Gangrena Gasosa
COTURNOS, MOICANOS E BAFO DE PINGA
Oi, tudo bem?
Em outubro último, quando resenhei aquele livro, “Meninos Em Fúria”, biografia dupla de Clemente Tadeu Nascimento e de Marcelo Rubens Paiva, co-autores e protagonistas cúmplices, comentava da salutar complementariedade de se assistir alguns documentários junto à leitura.
Um deles é o “Botinada”, lançado em 2006 pelo já reconhecido Gastão Moreira. Disponível inteiro no You Tube.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Hm45wba-_CA[/youtube]
Independentemente de se curtir ou ñ punk rock, ou punk rock brasileiro (realmente diferenciado do punk gringo), parece-me algo de digna apreciação, mais ou menos como fiz semana passada indicando o filme do Gangrena Gasosa. Pq os personagens e episódios transcendem os sons, a tosqueira, a pobreza ideológica e o NOJO q foi o colapso do movimento aqui em São Paulo, perpetrado pela Rede Globo, via Silvia Poppovic, uma de suas repórteres emblemáticas à época.
O link acima parece conter ainda os extras, sobre a cena punk no Rio (skatista, tardia e incipiente), a de Brasília (razoavelmente conhecida e sem moicanos) e a de Porto Alegre, com os então Replicantes (ñ lembro se citam o Pupilas Dilatadas).
Fora tudo isso, tudo bem.
GG
Nem vou apelar pra serem/terem sido os “G.G. Allin brasileiros”.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=LB6z9_Xzt8I[/youtube]
Mas acho curiosa a coincidência das iniciais. As escatologias eram diversas, por outro lado.
Legal encontrar “Desagradável” inteiro no You Tube. E se bate um desânimo em ver durar 2 horas o material, minha memória é de se tratar dum documentário de responsa. Decente. Sem embromação.
E q, como aquele sobre a Woodstock (loja), recomendado tempos atrás por aqui, vejo como q refletindo o q é o metal no Brasil, o tal “metal nacional”, o metal brasileiro. Ralação, superação, equívocos, pataquadas, tretas (entre si e com outras bandas), promessas furadas, pouquíssimos lugares pra tocar (atenção ao sujeito do único bar q os aceitava)…
Só q, ao contrário de tanta banda mimimi, pioneira, ou daquelas q vivem comemorando 15, 20 e 30 anos com 10 parados, temos no Gangrena Gasosa uma banda com HISTÓRIA. Ainda q contando com gente desagradável envolvida – o título é mais q preciso nesse sentido. E q a discografia parca ñ reflete.
Foram tocar na Europa tb, e em reais condições (como provavelmente todas as outras brasuquices q pra lá foram) documentadas por aqui sem firulas. Sem falsidades. Nem mimimi. E com muita farofa.
Nenhuma banda cult se tornou cult intencional e deliberadamente querendo virar cult, uma outra lição. Recomendado, enfim.
PRETÉRITO (IM)PERFEITO
Por Jessiê Machado
Todos nós sabemos o que a Rock Brigade virou, mas é inegável sua importância em trazer e disseminar o heavy metal no Brasil antes da internet, principalmente em lugares fora do grande eixo RJ-SP que não tinham uma cena solidificada, nem shows, tampouco informações, a não ser o boca a boca com amigos e nas saudosas correspondências com bangers de todos os lugares.
Tenho várias revistas aqui em casa, de 1982 a meados dos anos 2000, predominantemente Rock Brigade, Metal e Dynamite e é sempre interessante dar uma relida e ver como eram “visionários” alguns colunistas que alçavam ou condenavam bandas.
Desta forma escolhi a RB de exatos 20 anos (fevereiro de 94, Iommi na capa) e escaneei algumas resenhas de CDs que já foram objetos de discussões aqui ou são frequentes em nossas conversas: “Cross Purposes” (Black Sabbath), com a recorrente comparação Martin–Dio; “Jar of Flies” (Alice In Chains), bem quisto por muita gente por aqui; “Bastards” (Motörhead) – basicamente a mesma coisa de “March Ör Die”, procede? -; “Welcome to Terreiro” (Gangrena Gasosa), mistura e piada bem com cara de anos 90 e, por fim, em homenagem à supremacia capixaba nos comentários do blog, “The Society’s Open Hurts” (Porrada!), de que só ouvi falar nesta ocasião. Todos resenhados por Vitão e Fernando de Sousa Filho.
É curioso também que a RB mudava constantemente a forma de qualificar os discos, ora com notas, ora com medalhas radioativas, dentre outras formas.
