ALGUM SENSO

Nem curto tanto assim o Gangrena Gasosa, de q considero as idéias bem melhores q a execução. E mesmo tendo o resenhado o “Smells Like A Tenda Espírita” muito tempo atrás, no outro/idem blog [foi em janeiro de 2006]. Mas acabei de ler extensa entrevista com o vocal deles (um certo Chorão 3) no www.portalrockpress.com.br e faço aquele ctrl c + ctrl v descarado só na desculpa esfarrapada de ter algum assunto pra discutir por aqui.

E pq o sujeito demonstrou ser true. Bem mais q eu ahah (se bem q ñ é nada difícil isso), admito.

Seguem trechos:

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Quais são as principais diferenças de ter uma banda na adolescência e depois dos 30 anos, com filho, famílias, essas coisas?
Você não ter mais disposição pra dar murro em ponta de faca… Não ficar mais aturando certas babaquices de gente que pensa que está te fazendo um favor não te cobrando venda de ingressos pra tocar… Não sei se é assim em São Paulo ou em outros estados porque estou muito por fora da cena, mas no Rio de Janeiro tá assim hoje… Mas acho que deve ser aqui mesmo, porque o que eu vi na produção do ETHS (banda de new metal da França) feito pela Sob Controle (aí de São Paulo mesmo), fiquei impressionado com a puta estrutura que a banda teve no evento. Não só estrutura, mas acho que a palavra certa mesmo é suporte, logística, achei foda. Me dá motivação de voltar com a banda e batalhar para alcançar esse nível de estrutura num evento. Os caras da Sob Controle são foda mesmo, não sei se estou fazendo propaganda gratuita, só respondi no contexto da pergunta, mas pra mim, o efeito foi que nem pegar um iPhone pela primeira vez na mão: me impressionou. Principalmente num meio em que todo mundo choooooooooooora pra caralho que tá ruim, tá ruim, tá ruim… Será que o público também não está cansado de sair de casa, pegar três ônibus pra ver 500 bandas sem previsão de horário pra começar o evento? Será que não estão de saco cheio de ver o nome de várias bandas no cartaz e ouvir o som igual ao do Atari Teenage Riot para todas as bandas saindo dos amps? Não sei, é uma pergunta…

Vocês ao invés de cultuar demônios gringos, como belzebu, lúcifer ou mesmo voldermort, preferem se apegar a entidades brasileiras. Os nossos santos de casa são mais poderosos que os importados?
Eles são mais nervosos, metem mais medo, eles estão aqui, né, meu? Nas esquinas e encruzilhadas da(s) (nossas) vida (s). Se quiser ver belzebú e lúcifer que estão láááááááááááá na Noruega, ou Voldermort (esse é do Harry Potter, nem meu filho tem medo mais…) você compra um CD, aluga um filme, entra na internet, você tem essa opção… Agora com a macumba, não, Tranca Rua e Exu Caveira, tá amarrado, né, mano? Você pode trombar com um despacho em qualquer esquina. Cara, tem gente que se muda de casa por causa de tambor de terreiro de macumba. Falam que é porque o som incomoda, mas acho que é medo mesmo. Eu tinha uma bobeira quando era pequeno, que sempre achava que meu pirú ia cair se eu pisasse em despacho de macumba, ou que a minha perna ia secar. Porra, quando aquele livro do Bispo Macedo, Guias Caboclos e Orixás, Deuses ou Demônios, foi parar lá em casa, eu parei até de comer doce de São Cosme e São Damião com medo, porque o livro falava que esses doces são oferecidos ao diabo antes de dar pras crianças (isso é sério). A minha mãe compra doce pro meu filho em dia de Cosme e Damião, mas ela não deixa ele comer do saquinho de jeito nenhum. E eu respeito essa atitude dela, sei lá, né, meu, vai saber…

Existe uma especulação de que o disco Roots, do Sepultura, foi inspirado em vocês. Definitivamente: isso é fato ou lenda?
Definitivamente o Roots é um crossover de Korn no som com Gangrena Gasosa no conceito. E no clip da música “Roots” é Gangrena Gasosa até o caroço. Mas também, todo mundo que fala de macumba no Brasil vai remeter a alguma lembrança da gente, não tem jeito. Mas nós não somos donos de toda macumba do mundo e, além disso, o Roots é um disco foda (não, não é o melhor deles, prefiro Chaos A.D. e o Beneath the remains). Ninguém tem a patente das boas idéias, e em contrapartida, esse brá lá lá que rolou com o Sepultura nos ajudou na época, na tour da Alemanha a gente sempre era relacionado com o Sepultura e o Ratos de Porão, era a melhor referência que eles tinham pra situar o nosso som. No problem. Sepultura é uma puta banda. Mas isso de fazer macumba não deu muito certo pra eles, porque a banda perdeu muito espaço depois disso e o Max virou mendigo… Meu Deus, que cabelo é aquele, né, velho? Tem uma foto dele na Rolling Stone (revista) que ele tá sem um dente… Cruz credo… Que onda errada… Ele acha que isso é bonito? Já pensou como ele vai falar pro Zyon escovar os dentes se ele não dá exemplo pro garoto?

Quem ouve o som deve achar que vocês se vestem de demônio, moram em cemitério e tomam água de vala. Quem são vocês afinal?
Eu não bebo água de vala, não, mas não sei se alguém da banda bebe. Veja um caso verídico que aconteceu com a gente. A Lana Romero (nossa manager) fez contato recentemente com a produção de um evento que rolou em Cabo Frio (o festival se chama Rock Humanitário). Daí o cara que organiza o evento falou assim pra ela: “eles mexem com coisas muito sérias e não quero nada negativo no meu evento…” E adivinha quem vai tocar no evento… Quem? Quem? Quem? O Krisiun!!! É mole? Tu tem troço mais defão que o Krisiun? É fácil não ter medo de satã, Beelzebuth, Astarot, Demon que são diabos gringos. Mas ninguém quer mexer com Exu, Tranca Rua, Pomba Gira e Zé Pilintra.

Então aí está provada a sua teoria, as entidades daqui são mais poderosas?
Eu não sei medir isso… Até seria engraçado fazer um jogo de Playstation onde as entidades saíssem na porrada pra ver quem é o diabo mais foda do mundo, já pensou? Mas não é isso, cara, se você fizer um despacho de macumba na porta do Glen Benton ou do Tom Araya eles vão falar “shit!” e mandar alguém varrer. Macumba não pega em alemão nem em japonês. Mas aqui no Brasil, malandro, já pensou em botar um pôster meu com filá de Omulú na parede do quarto? Ou uma foto do Ângelo vestido de Zé Pelintra na camisa? Não róla… A sua vó nem sua mãe iam deixar. Nego tem medo de macumba, e tem medo à vera! Neguinho se borra mesmo. Gótico que anda de preto em cemitério, metaleiro defão, nego dá conselho: “Larga disso meu filho, fica direitinho”, mas ninguém vê um adolescente entrar no mundo da macumba achando que isso é uma fase que vai passar quando crescer. Macumba é coisa mais séria, e ninguém gosta de mexer com essas coisas mesmo, não.