem não curtir, desencana.
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O intervalo até o Garotos Podres aproveitei pra ver uma exposição de alguém do Questions (Edu Revolback), sentar num canto e fuçar merchan. Do próprio bloco, Garotos Podres (cerveja da banda a 25 lulas e o livro de mao sobre Cuba, incluídos) e de punk, veganismo, LGBTismo (mudaram a sigla de novo?) e Causa Palestina bem legais. Não comprei nada, e tudo bem.
E o Garotos Podres foi foda. Triunfante e honrando expectativas.
“Oi, Tudo Bem?”, “Vomitaram no Trem” e “Nasci Para Ser Selvagem” (versão do Steppenwolf) pra mim são hinos, berrei junto q nem um lunático. Os clássicos “Papai Noel Velho Batuta”, “Anarquia Oi” e “Vou Fazer Cocô” ficaram pro fim. “Johnny” rolou ali pelo meio. “Garoto Podre” abriu o show.
E sons outros, como “Aos Fuzilados da CSN”, “Rock de Subúrbio”, “Avante Camarada”, o cover de Eskorbuto (“Mucha Policia, Poca Diversión”) e mais coisas; não me ocupei anotando set list na ordem, desculpem.
Estavam com baterista novo, um tal de Will, não anunciado e muito bom. Tecnicamente falando: acrescentou arestas ao som, ainda q tivesse q ser contido por Mao e pelo guitarrista pra umas horas não acelerar tanto ahahah
No final de verdade subiram umas crianças presentes ao palco, passando a mensagem de “tragam a criançada, pq os punks já estão velhos e tem q haver renovação”. Como discordar?
Cito ainda algo totalmente inesperado: voltando ao bis, estrearam a música tvz mais infame e sem noção deles, “Mancha”. Escatologia pouca é bobagem. Ao final, dedicada por Mao “ao pessoal da 5ª série A. Pq o pessoal da 5ª série B não gosta dessa música”. Sensacional.
Só Garotos Podres consegue ser panfletário e zoeiro ao mesmo tempo. É um feito, e foi um baita show. Iluminação e volume, impecáveis. E ninguém ali saiu desapontado, com nada.
Mais um rolê gratuito e inclusivo disponível. Chupa, Summer Breeze.