MARKY RAMONE’S BLITZKRIEG
Carioca Club, 15.10.23
Não tinha como dar errado, desde o nome da banda: um Ramones Cover Oficial, nada de Marky Ramone And the Intruders (q tinha elepê novo, 2023, na lojinha de merchan). E foi foda: Ramones é gabba gabba hey e amor no coração peludo.
Mas não foi memorável. Fatores periféricos e capitais a seguir.
Q tal chegar a um Carioca Club estrumbado de gente entrando de filas de ambos os lados do recinto e ficar sabendo de shows de abertura não avisados?
Tampouco solicitados. E foram QUATRO, q mesmo breves e bons (alguns) tvz eu não assistisse, deixasse pra entrar mais tarde, sei lá. Não tenho mais idade pra não cogitar preservar minha lombar, os joelhos e as panturrilhas.
(não houve onde nem como sentar)
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Entrando no recinto, uma molecada de franquia de escola de música hipster fazendo show. Audição de fim de ano. Cheio de pai e mãe por ali curtindo (sumiram correndo quando os shows de verdade aconteceram) e uma coisa q achei anticlimática: covers de “Burn” e Green Day certinhas (tocaram Raimundos tb… bah), mas q teriam melhor lugar e ocasião num boteco.
Ou num evento de dia das crianças q estava previsto acontecer no próprio 12 de outubro. Com presença do Blizkrieg, daí remarcado pra ali. Galera curtiu, pq afinal tem banda pior por aí. Mas acho q parte dos tiozões curtiu tb por conta da vocalista teen usando calça de couro apertada. Pedofilia estrutural enrustida.
Mas se serviu pra batizar a molecada, q não façam mais shows sem aviso assim. Poderia ter dado ruim.
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Pouco depois entra o Apneia (ou Apnéia), projeto paralelo meio stoner meio Soundgarden meio Helmet meio Kyuss do Boka (Ratos de Porão). Q me passou impressão de trampo sério, e do mesmo estar tentando coisa fora dum “molde RDP“. E q não foi hostilizado, nem ruim. Mas eu queira ver Ramones.
Dai surge um tal Roque Reverso (foto acima), capitaneado por Johnny Monster (daquela banda R.I.P. Monsters com Gastão Moreira, de outros tempos) e ladeado por Ronaldo Passos (pilar guitarrístico do Inocentes)… fazendo covers punk. Punk raiz gringo.
E uma puta banda, de verdade, com um puta baterista (não guardei nome), à The Damned. Tocaram The Clash, Buzzcocks, Stiff Little Fingers (salvo engano), Dead Kennedys (com um punk velho cantando) e fecharam com Dead Boys.
Agradaram pq tocaram muito. Tocarem sozinhos ou noutro evento, vou de boníssima. Tocaram uma autoral pra filmar videoclipe e anunciaram turnê europeia pra 2024. Tocaram “Eu Vou Ouvir Ramones” com Ronaldo e galera cantando junto, e era isso. Porra.
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Mas aí ainda entrou o Supla e os Punks de Boutique. Porra de novo. E o mais doido? Um puta show. Faz de novo, no Sesc (teve na Virada Cultural, não fui), e eu pago pra ver. Sem ranços.
O cara é um meme ambulante. Um ridículo. Mas acredita de verdade no q faz, e olha na cara de quem achou ruim e mostra o dedo do meio. Durante a música. E isso é admirável. E fizeram set emendando sons uns nos outros, tvz pra coibir hostilidade. Q não veio.
Politicamente correto? Subiu com duas gostosas de lingerie e couro fingindo se lamber e fazer sexo lésbico. Tocou músicas novas, músicas velhas (não teve “Japa Girl” nem “Encoleirado”), medley do Tokyo (aquelas duas) e a ironia suprema:
Eu. Vivi. Pra. Ver. Supla. Tocar. Billy Idol. Tocaram “Dancing With Myself”. Numa versão noise bagaceira. E fiquei rachando de rir. Sozinho, acho. Mas é pq eu queria ouvir Ramones.
Baita show o do Supla. Em qualquer lugar solicitado, pode ser ainda melhor. Prestes a fazer 40 anos de carreira, posso atestar q ele finalmente venceu. Pelo cansaço.
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E aí veio Marc Bell, Marky Ramone pessoa ramonística. O peruquento. E mandaram 35 sons em pouco mais de uma hora. E aí problemas capitais aconteceram:
João Gordo entrou logo no 2⁰ som. Pra cantar “Havana Affair” (esqueceu a letra) e “Commando” (ficou foda, a banda até assustou); voltou depois pra backing em “Surfin’ Bird”, e não comprometeu.
O show foi repleto de lados B, o q gosto por convicção e birra. Sons q os próprios Ramones não tocariam, e se o fizeram foi uma vez (ou na época) e descartaram. “I Don’t Care”, “Tomorrow She Goes Away”, “She’s A Sensation”, “You Sound Like You Sick” (foda!), “I Wanna Be Your Boyfriend”, “Anxiety” (q é do Marky), “Oh Oh I Love Her So” e etc. Ponto alto achei “I Just Want Have Something to Do”.
Tocaram Motörhead (a ode aos Ramones) quase no final e o bis foi apoteótico, com “What A Wonderful World” (do Joey, ninguém ligou. Mesmo) e a protocolar “Blitzkrieg Bop”.
O vocalista foi o maior destaque: não imitou maneirismos nem os yeah de Joey (aliás, guitarrista e baixista tb não em relação a Johnny e Dee Dee), mas tinha hora q eu fechava o olho e era Joey Ramone. Impressionante.
Não tocaram “Psycho Therapy” (e nem liguei) nem “Do You Remember Rock’n’Roll Radio?”, q pra mim teria sido legal, como ainda a faltante “I Believe In Miracles”. Mas não ouso reclamar.
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Apenas atestar q Marky atravessou tempos, rateou andamentos e fez viradas desnecessárias e erradas. Muitas. Pouca gente ligou, e faz parte.
Sujeito estava claramente cansado. Turnê insana, com muita data e um ir e vir do Paraná (teve show surpresa no bar do Jão na quinta 12) em poucos dias.
Se não por isso, penso ser natural um sujeito de 71 anos já estar com outro timing. Meio aquilo da cabeça pensar e o corpo não responder de acordo.
Assisti a tudo acompanhado do Os Rockets, banda cover ramônica de Santos (q tem o guitarrista do Vulcano, Gerson Fajardo, na trupe), nos divertimos, berramos junto e eu cravei ao final q possivelmente não veremos mais Marky Ramone. Ou não mais se fizer uma turnê desvairada, nessas condições.
O homem é uma lenda, um sobrevivente. Sobreviveu a Joey, Dee Dee e Johnny Ramone e merece mais respeito. Foi foda, mas não foi memorável.
Por tudo isso dito acima.
Setlist: Rock’n’Roll High School ° Havana Affair ° Commando ° Teenage Lobotomy ° Beat On the Brat ° I Don’t Care ° Sheena Is a Punk Rocker ° Now I Wanna Sniff Some Glue ° We’re A Happy Family ° You’re Sound Like You Sick ° Rockaway Beach ° Gimme Gimme Shock Treatment ° Let’s Dance ° Surfin’ Bird ° Judy Is A Punk ° I Wanna Be Your Boyfriend ° She’s A Sensation ° The KKK Took My Baby Away ° Pet Sematary ° I Wanna Be Sedated ° Oh Oh I Love Her So ° California Sun ° I Don’t Walk Around With You ° Pinhead ° Cretin Hop ° Tomorrow She Goes Away ° I Just Want Have Something to Do ° (Sitting In My Room ou Chainsaw) ° She’s the One ° Listen to My Heart ° Anxiety ° R.A.M.O.N.E.S. ° [bis] You’re Gonna Kill that Girl ° What A Wonderful World ° Blitzkrieg Bop
marZ
19 de outubro de 2023 @ 11:54
Acredito que deva ter sido um puta show.
André
20 de outubro de 2023 @ 19:53
Putz, eu não sei se encararia todas essas bandas. Tenho curiosidade pela Apneia. Boka é foda. Supla é gente boa, mas, não encaro show. Ele nunca mais fez nada remotamente parecido com o disco Encoleirado. Fora isso, passo.
Marky faz o show de Ramones que Ramones não faria. Curioso ninguém ter ligado para What A Wonderful World. Demonstração que não tinha bicão por ali?kkkk
Marco Txuca
21 de outubro de 2023 @ 01:36
Me expressei mal, André: quis dizer q “ninguém ligou” q “Wonderful World” era de disco solo de Joey Ramone. Foi dos pontos altos do show, por sinal: deu pra ver o espanto do vocalista.
Por sinal, uma curiosidade: de “Brain Drain” a “¡Adios Amigos!”, tal qual em “Don’t Worry About Me”, só há a certeza de q apenas Joey e Marky gravaram todas as faixas.
(Tirando as poucas de “Don’t Worry” não gravadas pelo Marky)