Prestes a começar o despachoshow, o Leo me lança a pergunta: “será q o Gangrena vai caber nesse palco do Hangar 110?”
Começou a apresentação e me distraí.
Pq a pergunta q me fiz e me respondi ao longo da uma hora e meia de som foi: “foi melhor q o show do Centro Cultural Vergueiro há uns 5 anos?”, “sim, foi”.
Um pouco por conta da banda insuficiente de abertura antes e por termos perdido o Desalmado, a expectativa estava muito alta. E a mim, resolvida. Satisfeita ao final.
O GangrenaGasosa tá tinindo. Melhor fase da banda, em show. Em q pese o guitarrista exu caveira japonês ter tido uns tilts certa hora (guitarristas não levam mais cabos extra no equipo?) e o som ter oscilado um pouco (bem pouco) numa horinha, nada consigo reclamar.
Músicas velhas, como “Surf Iemanjá”, “Terreiro do Desmanche” e “Centro do Pica-Pau Amarelo” compareceram. Sete das 11 músicas de “SeDeusé10, Satanásé666“, tb. Mesmo as passíveis de datação “Quem Gosta de Iron Meiden Também Gosta de KLB” e “Eu Não Entendi Matrix” me empolgaram. Pq não são as letras, são os sons.
Ninguém faz metal/hardcore endiabrado como o GG. Ninguém entretém uma platéia como o GG. Como Angelo Arede, com moral e marra pra zoar e intimar idiota q estava causando. Sujeito é carismático e preciso. Ainda mais num côro breve de “morra, Bolsonaro”.
A mistura de batuque e ginga e peso é alicerçada demais pelo baterista (não guardei nome), preciso, e pelo guitarrista (idem) q não comete um solo, um exagero, uma palhetada fora do lugar. Mão pesada demais. Falo sério quando digo (e já devo tê-lo feito quando do outro show) q esses caras deveriam estar na Europa, entorpecendo os gringos, chamando atenção, apagando filmes queimados de excursão zoada antiga, de outro tempo e outras entidades envolvidas.
Os vocais são precisos e entrosados. Discretos, só o baixista e a percussionista, novos (ou só ela nova?), mas pode ser q estivessem rogando pragas. Sons novos, como “Fiscal de Cu” e “Headboomer” tb entraram na mistura. E nem consigo dizer quantas foram as músicas: nem me lembrei de contar.
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Rodas adoidado, calor desgraçado (só o baixista não abandonou o cosplay inicial) e gente amiga dos caras subindo ao palco pra cantar junto e pular. Base de fãs a banda tem, não sei qual seria o próximo passo.
Pq ao final só conseguia responder à pergunta do Leo assim: “por q esses caras não estão em palcos maiores?”. Ainda mais europeus, reitero. Não estou nem falando de Wacken, q é outra coisa.
TOP 10 ÁLBUNS DE ARTISTAS/BANDAS Q Ñ GOSTO, MAS Q ACHO O TÍTULO FODA:
“O Silêncio Que Precede o Esporro”, O Rappa
“You Can Tune A Piano, But You Can’t Tuna Fish”, REO Speedwagon
“Cidades em Torrente”, Biquini Cavadão
“Suck It And See”, Arctic Monkeys
“Supposed Former Infatuation Junkie”, Alanis Morissette
“Se Deus Vier, Que Venha Armado”, Pavilhão 9
“Antichrist Superstar”, Marilyn Manson
“Skeleton Skeletron”, Tiamat
“Hot Fuss”, The Killers
“God’s Own Medicine”, The Mission
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WhatsAppin’: Azul Limão, D.F.C., Satan (por causa de passaporte), I Am Morbid (por causa de furacão), The Troops Of Doom (por causa do I Am Morbid) e Vazio [corrigido](com comunicado memorável) cancelaram o M.O.A., q rolou.
Vi stories do Crypta. Tocaram. Rolaram Desalmado, Mayhem e parece q rolou, em horário alterado, Dorsal Atântica. E me pareceu uma nova modalidade de mambembice de festival tosco no Brasil: a “vai q alguma banda cola”. Aguardo a cobertura passa pano dos sites oficiais.
No aguardo de ver se esse Summer Breeze Brasil rolará assim.
Circulando pelo WhatsApp desde semana passada, tem o seguinte release cometido (ñ consegui printar + colar) pelo Carioca Club:
“Respeitando todos os protocolos de segurança o Krisiun fará um show especial no Carioca Club Pinheiros, em São Paulo, com abertura da banda DESALMADO. O show vai acontecer no dia 8 de novembro.
Nesta nova experiência seguiremos o protocolo de distanciamento entre as mesas, uso de máscaras, sanitização dos ambientes, aferição de temperatura e demais procedimentos de segurança.
