Ñ VALE 10 CONTOS

“Lurking Fear”, Mekong Delta, 2007, AFM Records/Rock Brigade Records/Laser Company

sons: SOCIETY IN DISSOLUTION / PURIFICATION / IMMORTAL HATE * / ALLEGRO FURIOSO [tirado de “Five Fragments For Group & Orchestra”]/ RULLEN OF CORRUPTION / RATTERS / MODERATO [tirado de “Five Fragments For Group & Orchestra”]/ DEFENDERS OF THE FAITH * / SYMPHONY OF AGONY / ALLEGRO [de “Symphony #10 de Dimitri Schostakowitsch]

formação: Ralph Hubert (bass and concert guitar), Peter Lake (electric and acoustic guitars), Uli Kusch (drums), Leo Szpigiel (vocals)

Quão presunçosa consegue ser uma banda?

Esqueçam os bem-nascidos do “metal nacional”, de autogenialidade injustiçada e comercialmente inviável. Este Mekong Delta, dado como banda – mais pra projeto do tal Ralph Hubert, sujeito bem relacionado (dono de selo) e abonado (já teve Jörg Michael e Peter Haas como bateristas e “Peavy” Wagner como letrista), q já conta com 10 álbuns, 2 ep’s, uma coletânea e 1 dvd ao vivo – extrapola qualquer senso de bom senso. Explico: metade do encarte deste “Lurking Fear” presta-se a enaltecer os integrantes por aqui, sempre no esquema fotinho numa página + currículo (“biografia”) e lambeção na outra.

Sei lá se o próprio Hubert cometeu os textos, mas acho provável, uma vez q os sons, a produção e a banda são dele: em sua “biografia”, conta de quão gloriosos e influentes são seus álbuns anteriores, q inclui versão lançada pra “Pictures Of An Exhibition”, passando ao largo de citar como Emerson, Lake & Palmer já o fizeram; do sueco Peter Lake, conta de como sua banda anterior Theroy In Practice foi influenciada pelo Mekong Delta, e de como é influenciado por Malmsteen e John McLaughin.

De Uli Küsch a nota é generosa, apontando-o como dos “mais renomados bateristas da Alemanha” e cita seu extenso currículo, de Holy Moses, Gamma Ray, Helloween, Sinner, Masterplan e Ride the Sky. Há depoimento do próprio, dizendo-se honrado de participar das “composições desafiadoras” do Mekong. Já o vocalista Szpigiel é agraciado como sendo um sujeito de inúmeras bandas anteriores e sem fronteiras estitlísticas e vocais, mas com mais ênfase e gosto no power metal. Putz.

Quer dizer… cada um acha o q quer, pensa o q quer, vende na feira a garrafa vazia (ou cheia) q crê possuir. Ñ fosse este Mekong Delta citado como uma banda de progressive thrash metal. Porra nenhuma.

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O chefão Hubert certamente nunca ouviu Slayer, e “Bay Area” pra ele deve ser alguma marca de desodorante. Assim: tudo neste “Lurking Fear” é metal melódico – às vezes, mais pesado e palhetado q o metal melódico habitual – edulcorado com firulas pretensamente eruditas, fusion e shredder. Os vocais por aqui já foram ouvidos em trocentas bandas; os esparsos momentos intrincados parecem coisa q os caras do Dream Theater fazem enquanto tomam banho. A influência para novas bandas e ineditismo das composições é ZERO.

Colabora negativamente para tanto ainda a produção capenga, claramente Pro Tools, uma vez q cada integrante gravou sua parte em estúdios diferentes (Kusch, na Noruega) e provavelmente enviou pro chefe por email: o som é todo “borrado”, embolado e tendendo pros “médios” (impressão daquelas gravações toscas dos anos 80, de heavy metal alemão tipo Death Row), mal se percebendo linhas de baixo, fora timbrando a bateria dum modo q quase anula o ótimo Kusch, q ñ toca thrash metal aqui.

E tb ñ sobressaiu ou cometeu instantes memoráveis, como nos dias de Helloween e Masterplan. Fez o q tinha q fazer, como os demais. Aí receberam um cachê na conta corrente e tchau; os já 2 álbuns seguintes da banda ñ os têm mais como ilustres e colaborativos integrantes. Metal alemão de 3ª divisão, em suma.

Ñ é uma porcaria total “Lurking Fear”; os sons acima asteriscados achei legaizinhos. Fãs de Dragonforce poderão curtí-lo indomitamente. Quem começou no heavy metal com Chatovarius e Edguy tb. Apesar de capa precária e clichê + encarte todos nesse roxo enjoado. Apesar da presunção e auto-referência em demasia (“Allegro Furioso” e “Moderato” são de obra anterior da banda/cara, assumidamente erudita). Apesar de eu ter gastado 10 contos nele, num sebo, pelo Uli Küsch. E apesar de ñ ser nada original, tampouco thrash metal.

Vai pro fundo dalguma prateleira aqui em casa, empoeirar, até daqui 5 anos eu querer ouvir de novo.

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CATA PIOLHO CCXV – por uma ser preto & branca e a outra colorida, já descontamos 1. Daí, um Jogo de 6 Erros capístico, da vez:

“Stay Hungry”, Twisted Sister (1984)

 

“Transilvanian Hunger”, Darkthrone (1994)