MAIS ESTRANHO Q A FICÇÃO
Fui à Galeria do Rock sábado pra comprar remédios tarja preta cd’s e digo q em 32 anos freqüentando o lugar, foi a primeira vez em q saí estressado dali.
Muita gente aglomerada sem noção, vendedores tr00 teimando formação de banda com cliente, ao invés de me atender os q chegavam, o q dá pra entender pelo aspecto da carência: pessoal tá querendo se reencontrar, bater papo, ficar circulando por ali.
Pelo lado da vacinação, por mais q uns passa-panistas digam q quem está imunizado ñ vai se infectar com os antivax, fica difícil saber se quem está indo ali realmente tomou vacina. Sei lá, a idéia era achar os cd’s [comprei “Persona Non Grata” (Exodus), “Requiem” (Bathory), “One Foot In Hell” (Cirith Ungol) e “Echoes Of the Soul” (Crypta)] e rancar fora.
Acho q andei acostumado é mais ao lugar às traças, q daria pra pegar umas coisas, papear na SoWhat um pouco e vazar. Mas um dos caras da SoWhat estava todo empolgado (veio falar comigo no corredor) dizendo q as minas do Crypta andaram por ali na sexta, “comprando roupas”. E q a guitarrista “é alta pra caramba”.
Devia estar falando da holandesa.
***
Mas a idéia aqui é contar duas histórias ocorridas/relatadas, entre o risível e o lamentável e comprovadoras dum certo darwinismo em curso:
1. na última loja em q fui, Rock Machine, peguei o Exodus. A 40 covids. Estava com a sacola da SoWhat e o vendedor simplesmente a pegou e tirou os outros cd’s de dentro, pra ver quanto o concorrente estava cobrando cada um.
Muito tempo atrás, fui intimado por bangers, q me “pediram” pra ver os então lp’s do Ramones, Volkana e Golpe de Estado q havia recém-comprado. Nunca tinha sido intimado por VENDEDOR!
Troquei essa impressão com o Leo, q foi pragmático: “por q esse sujeito ñ entra no site da outra loja pra ver o quanto andam cobrando?”. Ao q me ocorreu responder: “e quem é q diz q esse sujeito sabe usar internet?”
É o q me parece.
Concorrência selvagem. Desespero.
2. na galeria vizinha, Galeria Presidente (q alguns poucos, há uns anos, chamavam – nada a ver – de “Galeria do Reggae”) subi ao primeiro andar pra fuçar na Velvet, dum cara lá ex-colunista da Bizz e meio metido, mas q faz umas promoções de cd a 20 covids. Velvet estava fechada, com aviso (à moda Adoniran) de q voltaria a funcionar só terça-feira, 23. Tranquilo.
Olhei um pouco ao lado, encontrei a Zoyd, loja antiga. Q vende música eletrônica e gótica oitentista séries B, C, D e várzea. Estranhamente ñ no mesmo lugar. Tinha mudado pra loja vizinha, à esquerda. E aí entra a história.
Dentro, o dono choramingava com um casal de clientes (amigos?) q ñ sabia mais o q fazer, pois estava perdendo clientes por ter mudado a loja. Mudado a loja pra loja ao lado.
Aparentemente, por dar pra ver da rua a “antiga” Zoyd, as pessoas a viam aberta ou fechada e subiam ou ñ pra lá. Como ñ dá pra ver mais lá do térreo, pessoas andam supondo q faliu e ñ sobem. Ñ sabem q está lá ainda.
Mas o “ñ saber mais o q fazer” é q achei péssimo. Surreal. Sujeito certamente ñ tem uma página da loja no Instagram, um perfil pessoal ou comercial no Facebook e claramente muito menos um grupo de clientes (amigos?) no WhatsApp.
E obviamente ñ “ponhou um recado na porta” (sic) antiga.
Quer dizer: até deu dó. E ñ me achei íntimo pra dar palpite. Mas, caralho, como é q um sujeito desse ainda tem um loja? Se ñ falir nos próximos meses, como faço pra indicar a Nobel de Economia?
Detalhe outro: enquanto estive fuçando ali (ñ levei nada), o cara estava colando com fita durex a maquininha amarela de cartão, q tinha soltado alguma aresta. Melancolia demais.
André
25 de novembro de 2021 @ 08:08
Eu tenho dó, sem zueira. Conheça casos de gente que fez isso A VIDA TODA. Não sabe trabalhar com outra coisa. Por outro lado, não se atualizou, não fidelizou uma cliente nova, não entende que o mundo mudou, etc. Aí, fica difícil.
marZ
25 de novembro de 2021 @ 09:36
Outro dia conversava com amigos aqui do estado exatamente sobre algo assim: um conhecido nosso que teve loja nos anos 90, faliu, abriu de novo nos anos 2000, tomou calote de um monte de gente, faliu de novo, e hj ja esta com 60 anos e passa dificuldades, pois nao sabe fazer outra coisa. Sao fans de musica, colecionadores, romanticos e idealistas… nao sao negociantes, comerciantes, nao tem a malicia, o jeito pra coisa. E so se ferram.
Marco Txuca
25 de novembro de 2021 @ 10:43
É como assistir à extinção dos dinossauros in loco. Esses 2, especificamente, estão tomados pela paralisia.
E nem acho q se explica pelo q alguns e outros em bolha hipster paulistana por aqui desdenham: “ah, mas quem compra cd hoje em dia?”
Bastante gente ainda. Lojas como Die Hard (tiraram foto com as Crypta no rolê e postaram), Paranoid, SoWhat (q há anos tem o melhor site das lojas, com campo de busca e tudo) e mesmo a Mutilation foram se virando nos últimos anos e vêm sobrevivendo à pandemia.