O evento acontecerá para um número limitado de pessoas e os ingressos serão vendidos apenas de forma antecipada no site do Clube do Ingresso. As mesas serão ocupadas por ordem de chegada.
O evento começará pontualmente às 17h.
Menores de 16 anos, somente acompanhados de responsável legal“.
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Quer dizer: tem tanta coisa equivocada aí, q nem sei muito por onde começar. Daí lançar o assunto.
Já troquei algumas impressões com alguns dos amigos em off, e pelo q Jessiê andou apurando, parece q o Desalmado tá pra sair fora.
Ñ me parece hora disso ainda.
Dar moral pra bolsonóia q acredita em câncer causado por termômetro. Se bem q metaleiro isentão de direita já ñ curte o Krisiun há pelo menos 2 anos. (Ou já passou a eleição e tudo bem?). Público com mesa? Número limitado de pessoas? Menores acompanhados de “responsável legal”?
(“responsável legal” numa mesma frase, parafraseando um Dave Mustaine rápido, é algo q faz algum sentido neste contexto?)
Por causa dessa porra de coronavírus, claro. Fiquei até pouco antes de sair buscando atualizações sobre cancelamento. Nada. Daí arrisquei. Meio torcendo pra dar com a cara na porta.
Tb foi difícil curtir e me manter alerta. Tanto q lá pelas tantas (acho q antes do D.R.I.) comecei a me tocar do bando de gente suada e sem camisa saindo das rodas. Ñ estava difícil evitar contato próximo – o Carioca ñ lotou – mas era um show de 6 bandas (nenhuma cancelou), ñ uma exposição de Mondrian na Pinacoteca do Estado.
Enfim.
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Vou pelo periférico antes: o festival já é uma realidade. Até cerveja (artesanal?) com o nome do evento já tinha à venda. Assim como merchan: camisetas, bonés e camisetas com a edição do ano passado. Tudo se deu na maior tranqüilidade, começando na hora (teve banda q ñ usou todo o tempo destinado) e terminando pouco antes das 23h.
Todos os elogios ao preço da balada: 60 reais. Toda uma crítica aos cheesburgers gourmet vendidos ali dentro: 25, sem refri nem fritas. Fiquei numa Coca, numa água e numa coxinha vegana de recheio rosa de 8 contos, nesse sentido. E comprei o “Tapping the Vein” do Sodom a 35, no merchan.
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Perdi o Cerberus Attack, de quem tinha fita cassete vendendo no merchan. Pq ñ conseguia achar arroz (quilo de alimento condicionado ao ingresso promocional) no mercadinho próximo. A metaleirada comprou todo o arroz ali, e tive q forçar entrada com 1kg de sal grosso. Mas ouvi falar q fazem thrash. Aparentemente thrash meio zoeiro, tipo Tankard. Alguém aqui recomenda?
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Manger Cadavre? Desses, já tinha ouvido falar (bem) e cheguei no meio. Chama muito atenção a vocalista, desenvolta e linda. Ñ é uma banda q usa da figura dela pra chamar atenção, frise-se. E q depois ficou o tempo todo no merchan trocando idéia com as esposas/namoradas do povo do Surra e molecada q já tenho percebido repetidas nos eventos.
Ñ comprei nada deles; no fim, o guitarrista soltou q era o último show dele com a banda, e fez alguma piada meio homofóbica (ou homoerótica) q ñ captei. Baixista do Surra tocou uns 3 sons do set tb. Mas é um grindcore quase thrash bem feito, bem tocadinho (zero bagaceiro) e com um nome diferente. Tem apelo. Quero ver se vejo melhor numa próxima vez.
Ñ tocaram cover de Slayer nem falaram em “metal nacional”. É outra geração. Ufa.
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Desalmado Vieram depois. Gente mais velha, ainda ñ tiozões (aquele pessoal q já foi cabeludo e hoje raspa a cabeça), e competentes. Veia quase thrash, meio hardcore NY (aquele tipo de som q demora 1 ano pra entrar o vocal, tipo Oitão, e q ñ curto). Apesar do nome, mandam em inglês. E agradaram.
Me lembrou, pelo formato, o Cemitério, q vi outro dia no Kool Metal Fest. Pelo som melhor formatado, pela proposta mais definida etc.
Foi a banda mais contundente na crítica ao Bostonaro, preferindo criticar os bolsominions, os metaleiros reaças, q “tem q dar na cara desse pessoal” (sic). Concordei. Mas ainda estava desconcentrado na coisa toda. Passou sem me incomodar nem me cativar. Escolhi ñ comprar cd tb.
