“Virgulóides?”, Virgulóides, 1997, Excelente Discos
sons: BAGULHO NO BUMBA [domínio público] / HOUSE DA MADAME / ZOIÃO DE SAPO BOI / FESTA NA DONA TETA / MÉDICO SAFADO / SEBUNDA-FEIRA / DUM DUM [domínio público]/ SALVE O CABRA MACHO / NEGO VELHO / RAIMUNDA / QUÉ PICÁ
formação: Henrique Lima (guitarra, apitos e vocal), Beto DeMoreaux (baixo e backing vocal), Paulinho Jiraya (bateria, cavaco, surdo, pandeiro, triângulo, teclado e backing vocal)
.
Coisa q me irritava muito num certo rock brasuca noventista era a MACONHA.
Ñ, ñ fumo nem nunca (estou obviamente descontando os 5 anos de fumo passivo na PUC) traguei voluntariamente qualquer baseado: apenas ñ tenho nada contra, nem a favor do tch e dos maconheiros em geral. Muito menos ainda das bandas q foram na cola do óbvio (e boi de piranha) Planet Hemp, tais como Raimundos, Nação Zumbi (ainda com o chatonildo do Chico Science) e até mesmo os decanos do Barão Vermelho. Q parecem ter aderido ao tema como o ÙNICO a representar rebeldia e transgressão.
Tanto assunto pra se tratar, começou-se a falar de maconha do mesmo jeito massificado e inócuo de quem é adolescente e adere às modinhas repelentes (camisetas pretas, cabelos compridos, piercings, tatuagens, jeans rasgados, franja no olho): todo mundo usando o mesmo e se achando “fora da lei”. Bah!
O Virgulóides pintou no cenário como mais uma dessas bandas, haja visto o inequívoco e prosaico hit “Bagulho No Bumba”, q chegou a saturar de tanto tocar em rádios-rock ou mtv; e embora ainda fale em “fumo” na bestinha “Festa Da Dona Teta”, ñ era só uma banda de rebeldia pret-à-porter. Chegaram com proposta insólita e bastante INDIGESTA: a de misturar rock (e algum heavy rock) ao SAMBA!
Com muito do teor roqueiro remetendo a sessentismos grooveados como Jimi Hendrix. Ñ?
Nesse sentido, o álbum de estréia auto-intitulado-interrogativo é sublime. Pela produção (de Carlos Eduardo Miranda – aquele!) e pela mistura, graças a qual o tal Paulinho Jiraya deitou e rolou (vide ficha acima). Mas ñ só: os tais Henrique Lima e Beto Demoraux (o 2/3 roqueiro da banda) tb já pareciam músicos calejados, gente mais velha, q mera e impulsiva molecada.
Eram, sim, uns maloqueiros genuínos, cujo sotaque paulistano jamais conseguiu e conseguirá ser replicado em novela global, e q davam impressão de fazer o q gostavam, ñ o q estava na moda ou o q “daria certo” comercialmente. Por isso mesmo, a indigestão da proposta ñ frutificou, haja visto terem legado ainda outros 2 álbuns de repercussão pequena (“Só Pra Quem Tem Dinheiro?”, de 1998, com produção do famigerado Liminha) e nula (“As Aventuras Dos Virgulóides”, de 2000, q muita gente simplesmente desconhece).
****
Enquanto redijo esta resenha, pus o álbum pra rolar, o q há muito ñ fazia: e continuo defendendo a tese de q os Virgulóides tvz tivessem q ter passado mais perrengue antes de gravar – consta terem gravado esta estréia com 1 ou 2 anos de banda, se muito – o q tvz gerasse repertório mais consistente e selecionado em termos de letras (sobretudo).
Só consigo curtir “Bagulho No Bumba”, “Sebunda-Feira” (com a melhor transição rítmica – abrupta – q já ouvi uma banda fazer: vai do rock ao sambão-bateria-de-escola-de-samba de 0 a 5 segundos) e “Dum Dum”, som de bêbado, de domínio público, cuja letra apenas repete onomatopéias dadaístas (“dum dum, jacatunga lá, bisca tum, gararibê, jacatunga tinga”) e q Rita Lee simplesmente ESCANEOU lançando-o como “Tum Tum” no pífio “Santa Rita De Sampa” (1997) e atribuindo ao som autoria própria e do marido…
Letras bestas, algumas falsamente irreverentes (chulas, na verdade – lembremos a influência nefasta dos Mamonas Assassinas em bandas surgidas na cola, querendo soar engraçadinhas), tais como as de “Festa Na Dona Teta” ou “Médico Safado” ainda me estragam apreciar os sons em si, cujo mérito é muitas vezes a quebra do rock pro samba, ou do samba pro rock, abruptamente. “Zoião De Sapo-Boi” (com percussão de terreiro), falada em 1ª pessoa (em gírias herméticas) do manguaceiro chegando tarde em casa e tomando esporro da mulher, chega a ter batida quase grind ali pro fim.
Minha conclusão é a de q os 3 sons bons daqui (embora o disco seja curto – dura pouco mais q meia hora – acaba ficando repetitivo/cansativo), juntados aos 2 ou 3 bons de cada um dos seguintes, teriam rendido um álbum superior, melhor, embora ñ assim memorável.
“Virgulóides?”, extra-musicalmente, foi tb fruto do tal selo Excelente, q na cola do selo Banguela (q era dalguns Titãs com o Miranda), ñ chegou a legar dignos serviços: fora este e um álbum inusual do Blues Etílicos (“Dente De Ouro”), o q deixaram para a posteridade formações como Maria Do Relento, Os Ostras, Magnéticos ou Acabou La Tequila? Melhor o Miranda fez em virar jurado de calouro mesmo.
E o Raimundos – q consagrara o som de domínio público tornado hit (modalidade inventada pelos Mamonas em “Sabão Crá-Crá”) em “Esporrei Na Manivela”, anterior ao Virgulóides, banda, sem interrogação – acontecendo no Banguela foi aquilo de “raio em dia de sol”, “prêmio na loteria” ou “algo q aconteceria de qualquer jeito”, e fim de papo.
Só ficou q, tão abruptamente como surgiram, os Virgulóides se foram. Ainda q tocando em Free Jazz Festival (pra lançamento do 2º disco) e no Rock In Rio 3. Ñ encontrei informações detalhadas ou maiores sobre q fim levaram os sujeitos, embora de qualquer modo em hipótese alguma tenham legado descendentes. Só se lembra dos caras gente velha como eu e o miguxo Rodrigo Gomes…
****
CATA PIOLHO CXC – Jogo dos 7 Erros capístico.
E q tal: