Foi ontem e, embora fosse previsível – sujeito sofria de esclerose múltipla (degenerativa) há anos – mesmo assim, gerou impacto. Ainda q fosse o duns tontos ressuscitarem textos sobre o cara ter sido “chutado” do Maiden, em homenagem, a meu ver, duvidosa. Ainda q meu baterista preferido no Iron Maiden seja e sempre tenha sido Nicko McBrain.
Mas pitaquei num post do amigo FC a respeito, lá no Facebook, minha concordância em relação à influência descarada de Burr nas baterias q Lars Ulrich cravou nos sons do “Kill ‘Em All”. Legado indiscutível. Tanto q o dia em q relançarem remasterizada a bagaça, deveria ser renomeado pra “Clive Burr Tribute”, ou coisa do tipo. Minha opinião.
Pegada e assinatura próprias o sujeito tinha. No mais, reitero meu incômodo em perceber estarmos prestes a testemunhar falecimentos de outros vários ídolos, ícones e figuras emblemáticas tais quais. Ñ era um ex-Iron Maiden qualquer, ñ mesmo.
“Lurking Fear”, Mekong Delta, 2007, AFM Records/Rock Brigade Records/Laser Company
sons: SOCIETY IN DISSOLUTION / PURIFICATION / IMMORTAL HATE * / ALLEGRO FURIOSO [tirado de “Five Fragments For Group & Orchestra”]/ RULLEN OF CORRUPTION / RATTERS / MODERATO [tirado de “Five Fragments For Group & Orchestra”]/ DEFENDERS OF THE FAITH * / SYMPHONY OF AGONY / ALLEGRO [de “Symphony #10 de Dimitri Schostakowitsch]
formação: Ralph Hubert (bass and concert guitar), Peter Lake (electric and acoustic guitars), Uli Kusch (drums), Leo Szpigiel (vocals)
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Quão presunçosa consegue ser uma banda?
Esqueçam os bem-nascidos do “metal nacional”, de autogenialidade injustiçada e comercialmente inviável. Este Mekong Delta, dado como banda – mais pra projeto do tal Ralph Hubert, sujeito bem relacionado (dono de selo) e abonado (já teve Jörg Michael e Peter Haas como bateristas e “Peavy” Wagner como letrista), q já conta com 10 álbuns, 2 ep’s, uma coletânea e 1 dvd ao vivo – extrapola qualquer senso de bom senso. Explico: metade do encarte deste “Lurking Fear” presta-se a enaltecer os integrantes por aqui, sempre no esquema fotinho numa página + currículo (“biografia”) e lambeção na outra.
Sei lá se o próprio Hubert cometeu os textos, mas acho provável, uma vez q os sons, a produção e a banda são dele: em sua “biografia”, conta de quão gloriosos e influentes são seus álbuns anteriores, q inclui versão lançada pra “Pictures Of An Exhibition”, passando ao largo de citar como Emerson, Lake & Palmer já o fizeram; do sueco Peter Lake, conta de como sua banda anterior Theroy In Practice foi influenciada pelo Mekong Delta, e de como é influenciado por Malmsteen e John McLaughin.
De Uli Küsch a nota é generosa, apontando-o como dos “mais renomados bateristas da Alemanha” e cita seu extenso currículo, de Holy Moses, Gamma Ray, Helloween, Sinner, Masterplan e Ride the Sky. Há depoimento do próprio, dizendo-se honrado de participar das “composições desafiadoras” do Mekong. Já o vocalista Szpigiel é agraciado como sendo um sujeito de inúmeras bandas anteriores e sem fronteiras estitlísticas e vocais, mas com mais ênfase e gosto no power metal. Putz.
Quer dizer… cada um acha o q quer, pensa o q quer, vende na feira a garrafa vazia (ou cheia) q crê possuir. Ñ fosse este Mekong Delta citado como uma banda de progressive thrash metal. Porra nenhuma.
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O chefão Hubert certamente nunca ouviu Slayer, e “Bay Area” pra ele deve ser alguma marca de desodorante. Assim: tudo neste “Lurking Fear” é metal melódico – às vezes, mais pesado e palhetado q o metal melódico habitual – edulcorado com firulas pretensamente eruditas, fusion e shredder. Os vocais por aqui já foram ouvidos em trocentas bandas; os esparsos momentos intrincados parecem coisa q os caras do Dream Theater fazem enquanto tomam banho. A influência para novas bandas e ineditismo das composições é ZERO.
Colabora negativamente para tanto ainda a produção capenga, claramente Pro Tools, uma vez q cada integrante gravou sua parte em estúdios diferentes (Kusch, na Noruega) e provavelmente enviou pro chefe por email: o som é todo “borrado”, embolado e tendendo pros “médios” (impressão daquelas gravações toscas dos anos 80, de heavy metal alemão tipo Death Row), mal se percebendo linhas de baixo, fora timbrando a bateria dum modo q quase anula o ótimo Kusch, q ñ toca thrash metal aqui.