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Surra veio na seqüência, e tudo o q tenho dito sobre os shows recentes (as últimas duas a três resenhas aqui), podem fazer o ctrl c + ctrl v. Com a seguinte diferença: estão mais sérios e mais zoeiros ao vivo.
O baixista se encarrega de falar merda, numa boa, às vezes dedicando sons à “nação regueira santista” (e teve um som ali com pegada reggae) e pedindo, quase ao fim, q nós pegássemos caneta e cadernos pra “aula” q o Periferia S.A. daria na seqüência. Reverência sincera, sem bajulação brodística.
Pessoal das outras bandas (Manger Cadavre? e Desalmado) ficava na beira do palco, cantando junto. Vez ou outra se atreviam a roubar os microfones e cantar no lugar dos caras.
Dá pra perceber q o Surra ocupa um lugar nodal nessa leva nova de bandas: tem uma empresária deles (já tinha visto em outros shows deles) q circulou o tempo todo no Carioca, ora ajudando a banda, ora verificando merchan, ora conferindo as cervejas. E tb trabalhando pelo evento. Ñ sei o nome, mas uma mulher q trabalha duro ali.
Além disso, me parece q a ex-baterista do Eskröta (ali presente) é namorada ou esposa do vocalista. Lembrando q o vocalista, Leo, produziu “Eticamente Questionável”, o primeiro ep do Eskröta. E q o baixista tocara pouco antes no Manger Cadavre?. Ramificações, capilaridades, sintonia, gente ralando. Ao invés de ficar erguendo auto-tributos, virando youtubber fascista/isentão ou reclamando de falta de apoio…
Puta show, puta clima (esqueci o vírus), rodas insanas.
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Periferia S.A. Jão e sua horda entraram mais focados do q quando os vi em dezembro. Estava menos (ou nada) briaco. Jabá é um zoeiro q chegou a esquecer música no meio (acho q era “F.M.I.”), lembrou no fim. Boka parou uma música antes da hora (ñ lembro qual), mas ficou legal, sem stress.
Os sujeitos têm estrada, ñ se abalam com qualquer coisa, levam de boa. E contam com o devido respeito de todos. Um R.D.P.roots (Jão uma hora falou algo como “vamo fazê um cover de nós mesmos”), mas q ñ atrapalha o R.D.P. oficial. Q até andou voltando, mas sei lá.
Juninho estava pela platéia, de boa.
Tocaram basicamente os mesmos sons q ouvi em dezembro, alternando os próprios (“Segunda-Feira”, “Devemos Protestar”, “Eles”, “Destruição”, “Facit Indgnation Versum”) com lados b do Ratos (“Periferia”, no fim, “Agressão/Repressão”, “Políticos em Nome do Povo”, “Sentir Ódio e Nada Mais”, “F.M.I.”, “Novo Vietnã”) e outros tantos.
Foi uma das bandas q ñ usou todo o tempo disponível, salvo engano. Ñ precisou. Achei bem sacado Jão e Jabá revezarem uns vocais. Entraram com o jogo ganho e jogaram final de campeonato. Ñ tem partida amistosa esse time. Jão é foda.
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D.R.I. Os estadunidenses fecharam o evento com classe. Integrantes originais apenas o vocalista Kurt Brecht e o guitarrista Spike Cassidy. Baixista ali parecia o Tony Campos (ñ consegui confirmar); baterista era das antigas tb, mas ñ atentei ao nome.
Era o show mais esperado, e ñ pq a galera tratou com pouco caso (como “bandas de abertura”) os shows anteriores; aliás, foi uma escalação pra lá de didática. Bandas atuais, passando por bandas veteranas até culminar numa das bandas q criou o grindcore, ora pois.
Minha conclusão é a de ñ conhecer o suficiente (preciso ajeitar isso), o q nunca tinha me ocorrido. Mas reconheci sons como “Acid Rain”, “Violent Pacification” e “You Say, I’m Scum”. Brecht ñ é assim comunicativo: por vezes entre os sons ficavam aqueles silêncios, com os caras ajeitando os instrumentos e tudo. Enfim.
Spike vez ou outra ia ao microfone e se comunicava melhor com o público. Fizeram todo um repertório das várias fases, cometeram o bis e mostraram-se à altura do evento.
Nada de banda bolorenta do passado, cover oficial ruim de si própria. Convenceram. Provavelmente faltou um ou outro som, mas ñ tocar tudo tb faz parte da memória futura, hum?
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Chegou a hora de ir embora, esperei quase todo mundo sair primeiro e daí voltei pra casa. Moído. Pq com 4.5 festival com 6 bandas dói partes do ciático q eu nem desconfiava existirem.
E foi dureza voltar no metrô em pé, sem poder encostar em nada. Estou na expectativa de escapar ileso. Sei lá.