[Nota do Redator: esta pauta sairá em 4 partes. Hoje e nas próximas 3 quartas-feiras]
Hoje, Porrada! e Alice In Chains:
SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA TRASH SEM H
“Cine Trash”, coletânea, 1995, Band Music
sons:
- “Trash” – Alice Cooper
- “Super Charger Heaven” – White Zombie
- “Prevail” – Kreator
- “Raining Blood” – Slayer
- “Sabbath Bloody Sabbath” – Black Sabbath
- “Predator” – Accept
- “Self Destruction” – Criminal
- “Wish” – Nine Inch Nails
- “Starfucker Love” – Psychotica
- “Anya” – Deep Purple
- “Saravá Metal” – Gangrena Gasosa
- “Life Waterful Man” – Full Range
- “Trash Theme” – Nightmare Team
A outra modinha noventista q ñ a do mangue beat q ñ engoli foi a do Coffin Joe.
O Zé do Caixão em inglês pra mim foi coisa de meia dúzia de críticos cult estadunidenses, praticamente mais entusiasmados com tosqueira do q praticamente com algum valor cinematográfico da obra mojicana. Lixão inusitado e cintilante de 3º Mundo, tb meio vergonha alheia, dum tempo q o q atraía esse tipo de gringo era isso e ñ adotar criança pobre da África.
Só faltou deslumbrados de plantão por aqui – tipo André Barcinski – quererem q o cara ganhasse algum Oscar honorário…
Por outro lado, a onda rendeu frutos (podres) por aqui. Zé Mojica ganhou a tal sessão “Cine Trash” na Band. Q, salvo engano, era inicialmente de sábado à noite, pra passar a ser praticamente nas tardes dos dias úteis – tempos interessantes pré-noticiário de “celebridades” – sempre com algum filme b pra quem curte filme b.
E um desdobramento óbvio da sessão televisiva foi a coletânea aqui citada. Das piores q já ouvi, tanto pelo critério ESDRÚXULO de mistureba de bandas e sons, como pelo ÁUDIO RUIM q oscila de faixa pra faixa, e ainda por equívocos memoráveis de faixas aqui apresentadas.
Equívoco memorável #1: “Raining Blood” veio na versão mequetrefe q alguns “Reign In Blood” nacionais tiveram, de começar a faixa pela parte final de “Postmortem” (aquele recomeço e última estrofe, do “do you want to die”). Pff!
Equívoco memorável #2, suposto: a “Sabbath Bloody Sabbath” daqui é ao vivo e ñ me parece coisa do Black Sabbath. Aparentemente, tiraram dalguma gravação ao vivo do Ozzy e mudaram pro nome da banda. Equívocos adicionais: “Predator” e a ótima “Prevail” tiradas de discos obscuros das respectivas bandas – a 2ª ainda pior, pq tirada de disco (“Cause For Conflict”) q acho q nem saiu nacional…
“Wish” tá em versão tb esquisita, terminando em fading. E com a paradinha pré-refrão limada! “Trash”, xinfrim, foi nitidamente colocada pra rimar com o nome da coletânea. Pelo menos “Super Charger Heaven” e “Anya” (esta, com clima inequívoco de música de filme) foram colocadas integrais, sem palhaçadas.
Criminal era uma banda chilena, era isso? Faz parte do rol de sons insossos aqui contidos, junto dos de Psychotica (quem?) – q soa um sub Barbie Manson em demo de ensaio – e dum certo Full Range, nacional, bem tocado, mal cantado, longo e grooveado esquisito. E q me soou meio Gruntruck (alguém lembra?). A do Gangrena Gasosa francamente poderia ter sido melhor escolhida.
A “cereja” na farofa com frango morto e cidra na encruzilhada praticamente é o derradeiro “Trash Theme”, de co-autoria de Mojica, Faisca (será o guitarrista?) e Rogério Brandão e Jodele Larcher, diretores do pograma. Simplesmente uma cama mal gravada – coisa de guitarrista com bateria eletrônica gravada meia boca – bastante clichê pra imprecações do Coffin Joe. Q ao menos tem o mérito de ñ ser TÃO vergonha alheia como foi “Prenúncio”, infeliz parceria com o Sepultura safra “Against”.
Ao menos, sem desafinações e erros de concordância. E até praticamente com algumas rimas. Ao menos naquilo q entendi da bagaça.
