Em homenagem póstuma. Publicado originalmente em 13 de Maio de 2005.
“Chill-Out Or Die (the ambient album)”, Würzel, 1997, Humbug
sons: ELECTRIC WAVE * / ANUBIS * / BAREWIRES / SUPERTREV * / SPACE DEBRIS * / KARMA FOR KATY / BLISS IN THE SACK AND HAT * / SURFING THE WAVEBAND / THE FINAL MOMENT
formação (citando o encarte): “all tracks performed and produced by Würzel, all tracks written and arranged by Jem; guitar on “Anubis” by Nigel Burston”
Por outro lado, o Metal Archieves cita uns tais Jerry Ferguson (baixo e teclados) e Simon Moss (bateria) participando tb.
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Ñ me recordo do momento (sei q foi durante e após o “Sacrifice”), nem da repercussão – se é q houve alguma – da saída de Michael Burston (vulgo Würzel) do Motörhead. Quer dizer, foi pouca e discreta, q me lembre.
Aliás, analisando retroativamente, tvz a saída do Fast Clarke tenha sido a única de maiores comentários, vide a formação do super e efêmero Fastway; mesmo assim, ex-integrantes da banda-mor raramente se ouve falar depois.
Exemplo: alguém sabe q fim levou o Animal Taylor?
Quando da aquisição deste “Chill-Out Or Die…” mês passado, escrevi por aqui mesmo ser um trabalho “surpreendente”. Por ser trampo, raro, dum ex-Motörhead (mesmo sabendo da existência dum single oitentista, “Bess”, quando ainda dividia as cordas com Phil Campbell na horda, e encontrável ocasionalmente em vinil na Galeria), e pelo teor musical contido.
Alguém sai duma banda, ainda mais do Motörhead, e o q se espera é uma paulada de disco. Ñ? Ou em outro extremo, alguma coisa incongruente, radical e surpreendentemente diferente, inesperada. É o caso aqui.
O momento em q vi “Chill-Out Or Die (the ambient album)” no balcão de ofertas, importado e a 10 paus, me veio à mente a bipolarização, ainda mais pelo título. Tanto q perguntei ao dono da loja do q se tratava. Resposta: “é um disco de new age do cara”.
Sei.
Mesmo contendo “(the ambient album)” de parêntese-subtítulo, arrisquei. Como assim, new age? Pois até a capa, via Joe Pentagno, por mais atenuada q o habitual dele (é um esqueletão, mas mais num naipe capa de Oingo Boingo ou “Riot Act”, do Pearl Jam) haveria de desmentir, dissonar, tumultuar o lance. O encarte, trazendo autoria dos sons por Jem, esposa de Würzel, me fez pensar ser um Blackmore’s Night II, a missão. Nem: mesmo pq inexiste qualquer vocal q se pudesse forçar comparações.
Ponho o cd pra tocar, vêm os tamanhos do negócio e dos sons: 9 faixas em 64 minutos… Faixas acima de 5 minutos, como “Electric Wave” (9 min e pouco), “Barewires” (7 e pouco), “Supertrev” (6 e meio); faixas mastodônticas, com 14 minutos e 37 – é o caso de “Karma For Katy” – e com 12 minutos e 20 (“Bliss In the Sack And Hat”). Hm… Faixas curtas parecem acidentais ou fortuitas (e só 3), como a última, “The Final Moment”.
Tá, e o som? É próximo a new age, sim, mas um new age old school, por assim dizer. Ñ tem nada de Enya, Era, Yanni, Vangelis – músicas de olimpíada com tecladinho e coros etéreos. O cara entrega no encarte (q contém entrevista-release, com justificativas e intenções por trás da obra) influência do Tangerine Dream, e é mesmo.
Pra quem ñ conhece, recomendo “Phaedra” (1974) dos alemães, q ativos ainda hoje (mesmo meio pastiche e vivendo do nome-fantasia) sob a batuta do dono Edgar Froese, tinham por proposta sonora um som eletrônico de inspiração surrealista. Tipo escrita automática, mas musical: sons em seqüência, sem estruturação intro-estrofe-refrão-solo-tema, aparentemente improvisados, sem ritmo (nenhuma batida) etc. Sabe intro de discos q estamos acostumados, de sons de vento, trovão, chuvas e notas de teclado alongadas sem q constituam riffs ou melodias?
Pois é, isso era o Tangerine Dream, e isto é o q encontramos neste disco. Surpreendente e CORAJOSO. Referências ao Kraftwerk era “Autobahn” (1974, ainda mais experimental q eletrônico) tb se deduzem de leve, e dá pra imaginar as músicas como sons de fundo pra filmes de ficção científica ou terror japonês em breves instantes. Ñ dá pra bater cabeça nem ferrando.
Descrever música por música é ingrato e complicado: são todas parecidas na intenção, já q apresentam teclados esparsos à frente e ao fundo, sobrepostos a outros teclados e guitarras, sem formarem melodias propriamente. Intros q se seguem a outras intros, dando origem a novas intros, até voltarem a alguma intro anterior, mas nem sempre.
Bateria até existe, e muito pouco: aos 6 minutos e pouco de “Karma For Katy”, e na “The Final Moment” (q é meio q uma música-resumo de todo o conteúdo das outras), com timbragem eletrônica grave, na veia daquelas intro satânica de thrash véio; e ainda em breves 1 minuto e 15″ corridos (2 instantes de 30″ e outro de 15″) ao longo de “Bliss In the Sack And Hat”, a faixa q mais poderá agradar a um headbanger, fora “Supertrev” e “Space Debris” – por conterem as guitarras mais pesadas e mais próximas de um riff (instantes como fossem final de música, de guitarra soando e diminuindo o volume pra entrar a faixa seguinte em cd).
A mesma “Space Debris”, tal como “Barewires” fazem imaginar o cara trocando o Motörhead pelo Dire Straits; tivesse um tiozinho lamentando baixinho tipo Mark Knopfler, ficaria a ver. Só q com guitarra suja, o q ñ poderia ser diferente.
Um dedilhadozinho de violão ocorre em “Electric Wave”, um lance de harmônicos em “Anubis” ocorre duas vezes, sempre entremeados a uma estrutura musical repleta de sons de vento, passos, barulho de mar, de teclados tipo nota final de música alongada segurando tudo. “Karma For Katy”, já citada, traz lá no meio (6′ e pouco) sons urbanos, tipo trânsito, sirenes, pessoas conversando, bem de leve, de fundo aos sons. É alguma variação q chama atenção. “Surfing the Waveband” traz canto gregoriano longínquo e breve de início, provavelmente sampler, seguido de sons passados ao contrário (puramente setentista isso), e brincadeiras com notas de teclado e pedal de volume em guitarra. O som de ondas do mar ñ nos deixa fugir da proposta do cara.
No fim, é um disco legal pra quem pagou 10 contos. Tem q ser muito xiita e fã do guitarrista pra comprar importado e dispender uma baba; se for o caso, melhor procurar na internet primeiro. Mas por ser diferente, atípico e ousado, vale ao menos algum comentário em rodinha de conversa – praquela hora em q você quiser mostrar q já ouviu falar de algo q ninguém conhece; tipo: “cês sabiam q o cara q era do Motörhead fez um disco viajeira?”. E é o 1º caso dum disco de metal – pero no mucho – q se pode ouvir na sala de espera dum acupunturista ou como auxílio pra anestesia na cadeira do dentista.
Sem nenhuma ironia.