REPLICANTES

13.09.19 – Sesc Belenzinho, São Paulo

Resenhar isto é complicado. Replicantes é banda q ouvi demais nos meus 13, 14 anos. Assisti demais o vhs “Replicantes em Vórtex”, gravado de exibição da tv Gazeta. Tenho ainda os lps “Histórias de Sexo e Violência” (1987) e “Papel de Mau” (89) e fui juntando cá e acolá os outros discos.

Os Replicantes ñ são mais os mesmos: Wander Wildner (q saiu, voltou e saiu de novo) e Carlos Gerbase (virou cineasta. Recomendo “Tolerância”) estão fora há tempos. Mas jamais pararam, sempre aliando amadorismo e algum holofote. Lançamentos razoáveis e sofríveis, q pouco abalaram minha memória afetiva.

Vieram pra cá sexta pra comemorar 35 anos de banda; 35 dos irmãos Cláudio e Heron Heinz, guitarrista e baixista fundadores, 13 da vocalista “nova” Júlia Barth, e pelo menos 28 do baterista Cléber Andrade. Desde o início do ano via pelo Instagram q viriam. E fui. E valeu demais.

Pra quem ñ curte, ñ adianta tentar convencer: banda é tosca e até hoje ñ aprenderam a tocar. Os solos de guitarra pouco saem da mesma corda. Acho o máximo Heron ainda ñ conseguir tocar sem olhar pro baixo e fazer os backings mais atonais ahahah

Ao mesmo tempo, os 2 discos recentes com Júlia, “Replicantes 2010” (2010) e o novo “Libertà” (2018 – devidamente adquirido na lojinha), revigoraram a banda. Com bandeiras feministas e atualizadas, mais foco e menos zoeira.

E o show foi um arregaço de 24 sons, de todas as fases, excluídos sons dos discos piores, “Andróides Sonham Com Guitarras Elétricas” e “Replicantes Em Teste” e privilegiando músicas do novo (foram 4, as executadas com mais tesão) e dos 2 primeiros.

Tinha monte de tiozão na plateia (incluindo um punk de moicano old school), mas tb muita criança, a ponto de Júlia antes de começarem pedir pra se tomar cuidado com elas. Mas o clima era amistoso: rodas poucas e breves (a lombar do pessoal certamente indeferiu), stage dive nenhum. O máximo de treta q vi foi sujeito afanar cerveja dum outro na roda. Estava todo mundo ali curtindo, como um show punk deve ser.

Alguns protestos antifascistas tb compareceram; na plateia e via Júlia. Q cresce ao vivo, bem melhor q em disco. Todo modo, sons do disco novo e vários dos antigos (“Chernobil”, “Censor” e “A Verdadeira Corrida Espacial”) cumpriram seus papéis.

Melhores momentos, catárticos, pra mim: “Festa Punk”, “Hippie-Punk-Rajneesh” (a melhor versão q já ouvi do som), “Chernobil”, “Nicotina” e “Mentira”, todas antigas, e a última com um rearranjo bacana do baterista.

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A namorada foi tb, pra curtir e conhecer. Já tinha me acompanhado no Krisiun, no Mutilator e no The Mist, nesse mesmo Sesc. Disse q ficou com o ouvido apitando no fim, o q estranhei: há muito tempo meu ouvido ñ apita mais.

Ainda ñ sei se isso é bom.

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Set-list: 1. “Libertà” 2. “O Futuro É Vórtex”  3. “Ele Quer Ser Punk”  4. “Punk de Boutique”  5. “Sandina”  6. “Bergamotas”  7. “Só Mais Uma Chance (Pin-Up)”  8. “Motel Da Esquina”  9. “Censor”  10. “Surfista Calhorda”  11. “Tramandaí no Verão” (versão pra ‘Califórnia Sun’, emprestada dos conterrâneos Sangue Sujo)  12. “Não Me Leve a Mal”  13. “Nicotina”  14. “One Player”  15. “Feminicídio”  16. “Chernobil”  17. “Boy do Subterrâneo”  18. “Maria Lacerda”  19. “Hippie-Punk-Rajneesh”  20. “Go Ahead”  21. “Festa Punk”  [bis] 22. “Mentira”  23. “O Princípio do Nada”  24. “A Verdadeira Corrida Espacial”