Quero dizer o seguinte: “Cine Trash” é muito tosco. Paguei 10 contos nele, e até valeu. Pq ainda consigo encará-lo com BOM HUMOR. Recomendo a quem praticamente encontrá-lo tb o fazer. Pq ñ pode haver coisa pior q isso, o q é um valor – deturpado, sim – da coisa. (Fazer um catadão com as mesmas músicas, via download, vai ficar melhor).
Caso vc – vc, vc!! – ñ compre “Cine Trash”, praticamente seu intestino vai se transformar em cobra e te devorar por drento ahah
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CATA PIOLHO CXCVII – “Wolves”: Marduk ou Machine Head? // “Bled Dry”: Napalm Death ou Dew-Scented? // “You Can’t Stop Rock’n’Roll”: Twisted Sister ou AC/DC?
ATENDENDO A PEDIDOS
MELHORES DISCOS DE HEAVY METAL NACIONAL PRA MIM:
1. “Beneath the Remains”, Sepultura
2. “Brasil”, Ratos De Porão
3. “Nem Polícia Nem Bandido”, Golpe De Estado
4. “Ageless Venomous”, Krisiun
5. “Discord”, Subtera
inteirando 10, vá!
6. “Arise”, Sepultura
7. “Conquerors Of Armaggedon”, Krisiun
8. “Progress Of Decadence”, Overdose *
9. “Private Place”, Mosh *
10. “The Final Conflict”, Vodu #
* resenhados por aqui em priscas eras
# resenha reprisada no www.exiliorock.com.br/blog, em jun/10
Apesar da maioria dos coautores querer listar 10, fiz 5. Pq acho q se fizesse com 10, recorreria em redundância. Fora revelar-se-iam inúmeras lacunas q tenho com a pauta…
De qualquer modo, está liberado a quem quiser listar 10, q o faça. Apenas ponho o freio de ñ se citar mais q 2 álbuns duma mesma banda, seja ela o Sepultura, Gangrena Gasosa, o Viper ou quem quer q seja.
Passemos às discussões e tabulações!
ALGUM SENSO
Nem curto tanto assim o Gangrena Gasosa, de q considero as idéias bem melhores q a execução. E mesmo tendo o resenhado o “Smells Like A Tenda Espírita” muito tempo atrás, no outro/idem blog [foi em janeiro de 2006]. Mas acabei de ler extensa entrevista com o vocal deles (um certo Chorão 3) no www.portalrockpress.com.br e faço aquele ctrl c + ctrl v descarado só na desculpa esfarrapada de ter algum assunto pra discutir por aqui.
E pq o sujeito demonstrou ser true. Bem mais q eu ahah (se bem q ñ é nada difícil isso), admito.
Seguem trechos:
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Quais são as principais diferenças de ter uma banda na adolescência e depois dos 30 anos, com filho, famílias, essas coisas?
Você não ter mais disposição pra dar murro em ponta de faca… Não ficar mais aturando certas babaquices de gente que pensa que está te fazendo um favor não te cobrando venda de ingressos pra tocar… Não sei se é assim em São Paulo ou em outros estados porque estou muito por fora da cena, mas no Rio de Janeiro tá assim hoje… Mas acho que deve ser aqui mesmo, porque o que eu vi na produção do ETHS (banda de new metal da França) feito pela Sob Controle (aí de São Paulo mesmo), fiquei impressionado com a puta estrutura que a banda teve no evento. Não só estrutura, mas acho que a palavra certa mesmo é suporte, logística, achei foda. Me dá motivação de voltar com a banda e batalhar para alcançar esse nível de estrutura num evento. Os caras da Sob Controle são foda mesmo, não sei se estou fazendo propaganda gratuita, só respondi no contexto da pergunta, mas pra mim, o efeito foi que nem pegar um iPhone pela primeira vez na mão: me impressionou. Principalmente num meio em que todo mundo choooooooooooora pra caralho que tá ruim, tá ruim, tá ruim… Será que o público também não está cansado de sair de casa, pegar três ônibus pra ver 500 bandas sem previsão de horário pra começar o evento? Será que não estão de saco cheio de ver o nome de várias bandas no cartaz e ouvir o som igual ao do Atari Teenage Riot para todas as bandas saindo dos amps? Não sei, é uma pergunta…
Vocês ao invés de cultuar demônios gringos, como belzebu, lúcifer ou mesmo voldermort, preferem se apegar a entidades brasileiras. Os nossos santos de casa são mais poderosos que os importados?