E tb ñ sobressaiu ou cometeu instantes memoráveis, como nos dias de Helloween e Masterplan. Fez o q tinha q fazer, como os demais. Aí receberam um cachê na conta corrente e tchau; os já 2 álbuns seguintes da banda ñ os têm mais como ilustres e colaborativos integrantes. Metal alemão de 3ª divisão, em suma.
Ñ é uma porcaria total “Lurking Fear”; os sons acima asteriscados achei legaizinhos. Fãs de Dragonforce poderão curtí-lo indomitamente. Quem começou no heavy metal com Chatovarius e Edguy tb. Apesar de capa precária e clichê + encarte todos nesse roxo enjoado. Apesar da presunção e auto-referência em demasia (“Allegro Furioso” e “Moderato” são de obra anterior da banda/cara, assumidamente erudita). Apesar de eu ter gastado 10 contos nele, num sebo, pelo Uli Küsch. E apesar de ñ ser nada original, tampouco thrash metal.
Vai pro fundo dalguma prateleira aqui em casa, empoeirar, até daqui 5 anos eu querer ouvir de novo.
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CATA PIOLHO CCXV – por uma ser preto & branca e a outra colorida, já descontamos 1. Daí, um Jogo de 6 Erros capístico, da vez:
Mais um momento de revisitar o diploma de datilografia. Mais uma matéria velha de jornal q guardei esses anos todos – sei lá pq – agora sobre o Metallica e o show deles por aqui em 1992, no finado Parque Antarctica.
Saiu na Folha de S. Paulo, tem uma entrevista com Jason Newsted e uns trechos bestas q poderei copiar por aqui se alguém interessar. Por ora, copio uma “avaliação” feita por Thales de Menezes, sobre a banda e o heavy metal em geral.
GRUPO TENTA ACABAR COM IMAGEM “SÉRIA”
As bandas de rock pesado são todas iguais. Fazem a música dos hormônios em ebulição, um rito de passagem da adolescência. As bandas não precisam mudar porqque é o público que muda no lugar delas. Depois de um tempo batendo a cabeça na parede, o carinha deixa de ser teen e vai ouvir outras coisas.
Aí aparece o Metallica e joga areia nessa teoria. O quarteto californiano consegue a façanha de fazer metal “adulto”. Claro, a grande maioria de seu público ainda é teen, mas o Metallica é aquele grupo de que o sujeito madurão pode dizer que gosta sem passar vergonha. Tudo isso porque o Metallica vestiu a camisa de banda “séria”.
Essa seriedade começa no visual. Calças, pretas ou jeans, sem apliques, sem buracos no joelho. Camisetas brancas ou pretas, sem nada escrito. Nos pés, tênis ou botas, brancos ou pretos. Esse mundo em preto e branco está transposto nas músicas. Nada de garotas, nada de satanismo de gibi. James Hetfield e Lars Ulrich escrevem como discípulos diretos de Lovecraft.
O Metallica é tão sério que já foi o grupo mais mal-humorado do planeta. Tão mal-humorado que escolheu para o videoclip de “One” algumas cenas de “Johnny Vai À Guerra” (Johnny Got His Gun, 71, dirigido por Dalton Trumbo), forte concorrente a filme mais soturno da história do cinema. Tão mal-humorado que fez um disco que tem a capa preta com o nome da banda escrito em preto e um desenho também feito em preto.
Será que eles são assim mesmo, tão chatos? Nos últimos anos, o quarteto tenta de todas as maneiras passar uma borracha nesse rótulo. Não chegaram ao ponto de vestir bermudas, mas dão risada, topam participar de promoções com os fãs e fazem piadinhas quando agradecem o monte de prêmios que recebem. Ulrich, o baterista e espécie de líder da banda, é o mais falador. Segundo ele, a banda ficou mais descontraída depois de superar o trauma da morte do baixista Cliff Burton, num acidente de ônibus, há cinco anos. “Parece que todos perceberam que a vida é curta e precisa ser aproveitada”, filosofa.
Ajudou muito a entrada de Jason Newsted. O substituto de Burton é brincalhão, skatista e mulherengo. “Só faço aquela cara de sério nas fotos porque está no meu contrato”, brinca o baixista. Kirk Hammett, na guitarra solo, é tímido e, de uns tempos pra cá, sorridente. Toda a faceta ranzinza do Metallica ficou concentrada no vocalista e guitarrista Hetfield. Foi ele quem cuidou da concepção do clip de “Unforgiven”, os dez minutos mais opressivos e angustiantes que já passaram na MTV.
Mas até essa postura de Hetfield parece estar mudando. Quem o encontrou nos últimos shows diz que mesmo ele está diferente, querendo passar imagem de boa-praça. O jeito é ir até o hotel e conferir esse “novo” Metallica. A música continua sorumbática e macambúzia, mas heavy metal é para essas coisas.