[Apesar de q o sucateamento do Correios, com preços pornográficos de envio, oferecer sério risco a esses melhor adaptados
De fato não sabem fazer outra coisa, com certeza nunca tiveram meta de futuro e não sabem lidar com o presente agora. Mas nada q algum amigo próximo não possa ajudar, com página de Instagram ou grupo de WhatsApp básicos, pôxa.
***
Exemplos dois outros: comprei há uns 2 anos camiseta zoeira Latos de Polão. Do Chicão, q já foi dono da Devil Discos e ainda está com lojinha lá, de camisetas, algumas sob encomenda.
Como foi essa minha: não tinha meu tamanho no dia, pediu uma semana pra me fazer (sem anotar meu nome, telefone ou e-mail) e rolou. Tradição oral ahahah
O outro caso é o do Sr Walcyr Challas. Provavelmente é dono do ponto, está lá na Woodstock ainda.
Desconheço se tem site (duvido q tenha) e da última q entrei ali, há uns 2 anos, vi cds piratas (cópias cdr), bonés e camisas fajutas do Iron Maiden mmdc. Eddie usando farda de soldado paulista revolução de 1932. Q se o Maiden não tomou providências ainda (duvido q não tenha chegado a informação a eles), tb não entendo. E é tudo o q o sujeito tem pra vender.
Deprimente.
E na mesma rua, recentemente abriu uma loja troo, Impaled Records, q cansa de entupir o WhatsApp das pessoas com ofertas de artigos pra colecionadores, como a discografia praticamente toda do Cannibal Corpse em picture disc.
E q a coisa mais recente q soube (e daí eu saber q a Woodstock – aparentemente – sobreviveu à pandemia), é q teria um show dum accept Cover lá num sábado recente. Cujo atrativo mor seria a estréia de novo vocalista.
Fiquei pensando se estavam trocando o Udo Cover pelo Tornillo Cover…
Tiago Rolim
25 de novembro de 2021 @ 15:22
A crise é foda. E vai ser duradoura. Fui umas duas semanas atrás lá. Fui na So What, a do galego com tatuagem do motorhead né? Enfim…, cheguei pedi o novo do Carcass e dois relançamentos recentes do Napalm Death. O cara demorou um tempo p achar os do Napalm. Pegou um monte de caixa, tirou do lugar meia loja, mas achou. Quando fui pagar, no crédito, ele me disse que não tava aceitando. Só débito e em grana/pix. Pq com a.pandemia, não valia a pena.
Não comprei pq tava só com cartão de crédito. Fiquei com vergonha do trampo do cara em achar os CDs. Mas…
FC
26 de novembro de 2021 @ 15:26
Fui lá faz uns 15 dias e já estou envergonhado em parecer um tiozão dizendo que ela está irreconhecível. Talvez a Galeria nem tenha mudado muito de 2009, 2010 pra cá, eu é que ainda estou nos anos 90 e em fase de negação. Acho que não vi o tempo passar, as tendências mudarem e a “nova geração chegar”.
A própria Die Hard mais de uma década atrás, percebendo o advento dos downloads ilegais e dos camelôs vendendo CD de MP3 e DVD na frente da Galeria, mudou seu discurso, dizendo que “era uma loja para colecionadores”. Sobre o que o Tiago postou, sabe por que eu comprava muito na Die Hard? Porque durante um tempo era a única (ÚNICA! ÚNICA!) que aceitava cartão de crédito de boa, sem impor restrições. Isso em 2000, 2001.
Tô parecendo fanboy da loja, mas resgatei uma Valhalla de 2007, em que o dono, meu xará, participa da mesa redonda e diz que se fosse por dinheiro já teria aberto outra coisa.
É um movimento muito arriscado esse de trabalhar em comércio apenas por amor ou por militância metal. Fica bonito no Alta Fidelidade, mas no mundo real é diferente.
Marco Txuca
27 de novembro de 2021 @ 00:47
Tiago: o galego da SoWhat, Pedrão, é todo enrolado mesmo. Teve uma época q riam de mim (fiquei conhecido, me chamam pelo nome ali) pq eu pesquisava no site antes uns cd’s pra comprar, chegava lá e ñ tinha.
Vendiam, mas ñ tinham dado baixa no site… Aconteceu muito.
Pegando a deixa do FC: a SoWhat acho q foi a ÚLTIMA loja na Galeria a aceitar cartão de débito. Era dinheiro ou CHEQUE até meados de 2009.
Comprei cd em cheque lá em 2009. Da última folha do único talão de cheque q usei na vida. E o Pedrão e o Zezinho (o outro sócio) tirando da minha cara q eu ia errar o cheque. Ñ errei e zoei: “se eu errasse, vcs ñ venderiam”…
Os caras estão ali, naquele ponto, desde 1986.
***
Esse romantismo do cara da Die Hard acho fachada. O cara vive da loja, sim. Mal comparando, é a UltraFarma da Galeria: começou a vender online e por frete antes de todo mundo, meteu a gourmetização do “colecionáveis” e conseguiu sobrevida.
Hoje ficam 3 ou 4 vendedores se acotovelando lá dentro e dão os cd’s numa sacola de papel pardo bem caprichada, e q deve custar caro. (Na SoWhat vez ou outra devolvo as sacolinhas pros caras e eles adoram). Vai ver teu xará mantém a loja pq gosta e ñ pq precisa.
E toda semana posta foto com alguém dalguma banda q vai lá “visitar”.