Eles são mais nervosos, metem mais medo, eles estão aqui, né, meu? Nas esquinas e encruzilhadas da(s) (nossas) vida (s). Se quiser ver belzebú e lúcifer que estão láááááááááááá na Noruega, ou Voldermort (esse é do Harry Potter, nem meu filho tem medo mais…) você compra um CD, aluga um filme, entra na internet, você tem essa opção… Agora com a macumba, não, Tranca Rua e Exu Caveira, tá amarrado, né, mano? Você pode trombar com um despacho em qualquer esquina. Cara, tem gente que se muda de casa por causa de tambor de terreiro de macumba. Falam que é porque o som incomoda, mas acho que é medo mesmo. Eu tinha uma bobeira quando era pequeno, que sempre achava que meu pirú ia cair se eu pisasse em despacho de macumba, ou que a minha perna ia secar. Porra, quando aquele livro do Bispo Macedo, Guias Caboclos e Orixás, Deuses ou Demônios, foi parar lá em casa, eu parei até de comer doce de São Cosme e São Damião com medo, porque o livro falava que esses doces são oferecidos ao diabo antes de dar pras crianças (isso é sério). A minha mãe compra doce pro meu filho em dia de Cosme e Damião, mas ela não deixa ele comer do saquinho de jeito nenhum. E eu respeito essa atitude dela, sei lá, né, meu, vai saber…
Existe uma especulação de que o disco Roots, do Sepultura, foi inspirado em vocês. Definitivamente: isso é fato ou lenda?
Definitivamente o Roots é um crossover de Korn no som com Gangrena Gasosa no conceito. E no clip da música “Roots” é Gangrena Gasosa até o caroço. Mas também, todo mundo que fala de macumba no Brasil vai remeter a alguma lembrança da gente, não tem jeito. Mas nós não somos donos de toda macumba do mundo e, além disso, o Roots é um disco foda (não, não é o melhor deles, prefiro Chaos A.D. e o Beneath the remains). Ninguém tem a patente das boas idéias, e em contrapartida, esse brá lá lá que rolou com o Sepultura nos ajudou na época, na tour da Alemanha a gente sempre era relacionado com o Sepultura e o Ratos de Porão, era a melhor referência que eles tinham pra situar o nosso som. No problem. Sepultura é uma puta banda. Mas isso de fazer macumba não deu muito certo pra eles, porque a banda perdeu muito espaço depois disso e o Max virou mendigo… Meu Deus, que cabelo é aquele, né, velho? Tem uma foto dele na Rolling Stone (revista) que ele tá sem um dente… Cruz credo… Que onda errada… Ele acha que isso é bonito? Já pensou como ele vai falar pro Zyon escovar os dentes se ele não dá exemplo pro garoto?
Quem ouve o som deve achar que vocês se vestem de demônio, moram em cemitério e tomam água de vala. Quem são vocês afinal?
Eu não bebo água de vala, não, mas não sei se alguém da banda bebe. Veja um caso verídico que aconteceu com a gente. A Lana Romero (nossa manager) fez contato recentemente com a produção de um evento que rolou em Cabo Frio (o festival se chama Rock Humanitário). Daí o cara que organiza o evento falou assim pra ela: “eles mexem com coisas muito sérias e não quero nada negativo no meu evento…” E adivinha quem vai tocar no evento… Quem? Quem? Quem? O Krisiun!!! É mole? Tu tem troço mais defão que o Krisiun? É fácil não ter medo de satã, Beelzebuth, Astarot, Demon que são diabos gringos. Mas ninguém quer mexer com Exu, Tranca Rua, Pomba Gira e Zé Pilintra.
Então aí está provada a sua teoria, as entidades daqui são mais poderosas?
Eu não sei medir isso… Até seria engraçado fazer um jogo de Playstation onde as entidades saíssem na porrada pra ver quem é o diabo mais foda do mundo, já pensou? Mas não é isso, cara, se você fizer um despacho de macumba na porta do Glen Benton ou do Tom Araya eles vão falar “shit!” e mandar alguém varrer. Macumba não pega em alemão nem em japonês. Mas aqui no Brasil, malandro, já pensou em botar um pôster meu com filá de Omulú na parede do quarto? Ou uma foto do Ângelo vestido de Zé Pelintra na camisa? Não róla… A sua vó nem sua mãe iam deixar. Nego tem medo de macumba, e tem medo à vera! Neguinho se borra mesmo. Gótico que anda de preto em cemitério, metaleiro defão, nego dá conselho: “Larga disso meu filho, fica direitinho”, mas ninguém vê um adolescente entrar no mundo da macumba achando que isso é uma fase que vai passar quando crescer. Macumba é coisa mais séria, e ninguém gosta de mexer com essas coisas mesmo, não.